De volta com mais um curto capítulo da Royal Emperium, hoje nos aprofundamos um pouco em alguns personagens. Só como esclarecimento, esse capítulo teoricamente se passa entre os episódios 26 e 27, entre a evolução do Pupitar e a batalha com a Korrina. Eu não o havia terminado antes de postar o capítulo 27, portanto coloco ele depois, mas sei que vocês entendem o contexto! Aos poucos vamos conhecendo os personagens da guilda, especialmente uns novatos que ainda não haviam aparecido, como a Skrelp, o Tyrunt, e o Kecleon. Espero que gostem do especial!!
Após as três leves
batidinhas na porta de madeira do dormitório, a torre ficou inundada por um
silêncio mortal. Theodore balançou de um lado para o outro, nervoso, batucando
com os dedos inquietamente a bandeja branca cheia de alimentos recém-preparados
por ele mesmo. Mary encostava na parede ao seu lado, a boca aberta e uma
expressão de expectativa.
— Senhor. — repetiu
o Magikarp, batendo novamente. — Trouxe algo para comer.
Desta vez a porta
foi aberta, fazendo um rangido das fechaduras. Theodore deu inevitavelmente um
passo para trás ao se deparar com seu líder em um olhar tão fechado que sentiu
as pernas bambearem. O rapaz parecia maior que o usual, mas estava sem sua
costumeira armadura, vestindo algo como um pijama despojado, unicamente.
A expressão era de profundo cansaço e decepção.
— Obrigado. — disse,
a voz mais grossa que geralmente, com um tom sério tão amargo que o Magikarp ficou
sem saber o que dizer.
Neal pegou a bandeja
e acenou com a cabeça, sem energias.
— Obrigado,
Theodore.
Em seguida, fechou a
porta mais uma vez. O bobo-da-corte ficou parado, cabisbaixo enquanto fitava a
porta, como se aguardasse que seu líder a abrisse e dissesse “está tudo bem,
não se preocupe. Entrem, vamos conversar”. Mas sabia que aquilo não
aconteceria, poderia ficar ali parado a noite toda esperando, que teria apenas a porta
para observar.
— Eu nunca o vi
assim. — murmurou ele.
— Nem a minha
brincadeira de sempre fez ele rir. — comentou Mary, frustrada. — E funcionava todas
as vezes.
— Ele queria muito
vencer o grande Magnar. E quando o dia chegou… Não foi capaz de defender a
guilda. — suspirou o Magikarp.
Magnar era o líder
da Iron Helmet, uma guilda quase tão nova quanto a Royal Emperium, mas que ascendera
em tão pouco tempo que se tornou um destaque entre as guildas jovens de Kalos.
Sobretudo, o guildmaster era um
antigo rival de Neal, desde que eram apenas crianças em outros tempos. No
primeiro combate de verdade entre os dois, tempos depois, a derrota do Pupitar
foi inevitável, mesmo com sua evolução.
— Só espero que ele
melhore logo. — disse Theodore. — Logo terá uma batalha decisiva no Ginásio de
Shalour, e não sei se ele suportaria outra derrota.
Nas fronteiras da
Royal Emperium, o clima era consideravelmente mais leve. Tiberius, o segurança
e guardião da guilda, permanecia estático em sua posição de vigília – o corpo
enorme estufado e uma expressão neutra na face, monitorando os arredores caso
alguém ameaçasse uma invasão, o que não se esperava que acontecesse. A noite
estava em uma agradável temperatura, e àquela distância apenas os barulhos da
natureza o tiravam da quietude noturna. A lua tinha um tom forte de amarelo,
envolta por várias estrelas distribuídas pelo céu como uma malha toda
pontilhada.
O silêncio foi
interrompido quando de súbito ouviu um grito em sua direção.
— AHHHHHÁ!!!!
Alguém saltou na
direção do guarda, atingindo-lhe com o pé em um golpe. Tiberius, todavia,
sequer se importou muito, apenas virando suavemente a cabeça para ver de onde
era atacado. Em seguida, levantou o invasor com uma das mãos, pendurado. Era
uma garotinha de tranças, cujo chapéu caiu quando foi erguida de ponta-cabeça.
Ela se debatia inquietamente, sem muito sucesso.
— Ei! Me solta, seu…
Seu… Gigante de milênios atrás! — reclamou ela, dando socos no ar.
— Destruir inimigos.
— murmurou o guarda.
— Eu não sou
inimiga, seu infeliz! — ela retorquiu, nervosa. — Sou da guilda!
Tiberius ficou a
ponderá-la.
— Por que amiga
ataca guilda? — indagou.
— Porque… Bem… — a
própria menina ficou sem uma resposta imediata. — Porque eu estava testando sua
segurança. E ela foi aprovada. Por enquanto.
