ALERTA DE SPOILERS! Antes de ler as notas, leia o capítulo correspondente primeiro!
...Eis que, 5 anos depois, concluímos a primeira temporada.
Tenho tantas coisas pra dizer nesse momento que nem sei ao certo por onde começar. Primeiro, estou feliz com a conquista, que demorou, e muito, mas ela chegou. Trinta capítulos (mais especiais). Uma temporada. A Saga X. Completa. Depois de tanto tempo.
Eu comentei em algum momento, se não me engano, que o final da temporada não seria simplesmente um número de capítulos que extrapolou. A temporada não mudaria só porque alcançamos um determinado número de episódios, mas sim porque o enredo sofreria uma mudança nítida. (comentei isso? Na minha cabeça sim, mas não tô lembrado de quando) E, de fato, com esse final demos um giro de cento e oitenta graus na história. A parte boa de demorar tanto pra postar uma fanfic é que o tempo é ótimo para amadurecer ideias. Há anos planejo tudo isso, e se um dia acabaríamos a Saga X com um inocente festival em Shalour, agora vemos o início de uma nova temporada com um clima muito mais tenso e obscuro.
A Saga X recebe esse nome porque ela representa Xerneas, a Vida. Ou seja, essa temporada toda foi sobre vivência. As primeiras experiências, o primeiro amor, as primeiras decepções, os primeiros medos, a imaturidade, o amadurecimento, o crescimento. Tudo isso, todo o ciclo da vida, esse momento de florescimento e cores da descoberta e da beleza de existir. Esse era o foco de Kalos até então. Eis que entramos na segunda etapa, que é a Saga Y, a Morte, regida pelo senhor do Caos Yveltal.
Nesse quesito, testemunhamos quase um falecimento de nossos protagonistas, porque eles não serão mais as mesmas pessoas. A partir deste momento, eles ganham um status de fugitivos. Agora não são apenas crianças em uma jornada Pokémon: eles são procurados por um dos homens mais influentes de Kalos e, apesar de nossa jornada continuar, não vai mais ser a mesma coisa de sempre. É inevitável que a Saga Y seja muito mais sombria e ominosa, porque viveremos sob uma constante atmosfera de dúvida e incerteza. Qualquer um pode ser um novo inimigo, qualquer um pode nos entregar. Na última vez que confiamos em alguém, ele nos traiu. Damos um "até logo" para as riquezas e luxos da família Windsor, porque agora o foco é a liberdade - e o custo dela é alto, muito alto.
Espero que tenha realizado algumas das ambições de vocês para o final de uma temporada. Tem explosão, tem diálogo forte, tem a Serena atacando o noivo com uma espada, tem Stevan levando cuspida na cara. Algumas perguntas importantes foram respondidas nos últimos capítulos, e finalmente poderemos começar uma nova etapa, renovados, pelo menos por enquanto.
SAGA Y: QUANDO?
Em teoria eu deveria fazer um hiato para começar a nova temporada, mas eu já tenho estado em hiato a cada capítulo desde... 2013 ~risos de nervoso~ ou seja, se eu falasse pra vocês GENTE AGORA EU VOU DEMORAR MESMO provavelmente só teríamos capítulo novo em 2023 ~mais risos de nervoso~. Neste caso, não esperem nada de muito diferente. Não vou lançar o capítulo novo semana que vem (tava lindo 3 semanas de capítulo seguidas, verdade). Maaaas também não pretendo tardar muito. Por sorte já comecei os planejamentos da Saga Y faz um tempo, então já tenho em mente como começar. Quero só ter um tempinho para me adiantar e dar umas mexidas no design, e prometo que logo atualizo vocês com a nova temporada. Afinal, essa mudança pede uma mudança nos protagonistas e no próprio layout. Fiquem de olho nas páginas por aí que elas passarão por mudanças durante esse tempo!
Deixo um agradecimento a vocês que me acompanharam até aqui, e espero contar com sua presença na nova temporada. Obrigado e bom final de semana <3
O tempo passado na
área litorânea de Kalos, suavemente mais quente, havia feito Calem se
desacostumar com o clima frio e fechado de Vaniville
Town. Algumas nuvens grossas se formavam e dançavam pelo céu, bloqueando
ocasionalmente o Sol frágil de trabalhar naquela manhã. O garoto, contudo, foi
capaz de tomar uma ducha como há muito não podia, nos confortos de sua mansão,
saindo com um forte cheiro das mais refinadas ervas da região.
Envolvido por um
robe grosso de tecido extremamente confortável, o rapaz recostava-se sobre uma
varanda. De lá de cima, fitava um belo jardim perfeitamente podado, com sequer
uma folhinha fora do lugar. Lembrou ligeiramente do Parfum Palace, embora o quintal deles não fosse tão grande quanto o
de seu tio Louis.
Ouviu um ruído e
virou-se para trás, encontrando Serena caminhando em sua direção. Também usava
uma roupa mais confortável, e seus músculos faciais se alongavam em um bocejo.
Ela encostou ao lado dele, encarando a paisagem, ainda se acostumando com a
claridade após acordar.
— Não tenho a visto
mais com tanta frequência. — murmurou o garoto.
Os olhos da menina
deslizaram pela paisagem.
— Deu para descansar
um pouco de mim, então.
Calem deu uma
risadinha. Ao fundo, organizavam-se morros e montanhas, cobertos por uma
neblina grossa que não permitia que se avistasse seu final. O rapaz engoliu em
seco. Espiou de canto de olho a expressão da prima, e viu como seu rosto
parecia perdido naquele cenário; os olhos azuis melancólicos e amargos sem a
empolgação costumeira. Ele pigarreou.
— Serena, eu…
— Em Camphrier… —
balbuciou ela, baixinho, o interrompendo. — Você disse que quando chegasse a
hora, nós convenceríamos meu pai. — ela se virou para ele. — E em Shalour…
Calem esfregou as
mãos, incomodado. Abaixou o olhar sem uma reação imediata.
— Serena, me
desculpe. — falou, honesto. — Eu achei que…
A garota se afastou
da varanda.
— Tudo bem, Cal. —
ela balançou a cabeça, como se tentasse colocar os pensamentos de novo no
lugar. — No final eu concordei com meu pai mesmo. Desculpa, eu não quis jogar
tudo nas suas costas.
E
pensar que poucos dias atrás estávamos nós encostados na varanda quase na mesma
posição, mas admirando o mar que banhava Shalour, comentando sobre como
finalmente eu me sentia capaz de estar viva desde que saíra de casa. Como o
destino às vezes é irônico.
