Antes de ler as Notas, leia o capítulo correspondente primeiro.
Eu não irei revelar onde moro, para evitar bombas via correio. Grato.
Hoje as coisas assumiram um rumo diferente dos doze capítulos anteriores (inclui-se o prólogo). Tivemos uma drástica mudança nos personagens, no roteiro e na forma de encarar a história. Se por um lado estávamos vivendo o conto de fadas da Serena, agora estamos vivendo a realidade do Charlie. Se isso os tranquiliza, as coisas não vão continuar assim ~rs. Os acontecimentos vão marcar as personagens, isso é fato. Porém, logo teremos nossa Serena, nosso Calem e nosso Charlie de volta. A essência deles não vai desaparecer por causa de um ou outro acontecimento. Mas não podemos fingir que não aconteceu. E nem eles. Fiquem tranquilos, como disse o Marc, isso foi só uma "amostra grátis" pra vocês saberem que as coisas aqui podem mudar de uma hora para outra ~rsrs.
Esse capítulo saiu relativamente mais rápido que os últimos (mesmo que um mês ainda seja uma boa demora -q), porém vou tentar acelerar meu processo criativo. Estou meio sem tempo ultimamente, mas vou dando um jeito como dá. Talvez eu tenha uns probleminhas com os próximos capítulos. Eu já tenho planejado mais ou menos o que vai rolar, só que vou precisar adaptar o roteiro para dar coerência com o capítulo de hoje. Mas não se preocupem, tudo ficará bem. Nossas personagens ficarão bem.
Como eu disse algumas vezes, depois do capítulo 12 eu ia inaugurar algo, chamado...
ROYAL EMPERIUM!
Para quem não sabe, a Royal Emperium é a guilda de Kalos. Assim como temos os Fire Tales em AES, e tivemos a Thunder Shield em ANIL, teremos a oportunidade de construir nosso império. Vou precisar dar uma acelerada nos Gijinkas (na realidade, alguns estão prontos há um certo tempo, só que como sou "organizado" vou precisar procurar algumas horas pra achá-los). Vou abrir uma enquete ao lado para que vocês decidam a ordem em que os Gijinkas devem ser postados.
Ah, e sobre a Litleo e o Skiddo que fizeram uma aparição hoje. Eles são Pokémons da guilda, e Pokémons do Charlie, inclusive terão sua aparição. Mas vou poupar detalhes do porquê, já que logo teremos a oportunidade de compreendê-los melhor.
Edit 1:
Eu precisei editar uma parte do capítulo, e fiz isso pelo celular. O que eu não sabia era que o capítulo ia ser colocado nos rascunhos de novo. A postagem estava programada para as 10h, assim como as notas, porém não foi... Peço desculpas pelo mal entendido. Espero que aqueles que leram as notas primeiro ainda tenham tido uma boa leitura posterior.
Edit 2
Fica uma curiosidade: Hoje eu encontrei, pela segunda vez, o Canas, de Sinnoh! O mais engraçado é que foi por acaso! Eu estava na Bienal, do lado de fora, procurado minha tia, e ele estava na fila para comprar os bilhetes. Levei duas horas para achar minha tia, que já sabia onde a gente estava. E o Canas, que eu nem sabia que ia, consegui achar bem antes. Só conseguimos conversar por alguns minutos (e não deu pra tirar foto, de novo) mas já valeu. Em uma escola com mil alunos nós nunca nos conhecemos, mas nos conhecemos pela internet. Em uma cidade pequena nós nunca nos vimos, mas em um evento lotado a gente consegue se encontrar. Dane-se a lógica. ~rsrsrs.
Scared of Change
Quem visita o blog acredita que eu gosto só de Pop. Posso ouvir de tudo, e gosto de Rock, apesar de não costumar guardar o nome de muitas músicas ou artistas. Mas essa música eu adoro, e ela coube perfeitamente bem com esse capítulo. Se vocês leem as notas antes do capítulo, experimentem ouvir a música após passarem as "segundas reticências". A batida violenta, a energia... Simplesmente perfeita para esse capítulo.
Sou grande fã da banda Our Last Night. Eles não são tão conhecidos, e na realidade eu descobri eles vendo um cover de Rock de Dark Horse. Mas garanto que eles são fantásticos. Essa não é minha música favorita deles, mas é uma das que mais gosto. Se sentirem interesse, procurem mais sobre eles, e baixem o EP "Oak Island" (Logo disponibilizarei para download por aqui). Gosto muito de Pop, mas tem vezes que precisamos de uma música mais violenta para nos sentirmos bem. E Our Last Night é uma banda que nunca me decepciona. Seja nos clipes, nas letras, nas músicas...
Portanto, quando virem nome de alguma música da Katy Perry ou do Our Last Night nomeando um capítulo, tenham certeza de uma coisa: Vai ser importante!
"Eu estava com medo de mudança sabendo que nada seria o mesmo
Estressado e sobrecarregado, comecei a cavar
Minha mente estava girando em círculos tão fora de controle
Eu fecho meus olhos e espero por aceitação.
A minha vida pode mudar
Mas não vai me mudar, não vai me mudar
Porque eu sempre serei quem eu quero ser
Eu posso sentir as páginas queimando
Mais rápido do que as rodas estão girando
Mas minha cabeça permanece alta
Ansioso e mal respirando, assistindo minha mente virar do avesso
O
sol ainda saía por detrás das montanhas de Kalos, e a neblina ainda pairava
sobre Lumiose. Era exatamente naquele horário que as coisas começavam a
funcionar, que as lojas que fechavam durante a noite apagavam suas luzes e
deixavam o Sol ter sua chance de iluminar a cidade também. De manhã, cedinho,
as ruas ainda começavam a ficar movimentadas, não havia tantos carros ou
Gogoats transitando pela cidade.
Neste
mesmo instante, Charlie estava no banheiro do Centro Pokémon. O rapaz ficou
encarando seu rosto no espelho, com a luz apagada, permitindo que os suaves
raios solares passando pela janela translúcida iluminassem-no. Percebeu algo
que gostava de perceber todos os dias: Como seu rosto estava limpo. Seus
cabelos estavam limpos. Suas roupas não eram as roupas desgastadas de antes,
rasgadas, sujas e remendadas. Eram roupas novas.
Ele
era como um novo Charlie, em uma fase completamente nova de sua vida. Ele olhou
para trás, e percebeu seus amigos dormindo. Serena ormindo com uma paz de
espírito tamanha, como se a Bela Adormecida tivesse saído do livro e ido
visitá-lo. Calem dormia sobre algumas camadas de um papel plastificado
descartável. Isso fê-lo rir sozinho.
Charlie
não havia parado para reparar como as últimas semanas tinham-no mudado. Ele encontrou
pessoas que jamais pensou que encontraria, que lhe ofereceram uma mão amiga e o
tiraram de todos os seus problemas, sem o julgar (na maior parte do tempo, pelo
menos) e o tratavam como um verdadeiro amigo.
E exatamente por
isso eu precisava fazer aquilo.
Ele
saiu do banheiro com calma e tomou todo o cuidado do mundo para não fazer
barulho. Claro, já estava acostumado com isso, e não lhe era nenhuma
dificuldade. Porém, não esperava tropeçar em um dos vários nécessaires de
Calem. E todos tinham algo que fazia barulho, em meio a tantos artigos
aleatórios.
O
rapaz permaneceu imóvel, mas Serena se mexeu na cama, e as pálpebras lentamente
se abriram, revelando seus belos olhos azulados, como cortinas se abrindo e
revelando o céu matutino por detrás. Ela acompanhou com o olhar Charlie parado
e de pé:
—
Onde você está indo? — sua voz ainda rouca perguntou, coçando os olhos.
Charlie
fez um sinal com as mãos, a tranquilizando.
—
Não se preocupe, eu volto logo. — ele sussurrou.
—
Não, eu vou com você! — ela se prontificou, dando uma risadinha e literalmente
pulando da cama.
Charlie
a olhou de cima a baixo.
—
Princesa, você é linda, mas tem certeza de que quer sair na rua de pijama e
pantufas de coelhinho? — perguntou ele, sorrindo.
A
garota sorriu e colocou uma mecha dos fios louros atrás da orelha. Ela se
levantou e buscou um pequeno estojinho, indo em direção ao banheiro, evitando
ao máximo fazer qualquer barulho. Quando cruzou Charlie, virou-se de costas e
parou, olhando para cima para alcançar seus olhos verdes:
—
Não vá aonde você quer ir sem mim. — disse ela.
—
Certo. — ele respondeu com simplicidade, sorrindo.
A
garota adentrou o pequeno banheiro e fechou lentamente a porta. Charlie
permaneceu imóvel. No mesmo instante que ouviu o som do chuveiro esquentando
água, ele correu com agilidade para a porta do quarto, às pressas, e cruzou o
corredor correndo. Como deslize, acabou deixando a porta bater, mas sequer
parou para checar se Serena reparou no som, apenas correu e desceu as escadas.
Correu cruzando a entrada do Centro. Correu pela porta de vidro, quase não
dando tempo de ela abrir para que ele passasse.
Jogou
a cabeça para os lados em movimentos rápidos, procurando onde ir. As memórias
ainda lhe estavam frescas na mente, como o cheiro de terra molhada logo após a
chuva. Correu pelo formigueiro que era Lumiose, desviando das pessoas ainda em
um estado de zumbis, sonolentas. Então escondeu-se em um beco, entre o
Boulevard Sul e Norte, que praticamente interligava os dois, do lado oposto à
saída para a Rota 13. Então ouviu uma voz doce e ofegante ecoando em meio aos
murmúrios aleatórios:
—
Me espera!