Agnes era incapaz de
ficar quieta em seu canto. A todo momento gostava de estar em atividade e às
vezes acabava por provocar os outros, apenas para estar em uma luta. Ainda era
uma novata dentro da guilda, mas chamava a atenção por suas habilidades, sendo
tão apta guerreira da água, como hábil com venenos.
Enquanto os dois
debatiam, Austin, o Skiddo, apareceu correndo portão afora. O rapaz não tinha
uma expressão muito contente no rosto, andando a passos rápidos, quase
trotando.
— O que está
acontecendo aqui exatamente? — inquiriu. — Não podem esperar para invadir a guilda
quando meu turno acabar?
— Guardião da Torre!
— gritou Agnes, apontando para ele. — Eu o desafio para uma batalha!
Mason levantou uma
sobrancelha, apoiando as mãos nos joelhos para ficar na altura da garota ainda
suspensa no ar pelo guarda.
— Ei, calma lá. O
que que eu tenho a ver com isso? — reclamou ele.
— Me enfrente, bode!
Quero ver se é capaz de defender sua guilda. — falou ela, com a confiança de
quem não estava sendo imobilizada por um guerreiro de dois metros.
— Eu não estou aqui
para defender nada. — disse, dando de ombros. — Por isso temos o grande Tiberius
cuidando de nossa fortaleza.
— Então você se
rende? — perguntou ela.
— Quem é você,
mocinha, para desafiar um membro veterano? — perguntou ele, arqueando as duas
sobrancelhas.
Tiberius, naquele
momento, soltou a garota, de maneira que caísse no chão. Contudo, ela se
levantou tão rápido que sequer poder-se-ia dizer que sofreu algum dano com o
impacto. Ela apoiou as mãos na cintura, confiante, o peito estufado e cheio de
pompa.
— Eu sou Agnes, a
besteira mais poderosa da região. — disse, com um sorriso firme.
— Besteira? —
perguntou Austin.
O guerreiro de grama
começou a gargalhar com o nome, enquanto a menina ficou a observá-lo a
princípio confusa, mas em seguida furiosa. Ela desferia alguns soquinhos no
ombro do rapaz, que não conseguia parar de rir.
— EU ESTOU FALANDO
SÉRIO, SEU DESGRAÇADO! — disparou a menina. — Besteira, de quem usa uma besta!!
O Skiddo parou por
um momento e a observou, mas bastaram poucos segundos para que continuasse
rindo ainda mais, precisando agachar no chão para tentar se conter. A garota
quase soltava fogo pelos olhos, mas nada que fizesse impedia que o garoto
gargalhasse espontaneamente.
— É UMA ARMA! Essa
daqui, ó! — resmungou, estendendo o objeto que carregava consigo.
Passaram-se mais
alguns bons instantes até que o rapaz conseguisse se conter um pouco, limpando
as lágrimas que formaram inevitavelmente no canto do olho. Agnes ainda tinha um
olhar fuzilante em seu rosto. Ele se levantou, afagando o cabelo da menina.
— O.K., então vou te
chamar de Bestinha agora.
Agnes vociferou,
chutando a canela de Austin. Tiberius abriu um pequeno sorriso, parecendo se
divertir.
— Bestinha. —
repetiu consigo, parecendo gostar da brincadeira.
Austin voltou a rir
alto, enquanto ela se voltava agora nervosa com o segurança.
— EU NÃO TE DEI
AUTORIZAÇÃO PRA ISSO, BODE! — disse, para Austin.
— Pirralha, você
está atrapalhando o trabalho do senhor Tiberius. — falou o garoto, agora
recuperando o fôlego depois de tanto rir. — Deixe ele cuidar do trabalho, que
meu turno acaba em… — ele olhou com desdém para um relógio. — Agora.
— Mas não é só você
que cuida da torre? — indagou Agnes.
O rapaz preparava-se
para ir embora, mas voltou.
— Por isso mesmo, eu
que determino meu horário de descanso. — falou, bem articulado. — E é cruel
fazer alguém trabalhar direto por… Hm… Quarenta minutos.
— Eu vou dedurar
você para o Guildmaster, dizer que
não está cumprindo seu trabalho. — falou a garota, confiante.
— E eu vou dizer que
você está sendo ótima no seu. — respondeu Austin. — Que é ser uma Bestinha.
— Bestinha. —
repetiu Tiberius, sorrindo.
— AHHHHHHHHH SEU
DESGRAÇADO!
...
