Aventuras em Kalos se passa dentro de um complexo universo, analisando as vivências de personalidades específicas da região de Kalos. Contudo, para compreender perfeitamente qualquer história e em seus personagens, é preciso estar aprofundado de certas questões que muitas vezes não cabem à história central abordar. Os Especiais buscam justamente explorar esses outros mundos que influenciam indiretamente no andamento do enredo, e que funcionam perfeitamente quando se procura compreender melhor o continente de Kalos, seus mitos e as personagens da história.
Um bar antigo e escondido no interior de Kalos é o cenário perfeito para ouvir histórias perdidas sobre o continente. Histórias terríveis, que ninguém pode confirmar ao certo, mas passaram de boca em boca e permaneceram vivas na imaginação das pessoas. Tem coragem de ouvi-las?
Antes de tudo, devo explicar que não ter postado o capítulo na semana passada foi algo mais que necessário. Formatei o computador, e praticamente fiquei o dia inteiro no processo, além do fato de que tive um trabalho em vídeo para editar, e usei o resto do fim de semana para isso. Para esclarecer as coisas, meu computador antes da formatação não reproduzia sons, e demorava dez minutos para começar as tarefas depois de ligado (ou seja, se eu clicasse na internet ou no Word, ele só abria depois de dez minutos. Depois desse tempo funcionava normal.). E sinceramente essas coisas estavam me enchendo, justamente porque uso muito o computador. Espero que compreendam que foi para o bem da pátria ~rs. Ah, e por ventura, agora que formatei, só consegui instalar o Office antigo (o primeiro, por sinal, que é o que tenho aqui em casa em CD e sabia onde estava ~rs) então estou me sentindo um homem das cavernas com computador. Que estética acabadinha ~rs.
Mas voltando ao capítulo, agora as aventuras começaram, e tenho que dizer que não começam como deveriam começar. Eu estava escrevendo a batalha normalmente, daí caiu a ficha: "Putz, eles NUNCA batalharam antes. Preciso esclarecer isso!" e cara, é como se a cada passo eu tivesse que fazer aquela descrição maravilhosa de que eles nunca tinham visto antes. Algumas vezes poupo isso porque seria algo desnecessário, causaria uma leitura cansativa. Já tivemos quatro capítulos pra saber que eles nunca fizeram nada do que fazem agora. Então mesmo que eu não diga cada palavra, imaginem uma Serena animada aproveitando tudo e um Calem resmungão botando defeito em tudo ~rs.
Aviso também que na próxima semana (a partir de segunda) estarei tendo minha semana de provas bimestrais, que provavelmente vai durar uma semana e meia. Portanto, peço compreensão porque como já foi na semana passada, vou ficar meio atolado por causa da escola. O quarto bimestre tem peso quatro na minha escola (É preciso 60 pontos para passar de ano, e se tirar um 10 no quarto bimestre, você já fica com 40). Eu nem estou precisando de nota em nenhuma matéria, na verdade, mas isso não justifica não tirar notas boas em provas ~rs. Mas, em compensação, depois disso chegam as férias, e daí teremos muito mais animação por estas bandas!
Sinnoh finalmente voltou da pausa, para sua última temporada! Agora a última parte da Saga Platina, contando com tudo o que mais aguardamos ver em uma fanfiction de Pokémon: A Liga, o Grande Festival e a Elite. Chegou a hora, pessoal! Ainda não parei para ler o Interlúdio, mas estou completamente ansioso para esta última saga. E vocês, já leram? Caso a resposta seja não, cliquem no link abaixo!
Essa música é bonita. Na verdade passei a conhecer melhor ela por causa de um seriado (talvez alguns reconheçam qual ~rs) e acho que tem bastante a ver com o tema de hoje. Para reforçar, temos parte da letra abaixo.
Uma nova manhã se iniciava em Kalos.
Poucas nuvens surgiam no céu desta vez, e o tempo estava quente. O trio havia
chegado na primeira cidade após Vaniville, Aquacorde. Era uma cidade pitoresca.
Era pequena, não possuía atrações para algum treinador visitá-la, mas para
Serena era ótima, já que precisava se acostumar com o movimento aos poucos.
Estavam sentados em uma mesa na parte mais alta da cidade, observando a visão
ao seu redor.
De lá conseguiam avistar as casas que a
compunham, um rio que a cortava e trechos da Floresta de Santalune. Calem
queria fazer tudo menos passar por aquela concentração de natureza. A última
coisa que desejava era ficar em contato com árvores, umidade e Pokémons
selvagens.
Na mesa estavam os primos Windsor lado a
lado, e do outro Charlie e seu Pancham, que encarava tudo de maneira emburrada,
embora não estivesse. Calem parecia incomodado com aquilo, mas evitava
comentários. Serena quebrou o silêncio:
—
Vocês dormiram bem na noite passada? — indagou, sorridente.
O dia
estava quase tão bonito quanto a Serena.Um sol lindo, uma ótima noite de sono
em uma cama do Centro Pokémon, uma cidade tranquila para aproveitar... É claro
que eu não consegui aproveitar nada, porque o Calem é um chato.
—
Dormir bem? Essa é boa! — respondeu Calem. — Tive que colocar um plástico
encima daquela cama para não pegar germes das outras inúmeras pessoas que
dormiram lá. E fiquei a noite inteira acordado pensando se esse... Ser... Não
ia dar o golpe em nós. — e apontou para Charlie.
O
rapaz riu.
— É,
percebi você me observando. — admitiu. — Achei que estava me admirando, mas
pelo visto me enganei.
Agora
era Serena quem ria.
—
Engraçado. Uma graça. Não consigo parar de rir. — ironizou. — E esse seu
Pokémon, ele não entra na Pokébola? Ele também ficou me encarando a noite
inteira.