Ela afagou os braços
no próprio corpo, se aquecendo. Em seguida caminhou para dentro, pronta para
tomar café-da-manhã. Calem se virou, com pesar, deixando escapar uma pergunta.
— Você tem certeza
do que está fazendo, Serena?
Ela parou de
caminhar, dirigindo-lhe um olhar frígido.
— Não. — disse ela,
simplesmente.
O garoto soltou um
longo suspiro, segurando com força a sacada da varanda. Seus dedos tremiam com
a pressão que exercia, como se tentasse extravasar de alguma forma. Ele
prometera que a libertaria, mas naquele momento nenhum dos dois tinha mais
forças para lutar contra a própria família.
O menino ouviu que
alguém se aproximava e, como esperava que fosse sua prima novamente, sentiu uma
pontada de decepção ao ver que era apenas um dos outros funcionários que
trabalhava nas mansões. Uma senhora de cabelo preso em coque, protegido por uma
redinha, entrou apressada à sua procura:
— Senhor Calem! —
disse ela. — Tem visita para o senhor.
O rapaz arqueou uma
sobrancelha.
— Quem é?
— Ele apenas disse
para você ir urgentemente. — completou a senhora.
Calem ficou parado
sem uma exata reação. Com certeza não esperava visitas, pelo simples motivo que
era raro que qualquer visita aparecesse nas casas de sua família. Contudo, com
o casamento de Serena, alguns conhecidos e parentes mais afastados estavam
chegando à cidade, e isso poderia explicar o motivo da surpresa.
O garoto reforçou a
amarradura do robe e desceu as escadas, seguiu pelos corredores até o hall de
entrada. O piso de pedra estava perfeitamente brilhante àquela manhã,
contrastando com o papel de parede de aparência vintage, decorado com alguns retratos pintados de membros da
família. O rapaz deslizou a mão pelo corrimão longo de madeira escura e desceu
com cuidado os grandes degraus, chegando a um tapete clássico de enorme
extensão.
Seus olhos correram
pelo ambiente à procura de alguém, até encontrar um garoto que de início não
reconheceu pelas vestes. Quando o rapaz tirou seu chapéu e cachecol, ele assimilou
instantaneamente aqueles olhos verdes desconfiados e o sorriso torto. Não
evitou uma expressão de completa surpresa:
— O que você está fazendo
aqui, Charles? — indagou, as palavras ecoando pelo enorme salão.
O garoto se
aproximou, em um tom nervoso porém cochichado.
— O que você pensa?
— inquiriu ele, balançando os braços.
O outro olhou para
os lados e o empurrou para uma área mais oculta do hall.
— Você é louco? —
inquiriu. — Se o pai de Serena o encontra aqui…
— Se eu não viesse
você não iria fazer nada. Eu disse que era um primo que veio para o casamento. —
interveio o garoto, instaurando uma pausa. — O Elliot contou tudo o que o pai
da Serena sabe.
Calem encostou-se na
parede, como se tivesse tomado um soco no estômago. Ele ficou encarando o
garoto e deu uma risada, esperando pela pegadinha.
— Como assim? —
murmurou. — Ele não tinha um…
— Ele nos enganou.
Não tem avô nenhum, nem deve ter a idade que ele disse. — retorquiu Charlie. —
Ele é só mais um dos encarregados nojentos do seu tio que veio nos perseguir.
O menino esfregou as
mãos no rosto, incrédulo. O tempo todo ele sentia que havia algo nas perguntas
que Elliot fazia, mas sempre tomou apenas como uma curiosidade. Jamais pensaria
que estava entregando todas as informações que Stevan não tinha sobre o
dia-a-dia do grupo. E, sobretudo, ele que deveria ter comunicado o homem sobre
o fracasso de Calem em algumas de suas batalhas.
— Agora não dá tempo
de se arrepender, eu já bati nele por nós três. — falou o outro com
simplicidade. — Eu tenho um plano, só precisamos…
— Charles. — o
menino voltou a encará-lo, segurando-o pelos ombros. — Você não entendeu ainda.
— ele focou os olhos cinzentos sérios. — Acabou.
Um silêncio mórbido
se instalou na área de entrada. Charlie desviou o olhar e se soltou, com uma
expressão amargurada no rosto. Ele virou-se para Calem, voltando a sussurrar,
mas não evitou que seu tom subisse inconscientemente:
— Você vai mesmo
deixar Serena, sua prima, se casar?!
— inquiriu, aproximando-se.
— Charles, —
respondeu o outro. — talvez seja um mundo estranho para você, mas é assim que
as coisas funcionam na nossa família há um certo tempo.
Charlie soltou uma risada
de deboche.
— Então você
desiste?
Calem ficou alguns
segundos o encarando, cansado de receber tantas vezes aquela mesma provocação.
Desta vez, ele mordeu a isca, respirando fundo e respondendo:
— Desisto.
O garoto deu passos
curtos pelo espaço. Ficou a fitar um dos retratos de algum membro da família
que sequer chegou a conhecer. Pelas vestes, sabia que aquele membro dos Windsor
era de alguns séculos passados. Tinha uma pose heroica e nobre. Era apenas mais
um entre tantos outros, das mais diferentes épocas, espalhados pelas paredes da
mansão.
Calem tinha uma
expressão vazia no rosto. Era como se repetisse apenas os discursos que lhe empurravam
sem de fato crer naquelas palavras. Quando Charlie o questionava, sentia uma
dor, porque era incapaz de defender algo que não concordava. Mas seu amigo não
sabia o que era estar entre a cruz e a espada em um conflito familiar daquele
porte.
— Eu acho que é para
isso que nascemos afinal, Charles. — falou Calem, com um tom baixo. — Ficar
aqui. Eu sabia isso desde o princípio. Nunca quis sair. — ele suspirou. — Por
um tempo eu quase me esqueci, mas… É a verdade, afinal de contas.
Charlie cerrou as
mãos, balançando a cabeça.
— Não acredito que
estou ouvindo isso.
O outro se aproximou
das escadas novamente, virando-se por curtos instantes.
— Adeus, Charles. —
disse, por fim.
— Calem, me escute.
Mas ele apenas
continuava a subir os degraus, calmamente.
— PARA!!
Um eco reverberou
por todo o hall e, consequentemente, pelos corredores mais próximos. Calem congelou no lugar, enquanto o amigo
ofegava, no primeiro degrau. Charlie engoliu em seco.
— Eu sei que tem um
por cento de você, que seja, lá no fundo, que quer que tudo volte ao normal.