O deslizar do pincel
pela tela áspera acalmava Vincent. Ele adorava a paz do período noturno. A
guilda era interessante durante o dia, mas sempre cheia de obras, crianças
brincando, Theodore correndo para lá e para cá. Quando o sol se punha, todos
focavam mais em suas próprias atividades e viviam em seu tempo. Vincent,
sobretudo, era um dos membros que gostava de aproveitar seus picos de
inspiração para ficar às vezes praticando suas atividades artísticas de
madrugada, quando tinha a oportunidade. Ainda era relativamente cedo, os
membros concluíam seus afazeres para então relaxar.
O rapaz encarava um
vaso enquanto cuidadosamente reproduzia desenhando aquilo que via. Misturava as cores com
calma, tinha toda a cautela do mundo para adquirir o tom desejado. Uma lanterna
velha iluminava exatamente o ponto que desejava para o vaso, e se não por uma
outra luz fraca presa ao teto, seu ateliê estava inundado em uma penumbra. Ele
gostava disso, deixava tudo mais reconfortante. O espaço era pequeno e bem
bagunçado – tintas para todos os lados, quadros antigos, esculturas não
terminadas, materiais de desenho e por aí vai. Mas ele gostava, era seu pequeno
refúgio dentro daquela guilda que só crescia a cada dia.
— Que belo uso das
cores.
Vincent deu um salto
com o susto. Não tinha ouvido ninguém se aproximar, e a porta estava fechada.
Correu os olhos arregalados pelo espaço pequeno, mas não encontrou nenhuma
pessoa. De repente, parecia ver um par de olhos em um ponto do ateliê, e antes
que soltasse um berro de susto, viu um ser tomando as formas aos poucos de um
rapaz de mesma estatura que ele, vestido em uma capa que parecia ajudar em sua
camuflagem. Seus grandes olhos verdes se escondiam entre as vestes.
— Desculpe, não quis
assustá-lo! — disse o moço.
— Bem, deveria ter
pensado nisso antes de entrar escondido no meu ateliê. — rebateu Vincent,
colocando a mão no peito para sentir as batidas aceleradas de seu coração.
— Queria apenas
observar um pouco, mas fiquei fascinado com suas habilidades, e esqueci que
estava meio que escondido. — o outro deu uma risada. — Meu nome é Pascal, e sou
Pokémon do jovem Elliot, novo amigo dos outros garotos.
— Um membro novo.
Por isso não o conhecia. — comentou o Smeargle. — Eu sou Vincent, muito prazer.
— e apertou sua mão. — Deixe-me dizer que sua habilidade também é notável.
Consegue se camuflar em qualquer tipo de cenário?
— Praticamente. —
assentiu o outro.
— Incrível. Deve ser
ótimo para fugir de reuniões quando você precisa terminar uma escultura e não
teve tempo para fazer isso. — ponderou o pintor.
O Kecleon coçou a
cabeça.
— Eu nunca tentei
com esse propósito, mas…
— Senhor Vincent? —
uma voz chamou por trás da porta de madeira.
O Smeargle caminhou
tranquilamente até a entrada, revelando um jovem pálido e de roupas claras e
limpíssimas. O menino corou, um pouco tímido, enquanto carregava um buquê de
flores.
— Desculpe, eu só
queria deixar essas flores que você encomendou para uma pintura… Perdão por
atrapalhar. — disse Eryx, entregando o buquê.
O Smeargle pegou o
ramalhete, com flores imensas em um tom de amarelo vivo. Eryx entendia como
ninguém de flores devido ao seu tipo e sua espécie, e conseguia cultivar as
mais belas plantas para propósitos decorativos para a guilda.
— Imagina, eu estava
só procrastinando. — comentou o rapaz, colocando as flores no vaso que antes
pintava. — Esse é o Pascal, um membro novo.
Eryx encarou aqueles
olhos verdes reptilianos com curiosidade.
— Ah, sim.
Bem-vindo. — acentou, tímido.
— Obrigado. —
respondeu ele, possivelmente sorrindo, mas era difícil dizer com sua boca
coberta. — Já está ficando tarde, vou deixá-los fazerem seu trabalho. Uma boa
noite!
Após uma simpática
despedida dos demais, o Kecleon saiu caminhando rumo aos dormitórios. Eryx
auxiliou Vincent a arrumar as flores de uma maneira mais bonita para que fossem
pintadas. Ele havia especialmente usado seus poderes para que elas durassem um
pouco mais de tempo e não murchassem rápido, sem que a pintura estivesse
concluída. Quando percebeu que estavam sozinhos, Eryx levantou o olhar.
— Ele está há muito
tempo na guilda? — inquiriu, com a voz forçando naturalidade.
— Algum problema? —
indagou por cima o Smeargle.
— Não sei, tenho um
pressentimento estranho sobre ele. — falou, acanhado. — Desculpa, meus poderes
ficaram meio confusos desde a evolução, ainda não sei controlá-los direito.
— É um guerreiro que
se camufla, deve confundir suas habilidades Fairy-type.