O
rapaz se esticou na cadeira e depositou as costas no encosto.
— O
Thanos não tem Pokébola, na verdade. — explicou de forma simplista.
— E
ele não foge? — questionou a garota, surpresa.
—
Não, não. Quando os laços entre Pokémon e treinador são fortes, não há essas
neuroses. — brincou. — Dizem que Pokémons vira-latas são mais fiéis, e digo em
primeira mão que é verdade.
A
menina ficou admirada ouvindo as palavras do rapaz. Mesmo que Charlie parecesse
ser alguém ruim, cada vez mostrava mais ser uma pessoa boa, e em sincronia com
seu Pokémon, algo que ela adoraria ter com seu Espurr. Calem, entretanto, não
parecia tão surpreso.
— E
de onde teve a magnífica ideia de andar com seu Pancham sem ter Pokébola?
— Nem
todos têm dinheiro para comprar Pokébolas, sabe? Elas costumam ser bem caras. —
respondeu, deixando-o corado.
Serena
se levantou da mesa levemente e se virou para os companheiros:
— Vou
pedir algo para beber para nós. Querem alguma coisa? — perguntou.
—
Qualquer coisa que você quiser está bom pra mim, princesa.
— O
mesmo.
—
Tudo bem. — disse. — Volto já, tudo bem?
E
saiu saltitante para comprar algo para refrescá-los. Calem aguardou ela se
afastar e cruzou os braços, lançando um olhar desafiador a Charlie, que
respondeu com um sorriso. Pancham continuava fitando a cena de forma mal
encarada. O rapaz apontou o dedo para o outro:
—
Você pode até enganar a minha prima, Charles. Qualquer um pode, na verdade. —
disse de forma séria. — Mas você não me engana.
— Não
é o que sua mochila me diz. — deu de ombros, levantando o pertence.
— O
quê? Quer parar de fazer isso? — reclamou, pegando o objeto de volta . — Você
pode vir com seus papinhos de sincronia e amizade, mas eu sei o que quer.
Pancham
se moveu um pouco, como se estivesse pronto para atacar a qualquer momento.
—
Tudo bem, eu mesmo digo. — respondeu o menino mudando o tom de voz. — Vivo
dormindo nas ruas das cidades ou em rotas, e sabia que andando com vocês eu
teria direito a camas e refeições boas. Acertou?
Ele
olhou de forma incomodada.
— Na
verdade esse era meu segundo palpite. Pensei que você queria a Serena, mas isso
é ainda pior! — exclamou. — Então você está nos usando.
— A
verdade é que passei a gostar de vocês, sim. Ou melhor, dela, porque você é um
pé no saco. Mas e daí? Ela é uma menina muito legal, quero continuar conhecendo
ela. E se inclui andar com você, eu aguento.
—
Mesmo? — semicerrou os olhos. — Olha, também não gosto de você, Charles. Se
quer saber, por mim você poderia seguir seu caminho e eu não me incomodaria nem
um pouco.
— Ah,
Calem, cheira o meu peido. — praguejou ele, empurrando a própria cadeira para
trás e se espreguiçando nela. — O que vocês fariam sem mim? Você hoje tentou se
enforcar com os cadarços do sapato. E não sabia fazer uma forca. E a Serena me
perguntou o que era beijar alguém.
— Os
canais da televisão eram bloqueados. Um dia descobri a senha, mas me arrependo
profundamente de ter visto aquelas cenas sujas e repugnantes. — disse com
repudia. — Mas isso não vem ao caso. Só porque aceito sua presença, não
significa que eu goste.
—
Igualmente. — concordou Charlie.
No
mesmo instante Serena voltou, com três copos plásticos e uma garrafa de suco de
alguma Berry. A menina se sentou, e ambos continuaram se encarando, mas
disfarçaram.
— Oi
meninos. Sobre o que falavam?
— Oi
lindinha. Eu e o Calem estávamos dizendo que vamos começar a nos dar melhor de
agora em diante. — mentiu, lançando um sorriso falso a ele, sendo retribuído
por outro.
Ela
se iluminou.
— Que
ótimo! Fico muito feliz, muito mesmo. — disse, apalpando os bolsos. — Só que
acho que perdi parte do dinheiro no meio do caminho, não tinha tudo o que eu
levei.
Charlie
a cutucou, fazendo-a o olhar, revelando um montinho de notas de dinheiro.
—
Talvez você nem tenha levado. — brincou, jogando para ela de volta. — Se quer
uma dica, nunca ande por aí com muito dinheiro ou deixe ele muito à vista.
Combinado?
—
Bobo. Combinado. — disse, sorrindo.
Aquele
sorriso, cara! Impossível um mais perfeito! Era uma pena que fosse tão
inocente. A verdade é que depois de conhecê-la me senti na obrigação de
protegê-la desse mundo. Nenhum dos dois sabe como ele pode ser cruel e
assustador de vez em quando.Eu era o responsável por não deixar aquela
garotinha feita de cristal se quebrar em mil pedaços.
— Eu
estava pensando… — fez uma pausa, se dirigindo a Charlie. — Podemos tentar
fazer uma batalha? É essa a forma correta de convidar?
Ele
olhou para Pancham.
— Tem
certeza? Digo, se você quiser, eu estou de acordo.
—
Quero treinar o Espurr para sermos tão fortes quanto você e o Thanos! — ela
respondeu empolgada.
Após
concordar, finalizaram o suco e desceram para a parte mais baixa da cidade,
próximos a uma pequena fonte. Algumas pessoas estavam na janela de suas casas e
passaram a observar aquele grupo curioso que se preparava para algo.