Que quer voltar para nossa vida. Ouça o que eu tenho a dizer, pelo menos. Por
favor — disse o garoto em um tom de súplica que Calem nunca havia ouvido antes.
— Eu vim até aqui.
Calem suspirou, e
após alguns segundos de debate interno, se virou para ele, descendo alguns
degraus, ainda que seu rosto ainda moldasse uma expressão dura.
— Você tem dois
minutos. — disse, por fim.
...
O dia de Serena fora
cheio. A expressão “dia de noiva” finalmente fazia sentido em sua cabeça. Desde
que acordara uma equipe de pessoas controlou basicamente todos os seus
movimentos. Apesar de lhe reservarem inúmeras atividades de relaxamento, a
garota no fundo sabia que não conseguiria fazê-lo plenamente. Ainda não
conseguia ter os pensamentos no lugar, mas esperava que tudo se acertaria
quando aquilo terminasse.
A algum tempo da
cerimônia, depois de longos horas de maquiagem e cabeleireiro, trajaram-na com
o vestido de noiva cuidadosamente escolhido para aquela ocasião. Ele já havia
sido usado por outras moças da família Windsor e por isso era extremamente
tradicional. Deixava seus ombros livres, começando ao entornar seus seios, com
um tecido tão fino e belo que a garota tinha até medo de pensar no valor que
custava aquela roupa.
A parte de baixo do
vestido era tão cheia e grande que até mesmo ficava difícil de andar. Se sequer
conseguia ver as pernas por baixo daquelas camadas, imagine só os sapatos tão
cuidadosamente selecionados, igualmente de tom branco. A cauda era imensa, e
Serena tinha dó de arrastá-la pelo salão, de tão limpa que estava. Tinha que
admitir que aquele vestido era uma das roupas mais lindas que já viu em toda a
sua vida, milimetricamente decorado, mas de aparência geral simples, como se
tanto requinte se escondesse em meio a delicadeza.
Uma das moças
encarregadas de ajudá-la fez os últimos ajustes no vestido, prendendo-o em sua
cintura no tamanho ideal. Serena se encarava no espelho, tentando reconhecer
aquela figura que a encarava. Seus longos cabelos louros estavam brilhando,
amarrados em um penteado que levou horas para ficar pronto. Seus fios eram
sempre reluzentes como o ouro, mas sobretudo pareciam especialmente bem
cuidados naquele dia. A moça sorriu a ela, dando alguns passos para trás.
— Você está linda. —
elogiou.
A menina forçou um
sorriso.
— Obrigada.
A moça fez um sinal
para as demais assistentes, tocando a garota no ombro.
— Vamos preparar os
arranjos de flores e já voltamos, está bem? — disse.
A garota fez um
sinal positivo com a cabeça, e ficou a se encarar novamente. Ela sentiu-se, por
um instante, como em sua festa de quinze anos. Desta vez, porém, o que a
esperava depois do evento não era uma vida de aventuras. Não tinha um vestido
brilhante e róseo; tinha o porte de uma moça, a pose tão intacta como uma
princesa. Mas seus olhos ainda não conseguiam enganar, por mais que forçasse os
músculos do rosto a sorrir.
A porta abriu e ela
nem se virou, aguardando as moças encarregadas de ajudá-la a se preparar.
Contudo, após ser sucedida pelo silêncio, resolveu olhar. Um rapaz alto de
longos cabelos louros a encarava, e por mais que tentasse disfarçar, não evitou
sua surpresa ao vê-la, naquelas roupas, daquele jeito. Após alguns segundos de
confusão, ele deu uma risada constrangida, ajeitando seu terno.
— Desculpe, me
disseram que o banheiro é aqui. — falou, envergonhado.
Serena balançou a
cabeça, singela.
— Ah, é bem comum
que se confundam. A casa é meio grande. — ela abriu um sorriso, apontando para
o lado de fora da porta. — Na verdade fica no corredor de lá.
O rapaz assentiu e
se preparou para partir, mas a garota acabou o interceptando:
— Já nos encontramos
antes? — indagou.
Ele parou e se
virou. A menina de fato sentia que já vira aquele rosto em outra ocasião,
aqueles cabelos longos caídos pelas costas. Ele não era louro como ela, seus
fios eram extremamente claros, quase tão pálidos quanto sua alva pele. Ele
ponderou por alguns momentos, fitando seus olhos azuis com tanta profundidade
que parecia explorar o interior de seu cérebro. Seu tom era tão pacífico que
parecia uma melodia, ela sentia que poderia ouvi-lo falar o dia todo – e era
maravilhoso finalmente algo que a acalmasse, naquele dia.
— Sinto que já.
Perdão por não reconhecê-la, mas imagino que não estava vestida assim quando
nos encontramos pela primeira vez. — brincou ele.
Serena não evitou
uma risada.
— Não estava. —
concordou.
Eles desviaram o
olhar. O moço voltou a encará-la e, por alguns segundos, ficaram assim, até que
ele rompesse com a quietude:
— Por que sinto que
seu rosto está triste, no que deveria ser o dia mais feliz de sua vida? —
perguntou ele.
Serena desfez o
sorriso, dando leves passos pelo quarto. Infelizmente não conseguia andar muito
– e nem queria arriscar, com medo de sujar o vestido ou estragá-lo.
— Eu não queria que
tudo isso estivesse acontecendo. — respondeu ela. — Não agora. Não desse jeito.
O homem abaixou o
olhar.
— Eu sinto muito. —
disse.
Ela assentiu com a
cabeça, e voltaram a ficar em silêncio. Ele se preparou para ir embora, mas
parou com a mão na porta, não evitando um último contato.
— Ei, moça. — falou.
Serena focou o
olhar, vendo-o abrir um sorriso fino em seu pálido rosto.
— A vida é uma só. —
disse. — Não deixe que tirem sua chance de ser feliz.
Em seguida ele
avançou rumo ao banheiro e a garota ficou parada, vendo-o ir embora. Aquelas
palavras, ditas com o tom musical do rapaz, adentraram sua mente como um
furacão. Ela encostou sobre a parede, a mente voltando a se envolver por um
turbilhão. Logo as moças voltaram com os arranjos floridos para seu vestido, e
a preencheram de conversas. Contudo, parte do cérebro de Serena não conseguia
esquecer o que acabara de ouvir.
...
Era chegado o momento.
Havia horas que os
convidados chegavam para a cerimônia. O local escolhido era um salão imenso
entre as mansões da família Windsor, utilizado justamente para aquele tipo de
eventos. Além dos parentes que já habitavam Vaniville,
outros integrantes da família e conhecidos de todas as partes de Kalos haviam
sido chamados. Havia seguranças por todos os cantos, tão imóveis quanto
estátuas, apenas aguardando por qualquer necessidade de ação.