Charlie
socou a parede na qual estava recostado, praguejando em sussurros. Serena
aproximou-se dele, vestindo sua roupa do estilo de sempre, meio amassada porque
ela provavelmente devia ter desligado o chuveiro e colocado-a correndo, às
pressas. Estava sem maquiagem, e os cabelos um pouco despenteados. Ainda assim,
ela conseguia ser maravilhosa.
—
Precisa de alguma coisa, princesa? — perguntou fingindo inocência.
—
Eu disse para não sair sem mim! — repreendeu-o ela.
Charlie
afastou-a do beco, voltando à calçada. Ele virou de costas e correu os olhos,
vendo se encontrava algo. Ou alguém. Serena, todavia, batia o pé com
impaciência.
—
Desculpe, Serena, mas não posso deixar que vá comigo. — ele segurou-a pelos ombros. Serena foi
capaz de ver algo esquisito nos olhos de Charlie. Eles sempre eram verdes e
misteriosos, como se escondessem algo. Mas desta vez pareciam desesperados,
como duas esmeraldas prestes a se romperem.
—
E-Eu não posso… — Serena balbuciou, baixinho.
Antes
que ele pudesse perguntar “por que?”, ouviu o som de passos cada vez mais
altos. Olhou para trás, no beco, mas nada viu. Antes que pudesse empurrá-la
para longe, reparou movimento quase nulo naquela área que comumente era lotada.
Alguém estava do outro lado da rua, porém, os observando. As mãos nos bolsos
rasgados da bermuda. Cabelos grossos e sem brilho, expressão maliciosa e vestes
acabadas. Como… Como Charlie quando eles o conheceram.
Por
algum motivo, o coração de Serena bateu mais forte. E não no sentido positivo.
—
Princesa, — sussurrou Charlie em seu ouvido. — corra o mais rápido que…
—
Nem. Tente.
Charlie
sentiu uma gota fria de suor escorrer pela lateral de sua face.
O
som dos passos era completamente nítido. De suas costas, surgiram duas pessoas.
Antes que fosse capaz de vê-los, um deles puxou-lhe para trás e pressionou um
pano contra seu nariz e sua boca, sentindo um cheiro forte entrar por suas
narinas. Não teve tempo de gritar, e ninguém o viu. Mas alguém fazia o mesmo
com Serena. Ver a garota se debatendo, com o grito agudo abafado pelo pano e os
olhos azuis cheios de pânico foi a última coisa que se lembrava antes de perder
a consciência.
...
Por
que sempre esqueciam de Calem?
O
rapaz perguntou-se isso enquanto andava na calçada, trombando em todos que
passavam, porque estava fitando um mapa. E, a propósito, ele não estava
ajudando em nada. A Imprensa de Lumiose parecia um lugar interessante para se
visitar, porém não conseguiria encontrá-la. Na verdade estava perdido.
Foi
quando avistou um carro azulado encostado na calçada, com uma plaquinha acima
escrita “TÁXI”. Sabendo do que se tratava, ele foi discretamente até o carro e
bateu no vidro. Tomou um pequeno susto quando o vidro escuro começou a baixar
sozinho.
—
Hm… Pode me levar até este lugar? — perguntou, apontando no mapa.
O
taxista mal parou para olhar, apenas acenou com a cabeça sem ânimo e deu uma
tragada no cigarro que carregava. Era jovem, cabelos castanhos divididos e
olhos castanho-escuros. Calem entrou no carro pelo banco da frente. Haviam
esquecido de avisá-lo que devia usar o banco de trás. O motorista fez uma
careta, mas não o repreendeu.
E
Calem ficou observando pelo vidro as pessoas passando. Os prédios, que pareciam
todos iguais, passando. E, aparentemente sem motivo, ele sentiu saudades de
casa. Onde suas responsabilidades eram limitadas, e não precisava fazer nada
demais a não ser se divertir na mansão o dia todo.
Agora
olhava para frente. Estavam em silêncio, enquanto o rádio tocava ao fundo alguma
música de décadas atrás. Porém, algo aconteceu que massacrou completamente a
paz do momento.
Um
Pokémon pequeno, um Bunnelby, assim como ele encontrara semanas atrás na
Floresta de Santalune, decidiu atravessar a rua. O taxista buzinou alto,
chamando a atenção de todas as pessoas que andavam. O Bunnelby olhou,
paralisado. Foi como se os instantes seguintes passassem em câmera lenta para
Calem. O táxi avançou pelo pequeno Bunnelby. O rapaz gritou. Ouviu os barulhos
do Pokémon tentando escapar embaixo de si.
Em
seguida, sentiu a roda escorregar em algo, somado com o som estridente do
ruído do Pokémon. Todos pararam para olhar, até que alguém se aproximou mais e
deu a sentença final:
—
Morreu.
Calem
desceu do carro, sem saber exatamente o porquê. Olhou para o Pokémon, que já
não se parecia mais como antes. Estava em carne viva, ensangüentado. Nojento. O
taxista deu partida no carro novamente, sem problemas. Como se nada tivesse acontecido. Logo
as pessoas também voltaram a andar e continuar sua rotina. Lumiose não podia
parar por causa de um Pokémon atropelado.
E
Calem permaneceu olhando para a cena do crime. Tremia muito, ainda estava em
choque. Foi como se conseguisse ver uma mulher de rubro e preto levar a alma do
pequeno Pokémon, mas assim que piscou, percebeu que não tinha nada. Nada além
dos restos do Bunnelby jogados na rua, como se fossem nada.
A
culpa lhe percorreu. Se não tivesse decidido ir àquele lugar naquele exato
instante, se tivesse decidido fazer outra coisa, aquela criatura estupidamente
saltitante estaria viva. Era culpa dele. E agora o Pokémon não veria mais o sol
nascer. Por que se sentia assim? Tão culpado?
Nunca
sentiu tanta vontade de se aproximar de um Pokémon e acariciá-lo. Agora era
tarde demais. Foi como se sua Pokéfobia se esvaísse naquele momento, tomada
pela sensação de querer reverter tudo. De querer ver aquele Pokémon saltar de
novo. Mas era tarde demais.
...
—
S-Serena? SERENA! — a voz fez eco na escuridão em que estava cercado.
As
luzes se acenderam e Charlie se viu amarrado a uma cadeira em um cômodo sujo,
abandonado. As paredes mofadas e completamente despidas de qualquer cuidado ou
higiene. E pessoas, muitas pessoas, todas encarando-o. Todos rapazes e algumas
poucas moças, mal encarados e sujos, muito sujos. O pior era ele conhecer cada uma
daquelas faces.
Foi
quando percebeu uma cadeira de costas em uma direção totalmente oposta a ele. A
cadeira se virou, revelando uma figura alta. Um homem de vinte anos, de cabelos
escuros caídos aos tufos pela cabeça. Usava um terno um pouco gasto, contrastando
com as vestes de todos os outros presentes. Em sua boca um charuto, e óculos
escuros enegrecidos, que escondiam seus olhos, de forma que fosse impossível
saber o que ele estava olhando.
—
Há quanto tempo, Charles. — permitiu sua voz grossa ecoar após tirar o charuto
da boca. — Achei que não se lembrava de mim.
Charlie,
ao vê-lo, ficou imóvel. Foi como se seus olhos arregalassem involuntariamente,
o suor escorresse sem que estivesse com calor. Ficou encarando aquela figura
irônica, que sorria de uma forma maliciosa. E ele sabia muito bem que aquele
sorriso não era de alegria.
—
Há como esquecê-lo? — cuspiu as palavras com nojo em resposta.
O
homem riu, sentando-se novamente na cadeira.
—
Aparentemente sim. — ele fitou a fumaça subindo. — Imagino que esqueceu de que
eu sei de tudo. Que eu vejo tudo. Tudo. —
ele enfatizou a última palavra com satisfação. — Como um Deus. Sou como o
Deus de Lumiose.
Ele
se levantou da cadeira e segurou os braços atrás das costas, enquanto se
aproximou de Charlie. O rapaz começou a se remexer na cadeira, como se tentasse
se soltar, porém de nada adiantou. Parecia tremer. O homem não lhe tocou,
apenas diminuiu o tom de voz:
—
Achei estranho apenas você não ter vindo nos encontrar, mesmo estando na
cidade. Parecia até mesmo que não fazia questão de nos ver… — novamente um
sorriso.
—
O que você quer, Marc? — respondeu Charlie logo em seguida.
—
O que eu quero? Como assim? — Marc se
atirou para trás com a mão no peito. — Estou ofendido! Acha que eu iria reunir
meu irmão aqui comigo só pra pedir
alguma coisa?
Irmão.
Em
um movimento rápido e repentino, totalmente inesperado, Marc desferiu um soco
no rosto de Charlie. O rapaz sentiu uma enorme dor, como se um cometa lhe
acertasse em cheio. Porém, nada fez. Não gritou. Não chorou. Ele tentou ficar
parado, como se nada tivesse acontecido, ainda que a sensação do punho em seu
rosto ainda estivesse fresca.
—
Você nos traiu, seu idiota. — gritou Marc. — Você fugiu! — mais gritos. — E tem
a coragem de colocar os pés novamente em nossos domínios, como se nada tivesse
acontecido.
Ele
voltou a andar para trás tranquilamente. Sua cabeça agora estava virada para o
teto acabado e aos pedaços do cômodo, que poderia ceder a qualquer in - Por quêstante.
Deu mais uma tragada e permitiu que a fumaça escura subisse no ar com toda a
suavidade.