Charlie
explicou as regras básicas de uma batalha de rua — basicamente que não havia
regras. — mas principalmente de como agir em uma batalha. Serena ouvia tudo
atentamente, mas ao mesmo tempo ficava se chacoalhando de forma ansiosa para
ter sua primeira batalha.
Pancham
e Charlie se alongaram em movimentos sincronizados, e Serena pegou sua Pokébola
e a atirou para o alto, lançando Espurr, que assustava as pessoas que andavam
pela rua com seu sinistro olhar. O pequeno Pokémon ouviu as palavras que sua
treinadora proferia para incentivá-lo, e vez ou outra respondia com miados.
Então
os dois se puseram em posição para lutar.
—
Damas primeiro. — pediu Charles com um gesto de cavalheirismo, fazendo Calem
soltar um suspiro de desaforo.
—
Ontem fiquei observando o Espurr fazendo uns movimentos, então acho que aprendi
e consigo vencer vocês! — falou com confiança. — Use oScratch!
A
criaturinha avançou contra o Pancham, usando suas pequenas garrinhas para
arranhá-lo, não causando muitos danos. Serena estava no auge de sua ansiedade,
e Charlie a aplaudiu.
—
Muito bom! Mas agora é minha vez. — interveio. — Tente oTackle.
Desta
vez Pancham quem correu contra o adversário, e o golpeou apenas fazendo uso do
próprio corpo, investindo contra Espurr, que caiu no chão. O gato voltou a
fitar o panda com aqueles olhos púrpuros macabros, mas este não hesitou, o que
não se aplicava a Charlie.
—Scratchde novo! — pediu a menina.
—Tackle.— incentivou Charlie.
Ambos
continuaram se golpeando simultaneamente com arranhões e investidas. Pancham
atacava de forma mais leve, mas Serena não havia percebido isso. Estava tão
empolgada que sequer reparara nos detalhes. Sua voz destoava a cada comando,
como se a voz não conseguisse acompanhar a respiração acelerada.
Em um
dos arranhões Pancham foi atirado no chão, e fingiu estar derrotado. Charlie
aplaudiu novamente e foi em direção do Pokémon, o recolhendo e lançando uma
piscadela para o mesmo. Em seguida voltou-se para a amiga, de forma tranqüila:
—
Parece que você me venceu. Você foi ótima na sua primeira batalha! —
parabenizou-a.
A
menina abraçou o Pokémon, que mesmo cansado conseguiu comemorar em conjunto com
a treinadora. Calem fez alguns murmúrios de desaprovação e se manifestou:
—
Você deixou ela ganhar. — resmungou.
Charlie
lançou um olhar fuzilador para o rapaz, como se fosse para esconder aquele
detalhe. Fez um sinal com a cabeça simbolizando que era para apenas manter
silêncio e continuou, com um tom de voz que mais parecia cuspir as palavras:
— É
claro que não. Foi por mérito próprio.
— Seu
Pokémon não usou toda a força que tinha. É óbvio que a vitória foi dada. —
respondeu. — Se queremos que ela melhore, então devemos ser francos, e não
falsos.
Serena
evitou comentários, mas ficou um pouco decepcionada consigo mesma. Charlie
cerrou os punhos de forma irritada, mas se segurou para não falar nada
desagradável, principalmente na frente de Serena. Se limitou a desafiar o
rapaz, como em um desenho animado:
— Me
enfrente, então.
Calem
engoliu em seco, como se não aguardasse aquilo. Tentou discutir, mas percebeu
que não havia motivos para. Pegou sua Pokébola e ficou a fitando por um tempo,
até enfim lançá-la e ver seu Larvitar assumir o local. Aqueles que desfrutavam
da manhã e observavam a batalha ficaram surpresos por ver aquele Pokémon de
pose imponente nas mãos de um jovem.
Calem
deu alguns passos para trás, o mais longe possível do próprio Pokémon, que
permaneceu parado, mas fitou o treinador com desprezo. Na noite passada, Calem
aproveitara a insônia para pesquisar mais sobre a espécie de seu Pokémon e
descobrir todas as suas técnicas. Entretanto, aplicá-las na prática era uma
coisa completamente diferente.
—
Certo, Larvitar… Então use oLeer.
—
Repita, Pancham.
Ambos
se encararam de forma concentrada, como se tentassem se intimidar, mas não
obtivessem sucesso. Continuaram como dois guerreiros que se provocavam, apenas
se preparando para o pior, mas sem ação. Calem prosseguiu:
—Bite.Faça alguma coisa.
—Arm Thrust.
Com a
aproximação do Larvitar, Pancham o empurrou de forma brutal, causando grandes
danos e com força suficiente para fazê-lo cair dentro da fonte e ser derrotado.
Calem fitou o próprio Pokémon, e se aproximou ao vê-lo completamente inofensivo
e derrotado, por sua culpa. Retornou-o para dentro da Pokébola e encontrou os
olhos esverdeados de Charlie.
O
silêncio prevaleceu, mas Serena tentou quebrá-lo unindo os dois segurando a mão
de cada um.
— Foi
uma ótima batalha, Cal. — disse. — Para uma primeira…
— Não
foi boa, Serena. — respondeu, se retirando.
Seus
passos no piso de pedra de Aquacorde eram suaves e lentos, e voltou ao Centro
Pokémon. Os dois o fitaram entrando na construção de forma mansa como ainda não
havia demonstrado. Mesmo Charlie se sentiu um pouco mal por aquela atitude do
rapaz, independente do por que fosse.
...