O evento também
tinha cobertura para toda Kalos, pela televisão. Muitas pessoas se interessavam
naquele tipo de festa de pessoas renomadas da região. Stevan fazia questão de
cumprimentar aqueles que chegavam de longe, oferecendo uma recepção envolvida
pelos melhores petiscos e uma música ambiente orquestrada.
Com o cair da tarde,
todos foram convidados a adentrar o salão. A aparência do espaço lembrava as
igrejas mais antigas de Kalos, apesar das centenas de assentos cobertos por um
tecido branco fino, e as delicadas pétalas de flores derrubadas cuidadosamente
para ornamentar. Sob um altar espaçoso, era possível ver pinturas antigas das
lendas mais ancestrais do continente, batalhas de Vida e Morte; era difícil
estimar sua antiguidade, mas os detalhes eram tão cuidadosamente feitos que as
histórias pareciam ganhar vida na arte.
Enormes pilares
sustentavam as paredes altas, repletas de mosaicos com figuras também
lendárias. Lustres de vidro tão pesados pendiam do teto metros acima, tão
cuidadosamente articulados que pareciam esculturas de gelo brilhando. Os
assentos foram quase todos ocupados pelos presentes, que se organizaram
calmamente. Todos trajavam roupas extremamente elegantes, das melhores marcas e
grifes de Kalos.
Calem ajeitou-se em
seu lugar. As mãos estavam tão frias e inquietas que colocou-as no bolso de seu
paletó. Respirou fundo – aquele lugar, apesar de imenso, conseguia deixá-lo
claustrofóbico. Os falatórios cessaram quando a cerimônia teve início, e o
garoto sentiu seus músculos congelarem.
A orquestra começou
uma típica melodia de matrimônio. Gradualmente começaram a entrar os padrinhos
– Calem sequer pôde ser escolhido como um, uma vez que Stevan movera seus peões
para organizar tudo. Havia várias pessoas emocionadas, limpando as lágrimas em
lenços, e o garoto revirou os olhos. Algumas pessoas ele sequer tinha visto na
vida. Por que se emocionavam por um evento cuja gravidade sequer compreendiam?
Por último, o noivo
entrou. Apesar de saber que não tinha culpa das coisas, Calem queria cuspir em
seu rosto quando passasse por ele. Mas não o fez. O rapaz caminhou com um
sorriso tão sincero que o menino sentiu uma pontada no peito. Curiosamente, ele
utilizava não um terno qualquer, mas um uniforme refinado de guerreiro,
incluindo uma espada presa a uma bainha. Era típico que famílias de grande
poder mantivessem essa tradição, relembrando as conquistas militares de
outrora. Algumas outras espadas decoravam o ambiente, embora o rapaz se
perguntasse se de fato eram reais, para estarem assim expostas.
Ele subiu no altar,
e os olhos de sua mãe marejaram. O rapaz tinha um sorriso perfeito, os cabelos
penteados cuidadosamente no lugar. A melodia continuou por mais alguns minutos,
e o coração de Calem disparava, porque sabia o que viria a seguir.
Não muito longe
dali, Serena respirava fundo, dentro de um carro. Seu pai segurava sua mão, e
ela sentia os dedos grossos tentando acalmá-la. Ele desceu primeiro, estendendo
a mão e abrindo a porta para ela. A garota acidentalmente esbarrou em um dos
funcionários que a ajudaram a se ajeitar logo que levantou.
— Desculpe. — falou ela.
— Sem problemas,
princesa. — ouviu em resposta.
Serena assentiu, mas
quando assimilou suas palavras, seu coração quase parou ao cogitar algo.
Contudo, quando se virou e procurou pelo que havia pensado, notou que era
apenas um delírio. Vários flashes de
câmeras se dirigiam a ela, e a menina cruzava um de seus braços com o de seu
pai. As mãos cuidavam para segurar aquele buquê enorme de majestosas flores. O
véu em sua cabeça pesava, especialmente a tiara em sua cabeça, repleta de
pedras.
Por
um momento eu lembrei como odiava aquilo. Era como se todos os olhares em um
raio de muitos metros só conseguissem focar em mim, e isso me incomodava.
Incomodava porque a cada segundo eu só desejava que o chão me engolisse.
Moldaram-me como uma boneca, eu quase não conseguia me mover. Não sabia para
onde olhar, eram tantas fotos, tantas pessoas… E aquele momento, sobretudo, era
o meu. Eu sabia o que viria.
Ela respirou fundo,
tentando evitar o nervosismo. Stevan lançou um olhar solidário, tocando-a com
leveza no queixo.
— Pode abrir um
pequeno sorriso? — pediu, gesticulando a mesma ação com a boca.
A garota o fez,
tentando encontrar forças para sustentá-lo. Estava tão nervosa que teria de ir
no banheiro – se não tivesse feito isso três vezes antes. Conseguia ouvir a orquestra,
e o momento dramático da melodia fazia seu coração pular, arrepiou-se dos fios
do cabelo até os dedos dos pés. Ela já ouvia ouvido músicas do gênero antes,
mas não imaginava que as ouviria em seu próprio casamento. Não tão cedo.
As imensas portas do
salão se abriram, e Serena sentiu na pele as centenas de olhares focando em si.
Os sinos batiam em
sua presença; a música atingia seu ápice; pessoas choravam apenas por vê-la
entrar, e ela não entendia o porquê. A luz transpassava pelos mosaicos fazendo
aquele salão gigantesco brilhar nas mais variadas cores; as artes ganhavam vida
pelas paredes. Serena sentia um aperto a cada passo que dava, como se sentisse
que sua história estivesse sendo feita a cada movimento. O corredor até o altar
parecia não ter fim, e ela não poderia correr para chegar logo. Apenas sorria
para todos que lhe dirigiam o olhar admirado e faziam os melhores votos.
Finalmente seus
olhos encontraram os de Calem, no meio dos bancos. O garoto parecia abismado.
Nunca havia visto sua prima tão linda como naquele dia. Era fato que ela sempre
era bonita, mas especialmente naquele dia haviam a produzido tanto que parecia
ser simplesmente a moça mais bela de Kalos. Mas ele, ainda assim, tinha uma
expressão triste ao vê-la assim justamente para aquela ocasião. Seu noivo, Henri,
ao longe, formava um sorriso bobo no rosto, extremamente satisfeito ao vê-la se
aproximar.