—
Estão sentindo esse cheiro? — perguntou ele aos presentes, que assentiram sem
sequer esperá-lo terminar de falar. — Esse cheiro doce e enjoativo. Parece - Por quê vvocê até…
— ele ponderou por um tempo com a mão no queixo, falsamente pensativo. — Xampu.
E
apontou para os cabelos claros de Charlie. Brilhantes. Cheios de vida. E
cheirosos. Agora Marc rodeava-o, com tranquilidade suficiente para fazer o
irmão mais novo estremecer. A cada passo ouvido, seu coração tentava atirar-se
para fora a boca. Até que então ouviu novamente o som da voz:
—
Parece que você foi para uma vida melhor Charlie. — disse Marc com um falso tom
de generosidade. — Você conseguiu finalmente subir na vida. Acha que nós não
vimos os ricassos com que você está andando? — desta vez o sorriso foi um pouco
maior.
Charlie
pensou em qualquer coisa para dizer. Qualquer coisa. Fez seus lábios se
abrirem, prontos para falar alguma coisa, porém, foi interrompido antes mesmo
de dizer. Marc novamente fez as palavras carregadas de generosidade nojenta
saírem de sua boca com cheiro de fumo.
—
Eu, como líder da gangue, posso perdoar sua traição. — disse. — Posso mesmo.
—
Eu não preciso do seu perdão. — retorquiu Charlie com a confiança que não
tinha, como se as palavras não fossem sustentadas pela sua situação atual.
Seu
irmão riu alto.
—
Ahh, sim, você precisa. — garantiu, se aproximando. Charlie sentiu com mais
intensidade o cheiro do charuto. E com mais intensidade ainda o cheiro do mal,
das mentiras, do cruel. — E você só tem que fazer uma coisa, Charlie. Uma
mísera e pequena coisa, tão insignificante como você. — sussurrou, com um tom
perturbador o suficiente para fazer um arrepio percorrer todo o corpo do
garoto.
Ele
se apoiou na cadeira, ficando face a face com Charlie, de forma extremamente
desconfortável para o garoto. Evitava encarar o irmão mais velho. Era como se
conseguisse ver aqueles olhos rancorosos e cruéis brilhando em fogo, escondidos
por detrás da fortaleza enegrecida dos óculos escuros.
—
Você só tem que trazer a patricinha e o mauricinho aqui pra mim. Só isso,
Charlie. — concluiu ele, usando um tom de voz que ridicularizava sua sentença,
como se quisesse intensificar a simplicidade dela. — Não é difícil, e eles
confiam em você. Sei que o treinei bem pra enganar os outros. O que acha,
Charlie? — indagou. — Em nome dos velhos tempos? Após isso você estará
perdoado, e te deixarei voltar pra nossa gangue. — ele estendeu a mão enluvada
como se para um cumprimento, mesmo sabendo que o irmão estava atado.
Charlie
levantou a cabeça, preparando-se para responder. Marc permitiu que seus lábios
distorcessem um sorriso pequeno. Em seguida, o garoto abaixou a cabeça,
disparando dos lábios um cuspe que acertou em cheio a mão do irmão mais velho.
—
Você é escroto. — disse Charlie com desprezo.
O
sorriso se desfez, e com exceção da mão limpando-se na calça, os demais
músculos do irmão sequer se mexeram. Então, mais uma vez inesperadamente, sacou
um canivete. Antes que Charlie pudesse se arrepender de ter dito qualquer
coisa, o homem desatou uma de suas mãos. Marc foi atrás de Charlie e começou a
pressionar o braço contra a cadeira, enquanto sua cabeça permanecia do lado da
do irmão mais novo, vendo-lhe gemer de dor e tentando esconder.
—
Larga. Por favor. — implorou Charlie com total fraqueza.
—
Eu já quebrei seu braço três vezes, Charlie. Posso quebrá-lo de novo. — era
assustadora a forma fria com que Marc conseguia dizer aquelas coisas. — Mas eu
tenho algo melhor pra essa ocasião.
Ele
largou o braço de Charlie, que respirou aliviado, porém amarrou-o novamente à
cadeira. Em seguida saiu de perto do garoto. Jogou a bituca de cigarro no menino, e com a outra mão, fez um sinal para os outros, que apenas observavam a
cena.
Alguns
homens saíram, e logo em seguida voltaram carregando algo que fez o coração de
Charlie tremer por inteiro. Lá estava Serena. Desacordada, ainda como uma bela
adormecida, contrastando completamente com aquele ambiente hostil e horroroso. Marc sentou-se em sua cadeira, fez uma ponte com as mãos, entrelaçando os dedos, e
cruzou as pernas.
—
Não. Não. — balbuciou Charlie se debatendo na cadeira. — Mande largarem ela, Marc! Ela não tem nada
a ver com isso!
Marc gargalhou alto.
—
E eu não sei? Mas a graça está aí: — falou, com palavras carregadas de maldade.
— Fazer os inocentes pagarem, para deixar os culpados ainda mais culpados.
Charlie
tremeu novamente. Seu corpo se desmontava sozinho.
—
Se você já tem ela aqui, por que me pediu… — a voz saiu com uma fraqueza e
insegurança tamanha, que foi interrompida sem problemas pelo irmão:
—
Bem, eu ainda preciso do outro rapazinho. Mas eu estava mesmo é o testando. E
você falhou, Charlie. Falhou feio. Muito, muito feio. — ele sorriu cinicamente,
enquanto viu o irmão desolado do outro lado do cômodo. — Acordem a garota. —
ordenou.
Um
dos rapazes que a carregou se aproximou da garota, com um pequeno pesar. Ele
olhou discretamente para seu chefe, que assistia sem hesitar. Ao ver aqueles
óculos escuros, fechou os olhos, e desferiu um tapa no rosto da garota. Não tão
forte, mas suficiente para fazer um barulho estridente que fez eco pelo cômodo
até então silencioso.
—
Não! — gritou Charlie, como se tivesse sentido o golpe em si mesmo.
Os
olhos azuis da garota se abriram quase iluminando o cômodo. Sua cabeça se moveu
para os lados, e percebeu estar cercada por pessoas que a encaravam como se
fosse uma ferida nojenta. Ela era do tipo que não julgava alguém simplesmente
pelas vestes ou olhar, porém, seu subconsciente nessa hora sabia que não podia
vir coisa boa. Todavia, ela disse, com sua voz doce e encantadora, mesmo naquele
lugar perturbador:
—
Charlie? Onde estamos? — perguntou.
Marc chamou sua atenção.
—
Olá princesinha. — disse. — Alguém já lhe disse que você é realmente
maravilhosa?
Serena
suou frio, enquanto percebeu as outras pessoas rindo ao seu redor. Ela estava
nervosa. Também tremia.
—
E-Eu não gosto que me chamem assim. — foi a única coisa que disse.
—
Ah, mil perdões. — disse Marc.
O
homem se levantou e olhou-a de lado. Agachou para ficar de sua altura. Serena
tentava não encará-lo, apenas olhava para Charlie completamente assustada, como
se implorasse por uma explicação. Como se implorasse para que ele dissesse que
tudo ficaria bem.
Mas
ele não disse nada.
Marc tocou-a no rosto, o que a fez estremecer. Em seguida ele puxou sua face para
que ficasse de frente à dele. Queria ver aqueles olhos azuis cheios de medo de
perto. Ela seguiu o movimento, relutante.
—
O que acharia de se juntar a nós? — perguntou, novamente sem qualquer pesar em
suas palavras. — Sabe quanto uma vagabunda loira e branquinha ganha em uma
noite?
Ela
tentou se levantar, mas a empurraram novamente na cadeira. Empurraram-na como
se fosse um objeto. Sempre a ensinaram a ser respeitosa. Sempre lhe trataram
como uma princesa. Sempre ensinaram-lhe que as mulheres devem ser respeitadas e
tratadas com toda a delicadeza de uma flor. Porém ali aquilo completamente
desapareceu, e isso a deixou ainda mais assustada.
—
Hein? — gritou Marc, ainda esperando uma resposta.
—
Não senhor. — a voz saiu sem qualquer vida. Sem qualquer energia. Sem qualquer
encanto.
Ele
ficou de frente para ela. Jogou as mãos sobre seus ombros, e ficou
completamente grudado a ela, deixando-a submissa. Ela não poderia se mover se
quisesse. Ele sentiu sua respiração ofegante de medo, o coração palpitando como
se quisesse explodir. Os dentes se batendo, como se tentassem se destruir. Isso
apenas o fazia sorrir.
—
O suficiente. — falou. — Só precisamos testar se você está apta para o cargo. — dito isso, se levantou.
—
TIREM. AS. MÃOS. DELA. — gritou Charlie com todas as suas forças. Mas sua voz
não era de um herói. Era de total desespero. Logo em seguida tamparam sua boca,
o impedindo de gritar também. O irmão balançou a cabeça negativamente
—
Charles Stuart! Que modos são esses? Ameaçando o Deus de Lumiose? Você se
esqueceu que não tem poder algum aqui? — indagou.
Ele
levantou a mão e friccionou o dedo médio e o polegar, reproduzindo um estalo.
—
Tirem-lhe as roupas! — ordenou.
Serena
viu vários homens se aproximando. Ela iria se levantar, mas a seguraram firme
pelos pulsos, de forma que a machucasse. Outro tampou-lhe a boca e segurou sua
cabeça, a impedindo de gritar ou se mexer. Ela não entendia por que faziam
aquilo, e isso tornava tudo mais aterrorizante. Não sabia o que viria depois.
Em sua cabeça, as coisas nunca chegariam ter começado como começaram. Suas
noções de beleza de mundo foram totalmente destruídas, como um espelho que se
parte em milhões de pedaços.