O
crepúsculo fazia os postes e as casas acenderem suas luzes. Algumas pessoas
aproveitavam a noite fresca para sair, mas outras apenas ficavam dentro de suas
respectivas moradas deleitando-se da tranquilidade da pequena cidade. Serena e
Charlie estavam na pequena ponte, observando as águas correndo pelo rio que
cortava Aquacorde e a Floresta de Santalune.
Charlie
se depositava de frente, com os braços entrelaçados e o corpo se apoiando.
Serena permanecia de pé, segurando o apoio com as duas mãos, e o olhar perdido.
Não conversara com Calem pelo resto do dia, e aquilo a incomodava.
— Foi
mal por ter vencido ele. Acho que deveria tê-lo deixado ganhar. — admitiu
Charlie, com um sorriso um pouco debochado.
—
Não, digo em primeira mão que não seria legal. — respondeu ela com um risinho.
— Mas eu ainda vou ganhar de você mesmo com você dando o seu melhor!
Ele
tirou os olhos do rio e encarou os de Serena.
—
Você também vai ser uma treinadora, então?
— Por
que eu devo me limitar a apenas uma carreira? — ela riu e virou-se de costas,
encarando o céu tingido de laranja. — Eu quero ser de tudo um pouco. Quero
treinar, criar, pesquisar… Quero fazer de tudo um pouco.
—
Engraçado, sou o oposto, eu quero fazer nada. — ele riu.
— O
que eu mais quero é encontrar a minha mãe. — disse Serena voltando a fitar o
movimento das águas, com um tom mais sério. — Não sei quem ela é ou onde está,
mas quero encontrá-la e vencê-la. Acho que ela é uma treinadora, ou algo do
tipo. E quero derrotá-la.
Ele
se aproximou da menina e tocou seus cabelos louros. Ela corou com a
aproximação, mas ele tinha apenas uma expressão admirada no rosto. Um sorriso
sincero. Sua voz soou de uma forma que Serena adorou ouvir, como se pudesse
escutá-la o dia inteiro.
—
Você tem enormes sonhos dentro de você. Eu gosto disso. Não pare de acreditar
neles. Eu vou te ajudar a realizar cada um. Não pare.
Talvez
eu tenha falado demais, porque ela deu um passo para trás de forma acanhada e
decidiu mudar de assunto. Eu já havia estado em Aquacorde outras vezes, mas
aquela era a melhor lembrança que eu tinha dela.
—
A-Acho melhor irmos ver se o Calem está bem. — disse, voltando-se para o Centro
Pokémon
Após
dar alguns passos ela se virou de forma delicada e fitou os olhos de Charlie.
—
Obrigada.
Sem
trocar mais nenhuma palavra entraram no lugar desejado, as portas de vidro se
abrindo automaticamente com a aproximação. Não havia ninguém naquele andar,
apenas uma enfermeira de cabelos róseos e longos, presos em um penteado
diferente.
Ela
já os havia visto antes, quando fizeram a reserva de um quarto no dia anterior,
então os reconheceu. Sua voz suave e delicada lançou um comentário após
examiná-los.
—
Vocês estão com aquele rapaz, Calem Windsor, certo? — indagou, lendo um papel
antes de reproduzir o som do nome.
— O
que ele fez de errado? — perguntou Serena de antemão, a fazendo soltar um riso
rasteiro.
—
Chegou uma carta a ele, e como estava hospedado aqui, fiquei encarregada de
entregá-la. — disse, pegando um envelope bege e o depositando nas mãos pálidas
de Serena. A menina examinou a carta, mas tendo em mente que não era a ela, se
segurou para não abrir.
—
Obrigada, enfermeira. Vou entregar para ele agora mesmo.
Passo
a passo subiram as poucas escadarias que levavam para um andar superior. Todos
os quartos estavam ocupados, pois não havia muitos treinadores hospedados.
Antes de bater na porta do qual lhes pertencia, ela olhou para Charlie.
— É
melhor você esperar aqui. Não é por nada não, mas…
— Eu
sei. — concordou.
Serena
deu três batidas suaves na porta de madeira e a abriu com calma. A janela
estava aberta, dando uma vista para o sol se pondo ao fundo por detrás das
colinas ao leste de Kalos. Ele usava luvas de borracha e tinha em mãos uma
pequena escova de dente, a qual usava para limpar alguns móveis do quarto um
por um, detalhe por detalhe. Ele não parou a tarefa, mesmo com a presença da
prima. As luzes estavam apagadas, iluminadas apenas pelo astro que quase
desaparecia do céu.
— O
que você está fazendo? — perguntou.
—
Limpando. — ele respondeu de forma direta.
A
menina se aproximou e agachou como ele, para ficar em sua altura. Calem não
desviava o olhar da tarefa, mesmo com ela tocando seu ombro e o encarando. A
menina continuou:
—
Você faz isso quando está lutando contra algum sentimento ruim. — lembrou. — Você
sabe que isso não é saudável.
— Não
tente me mudar.
— Por
que você ficou chateado? Achei que não ia se importar com uma coisinha assim.
Ele
parou a escova e fez o olhar cair.
— Eu
resolvi ser um treinador, mas eu nem sabia como ou o por quê. Parecia uma coisa
pra mim me ocupar enquanto te aguento… — mesmo bravo não poupava sua
sinceridade. — Mas eu tenho medo de Pokémons. Como eu posso fazer algo se tenho
medo dos meios que me fazem chegar a tal?
Serena
não tinha a resposta. Era algo cômico, mas ao mesmo tempo trágico. Por sorte
Aquacorde não era habitada por muitos Pokemons, estes normalmente ficavam na
casa dos moradores, quando ficavam. A garota ficou em silêncio e se sentou na
cama, com um olhar deprimido, tal como de seu primo.