Quando ela chegou ao
altar – embora parecesse ter passado horas – seu pai levemente tirou-lhe as
mãos, permitindo que caminhasse sozinha. Ele revelou uma expressão de
felicidade, vendo-a andar ao centro do altar, na companhia de seu noivo. Ela
dirigiu-lhe um sorrisinho, e ele parecia estondeante. A melodia cessou e todos
se sentaram, enquanto um líder religioso rompia com o silêncio que inundou o
salão naquele momento.
Ele pigarreou, e o
eco percorreu o imenso salão:
— Estamos aqui
reunidos para celebrar um momento único na vida deste casal. — foram suas
palavras iniciais.
Serena queria ouvir
cada uma das palavras com cuidado, mas não conseguiu. Sua mente focava em
tantas coisas ao mesmo tempo que era como se cada segundo durasse o dobro, como
se estivesse submersa em um oceano, e as palavras se dissolvessem na água. O
moço louro que a encontrou se vestindo estava algumas fileiras para trás. Calem
estava de outro lado, apreensivo. O vestido a apertava. Os olhares e câmeras
não disfarçavam o quanto a encaravam e monitoravam seus movimentos. Ela
respirou fundo e focou em não cair ali mesmo, desmaiada.
— De todos os
mistérios do mundo, o amor é aquele que nos intriga desde os primórdios da
humanidade. Ele nos atinge e, sem pedir licença, nos muda para sempre. —
prosseguiu o senhor que dirigia a cerimônia.
A menina percebeu
uma movimentação dos seguranças no canto do salão, e uma boa quantidade deles
caminhou para fora. Stevan espiou o acontecimento também de canto de olho, bem
como outros presentes, mas ninguém se importou muito. As palavras do senhor
reverberavam pelo salão como uma profecia.
— O casamento é um
marco na vida de um casal. Mas representa apenas mais um dia de amor, de toda
uma vida de união e companheirismo. — disse. — Henri e Serena são uma família e,
frente a tantas pessoas queridas, marcam hoje o dia em que anunciarão sua
caminhada juntos pelo trajeto da vida, enquanto o grande senhor da existência, Xerneas,
permitir que respirem juntos.
A menina levantou o
olhar para as pinturas. Um cervo imenso era representado com toda a majestade
possível; os chifres brilhando em tantas cores como um arco-íris, em um
ambiente doce e natural. Ela desceu os olhos e encontrou seu noivo, sorrindo.
— Henri d’Ampierre. —
disse o senhor. — Aceita Serena Windsor como sua legítima esposa?
O homem alternou seu
olhar entre a noiva e o senhor que realizava a cerimônia. Por fim, respirou
fundo:
— Eu aceito. —
disse, abrindo um sorriso, com toda a certeza do universo. — Aceito Serena como
minha esposa, e prometo amá-la e respeitá-la. Na alegria e na tristeza. Na
saúde e na doença. Na riqueza e na pobreza. Por todos os dias de minha vida. —
falou, com firmeza. — Até que a morte nos separe.
Aquelas palavras a
atingiram. Todos ao redor se emocionaram e esboçaram sinceros sorrisos.
— Serena. — disse o
senhor, dirigindo-se para ela. — Aceita Henri como seu esposo, e promete amá-lo
até que a morte os separe?
"Até
que a morte nos separe."
A menina sentiu que
naquele momento carregava todo o peso do mundo em suas costas. Os olhares
apontaram inquisidores em sua direção; seu pai a fitava com uma expressão
autoritária mascarada em doçura; Era como se aquelas palavras separassem seu
passado de seu futuro; um futuro que a perseguiria por todos os dias, até que a
Morte decidisse que o caminho havia terminado.
Ela passou a língua
pelos lábios secos, e sentiu a própria respiração. Por fim, abriu a boca, e
tentou reunir forças para conseguir retirar aquelas palavras presas na
garganta:
— Eu aceito.
Calem abaixou a
cabeça. Stevan respirou aliviado. Henri sorriu. O senhor assentiu com a cabeça
e olhou para as demais pessoas assistindo à cerimônia, emocionados. Levantou os
braços, centrado:
— Se alguém tiver
algo a dizer para impedir que esta união aconteça, que diga agora, ou cale-se
para sempre.
As palavras ecoavam
tão assustadoras quanto a promessa da eternidade que supunha. Que intimidador
era intimar alguém a fazer promessas que durassem para sempre. Calem abaixou a
cabeça, trêmulo, suprimindo os gritos que lhe ameaçavam escapar pela garganta. Por
fim, fora a reverberação do som, o salão era inundado por um profundo silêncio,
que aquecia a consciência de muitos, e perturbava a mente de alguns. O senhor
fechou seu livro.
— Neste caso, eu os
declaro…
— EI!
O grito vibrou pelo
espaço, como uma descarga elétrica que trazia todos de volta à realidade. O
coração de Serena disparou, e os olhos de todos correram para as imensas portas
de entrada, onde um rapaz vestia os uniformes daqueles encarregados de
trabalhar na cerimônia. Contudo, sem o chapéu, revelava cabelos castanho-claros
rebeldes, e olhos verdes faiscantes como esmeraldas, provocativos como o
sorriso travesso que tinha estampado na face.
— Senhores, desculpe
interromper, mas quero sim impedir que a união aconteça. — disse Charlie, em tom
alto.
As expressões dos
rostos dos presentes pareciam um quadro de tragédia antiga. Se os olhares
matassem, Stevan com certeza teria cometido uma chacina. Os seguranças
começaram a correr em direção a Charlie, que revelou atrás de si uma pequena
criatura quadrúpede, balindo enquanto o rapaz montava em suas costas:
— Skiddo, vamos
correr!
As portas bateram, e
foram fechadas com um Vine Whip do
Pokémon. A criatura começou a avançar, e ambos conseguiram despistar alguns
seguranças que tentavam abordá-lo, às vezes recorrendo às paredes ou adornos do
salão, causando uma bagunça. Pessoas começaram a gritar, horrorizadas. Alguns
dos seguranças começaram a apontar armas, mirando no garoto.
Calem se levantou de
seu banco, apalpando os bolsos.
— Acho que agora é
minha vez. Como sempre, sobrou para o Calem limpar a bagunça. — murmurou ele,
puxando duas Pokébolas dos bolsos. — Skrelp, Tyrunt, saiam!
De uma das esferas
saiu seu cavalo-marinho, com a típica expressão desafiadora nos olhos
vermelhos. Da segunda, o Pokémon fóssil se revelou, alongando a mandíbula,
assustando várias das pessoas que o avistaram naquele momento. Skrelp lançou um
poderoso Water Pulse que
desestabilizou os seguranças que tentaram atingir Charlie. Tyrunt levantou
rochas pontiagudas do solo com o Stealth
Rock, bloqueando a passagem de outros.