Baixaram
seu vestido, deixando-a apenas com as roupas de baixo. Ela queria gritar, mas
não pôde. Não conseguia se mover. As lágrimas começaram a lhe descer pela face,
como uma última tentativa de exteriorizar aquilo que estava sentindo. Charlie
sentia ainda mais dor ao observá-la. A sensação de ser impotente lhe fincava as
garras. A pior sensação, a de ver aqueles lindos lagos azuis derramarem as
águas pelo rosto pálido de Serena, lhe golpeava na cara, mais doloridamente que
qualquer soco.
Não
importava o quanto se mexesse, nenhum dos dois nunca conseguiria se soltar.
Restava apenas se encararem com medo. Ela não entendia por que estava de roupas
de baixo. Tentava fechar as pernas, mas as abriam novamente quantas vezes
fossem precisas. Seguravam-nas, deixando sua pele branca marcada. Terror.
Tocaram-lhe nas roupas de baixo inferiores.
O
inesperado, porém, aconteceu.
Uma
chama surgiu de algum lugar não identificado e começou a se espalhar pelo
cômodo. Houve alguns gritos e comentários, mas o fogo logo ganhou tamanhas
proporções a ponto de que fosse um verdadeiro incêndio. Enquanto o desespero
pairava, Serena foi largada. O mais surpreendente era que Charlie sentiu algo
como uma navalha cortar as cordas que o atavam, conseguindo se soltar.
O
rapaz não parou para tentar entender. Aproveitou-se enquanto todos buscavam uma
saída e cruzou as chamas altas para alcançar Serena. Pegou as roupas e a
devolveu. Ela não disse nada. Ele a ajudou a se vestir enquanto ela apenas
acompanhava seus comandos, estática. Não tirava os olhos das chamas enquanto os
soluços lhe vinham ocasionalmente, acompanhando as cachoeiras que desciam de
seus olhos.
Algumas
pessoas repararam que eles estavam fugindo e tentaram pegá-los, mas Charlie
conseguiu despistar todos. Seus instintos estavam à flor da pele. Porém, quem
tampava a porta era seu irmão mais velho, pela primeira vez com uma expressão que
poder-se-ia dizer que era de raiva, exceto pelo fato de seus olhos permanecerem
ocultos.
—
Você…
Antes
que pudesse terminar qualquer frase, um soco foi desferido em sua face. Charlie
parou para reparar que sabia quem tinha feito isso. Pancham encarou seu dono,
fazendo um sinal com a cabeça. Seu Pokémon sabia que ele faria aquilo. Seu
Pokémon o seguiu. Seu Pokémon o salvou.
Charlie
correu pela porta empurrando Serena. Estavam todos sujos de fuligem, algumas
queimaduras pequenas, arranhões e hematomas. Antes de deixar o lugar, o rapaz
olhou para trás e viu Marc. O homem, nas sombras, apenas deu um pequeno sorriso
enquanto o fogo reinava ao seu redor.
—
Charlie, darei a você um pequeno conselho de irmão. — falou ele com
tranquilidade, fazendo uma pequena gota de suor frio escorrer pela lateral da
face do rapaz. — Não retorne a Lumiose depois disso. Porque se você retornar… —
ele fez uma pequena pausa. — Eu vou fazer você e seus amiguinhos sofrerem como
eles nunca imaginaram. Hoje foi apenas uma amostra grátis. Mas na próxima…
Ele
estendeu o braço e colocou o polegar levantado com o indicador apontando a ele,
como se insinuasse uma arminha.
—
O preço vai ser alto. — disparou na arma de mentira. — E vocês vão pagar.
Charlie
correu o mais rápido que pôde, como se as sombras quisessem arrastar seus pés
de volta para aquele pesadelo em chamas. Como se as coisas pudessem ficar pior.
Como se fosse correr e não chegar a lugar nenhum. Ele não conseguia ver o rosto
de Serena, e temeu acreditar que aquilo fosse uma coisa boa. Pancham os
acompanhava.
Quando
saiu, olhou para o Pokémon e se abaixou. Ele engoliu em seco, enquanto a
criatura permanecia com seu olhar mal-encarado.
—
Você nos salvou, Thanos. Muito, muito, muito obrigado mesmo. Não tenho como lhe
agradecer. — falou Charlie, com a voz mais fraca do que gostaria.
Da
sombra, surgiram duas figuras. Um filhote de felino de pelo acastanhado, com
uma pequena pelugem na cabeça alaranjada, como fogo. Olhos corajosos. Como o
fogo que eles tinham acabado de ver. E um Pokémon como aqueles que as pessoas
montavam para ir de um lugar a outro em Lumiose, apenas menor. Uma Litleo e um
Skiddo. Ele se lembrava deles.
—
V-Vocês… Vocês me acharam. E me salvaram. — antes que pudesse fazer qualquer
coisa a mais, ouviu um pequeno gemido de medo de Serena.
Ele
se virou para a garota. A cena pela qual passaram era aterrorizante. Porém, o
rosto de Serena conseguia ser pior que tudo. Os olhos marejados, avermelhados
de tanto permitir que as lágrimas escorressem. As palavras lhe saíam cuspidas,
como se não conseguisse formar uma sequer frase completa. Estava toda
machucada. Algumas queimaduras. Vergões. Mas o maior machucado era em sua alma.
—
Serena… — por alguns instantes buscou em sua cabeça qualquer coisa para falar.
Qualquer coisa. — Está tudo bem agora. Está tudo bem.
Estavam
os dois sentados na calçada. Ela balançou a cabeça, e permitiu que mais
lágrimas lhe caíssem pela face. Onde estava o mundo perfeito que queria
conhecer? Onde estavam as diferentes pessoas que queria encontrar? Onde estava
a mágica pela qual esperou por quinze anos para ver?
Ela,
por sua vez, viu a expressão de Charlie. Ela nunca o vira tão assustado em todo
o período de jornada. Era sempre risonho, sempre descontraído. Mas desta vez
estava aterrorizado, quase tanto quanto ela. E mais importante, a culpa lhe
perseguia. Por ver Serena daquele jeito. Por permitir que aquilo acontecesse.
Por não ter dito que o mundo não era apenas um jardim florido
—
Vai ficar tudo bem, princesa. — falou ele, tremendo, como se de dentro de si
algo quisesse sair, e não conseguisse. — Vai ficar tudo bem.
—
Charlie… — a voz saiu como um sussurro, tamanha a fraqueza. — C-Como você não
está chorando? — indagou.
O
rapaz se aproximou dela e se ofereceu para limpar suas lágrimas. Ela recusou ao
virar a cabeça.
—
Tem um momento — disse. — em que você segura tanto as lágrimas… Que uma hora
você esquece como deixá-las cair. — respondeu, engolindo em seco.
E
ficaram assim. Os dois. Parados. Se observando. Serena chorava. Charlie não.
Naquele
momento Calem apareceu correndo. Ele viu a prima naquele estado, e logo se
aproximou. Por um instante ele não se preocupou em sujar-se na calçada. Tocou-lhe
no rosto com as mãos. Ela o abraçou, com tanta força que Charlie sentiu uma
pontada de ciúmes, misturado com todo o resto de culpa.
—
Eu fiz uma coisa horrível, Serena. — Calem recostou seu queixo no ombro da
garota. Uma pequena lágrima escorreu de seus olhos. Mas ele se sentia seguro. Ela
não poderia o proteger, mas ele se sentia seguro naquele abraço.
Ela
concordou com a cabeça. Ele sentiu isso em seu ombro.
—
N-Não se preocupe, Cal. — ela disse, esforçando-se para fazer com que sua voz
saísse. — Aconteceu tanta coisa horrível agora… Eu não… Eu não…
Ele
largou o abraço e tocou o rosto da prima, limpando suas lágrimas com a mão. Ela
deixou. Ambos tremiam ainda. De medo. De insegurança.
—
Eu não quero ficar aqui, Cal. As coisas não são bonitas, não são mágicas. Eu
quero ir embora daqui, Cal. Quero ir embora.
Calem
assentiu.
—
Amanhã bem cedo vamos sair daqui. Bem cedo. — garantiu ele.
—
Não é seguro, ficarmos aqui, Cal. Não é seguro. — ela balançou a cabeça, frágil.
Ele
a abraçou mais uma vez. Ambos se seguraram com enorme força.
—
Vai ficar tudo bem. — ele garantiu. Ele não sabia se ficaria tudo bem, mas ele
sentia que pelo menos tinham um ao outro. — Vai ficar tudo bem.
E
saíram juntos em direção ao Centro Pokémon novamente. Era como se
compartilhassem o mesmo sentimento. Como se as lágrimas de um pudessem tocar o
outro. Não esqueceriam aquele dia tão simplesmente. E provavelmente passariam o
resto do tempo conversando. Era disso que precisavam. Charlie ficou lá. Parado.
Esquecido. Não o convidaram para voltar também. Ninguém o disse que tudo
ficaria bem.
...
Eu estava voltando
a passos lentos para o beco. Lá era meu lugar. Lá era minha casa. Trazia em
minhas mãos algumas coisas que havia conseguido roubar de um café. Porém, não
achei ninguém. Procurei pela escuridão por alguém. Onde estavam?
Ouvi alguns
barulhos, e fui correndo checar. Era pequeno. Tinha quanto? Oito, nove anos…? Por
aí. Vi meu irmão mais velho e alguns outros caras batendo em alguém. De
verdade. Pra valer. Espancando. Ouvia os gemidos abafados do outro, como se implorasse
aos céus por piedade. Deixei as coisas caírem sem querer ao ver aquilo. O
sofrimento do outro cara. Como era ruim ver alguém sofrendo e não fazer nada.