—
Dentro da nossa casa… Eu sempre achei que era o melhor, o destaque. Nas
discussões, nos estudos, nos jogos… Mas parece que eu sou ninguém fora dela.
—
Talvez isso o convença do contrário. — ela esticou o braço, com a carta em mãos.
Ele
se virou pouco a pouco com suavidade, fitando o envelope.
— O
que é?
Ela
não respondeu, apenas mexeu a mão como se insinuasse para que ele a pegasse.
Rasgou pouco para abri-la e leu em tom baixo, mas a menina conseguiu ouvir.
Caro Calem Windsor,
Por intermédio de sua família soube que és um jovem inteligente e promissor e, portanto, convido-o a vir ao meu laboratório em Lumiose para que possamos nos conhecer melhor, pois tenho certeza que teremos interessantes assuntos e informações a compartilhar. Saberá onde é quando chegar.
Aguardo sua visita,
Professor Augustine Sycamore.
Ela
sorriu.
—
Como ele me descobriu? — indagou ele com a voz ainda para baixo.
—
Estamos nos jornais. — respondeu ela, mostrando um exemplar que estava no
criado-mudo.
No
mesmo instante outra batida ecoou da porta, e Charlie quem entrou, desta vez.
— Eu
vim pedir desculpas. —
antecipou.
Serena
decidiu sair do quarto, e deixar ambos conversarem. Charlie prosseguiu, mesmo
que Calem logo tivesse desviado o olhar novamente.
— Por
ser meio incômodo algumas vezes. Sei que não nos demos muito bem a princípio,
mas estou disposto a fazer o contrário. — disse.
Calem
parou por um instante.
—
Talvez eu tenha sido grosso também.
— Se
quiser que eu vá, eu vou. — disse. — Não quero causar mais problemas.
Alguns
segundos de silêncio depois, Charlie se virou e tentou sair do quarto, mas ao
mesmo tempo que tocou a porta, ouviu a voz do menino
—
Fique. — disse. — A Serena precisa de você. — fez uma pausa. — E talvez eu
também precise.
Charlie
sorriu de forma amigável, e Calem tentou retribuir o sorriso, embora de forma
meio desanimada. Em seguida se virou e continuou limpando o móvel com a escova
de dente:
—
Agora vá, o cheiro do seu cabelo faz meu estômago revirar.
Charlie
riu. Ele estava de volta.
Ambos
são garotos do interior, que querem acabar com a solidão e viver uma vida. Eu
quero fazer parte disso. Percebi que tenho mais a oferecer do que a ganhar, e
sinceramente estou disposto a fazê-lo. Eles são bacanas. A Serena é fantástica.
Com aquela pequena conversa, o Calem voltou a acreditar. Serena nunca parou.E
eu comecei.
A música faz parte de nossas vidas. É capaz de animar uma festa, transmitir uma mensagem guardada, incentivar os interlocutores ou fazê-los se identificar... A música é uma arte com inúmeras formas de cativar e se manifestar. Aqui em Kalos não é diferente: ela também tem grande importância. Por que não checa cada uma das áreas musicais do nosso blog?
Mais uma vez conseguimos cumprir o compromisso e postar em um sábado. Por enquanto são três sábados consecutivos, para três capítulos! ~ rs. Enfim, pessoal, gostaria de dar umas pequenas palavrinhas para este capítulo. Finalmente acabou a espera, a jornada está oficialmente iniciada! Serena e Calem, pela primeira vez na vida, deixam a mansão atrás de alguns objetivos e alguns sonhos. E então, o que vocês tem a dizer?
Começando pelo começo (?) cito os Pokémons. Devo dizer que foi um sufoco para escolher esses dois. Eu tenho em mente alguns que quero trabalhar, mas nenhum deles cabia como primeiro. Os primeiros tem que ser os primeiros, né? (Estou meio redundante hoje, não liguem.) Acho que, no fim, ambos caíram como uma luva, e posteriormente vocês verão o porquê. Percebam que tivemos apenas uma pontinha para apresentar os Pokémons. Nos próximos capítulos pegaremos mais intimidade com eles, principalmente quando o especial Royal Emperium finalmente começar a dar as caras!
Charlie. Este terceiro protagonista ainda vai dar no que falar, apenas digo isso. Se o Calem e a Serena parecem uma dupla em sincronia, espera só esse novo personagem, ele chega para acabar com a tranquilidade ~ rs. Ele é praticamente o completo oposto do Calem, se vocês repararem. É a peça que faltava no nosso tabuleiro, pelo menos por enquanto. Talvez vocês ainda não gostem dele, mas garanto que em alguns capítulos vocês irão passar a adorá-lo, assim como os primos da família Windsor.
Quero agradecer a todos que comentaram no capítulo anterior, foi um grande incentivo, acreditem! Esta semana estarei atualizando os Trainer Cards e outras páginas, então fiquem ligados!
Parabenizo nossa leitora, Anne Lanes, pelo lançamento de seu livro, Garnet! É uma conquista incrível para um escritor. Eu apanho pra caramba para finalizar bem um capítulo, imagine só um livro! Deem uma olhada aquipara ter mais detalhes. Parabéns, Anne! Espero ter minha cópia de Garnet logo! ~rs
The Final Countdown
IT'S DE FINAL COUNTDOOOOOOOOOOOOWN!
Acho que muitos conhecem essa música ~rs. Acho ela bem épica, de verdade, e creio que coube bem neste capítulo. Pegando o seguinte trecho, acho que verão como se enquadra bem em nossa situação atual.
Estamos indo juntos
Mas ainda assim é um adeus
E talvez nós voltemos
Para terra, quem pode dizer?
Eu suponho que não há ninguém a se culpar
Nós levantamos vôo
As coisas jamais serão as mesmas novamente?