Skiddo fez seu
caminho até o corredor no meio do salão, por onde os noivos entraram. Calem
tinha uma expressão não muito contente no rosto, também no mesmo lugar. Charlie
desceu do Pokémon, coçando a cabeça. As pessoas ao redor tentavam escapar pelas
saídas, mas haviam sido fechadas por Charlie para impedir que mais seguranças
entrassem, pelo menos nos próximos minutos. Havia uma gritaria coletiva que
tornava o ambiente mais caótico que realmente se encontrava.
— Eu juro que era
para ser mais discreto. — disse Charlie, com uma risada.
Calem arqueou uma
sobrancelha.
— Mais ação e menos
falatório. — respondeu. — Vá logo que eu lhe dou cobertura.
Naquele momento,
Stevan avançava pelo corredor, em direção aos garotos. Charlie montou no Skiddo
e desviou do homem, que fez uma expressão irada no rosto. Em seguida apontou
para Calem, quase cuspindo fogo pela boca.
— O que você pensa que está fazendo?! — inquiriu,
mastigando as palavras.
Calem deu de ombros.
— Surpresa?
Charlie e Skiddo
avançaram em direção ao altar. As pessoas pareciam hipnotizadas observando
aquele caos de lá de cima. Havia Pokémons lutando contra seguranças, e
convidados correndo por todas as direções. Serena tinha uma expressão de tanta
surpresa no rosto que era impossível dizer o que passava por sua mente. Quando
o garoto se aproximou, o noivo afastou-a e entrou em sua frente, como se a
protegesse.
Charlie desceu do
Pokémon, e Henri sacou a espada que usava na bainha, ainda que a princípio
parecesse apenas um adorno. Contudo, o garoto estendeu as mãos, em um falso
gesto de rendimento. O noivo puxou-o, o imobilizando e forçando a espada contra
sua garganta. Skiddo baliu, mas não pôde se movimentar para que seu treinador
não fosse ferido. Os padrinhos soltaram um grito ao redor. Serena tentava
assimilar tudo.
— Charlie, o que…
— Vim trazer o
presente de casamento… — murmurou o garoto, em um tom debochado.
— Como você ousa? —
perguntou o noivo, enojado.
Henri forçou mais
ainda a espada em sua garganta, disparando ameaças. Serena correu os olhos pela
cena, e focou em uma decoração não muito longe. Uma bainha. Puxou a espada que
ali jazia, e sentiu o peso do metal frio em sua mão. Ela precisou segurá-la com
as duas mãos. Então finalmente era assim que era segurar uma espada.
O noivo fez uma
expressão de reprovação.
— Serena…
— Largue ele. —
comandou ela, apontando a espada.
Henri ficou a
observá-la e, por mais que o tempo valesse ouro naquele momento, ficaram por
duros segundos a se encarar. Os olhos da garota brilhavam firmes e confiantes
em azul, e o noivo não evitou ceder, largando Charlie, apesar de ainda
dirigir-lhe um olhar fuzilante. Não o soltou por medo, mas por respeito a ela.
Serena, contudo, não abaixou a sua espada.
— Serena, abaixe a
espada. — pediu Henri.
—
Lute comigo. — ela respondeu, direta.
Henri ficou a
observando, esperando para ver se era uma brincadeira.
— Serena, a briga
não é entre nós. É isso que este garoto quer que aconteça — falou o noivo. —
Não quero que nos machuquemos.
— Lute. Comigo. —
repetiu ela, avançando com a espada.
— Eu não vou lutar
contra minha noiva. — respondeu ele, abaixando mais a própria espada. — Eu
jamais a machucaria.
Serena balançou a
cabeça.
— Que pena.
Em um movimento
rápido, a garota girou e desferiu um golpe certeiro na perna de Henri. O metal
passou com agilidade, criando um corte na coxa que rasgou a roupa, abrindo um
pequeno ferimento. O noivo soltou um grito de susto, bem como todos presentes
ali em cima. Charlie não evitou arregalar os olhos de surpresa. Em seguida,
Serena empurrou Henri do altar, fazendo-o cair no chão, um pouco abaixo. Ela
abaixou a espada, correndo até Charlie.
— O que foi isso? —
indagou o garoto, boquiaberto.
— Eu estou um pouco
cansada de príncipes tentando me salvar. — retorquiu ela, com uma risadinha.
Charlie bateu
palmas.
— Acho que eu que
acabei de ser salvo por uma princesa. — respondeu, fazendo-a abrir um sorriso.
— Desculpe por causar uma pequena confusão,
sei que concordou com o casamento…
Ela tocou-lhe o
ombro.
—
Quando eu estava lá em cima eu só conseguia pensar em como eu estava cometendo
o maior erro da minha vida. — falou ela.
—
Então está disposta a fazer mais algumas “loucurinhas”? — perguntou ele.
Subitamente os guardas conseguiram abrir uma das portas do salão, causando um
estrondo. — Nosso tempo está se esgotando.
Stevan
olhou de relance para o altar. Serena levantava a espada para o alto e quase
conseguia ver o metal refletir todas as cores da luz que atravessava os
mosaicos. Com um rápido movimento, ela cortou o vestido, removendo a parte
inferior em grande quantidade. Agora era possível ver suas pernas alvas livres
e, após remover os sapatos de salto, a garota sentiu novamente um gostinho de
liberdade, podendo tocar a pedra fria com os dedos.
O
pai quase rugiu.
— Que droga você
está fazendo? — gritou a Calem, aproximando-se do garoto ferozmente.
— Desculpe, tio,
acho que não estou sendo muito civilizado. — rebateu o garoto, preparando-se para
correr.
— Aquele esdrúxulo o
convenceu a fazer isso?
— Ele teve a
iniciativa. — respondeu Calem. — Mas o culpado da autoria sou eu. Só acabou
sendo mais barulhento que eu esperava.
Stevan segurou-o com
força pelo braço, o puxando com tanta ira que o rapaz quase flutuou no ar por alguns
instantes.
— Você está louco?
Está achando que vão fugir?! — perguntou ele, com os olhos tão perturbados que
pareciam prestes a rolar para fora do rosto. — Eu posso encontrar vocês em qualquer lugar deste planeta!!
Calem balançou a
cabeça.
— Pode até ser. —
falou, aproximando seu rosto de Stevan. — Mas até lá prefiro ficar longe daqui,
a passar minha vida inteira olhando para sua cara e a dessa gente nojenta e
hipócrita.