Foi quando algum
deles pegou uma corrente, dessas de ferro, e enforcou o homem. Seguraram-no.
Ele se debateu. Tentou gritar. Chorou. Ele tentou viver. Mas acabou cedendo, e
em alguns instantes vi sua vida se esvair. Como se fosse algo simples, que
pudesse ser tirada a qualquer momento.
Vi Marc virar-se
para mim naquele instante. Dei um passo para trás instintivamente, amedrontado.
Eu não conseguia ver seus olhos. Foram raras as vezes em que eu consegui. Mas
eu poderia adivinhar que estavam brilhando atrás dos óculos escuros. Ele se
aproximou de mim. Tentei não recuar. Ele se abaixou e ficamos na mesma altura.
Ele olhou pra mim.
— Não esquenta. — disse com simplicidade. — Um dia será você que fará isso
também. — e afagou meus cabelos, como se
eu fosse gostar da ideia.
Alguns encaravam
como orgulho. Como uma coisa boa. Mas eu só conseguia pensar: "E se eu não
quisesse ser assim?"
Estas Notas contém Spoilers, então é sugerido ler o capítulo correspondente primeiro!
Eu demorei, mas juro que caprichei o máximo que pude ~rs. Afinal, esse capítulo é especial. Ele marca a estréia de três novos personagens, que até agora puderam fazer apenas pequenas aparições. Foram coisas que planejei bastante. Eu demoro pra trazer capítulo novo, mas pra ser sincero minha ansiedade a cada dia que passa, com Kalos, vai trazendo mais ideias. Esta nota está bem grande, mas deixarei ela divididinha pra vocês poderem entender melhor o que quero dizer sobre.
Primeira parte
Eu demorei um pouco pra aceitar a Diantha como campeã de Kalos. Não é porque ela é uma mulher (até porque adoro a Cynthia, mesmo aquela maldita tendo sido um pesadelo pra que eu zerasse pela primeira vez Diamond D: ) e sim porque eu não via ela como a figura que precisava. Mas como tudo em AeXY, o enredo fala mais alto que as batalhas, e cá trago a vocês uma Diantha bem diferente dos jogos. Por enquanto ela parece não ter muito a oferecer, porém, saibam que foi apenas uma apresentação da personagem. Ela ainda vai ser muito importante.
Segunda parte
Sabemos quais referências a Kath tem como criação, certo? ~rs. Eu já planejava algumas coisas de uma nova personagem, porém, quando surgiu a ideia de trazer a "Lady Gaga" de Kalos, uni o útil ao agradável. Afinal, acho que serve como uma boa ilustração das guerrinhas que tem por aí de fãs. Vale lembrar que eu não apoio brigas, e nem estou colocando uma como superior à outra. Porém, um "A Katy or a Gaga" versão AeXY pode ser interessante. ~rs. E claro, foi apenas um pedacinho. Essas duas ainda vão fazer um verdadeiro duelo de divas num dia desses. ~rs.
Terceira parte
Essa merece atenção. Guardem cada palavra, porque extrairemos muito daqui. Se perceberem, algumas falas do Lysandre são basicamente iguais às do game. O que isso significa? Os lendários podem parecer apenas dois deuses que tretam entre si. Porém, de uns tempos pra cá tudo ganhou mais significado ainda. Aqui em Kalos há uma trama importantíssima na fanfic. O Lysandre é o dono de uma facção (embora ainda não tenha sido revelado) e não está simplesmente querendo dominar o mundo. Aproveitem o diálogo subjetivo de agora, porque ele e a Serena ainda vão se encontrar de novo. Afinal, se pudesse, você seria jovem e belo(a) para sempre?
Próximo Capítulo!
Desta vez tentarei ser mais breve. E acho isso bem possível, já que o capítulo 12 está com o esqueleto pronto aqui. Porém, novamente irei caprichar ao máximo, porque ele é muito especial. Muito mesmo. Fiquem atentos à ultima cena, porque ela tem a ver com ele. Percebi pela enquete (comentada abaixo) que o Charlie tem seus fãs, mesmo que saibamos pouco a respeito dele. Parte veremos no próximo capítulo. Ele já deveria ter sido o "segundo narrador" do capítulo 10, mas deixei de lado a ordem mais uma vez para que ele faça sua participação no próximo. Ele será uma peça vital do capítulo 12, e para deixá-los com uma pitada de ansiedade, vai aí um preview:
"Ele
era como um novo Charlie, em uma fase completamente nova de sua vida. Ele olhou
para trás, e percebeu Serena seus amigos dormindo. Serena dormindo com uma paz
de espírito tamanha, como se a Bela Adormecida tivesse saído do livro e ido visitá-lo. Calem dormia sobre algumas
camadas de um papel plastificado descartável. Isso o fez rir sozinho.
Charlie
não havia parado para reparar como as últimas semanas tinham mudado-o. Ele encontrou
pessoas que jamais pensou que encontraria, que o ofereceram uma mão amiga e o
tiraram de todos os seus problemas, sem o julgar (na maior parte do tempo, pelo
menos) e o tratavam como um verdadeiro amigo.
E exatamente por
isso eu precisava fazer aquilo"
Resultado da Enquete
Sério mesmo que o Calem é o favorito? ~rsrs. Eu não imaginava. Eu não me lembrava se já tinha feito essa enquete antes, então acabei fazendo de novo. Se já fiz, desculpem-me, e obrigado por votarem. A Serena acho que fez sucesso a princípio, mas imagino que esteve meio apagada ultimamente. Farei o possível para reverter isso. O Calem... Bem, o Calem vai continuar sendo o Calem ~rs. O Charlie darei uma oportunidade no próximo capítulo! A Kath ficou até na frente dele, quem diria? Pena que ela não poderá aparecer sempre, mas quando possível ela nos fará uma visitinha. E o Aldrick por enquanto é o "escada" dela, mas fiquem tranquilos, ele terá sua chance de aparecer melhor. Estou apenas guardando essa oportunidade.
Empire State of Mind
Ok, estamos em Paris, e a música é sobre New York. Podemos esquecer esse detalhe? -q ~rs. Substituo o nome por Lumiose, para que se enquadre melhor, porque creio que tem bastante a ver com nossa metrópole (que ainda não mostrou seu verdadeiro brilho. Até porque está com um apagão. ~ba dum tss.
Selva de concreto onde são feitos os sonhos
Não há nada que você não possa fazer
Agora você está em Lumiose
Essas ruas vão fazer você se sentir completamente novo
Serena encarava-se através de um
pequeno espelhinho, enquanto penteava com suavidade seus longos cabelos louros
em um movimento contínuo. Noventa e sete.
Noventa e oito... Contava. Quando chegou ao cem, soltou um suspiro demorado
e relaxado, sorrindo, e largou os fios dourados, que caíram-lhe pelo peito e
pelas costas.
Até que focou novamente no
espelho e notou algo atrás de si. Ela se aproximou do espelho para ver melhor,
e percebe uma criatura das trevas a observando por trás, como se estivesse
apenas aguardando o momento certo para atacar. Uma criatura maligna prestes a
cometer uma chacina.
— AHHHH! — gritou ela.
Quando olhou para trás, sorriu
novamente.
— Espurr, você estava aí o tempo
todo? — a menina pegou o Pokémon no colo como um bichinho de pelúcia, enquanto
a criaturinha mantinha sua expressão estática na face. —
Serena saiu do cantinho do quarto
onde estava e virou-se para Calem e Charlie, que estavam sentados, concentrados
em algo. Charlie concordava ou não com coisas que o outro falava, enquanto este
ia rabiscando um bloquinho de papel a cada momento.
— Vocês estão escolhendo um lugar
para almoçarmos? — indagou a garota.
— Na verdade — disse Calem
fitando um bloquinho. — estamos vendo os lugares em que o Charles não roubou
ainda. Depois disso, escolheremos o lugar para almoçarmos. — ele prosseguiu. —
Restaurante Le Yeah?
— Já. — respondeu Charlie de
prontidão.
Calem ticou um item da lista.
— Pois bem, pelos meus cálculos,
podemos almoçar... — ele folheou o bloquinho, em seguida o jogou para trás. —
Na lua.
Serena deu uma risadinha.
Apesar
da maneira com que eles se tratam, eu tenho a impressão de que somos mesmo
amigos. Quero dizer, eles passaram a se aturar, e fico feliz por causa disso.
Talvez eu tenha sido a responsável por eles estarem fazendo uma forcinha, mas o
importante é que eles, mesmo discutindo, pelo menos fazem o possível para
evitar as brigas.
— Deixa disso. — retorquiu
Charlie. — Se não me engano tem um restaurante que chama Restaurante Le Nah que
inda não tive a oportunidade.
— O.K. Irei avisar o professor! —
disse Serena.
Os dois a encararam.
— Avisar o professor? —
perguntaram em uníssono.
— É. — ela respondeu, teclando no
telefone. — Eu disse que almoçaríamos com ele hoje, para continuarmos nossa
conversa sobre a Pokédex!
Os dois assentiram,
embora não parecessem tão empolgados. Cada qual pegou seus pertences — e
pediram para Charlie devolver as coisas que provavelmente ele tinha furtado
antes. — e desceram as escadas do Centro Pokémon, saindo pela porta de vidro e
se deparando com as ruas imensas e movimentadas de Lumiose mais uma vez.
O Restaurante Le Nah
era um dos restaurantes mais simplistas de Lumiose, (por “simplista” está
implícito que ainda é bem mais chique que diversos outros restaurantes de
outras partes de Kalos) além de ser um dos únicos disponíveis devido ao fato de
o apagão da metrópole ter coberto grande parte dos restaurantes da cidade.