A contagem regressiva terminou. Agora são, literalmente, as Aventuras em Kalos!
A empolgação era tamanha na
mansão da família Windsor.
Serena estava terminando de se
trocar, enquanto tagarelava sem parar sobre como seria emocionante aquela
manhã. Três dias haviam se passado desde o jantar da decisão do futuro da
garota, no qual concluíram que ela poderia viajar por Kalos. Claro, Calem precisou
intervir para que a decisão fosse tomada.
O rapaz lia um livro e vez ou
outra fazia algum murmúrio que indicasse concordar com a menina, sem prestar
muita atenção no assunto. Se perguntou como conseguiria aguentar meses assim,
mas a resposta seria orar para que ela se empolgasse menos durante a
trajetória.
Quando a garota saiu, estava
vestindo um tipo de vestido negro com a saia vermelha como um rubi, com meias
escuras longas e sapatos de tons parecidos. De um chapéu róseo caíam os fios
louros da menina, e uma bolsa rosa estava em seu ombro. Já Calem usava uma
jaqueta azul que o protegeria do frio de Kalos. Calças anil, com botas de cano
alto, e um chapéu rubro sobre seus cabelos castanho-escuros.
— É hoje, primo! Hoje! Hoje!
Hoje! — gritava Serena eufórica, puxando as mãos e o girando
Ele soltou as mãos dela.
— O arrependimento está começando
a vir. — rebateu, seco. — Por favor, seja decente, Serena! — o comentário a fez
rir.
Foi quando ouviu um som que
costumava ouvir raramente, o do Grande Portão se abrindo. A garota arregalou os
olhos, encaranto o primo de forma ansiosa e o segurando pelos ombros. Teria
gritado, se não fosse por seus limites.
— Chegaram… Os Pokémons
chegaram…!
Ela deixou o rapaz no cômodo e
apressou o passo ao descer as escadarias para o Hall da mansão, notando a
presença de um entregador. Uma caixa amarronzada era carregada com cautela, e
após deixá-la encima de uma mesinha de centro, o homem se retirou.
Serena encarou o paralelepípedo
de forma ansiosa, querendo a todo custo abrí-la. A família de ambos entrou no
cômodo para o esperado momento. A última coisa que faltava para o início da jornada,
que eram os Pokémons.
Ai,
Arceus! Quanta animação me ocupou naquela hora! Dentro daquela caixa estava o
Pokémon que me acompanharia por toda a minha jornada. O primeiro que eu teria
visto na vida. A emoção era tamanha… Até que, finalmente, abri a caixa a pedido
de Calem. Dentro tinham duas esferas bicolores, do tipo que eu só vira em
imagens.
Calem examinou ambas, e entregou
uma para a prima. Provavelmente era a qual a pertencia. Ele viu o sorriso
imenso que formou-se em sua face ao segurar aquele objeto tão simplório, que
era tão comum para muitos, e tão raro a ela. Os olhos verdes se encontraram com
os castanhos.
— Abra. — pediu o rapaz, fazendo
um gesto.
A loura sempre quisera fazer
aquilo, como nos seriados. Pressionou o botão central desta e a lançou
suavemente para cima. Uma rajada de luzes prateadas e brancas saltou para fora
e assumiu, aos poucos a forma de uma criatura nova.
Um bichinho bípede e peludo, como
uma ursinho de pelúcia. A pelugem era acinzentada, e branca em algumas partes,
além de rebelde. Suas orelhas ficavam ocultas, como se escondessem certo
mistério. Mas o que mais chamava a atenção eram seus olhos: púrpuros e grandes,
como se não exalassem emoção, o que de certa forma quebrava o aspecto “100%
fofura” do Pokémon.
Calem atirou sua Pokébola de
mesma forma, vendo os raios brancos formarem uma criatura de forma curiosa,
quase com o dobro do tamanho do Pokémon de Serena. Sua pele era resistente como
uma pedra não vista comumente. Uma criatura presente em lendas antigas, com um
corpo petrificado que mais parecia sua armadura.
— É um... Pokémon... — ponderou
Serena, quase sem reação.
— Esse é um Espurr, do tipo
Psychic. — observou Calem. — Aparentemente este tipo de Pokémon usa poderes
mentais para atacar os adversários, e se a sincronia for avançada, podem até se
comunicar com o treinador telepaticamente. — explicou.
Ela se abaixou até ficar na
altura da criaturinha, encarando-a de frente. Fitou os olhos arroxeados e
instigantes, como uma criança se deparando com um Pokémon pela primeira vez.
Sentiu a respiração e os sons que o Espurr fazia, até enfim se pronunciar, sem
ter certeza de como deveria se dirigir a ele, exatamente:
— Oi… Eu posso… Tocar em você…? —
indagou.
O Pokémon, como era de se
esperar, nada disse em linguagem humana. Serena aproximou sua mão com cautela,
vendo-o cheirá-la. Aproximou mais, tocando no Espurr, que ficou resistente, mas
logo cedeu. Era uma sensação engraçada tocar naquele monte de pelos emaranhados
do Pokémon e acariciá-lo.
— Você é tão fofinho... Isso é
tão maravilhoso, a sensação é ainda melhor do que eu imaginava que seria! —
exclamou a garota.
Desta vez Calem que encarou seu
respectivo Pokémon. Estava a uma distância “saudável” do mesmo, e o encarava
com uma expressão não muito agradável. A criatura também o fitava com certo
receio, além do típico olhar mal encarado de sua espécie.
— Certo. Larvitar. — concluiu o
rapaz. — Tipo Rock e Ground, que apesar de não ser um dragão, faz parte de
lendas antigas. Se sai bem em batalhas, e portanto seria uma escolha sensata.