No mesmo segundo, o
garoto respirou fundo e soltou uma grande cuspida direto no rosto de Stevan. O
homem soltou um grito de horror, dando-lhe oportunidade para escapar. Ele ardeu
em ódio naquele instante, bradando tão alto que quase fez os sinos vibrarem
apenas com a voz. Calem suava frio, não acreditando no que acabara de fazer.
Ele virou-se para trás, vendo o homem amaldiçoá-lo com todo o seu furor.
— Vocês vão se
arrepender amargamente disso!!! — gritou. — Eu prometo a vocês!!
Calem virou-se. Ele
sabia disso.
Naquele instante,
encontrou Serena e Charlie. O garoto fez um sinal para que seus Pokémon
voltassem a acompanhá-lo. Mais alguns seguranças haviam entrado no ambiente,
mas estava um pandemônio tão grande que não podiam ameaçar disparar naquele
espaço. Ainda mais com a própria noiva no meio. A loura olhou discretamente
para trás, e se deparou com o homem que a encontrara horas antes, no meio do
caos.
Ele revelou um
sorriso.
— Seja feliz, moça.
— disse ele.
Ela apenas sorriu de volta.
— As portas estão
protegidas, — comentou Charlie. — talvez aquela dali esteja melhor para…
— Ou resolvemos isso
do jeito mais simples. — respondeu Calem. — Tyrunt, Ancient Power.
O dinossauro
envolveu-se com várias pedras, utilizando-se de seus poderes ancestrais. Em
seguida, disparou-as com tanta intensidade contra a parede que abriu um buraco.
Charlie e Serena ficaram abismados com o movimento, enquanto Calem atravessou a
passagem, os encarando com simplicidade.
— Vocês vão ficar aí
esperando servirem o bolo?
Os dois se
entreolharam e, apesar de uma pequena resistência, o seguiram.
— Não foi você quem
disse que precisávamos ser discretos? — indagou Charlie.
— Charles, se você
conhecer um jeito discreto de despistar duas dúzias de seguranças, você pode
ficar à vontade. — respondeu Calem, estressado, fazendo Serena gargalhar.
Charlie concordou
com a cabeça.
—
Eu adorei essa versão insana do Calem. — disse.
— Aproveite, porque
assim que a consciência voltar ele vai se arrepender amargamente disso tudo. —
retorquiu o garoto.
Os três saíram
correndo o mais rápido que puderam. Retornaram seus Pokémon e torceram para
conseguirem despistar os seguranças atrás. Com sorte, tiveram tempo de chegar a
um dos carros. Um dos trabalhadores mais fiéis à família de Calem estava no
volante, e abriu um sorriso quando viu os três entrarem. Tudo dentro dos
conformes. O Pancham de Charlie estava os esperando sentado no banco de trás,
com a mesma expressão séria de sempre.
— Para onde estamos
indo? — indagou Serena, só então tirando sua tiara com o véu, que já ameaçavam
cair fazia tempo.
Charlie bateu os
punhos das mãos.
— Vamos fugir de
barco. — respondeu, sussurrando. — Tem uma área de ilhas pouco conhecidas
próximas a Shalour. A Korrina me contou.
Fugindo o mais
rápido que puderam, não tardaram a chegar a um riacho. Um barquinho de madeira
os aguardava, da maneira que o rapaz havia planejado. Se ele bem calculara, era
possível fazer vários trajetos possíveis, pelo interior do continente ou pela
costa, até chegar à área pretendida. Quando descobrissem que eles tentavam
escapar pela água, já estariam o suficientemente longe para alcançar as ilhas
por outros meios.
Não demoraram a
colocar o que precisavam no barco. Já estava quase tudo lá. Sentaram-se os
três, e Charlie suava para conseguir dar partida no motor. Felizmente, deu tudo
certo. Em questão de pouco tempo viram Aquacorde
passando ao longe, e seguiram por uma via mais ao interior, afastando-se
das áreas mais populosas. Serena ainda tinha o vestido de noiva rasgado. Calem
seu smoking, e Charlie usava o
uniforme dos funcionários. Os três finalmente respiraram mais aliviados.
— Mas e depois que
chegarmos? — perguntou a menina, por fim, se dando conta da gravidade da
situação.
Os dois garotos se
entreolharam.
— Bem, tiramos todo
o dinheiro que conseguimos das nossas contas. — disse Calem, mostrando algumas
notas. — Com isso dá para viver uns bons meses… — ele olhou torto para o amigo.
— Se não abusarmos nos gastos.
Ela dirigiu o olhar
confuso a Calem. Ele deu de ombros.
— Eu prometi a você,
e agora estou cumprindo.
Ela abriu um
sorriso. Charlie, após conseguir certa estabilidade, adotou um tom instrutivo,
encarando no fundo dos olhos os primos. Eles pareciam dispostos a escutá-lo,
desta vez mais que nunca na aventura.
— Para isso dar
certo, não podemos cometer nenhum deslize. — anunciou Charlie. — Qualquer coisa
que denuncie onde estamos… Já era. — falou, por fim. — Cartões, Holo Caster…
Ele jogou os itens
citados na água. Calem sentiu uma dor imensa no coração de vê-los afundando,
mas não falou nada. Sabia que era o primeiro passo a ser dado para aquela nova
etapa.
— E para isso,
precisamos morrer também. — prosseguiu Charlie.
Serena arregalou os
olhos.
— O quê?
— Não de verdade. —
respondeu ele, com uma risadinha.
O garoto
entregou-lhe um pequeno retângulo de papel. A menina cobriu a boca com a mão ao
ver aquele cartão. Era um ID, parecido com o dela, mas as informações não
conferiam. Claire Duval. Laverre City.
A foto também parecia um pouco diferente. Ela teve um misto de sensações,
restando apenas buscar refúgio em Charlie que, à luz lunar, parecia confiante e
compassivo.
— O que você diz? —
perguntou Charlie, estendendo-lhe a mão. — Estamos juntos nessa?
Serena encarou seus
olhos verdes. Já anoitecia e, sobre as estrelas, eles pareciam profundos como
um oceano. Ela se virou para Calem. O garoto tinha uma expressão revoltada,
como sempre, como alguém que dizia “agora não dá mais tempo de voltar atrás”.
Ela deu-lhe a mão de volta e abriu um sorriso sincero.
— Estamos. —
respondeu, por fim. — Fugindo, mas livres. E juntos.