O estabelecimento era
marrom escuro, com uma estrela de ouro no topo. A estrela, segundo Charlie,
significava a qualidade do restaurante. Quanto maior o número de estrelas, mais
refinado era. Ao adentrar, uma música ambiente suave rodeava o local, cujas
paredes iam de tonalidades mais claras às mais escuras de bege. O aroma dos
pratos sendo prontos os fazia salivar a cada vez que um sino tocava.
Encontraram uma das
mesas vazias e se acomodaram. Charlie, é claro, tomava todo o cuidado para
evitar que o vissem. Nunca se sabe. As cadeiras eram confortáveis, e não tardou
para que um garçom viesse atendê-los. Optaram por aguardar um pouco o professor
Sycamore aparecer.
Enquanto isso, Calem
puxou seus próprios talheres de sua mochila. Afinal, nada mais higiênico. O
problema era sempre convencer os donos do restaurante a prepararem sua comida
no próprio prato que ele tinha trazido. Porém, seus amigos já estavam bem
acostumados com isso e sequer se importavam muito.
— Tem certeza que não
quer que a gente saia sem pagar, princesa? — indagou Charlie. — Os preços aqui são um roubo!
Calem deu uma
risadinha.
— Trocadilho
inteligente. — saudou.
— Não se preocupe,
Charlie. — ela sorriu meigamente. — Ficará por nossa conta, como sempre. Aposto
que papai não vai se incomodar, desde que eu esteja comendo bem.
— Você já parou para
pensar na possibilidade de ele analisar a conta bancária? — indagou Calem,
limpando os próprios talheres com um paninho.
— Qual seria o
problema? — perguntou a menina em seguida.
— O problema seria —
ele desviou os olhos do afazer e encarou os orbes azuis da prima. — ele reparar
que estamos gastando em coisas para três pessoas. Três reservas, três
refeições…
Serena olhou de
soslaio para Charlie, sinalizando para o primo que não era uma boa ideia.
— Charles, entenda
que não tenho nada a mais contra
você. — disse, enfatizando algumas palavras. — Mas, de fato, o pai de Serena consegue
ultrapassar a concepção de “chato” que você define a mim. O motivo pelo qual
estou me arrastando no mato é para proteger Serena de más companhias. E creio
eu que ele não ficará exatamente “feliz” ao saber que estamos na companhia de
um garoto que mal conhecíamos. — ele explanou. — Aliás, que ainda mal
conhecemos.
— Mas que é isso? —
indagou Charlie, acomodando-se para trás. — Vocês me conhecem.
— Charlie, você sabe
que eu gosto muito mesmo de você. — Serena começou. — A verdade é que você fala
muito, mas não diz nada. Você nos dá a ideia de um passado tão triste, porém
você é tão… Feliz… Isso não me faz muito sentido.
Charlie ajeitou a
postura, um tanto incomodado.
— Princesa, viver do
passado não é nada saudável. — ele respondeu. — Não posso sofrer por coisas que
me aconteceram antes, se a felicidade agora me bate à porta, compreende? O
importante é que tenho plena confiança em vocês, e vocês em mim. Eu não os
trairia, correto?
Os primos fitaram-se
discretamente, combinando exatamente as mesmas expressões, não muito
convencidas. Charlie começou a ler — o que mais parecia uma tentativa de se
esconder. — um cardápio.
Eu não gosto de dar ouvidos ao Calem quando ele fala mal do
Charlie. Não gosto. Mas desta vez me restou apenas concordar com meu primo. Um
defeito meu é dar ouvidos demais à minha empolgação, a meu sentimento. Agora me
parece perigosa a ideia de ter confiado em um pleno estranho para conviver,
para dormir perto, para nos guiar. Só que se o Charlie nos quisesse fazer mal,
ele já o teria feito. Certo…?
Quebrando o silêncio
perturbador da mesa, a menina começou a se revirar na cadeira, procurando um
ângulo melhor de visão, desviando das várias cabeças e procurando um local mais
visível da porta de vidro e das janelas.
— Que carro é aquele parando?
— indagou Serena.
— Se você reparar,
tem vários carros que param a cada instante. — respondeu Calem, sem nem olhar
para trás, visto que estava de costas para a entrada.
— Sério, Cal, esse
carro é diferente. — disse ela. — Ele é enorme, cheio de janelinhas. E por quê
tem tanta gente em volta? Tem até uns seguranças.
Charlie levantou o
olhar.
— Essa é uma cidade
muito bem vista pelos famosos, princesa, eles sempre estão transitando por aqui.
Por outro lado… — ele se virou, ao notar a gritaria externa. — Isso tá
barulhento até pra mim.
Calem suspirou em
desprezo.
— Será que não posso
ter um almoço em paz?
Quando as portas do
restaurante se abriram, foi como se Kalos inteira parasse para observar aquela
figura que adentrava o estabelecimento. Uma moça de caminhar delicado, como se
estivesse desfilando sobre uma passarela. As vestes todas brancas, com adornos
dourados de jóias raras, cabelos castanhos perfeitamente alinhados em um corte
de princesa, e olhos azuis brilhantes. Serena seria capaz de dizer que ali
estava um anjo, vindo passar uma mensagem divina para os mortais.
Ela permaneceu parada
na entrada, enquanto todos a observavam, boquiabertos. Em seguida, arqueou uma
das sobrancelhas e moveu seus lábios, dando a oportunidade de uma voz linda e
suave, como uma melodia angelical, dizer:
— O que foi, nunca
viram uma mulher entrar em um restaurante? Continuem comendo seus pratos
nojentos e parem de me encarar. — suspirou, guardando os óculos escuros que
repousavam em suas mãos dentro da bolsa. — Esta é exatamente a parte ruim de
comer em um “restaurante popular”. Ter que aturar a plebe.
Serena fez cara de
quem comeu e não gostou.
— Quem é ela?
Charlie ainda estava
boquiaberto demais para falar, mas entre os murmúrios sem sentido, ele
conseguiu formular uma frase:
— “Ela” é Diantha… A
Campeã de Kalos, modelo internacional, e sem dúvidas a mulher mais linda,
poderosa, uber, ultra e mais um pouco do continente.
Calem repousou os
talheres em seu prato, perfeitamente polidos, brilhando.
— E daí?
— “E daí”? Calem, ela
é a Campeã… Seu último obstáculo para o título de Mestre Pokémon!! Se você
conseguir todas as insígnias, e passar pela Elite dos Quatro, você enfrentá-la...
Ela é tipo o chefão do jogo!
Uma gotinha de suor
escorreu enquanto Calem forçava para não arregalar os olhos.
— Na verdade eu
esperava pior. — ele falou, com simplicidade.
— Pior como? —
indagou Charlie.
— Não sei, talvez um
cara de cabelo vermelho espetado com várias máquinas e aparelhos ligados ao
corpo, liderando um Pokémon lendário.
— Não viaje, Calem.
Isso é impossível. — retorquiu o outro rapaz.
Serena fitou a moça,
por uma brecha entre os seguranças que se dispunham em roda em volta de sua
mesa dela. Então aquela era a pessoa mais forte de Kalos? A pessoa mais forte
de Kalos era uma mulher? Aquilo a deixou contente, e talvez um pouco
esperançosa. E se algum dia fosse ela, no lugar de Diantha?
Naquele instante o
professor Sycamore entrou dentro do restaurante, ajeitando seu jaleco, com seu
jeito charmoso de caminhar. Correu o olhar pelas mesas, com os olhos
semicerrados, procurando pelos jovens. Ao encontrá-los, esboçou um sorriso, que
se desfez instantes depois ao ver a mesa alguns metros à frente cercada por
seguranças.
Ele sequer precisou
ver quem estava no meio para saber. Os seguranças em posição já diziam isso. As
pessoas se matando do lado de fora para tirar fotos diziam isso. Todos olhando
já dizia isso. Ele se aproximou, e sentiu uma mão enorme tocar em seu peito,
como uma muralha que o impedia de avançar. Era possível ver o olhar ameaçador
por baixo dos óculos escuros.
— Vá. Embora. — a
voz, que mais parecia um trovão, lançou o aviso.
— Sou apenas um
amigo. — ele respondeu. — Gostaria de cumprimentá-la.
Diantha imediatamente
virou seu pescoço, se deparando com o professor. De todas as piores caretas que
uma moça linda daquelas poderia fazer, ela certamente escolheu a pior de todas.
— Augustine? —
indagou ela.
— Diantha. — ele
respondeu. — Dando uma volta na Cidade das Luzes? A propósito, estamos sem luz
na parte Norte, não acha que está na hora de dar um jeito nisso? — provocou.
— F-falarei com algum
responsável. — ela respondeu, um tanto incomodada. — Agora, se incomoda em me
dar licença? Estou almoçando.
Sycamore levantou as
mãos, como um falso pedido de desculpas, mas antes que pudesse se retirar, os
seguranças o levantaram e colocaram para fora da roda com tremenda facilidade.
Ele caminhou para a mesa onde os rapazes estavam, cumprimentando enquanto
andava.
— Você falou com
aquela mulher? — disse Serena espantada. — Que fantástico! Vocês são amigos?
— Amigos é uma
palavra um tanto forte. — balbuciou Sycamore, rindo. — Vocês já pediram a
comida?
— Será que a gente
pode falar com ela também? Nossa, ela parece uma estrela de cinema! — exclamou
a loura.
— Ela é uma estrela
de cinema também. — respondeu Augustine — Portanto, praticamente é impossível
alguém não a conhecer.