Novamente o encarou. Nenhum dos
dois moveu sequer um músculo em aproximação. Calem derramou uma pequena gota de
suor e começou a respirar de maneira mais ofegante. Serena tentou compreender a
situação, exatamente.
— Cal, por que você não tenta se
aproximar dele? Alguns metros mais perto, talvez. — brincou.
— Não me apresse, isso leva um
tempo. — rebateu. — Vou retorná-lo, e mais tarde tento me… Aproximar mais.
Ele levou o Pokémon novamente
para a Pokébola, fitando a esfera de forma decepcionada. Não teve uma reação
como Serena, infelizmente. Achou que a primeira vez que se deparasse com um
seria bem diferente, especial. Mas não fora como o esperado.
— Você tem Pokéfobia? — indagou
Serena.
— Essa palavra nem existe! —
argumentou Calem, mudando o tom de voz. — Mas acho que tenho.
— E ainda será um treinador…? —
perguntou, inocentemente. — Ah, você supera! Eu te ajudo.
Ele lançou um olhar piedoso e
tentou sorrir.
— Mas agora que chegaram, nada
mais nos prende aqui! — voltou a se animar. — Vou avisar meu pai que estamos
saindo.
Serena subiu as escadas com
pressa e bateu na porta do escritório do pai. Não houve resposta, a fazendo
bater novamente, para continuar sem nenhum sinal. Ela abriu a porta suavemente
e entrou com calma, vendo o homem de costas, encarando a paisagem que se
estendia na mansão.
— Oi pai… Vim avisar que nós
estamos de saída. — disse, com doçura.
Ele se manteve em silêncio
absoluto.
— Eu… — Ela se aproximou um pouco
de forma acanhada. — Posso abraçá-lo?
Ele fez um sinal para que
parasse.
— Se poupe desta cena, Serena. —
proferiu Stevan de forma rude. — Você sabe o que penso sobre sua viagemm mas
isso não a impede de ir, claro.
Ela optou por não dizer nada.
Jamais levantaria a voz para o pai, embora sua mente não ficasse tão silenciosa
quanto a boca.
Isso
é tão injusto! Por que eu sou a criminosa em querer minha própria liberdade? Eu
não estou condenando ninguém mais por isso. Tirando o Calem.
— Mas saiba que eu vou esperar. —
alertou, com uma risada rasteira. — Vou esperar você voltar quando descobrir
que o mundo não é uma chuva de rosas como você imagina. Nos vemos em breve.
...
Toda a família, com exceção de
Stevan, estava para ver Calem e Serena partindo. Estavam em volta do portão de
saída, os observando em meio aos murmúrios e comentários, alguns positivos e
muitos negativos. Já haviam usado os últimos dias para se despedirem, agora só
aguardavam o portão se raberto.
— O Grande Portão vai abrir, o
Grande Portão vai abrir, o Grande Portão vai abrir! — repetia Serena
completamente eufórica.
— Quer parar com esse eco? Você
não consegue ficar sem repetir as frases desde que acordou. Isso está me dando
dores de cabeça. — resmungou Calem massageando a cabeça.
— Vai abrir!
O par de portas se moveu
levemente para fora, dando espaço para a visão do que tinha atrás. Esse era um momento muito especial para Serena, algo pelo que esperara toda a sua vida, e
era emocionante ver que finalmente estava acontecendo. Calem também não
escondia certa curiosidade ao ver o que finalmente tinha atrás daquele portal.
No final não tinha nenhum abismo sem fim, ou uma floresta tropical, um deserto
ou o fundo do oceano. Só tinha um caminho de terra em meio a grama e toda a naturalidade
das árvores e flores. Mas, se quer saber, isso estava de muito bom tamanho.
Um caminho de terra ornamentado
por árvores e arbustos, embora simples. Era uma das únicas — se não a única. —
rota do mundo Pokémon que não possuía nenhum Pokémon a habitando. Ainda assim,
para Serena, era algo completamente novo.
— Esse cheiro é tão diferente do jardim de casa. Imagina só, Cal, essas plantas nasceram e cresceram sem
ninguém plantar, e sem jardineiro ou paisagista! Sozinhas! — dizia ela,
enquanto caminhava de forma variada, algumas vezes girando pelo espaço aberto.
— Impressionante. — respondeu o
rapaz ironicamente.
Ela se abaixou e mexeu com os
arbustos, sentindo sua textura, enquanto que o primo apenas andava em linha
reta sem empolgação, como se estivesse mesmo sendo punido por algo. Era assim
que encarava o momento. A menina mexia em tudo e sentia o aroma de tudo. Só
faltava provar.
— É quase igual da tevê, mas dez
vezes melhor. Não, infinitas vezes melhor! Olha só, é de verdade! Olha esse ar
puro! A textura da terra e da grama… — olhou nos olhos de Calem. — E você, o
que acha?
Ele parou de andar.
— O que eu acho, Serena? — perguntou. — Esse cheiro me dá náuseas, esse
matagal é desconfortável para pisar, o sol está batendo com intensidade do meu
rosto, e nós mal sabemos o que nos aguarda a cada passo. E você ainda pergunta
o que eu acho?!
A garota riu de forma sincera. O
mau humor de Calem a divertia, pelo menos, o que era algo positivo, visto que
deveria aguentá-lo por toda a sua jornada. Ela começou a retirar os sapatos,
recebendo um olhar incomodado do primo.
— Vou ficar descalça. — comentou.
Sentiu na pele a textura da grama
fazendo cócegas em seus pés. Mas era uma sensação de liberdade, de finalmente
não ter o piso de sua casa a atrapalhando para andar, ou a grama quase artificial.