— argumentou Vincent. — E obrigado pelas flores.
Após um sorriso,
Eryx se retirou. Não era o tipo de membro que admirava muito o período noturno,
mas precisava realizar mais uma entrega especial naquele dia antes de finalizar
sua oficina. Foi para uma área mais importante dos dormitórios, encontrando
Mary sentada pensando em uma escada.
— Mary? — perguntou.
A Espurr revelou um
sorriso ao encontrar o amigo, correndo para abraçá-lo.
— Eryx!
Ele puxou um pequeno
buquê simples de flores, mostrando para ela.
— Você pediu que eu
trouxesse isso? — perguntou.
— Sim, eu queria dar
para o Neal de presente.
— O efeito delas é
bem curto, não acho que vá resolver muitos problemas.
Mary cheirou as
flores.
— Está perfeito.
Ela admirou as
plantinhas. Tinham um cabo liso, mas as delicadas pétalas se acumulavam aos
montes, deixando-a cheia e exuberante. Havia só umas três ou quatro, era um
arranjo bem simples, prendendo todas com uma fitinha roxa. Mas Mary achava
perfeito, justamente por sua delicadeza.
— Sabe, tenho
sentido uma energia muito forte dele ultimamente. — disse Eryx. — E não é só pela
evolução. Ele está passando por um momento muito difícil.
A garota assentiu, e
permitiu que ele se retirasse. Em seguida foi até o quarto de Neal, saltitando
enquanto cantava. Sabia que não eram flores quaisquer. Elas haviam sido
encantadas pelos poderes de Eryx. O garoto era capaz de trazer diferentes
efeitos a partir das plantas que cultivava. Apesar de não serem fortes o
suficiente para vencer uma guerra, poderiam causar pequenas surpresas para que
recebia, e trazer sorrisos singelos para as pessoas.
— Ei, Neal. — ela
bateu na porta.
O Pupitar a recebeu,
com a mesma expressão desgastada de antes. A menina não se abalou, piscando os
grandes olhos púrpuros para ele.
— Trouxe isso pra
você. — ela estendeu o buquê.
Ele apanhou,
tentando ser gentil.
— Obrigado, Mary.
— É uma flor
encantada. — disse a garota. — As brancas trazem paz e prosperidade.
Neal sentiu o aroma
doce das flores. Notou, ao segurá-las perto de si, um efeito curioso, como se
as pequenas partículas que inspirava dançassem em seu interior. Aquelas flores
que Mary havia pedido tinham esse efeito. Elas eram capazes de tranquilizar,
trazer um pequeno êxtase a quem recebia. E a menina queria muito que seu amigo
tivesse esse sentimento naquele momento.
— Elas são muito
bonitas. — ele admitiu. — Obrigado.
— Eu sei que você tá
triste. — falou a menina, acanhada. — Mas não precisa ficar.
— Eu sei, Mary. —
ele abriu um sorriso fino e frágil.
— Você é o guerreiro
mais forte que eu conheço. — ela saltitou. — Vai dar um jeito de vencer o
Magnar na próxima vez. Como você fala? “Perdemos a batalha, mas não a guerra”.
Neal sabia que muito
em breve o efeito passaria. Logo voltaria a pensar em Magnar, e que suas
estratégias estavam falhas – e o pior, antes de uma batalha decisiva em um
ginásio. Ele sabia que as preocupações de sempre não demorariam a voltar à sua
mente. Mas permitiu aproveitar-se daqueles curtos instantes de felicidade para
esquecer de tudo, sentir aquele cheiro docinho e o carinho de sua melhor amiga
lhe permitindo dar um sorriso sincero como há muito tempo não fazia.
Pascal é o Kecleon de Elliot, e primeiro Pokémon do garoto. Encontrou com Serena e sua Espurr enquanto enfrentava uma horda de Roggenrola sozinho, sendo derrotado e salvo pelas duas.
Antecedentes
Sabe-se que foi recebido por Elliot quando mais novo. Mais detalhes são ainda desconhecidos.
Estratégias e Envolvimento em Batalhas
Raramente entra em batalhas, apenas quando essencialmente, por conta de ser o primeiro Pokémon de Elliot. Suas técnicas de camuflagem e adaptação a depender do ambiente e do adversário o tornam um guerreiro muito versátil e imprevisível.
Royal Emperium
Pascal é um membro recente e curioso da guilda. Levando em consideração que seu treinador ingressou apenas recentemente no grupo, alguns membros ainda não tem conhecimento de sua presença. Devido às habilidades de sua espécie, é capaz de se ajustar a vários contextos e serviços dentro do grupo, sendo um membro notável desde sua entrada. Por este mesmo motivo, é difícil que os demais Pokémon definam sua personalidade e gostos, uma vez que é completamente adaptável.