Calem, que
permanecera em silêncio até então, levantou-se e caminhou em direção à roda de
seguranças. Antes de ser retirado, ele encarou Diantha por uma frestinha entre
dois caras, e a viu encarando-o também.
— Com licença,
senhorita, posso fazer um pedido? — disse, fazendo os seguranças se prepararem
para removê-lo, como um inseto indesejado.
— O que quer,
rapazinho? — indagou Diantha, forçando um sorriso.
— Segundo as regras,
você não pode recusá-lo… — falou ele. — Então, me enfrenta em uma batalha? —
pediu com simplicidade.
Todos ficaram
praticamente surpresos com o pedido corajoso — e estúpido. — de Calem,
inclusive a própria moça, que arregalou os olhos ao ouvir o pedido.
— B-bem… As regras
dizem que não posso recusar uma batalha, desde que você tenha oito insígnias e
tenha derrotado a Elite dos 4. O que, suponho, que você não fez, certo? — ela
respondeu, forçando novamente um sorriso, mas ainda deixando transparecer
incômodo.
Calem fingiu estar
decepcionado.
— Ah, desculpe, eu
não sabia. — falou, suspirando. — Porém, você não pode fazer uma batalha
amigável comigo? Só como treinamento, eu ficaria extremamente honrado. Já é uma
honra estar respirando o mesmo oxigênio que Diantha, mas batalhar contra ela
seria…
Diantha balançou a
cabeça.
— Hm… Uma outra hora,
rapazinho. Tenho uma agenda lotada de coisas a fazer agora. — ela falou,
sinalizando para seus seguranças a levarem. — Peça para embrulharem, Tom,
comerei no caminho. Este lugar é horrível.
Diantha se virou de
costas e marchou em direção à porta com seus vários seguranças, novamente sendo
recepcionada por uma chuva de flashes de câmeras, e a costumeira muvuca Porém,
ela já estava acostumada. Nesse mesmo intervalo de tempo, Calem retornou
tranquilamente para sua mesa, sem sequer reparar os olhares atônitos dos amigos
para ele.
— Calem, com todo o
respeito… Mas você é idiota? O que pensava que estava fazendo? — indagou
Charlie, incrédulo.
— Ela é uma
especialista, Cal. Se ela aceitasse, você estaria perdido! — exclamou Serena.
Calem jogou a cabeça
para trás, suspirando.
— Foi um erro
calculado. — ele respondeu. — Eu sabia que ela não ia aceitar, apenas queria
testar uma tese. — ele encarou o professor
com o canto do olho. — Você sabe do que eu estou falando, não sabe?
Serena olhou para
Augustine.
— Do que vocês estão
falando? — perguntou ela.
Sycamore pigarreou, e passou a
mão pelos cabelos castanhos.
— Diantha não é como
qualquer Campeã, e não é apenas por ser uma estrela de cinema. — falou o
professor. — Ela é um caso à parte.
— Porque… — começou
Charlie, incentivando.
— As pessoas alcançam
o cargo após batalhar contra o Campeão atual e vencer, certo? — disse
Augustine. — Mas Diantha nunca conquistou o cargo.
Eles se espantaram
ligeiramente.
— Já sabemos que os
treinadores estão cada vez menos numerosos em Kalos. — continuou Calem. —
Chegou a certo ponto em que ninguém conseguiu ganhar do campeão por três
gerações.
— E quando ninguém
vence o Campeão, seu herdeiro assume o trono e permanece até que alguém o
vença. E caso contrário, um herdeiro do herdeiro assumirá. No caso, ela. —
concluiu Augustine.
Serena inclinou a
cabeça para o lado. Isso significava que Diantha não era uma mulher super guerreira,
que priorizava as batalhas, os combates.
— E por que ela não
deixa o cargo? — perguntou a garota.
— Ela não pode. Está
fadada a essa função até que tenha um descendente, ou até que alguém a derrote.
O que, sinceramente, — respondeu o professor, alisando seus cabelos castanhos
com a mão. — espero que não tarde a acontecer. Ela pode ser uma linda princesa,
porém não é uma rainha.
A garota refletiu
sobre aquelas palavras. Charlie repousou sua mão na costas da menina, que
sequer reparou. Antes que falasse qualquer coisa, Sycamore logo mudou de
assunto. Não por mal, nem intencionalmente, ele realmente não parecia
incomodado de falar sobre aquilo. Disparou:
— Oui, Eu convidei um amigo para o almoço.
Espero que não se importem.
...
— QUÊÊÊ? COMO ASSIM
EU “NÃO SOU FASHION O SUFICIENTE”? PRA SUA INFORMAÇÃO, EU SOU MUUUUITO FASHION,
OK?! MUITO MAIS QUE VOCÊ, COM ESSA ROUPA MARROM COM TEXTURA. PARECE QUE CATOU O
TAPETE LÁ DE CASA E REMENDOU DUAS MANGAS!!
Katheryn e Aldrick estavam na boutique mais aclamada de Lumiose,
ou até mesmo de toda Kalos. Ou melhor, estavam em frente à boutique. A loja era seletiva, ela deixava apenas os
clientes que fossem julgados como “fashions” entrarem e comprarem. A vendedora,
é claro, não obteve muito sucesso ao tentar barrar Katheryn.
— Senhorita, peço perdão, mas são as regras de nossa Boutique. —
ela balançava as mãos, tentando acalmá-la.
— NÃO VOU DEIXAR VOCÊ
FALAR COMIGO ASSIM NÃO! MAS QUER SABER? VOCÊ NÃO MERECE MINHA PRESENÇA DIVOSA,
FASHION E CHARMOSA NESSA LOJA AÍ! KATE BERRY ESTÁ SE RETIRANDO DO RECINTO. E NA
PRÓXIMA, USA UMA TIGELA DIFERENTE PRA CORTAR ESSE CABELO, QUERIDA!
A morena saiu pisando
duro, com Aldrick atrás dela, tentando acalmá-la. Estavam na Avenida Vernal,
uma das mais belas de Kalos por possuir algumas das lojas mais refinadas da
cidade. Infelizmente, a maioria estava fechada devido ao blecaute. Kath
recostou sobre uma árvore e encarou a Torre Prisma ao longe, quando percebeu
uma garota passar por si, fazendo o caminho oposto, em direção à boutique. A
menina aproveitou para avisá-la de longe:
— Garota, é melhor
não tentar entrar nessa loja, eles não deixam ninguém entrar. — falou.
A outra parou de
andar
— Eles deixam apenas
as pessoas mais elegantes entrarem, não me admira que você ficou para
fora. — respondeu.
Katheryn tomou um
susto com a resposta, fazendo uma careta. Ela caminhou vagarosamente em direção
à garota, retirando sua boina:
— Aldrick, segura meu
chapéu. — pediu.
— Kath, você não vai
nos meter em encrenca, vai? — perguntou o louro, já ciente da resposta.
— Shh… Kath foi
embora. — disse ela sem olhá-lo, com a cabeça levantada e uma pose se impondo.
Apenas metralhou algumas palavras que responderam-no: — Agora é Kate Berry.
— Era isso que eu
temia. — falou.
A morena foi em
direção da outra menina. Reparou que esta outra era loura, usava um longo
sobretudo que ocultava um poucos suas vestes por baixo. Kate não sabia
exatamente o que ela vestia por baixo, dava apenas pra ver que era pontudo e
cheio de glitter.
— Escuta aqui, fofinha. — disse Kate. — Quem é você
para ousar falar assim com uma diva?
As pessoas são mal educadas assim no planeta em que você comprou essa roupa?
A outra abriu a boca,
como alguém que acabara de ser esfaqueada.
— Espera só eu tirar
meus óculos. — e tirou o item, revelando olhos esverdeados raivosos. — Pronto,
agora repete, queridinha.
— Fofa? Querida? Ai,
droga, ferrou. — comentou Aldrick, de longe. — Será que vai ter puxão de
cabelo?
Kate riu:
— Quem é você na fila
do pão, meu amor? — perguntou.
— Eu? Eu sou apenas…
Ela jogou o sobretudo
roxo no chão, mostrando um vestido branco, com coisas que pareciam diamantes
feitos com o material da roupa. Algo um tanto exótico, se comparado com o que
as demais pessoas vestiam na rua.
— Ra-ra-ah-ah-ah. Rama-ramama-ah. Gaga-oh-la-la. — a frase veio acompanhada de uma
coreografia, que somada com o figurino e a voz marcante da garota, foi um golpe
direto para Kate.
— Por que eu tenho a
sensação de que isso vai dar uma treta maligna? — sussurrou Aldrick, novamente
para si mesmo.
— Nomezinho difícil,
hein. — disse Kate, um tanto ingênua. — Pois aposto que você não vai querer se
meter com uma Garota de Azalea,
certo? — disse, avançando.
— Isso não é uma
forma de se tratar uma Lady! Espera só eu estapear essa sua Cara de Poker! — respondeu Gaga, se
aproximando até que as duas ficassem coladas de frente para a outra.
Era como se entre os
olhares fuziladores de ambas estivesse um raio que seria capaz de queimar
qualquer coisa que tentasse passar no meio delas. Como duas estrelas da música
prestes a se encarar em um duelo épico.
— Garotas, garotas,
garotas… — falava Aldrick enquanto corria na direção delas. — Não há
necessidade de brigar em um lugar como Lumiose. Vamos, sintam o cheiro de amor
no ar.
Ele puxou Katheryn,
que acabou cedendo com a força do rapaz. A loura virou-se de costas e ambas
soltaram um suspiro de desprezo simultâneo. Kath arrancou seu chapéu das mãos
do amigo e encaixou-o sobre seus cabelos pretos.