Serena abriu sua
mochila e pegou sua identidade. SerenaWindsor. Ela forçou o pequeno cartão,
rasgando-o ao meio. Depois ao meio de novo. Em vários pedacinhos. Em seguida,
jogou-os na água, vendo aqueles pequenos pedaços se dissolverem, cada vez mais
distantes. Em segundos eles iriam se desfazer, se perdendo nas águas. Era isso
que a garota esperava fazer com si mesma.
Deixar-se dissolver,
para que uma nova renascesse.
— Adeus, Serena. — murmurei para mim mesma, vendo aqueles
pedacinhos de papel se perderem nas águas, se desfazendo, como tudo aquilo que
representavam.
Como o nome sugere, Pokémon "multiformes" são aqueles que possuem mais de uma forma, aspecto e estado. Dependendo de sua origem geográfica, habitat, condições de batalha e mesmo influência humana, podem adquirir uma nova aparência que interfere ou não em suas habilidades dentro de campo ou comportamento.
Vivillon
Vivillon possui dezoito diferentes estampas de suas asas, incluindo a de sua forma comum, rosa. Esse status é inerente ao Pokémon, ou seja, é relacionado a seu nascimento e não pode ser modificado futuramente. Apesar de não estar relacionado exatamente ao mundo Pokémon, as formas são influenciadas pela localização do jogador que gerou/capturou o Scatterbug: algumas só podem ser encontradas em determinadas regiões do planeta. Curiosamente, a forma mais frequentemente representada de Vivillon é sua "Meadow Pattern", encontrada no mundo real onde corresponde à França, que seria a parte que representa Kalos. Algumas estampas ainda podem ser encontradas em eventos apenas, como a Poké Ball Pattern e a Fancy Pattern.
Flabébé, Floette e Florges
São espécies frequentemente encontradas em flores, devido aos laços que são capazes de formar com elas ser tão importante que praticamente tornam-se parte de seus corpos. Por esse motivo, é possível encontrar Flabébé em cinco tipos diferentes de flores: Vermelha, laranja, amarela, azul e branca. Essa característica torna-se mais marcante na forma de Florges, quando a flor literalmente torna-se parte de sua fisiologia. Os bebês Flabébé terão a mesma cor de flores que suas mães.
Furfrou
Os Furfrou, apesar de terem apenas uma forma, podem decorar seus pelos de nove maneiras diferentes. Tais padrões não alteram as habilidades em combate, são apenas efeitos estéticos. Cada estilo de pelo dura cinco dias sem retoques, e tenderá a desaparecer caso o Pokémon seja depositado no Box ou no Pokémon Bank. Em Pokémon X & Y, essa mudança pode ser feita na Friseur Furfrou, na Vernal Avenue de Lumiose. Em ORAS, pode-se podá-lo no Pokémon Fan Club em Slateport. Por fim, em Sun & Moon e Ultra Sun & Ultra Moon, pode-se cortar o pelo do Furfrou com uma Punk Girl no salão de Malie City ou com uma moça em Hau'oli City.
Natural
Aegislash
Aegislash possui duas formas, que são alternáveis durante uma batalha graças à sua habilidade Stance Change. É comum, fora das batalhas, que se encontre em sua Shield Form, em que suas habilidades de Defense e Special Defense são melhoradas. Quando opta por fazer um ataque em batalha, sua habilidade faz com que mude de forma para a Blade Form, reduzindo seus níveis defensivos e aumentando Attack e Special Attack. O golpe King's Shield permite que volte ao estágio de escudo. Tais mudanças permitem que Aegislash seja um Pokémon hábil tanto para segurar impacto dos adversários quanto para investir ofensivamente.
Pumpkaboo e Gourgeist
As diferentes formas destes Pokémon dizem respeito a seus tamanhos diferenciados. Cada qual pode ser de quatro diferentes gradações: pequeno, médio, grande ou super grande. A diferença, além de estética, está nos Stats. Pokémon menores tendem a ter maiores índices de Speed, porém menor HP, enquanto o inverso acontece para os maiores. Além disso, Gourgeist menores possuem Attack mais reduzido se comparado às versões de tamanho superior.
Xerneas
Xerneas possui duas formas: Neutral Mode e Active Mode. A diferença é meramente estética no gameplay: o modo neutro possui os chifres em um tom de azul brilhante, enquanto no modo ativo os chifres brilham em dourado e em várias outras cores graças às pedras das pontas. Xerneas se encontra no modo neutro durante situações normais, apenas em batalha que opta por sua forma ativa - diz a lenda que é porque tal forma emana energia vital pelos chifres.
Zygarde
Zygarde, apesar de ter sido introduzido em Pokémon X & Pokémon Y com apenas uma forma, mostrou-se complexo com o passar dos games. O Pokémon dragão é composto por inúmeras células, denominadas Zygarde Cells. Cada unidade é capaz de se comunicar telepaticamente com as partes mais centrais, apesar de não serem seres independentes. Um Zygarde Core é uma unidade mais autônoma, também incapaz de aprender ataques, mas que se comunica com as células, como parte do cérebro do Pokémon.
Quando 10% das células totais de Zygarde se unem, ele adquire sua forma 10%. Torna-se mais complexo na forma de 50%, com metade do total de células - adquirindo o formato em que se encontra em X & Y. Quando seu HP está cheio, pode mudar destas formas para a Complete Form, com 100% das células. Conforme a forma de Zygarde se torna mais complexa, seus níveis de força também aumentam, modificando os Stats e o tornando mais poderoso. Essa mecânica toda é explorada melhor em Pokémon Sun & Moon.
Hoopa
Hoopa possui duas formas: Confined Hoopa (Psychic/Ghost) e Unbound Hoopa (Psychic/Dark). A segunda forma é notavelmente mais forte em seus níveis de ataque, e pode ser obtida ao utilizar a Prison Bottle, item surgido a partir de Pokémon ORAS. Depois de três dias, a forma Unbound retorna a Confined, bem como quando Hoopa é depositado no Box, Pokémon Bank ou Daycare Center. Além disso, estando em formas diferentes, Hoopa pode aprender diferentes ataques a depender do nível, uma vez que também muda de tipo ao alterar seu modo.
Greninja
Um caso diferente ocorreu no anime, quando o Greninja de Ash mudou sua forma ficando mais parecido com o treinador. Conhecido como "Bond Phenomenon". Este Greninja pode ser obtido nos games, tendo a habilidade Battle Bond que fará com que modifique sua aparência após derrotar um oponente. Essa forma dura até o encerramento do combate (ou até que seja derrotado), e aumenta o poder do golpe Water Shuriken. Não se sabe se outros Pokémon futuramente poderão adquirir características dos treinadores também.