— Não precisa falar
duas vezes. Não vou me misturar com essa gente. — disse a garota.
Ela parou para
observar a menina tentar entrar na loja. E, é claro, ser barrada também.
Precisava apenas ter aquele sabor, aquela vingança. Quando a senhorita
aproximou-se da vendedora, esta fez uma expressão de total assombro, como se
estivesse assustada. Katheryn começou a rir, porém fora interrompida pela fala
da senhora:
— Senhorita, que
combinação ousada! Artística! É tão individual, tão única! Por favor,
adoraremos que você visite nossa boutique. — disse.
Naquele momento, Kath
quase machucou os pés de tanto que seu queixo caiu. Gaga virou-se para ela, com
uma risadinha.
— Isso ainda não
acabou, Gagá. — gritou Kath, chacoalhando os punhos.
— Ah não, Katezinha.
Isso está apenas começando. — disse a menina, entrando na loja.
...
“Espero
que vocês não se importem”.
De fato, eu não me importaria. Porém, quando o tal amigo chegou,
senti uma energia estranha rondar o ambiente. Aparentemente fui a única, mas
estava certa. Aquele seria um dos encontros mais perturbadores de minha vida.
Um homem alto chamou
a atenção das pessoas quando adentrou o restaurante. Vestia um terno castanho
escuro, detalhado algumas vezes com a cor laranja, em um tom próximo de seus
cabelos rebeldes que disparavam em tufos de sua cabeça e na barba, como a juba
de um Pyroar. Porém, era como se seus olhos azuis de tom azul lembrassem as
zonas oceânicas mais profundas e misteriosas, escondendo algo capaz de causar
medo em qualquer um que olhasse.
Sycamore acenou, e o
homem focou-lhe o olhar, sorrindo e acenando de volta. Já não era necessário
procurar mais. O homem caminhou calmamente até a mesa onde o professor e o trio
estavam. Quando chegou, permitiu-se fazer uso de sua voz, que mais parecia um
rugido grave:
— Desculpe-me pelo
atraso. — falou simpaticamente, puxando uma cadeira.
Augustine balançou a
cabeça, e em seguida apresentou os jovens, que o cumprimentaram normalmente.
Porém, quando o ruivo passou os olhos por Serena, permaneceu por alguns
instantes fitando a loura. Os dois pares de olhos azuis ficaram frente a
frente. O par de Serena que lembrava o céu, e o par de Lysandre que lembrava o
mar. Em seguida, o homem disfarçou, apresetando-se:
— Meu nome é
Lysandre, também sou um cientista, embora não pareça. — brincou.
— O Lysandre é o dono
do Lysandre Labs, que cria ótimas invenções. — disse Sycamore, chamando o
garçom. — Entre elas o Holo Caster.
Enquanto faziam os pedidos,
Calem deixou-se perguntar:
— O que é “Holo
Caster”?
Lysandre sorriu:
— É um aparelho que
desenvolvemos para a comunicação. — falou. — Ele transmite hologramas, como
mensagens privadas ou até mesmo noticiários. É uma ferramenta que passamos anos
trabalhando, e finalmente pudemos colocá-lo em prática.
A conversa fluiu. Os
pratos chegaram, enfim, e o grupo, que àquela altura já estava morrendo de
fome, finalmente se alimentou. Sycamore e Lysandre eram amigos de longa data,
desde a infância, aparentemente. Conforme foram se especializando em diferentes
áreas da ciência, cada qual se estabeleceu em grupos de pesquisas
diferenciados. Augustine recebeu o cargo de Professor de Kalos, enquanto
Lysandre executava projetos privados.
Vez ou outra, um dos
dois adultos gargalhava, deixando os jovens um tanto encabulados. Sycamore
elogiava constantemente o trio — mais especificamente os primos Windsor. — o
que deixava Lysandre curioso. Em determinado momento, virou-se novamente para a
loura:
— Qual o mesmo o seu
nome, pequena? — indagou, com a voz mansa.
— Serena. — disparou
a garota.
— Serena. — ponderou
Lysandre por alguns instantes. — Que lindo nome.
Ela agradeceu meio
envergonhada.
O ruivo ensaiou por
alguns instantes, até sorrir para a garota mais uma vez:
— Jovem Serena,
permita-lhe fazer uma pergunta.
Ela assentiu,
evitando transparecer o incômodo.
— Você certamente
está deleitando-se de sua bela idade, da juventude tão cheia de magia para
explorar o mundo… — falou, com um tom aéreo, como se estivesse contando uma
história. — Então, se pudesse… Você escolheria ser jovem para sempre? — ele
perguntou.
Calem, Charlie e o
professor conversavam entre si, portanto não ouviram a pergunta. Enquanto isso,
as palavras rondaram o ar, até entrarem aos poucos pelos ouvidos de Serena,
dançando em sua mente.
— Jovem… Para
sempre…? — analisou a menina, deixando as palavras escaparem de seus lábios.
O tom de Lysandre era tão assustador, mas as palavras pareciam um
doce saboroso que me fora oferecido. Imagine só, ter uma eternidade para
aproveitar a vida, sem nunca perder nada, nunca perder as energias? Porém, um
arrepio me percorreu ao ter essa ideia, como se algo dentro de mim me alertasse
de que talvez não fosse assim um sonho tão positivo.
— Isso é possível? —
indagou a menina.
— Oh, não, não. —
Lysandre riu. — São apenas alguns
devaneios de um cientista sonhador. Mas certamente o mundo seria lindo se a
beleza fosse mantida para todo o sempre… Ou então, se acabasse em apenas um
instante, para que a beleza nunca termine. — ele refletiu. — Uma pena que esteja
se tornando um local tão… Degradante.
— Senhor Lysandre,
claramente não tenho tanto conhecimento quanto você… E admito que parece um
sonho ser imortal… — começou Serena, com
sua voz doce. — Porém, acredito que a vida seja um ciclo… E a mortalidade faz
parte dele. Todas as épocas possuem sua beleza e seus pontos fracos… Cabe a nós
aproveitar o lado bom de cada uma. — ela falou, um tanto tímida.
Pôde perceber o maior
coçar a barba, revelando um pequeno sorriso de canto.
— É uma filosofia de
vida mágica, jovem Serena. — concluiu o homem, cruzando os braços. — Admito que
você me fascina. Já se imaginou dentro de um grupo com um ideal comum?
A menina inclinou a
cabeça para o lado.
— Um grupo? —
perguntou.
— Nem adianta,
Lysandre, esse peixe eu já pesquei. — interrompeu Sycamore, entrando na
conversa. — Ela está encarregada de pesquisas minhas, não vou liberá-la para
você. — brincou ele.
— Acho que fui lento
demais. — concordou Lysandre, levantando os ombros.
Novamente continuaram
conversando. Porém, Serena ficou refletindo sobre as palavras do ruivo. Afinal
de contas, ele não parecia simplesmente estar curioso. Parecia querer algo
mais. Parecia que vira alguma coisa nela na qual a própria não fora capaz de
ver. E ao mesmo tempo sentia um calafrio. Foi quando o homem se levantou,
alongando os músculos.
— Parece que minha
hora chegou, senhores. Agradeço pela refeição, vocês são, sem dúvidas, uma
ótima companhia. — falou ele, buscando algo em seu bolso. — Adorarei presenteá-los
com isso.
Tratava-se de um
retângulo feito de metal e plástico, com uma tela e uma espécie de câmera
acoplada, com vários botõezinhos. Os três garotos ficaram encarando o objeto
concedido, até perguntarem, em uníssono:
— Isto é um…
— O Holo Caster, sim.
— respondeu ele com uma risada. — Assim poderei manter contato com vocês quando
necessário.
Serena prontificou-se:
— Não podemos
aceitar, senhor Lysandre. Não sem pagá-lo, ou algo do gênero.
— Por favor, aceitem,
não quero nada em troca. Por enquanto. — completou, dando de costas e começando
a caminhar em direção da portal. Ele parou, e virou a cabeça alguns graus para
os quatro, com um pequeno sorriso disfarçado. — Digamos que vocês ficam apenas
me devendo uma.
...
O professor Sycamore
despediu-se, e ele mesmo encarregou-se de pagar a conta, junto de Lysandre —
mesmo sabendo que os primos poderiam bancar sem problemas. Ele saiu apressado,
lembrando-se de um compromisso, e o trio ficou sozinho no Boulevard Sul de
Lumiose. Juntos, é claro, da multidão que caminhava apressada pelas ruas.
Começaram a caminhar
para próximos do Centro Pokémon, conversando. Serena ainda estava animada, como
sempre, porém, sempre que se lembrava de Lysandre, sentia algo estranho
percorrer-lhe a mente, como um pressentimento. Charlie a incentivava a
continuar se divertindo, até que reparou em algo.
Metros à frente,
entre dois estabelecimentos, parecia que alguém os observava. Não conseguiu ver
detalhes, porém, o sujeito logo desapareceu nas sombras do beco em que se
encontrava. Virou-se de costas, e notou que outra pessoa parecia encará-lo, mas
começou a andar, e logo desapareceu de vista. Ao levantar o olhar, outra pessoa
que até então estava encostada em uma sacada, entrou no prédio em que estava,
disfarçando.
Ele sabia o que era
aquilo. Sabia o que significava. E sabia o que aconteceria muito em breve.
Limitou-se a pedir para que os amigos acelerassem a caminhada. E mais uma vez,
Calem e Serena sentiram que Charlie lhes escondia alguma coisa.
Porém, estavam perto
demais de descobrir o que poderia ser.