Ficou lá, no mesmo lugar, experimentando como era correr na grama.
— Serena, por favor... Se for
ficar demorando assim a cada vez que estivermos caminhando, nunca vamos chegar
a destino algum. — alertou, parando. — Mas uma pausa é sempre bem vinda. Estou
exausto.
— Não estamos andando nem há dez
minutos…
— E daí? Meus pés não estão
acostumados com tamanha atividade. — respondeu.
Ele procurou uma pedra que
estivesse próxima e abriu sua mochila, puxando dois panos. Com um limpou
superficialmente a rocha, e depositou o outro para que se sentasse em cima
dele. Serena tentou não rir da falta de naturalidade de Calem, e logo voltou a
puxar assunto.
— O que acha de brincarmos de
pega-pega? Vi essa brincadeira na internet ontem, e acho que é um ótimo momento
para a testarmos-a! — convidou-o ela de forma inocente.
Ele se levantou, relutante,
tentando ser uma boa companhia pela primeira vez.
— Certo, vamos jogar. —
concordou. — Mas qual o limite do campo? Quem será o juiz?
Ela simplesmente se aproximou o
suficiende dele, e tocou a ponta de seu dedo indicador na testa do rapaz,
dizendo de forma meiga:
— Peguei você. — e correu
delicadamente na direção oposta. — Agora você tem que correr atrás de mim e me
pegar.
— Qual o propósito do jogo,
exatamente? — questionou ele.
— Diversão. O mais ágil vence. —
respondeu.
—Que maravilha. — reclamou,
transbordando ironia. — Então iremos correr por aí igual dois desprovidos de
inteligência, sem rumo, com o objetivo de nos divertirmos nesse meio do nada?
Ótimo, perfeito. Por que não aproveitamos para abraçarmos árvores e rolarmos na
grama?
Ela gargalhou alto.
— Você só diz isso porque corre
igual um Dodrio manco. — argumentou, vendo ele aos poucos sair do lugar.
— Ah é? Falou a senhorita que
corre igual um Girafarig em decomposição. — rebateu ele, começando a correr
atrás da garota.
Aquilo
foi divertido, tenho que admitir. Se eu sou ruim de corrida, o Calem conseguia
ser tão péssimo quanto eu, desengonçado. Mas o propósito, que era
entretenimento, foi concluído. Achei que meu dia não poderia ficar melhor,
então corri os olhos pela primeira rota de Kalos.
Foi
quando eu o vi.
Um rapaz jazia encostado sobre
uma árvore, aproveitando a sombra naquele dia quente. Em sua boca tinha uma
folha, a qual usava para assoviar e tocar uma música. Ele não era nem um pouco
arrumado como Calem e Serena, mas ainda tinha certo charme, aos olhos de
Serena. Os cabelos castanho-claros espalhados pelo rosto, e trajava roupas bem
gastas. Os olhos verdes brilhantes se encontraram com os de Serena, fazendo-a
corar.
Ao seu lado, um pequeno Pokémon,
também com uma folha na boca. Esse sim era como um urso de pelúcia, fofo com
pelugem negra, se não pela de cor areia em sua cabeça. Os pelos estavam um pouco
sujos e bem emaranhados. Qualquer um sentiria vontade de abraçá-lo, se não
fosse pelo seu olhar mal encarado que parecia transmitir uma mensagem clara: Só se aproxime se quiser morrer.
Eu
e Calem paramos de correr. Vários pensamentos começaram a tomar minha mente.
Talvez porque era o primeiro garoto que eu vira pessoalmente que não era de
minha família. Ele estava um tanto quanto sujo, mas tinha uma beleza natural,
algo que me fazia querer me aproximar dele e conhecê-lo. Talvez fosse aquele
olhar tentador. Mas era como se os olhos fossem um mar esverdeado e frio,
misterioso. Ele andou em minha direção.
— Lembra do que eu disse ontem a
noite? Não conversemos com estranhos. — sussurrou Calem, inquieto. — Vamos
andando devagar, talvez ele pare de vir na nossa direção.
Porém, o rapaz parou exatamente
na frente de ambos, com os braços cruzados, o Pokémon o acompanhando. Calem
ficou atrás de Serena, do lado oposto ao do pequeno urso, com um olhar um pouco
amedrontado o encarando. O menino então se agachou, apoiando um dos joelhos no
chão, e puxou a mão de Serena.
— Ora, a que devo a presença de
uma belíssima dama nesta rota tão deserta? — indagou, com uma voz um pouco
galanteadora. — Fico honrado em conhecê-la senhorita. Sou Charles Stuart, mas,
por favor, me chame de Charlie. — e beijou a mão dela.
Serena corou, mas logo sorriu e
respondeu com simpatia:
— Oi, Charlie. Eu sou a Serena, e
esse é o Calem. —se apresentou. — E você poderia devolver meus anéis, por
favor? — pediu.
Até então Calem sequer percebera,
mas o rapaz puxou os acessórios de seu bolso, entregando-a. Em uma questão de
segundos conseguira pegá-los quase sem ela perceber. Era algo notável,
independentemente de se bom ou ruim.
— Você é mais perspicaz que eu. —
admitiu, sorrindo.
— Olha, Charles, nós ficaríamos
muito alegres em papear com você até que nossas cordas vocais se rompam, mas
nós temos mesmo que ir. — interveio Calem, empurrando a prima.
— Ei, espere um segundo. — parou
Calem tocando seu peito. — Não precisa ter medo de mim.
— Você ia roubar as coisas da
minha prima. — argumentou Calem.
— Errado, eu ia furtá-la. —
corrigiu. — Parece que alguém faltou às aulas de português. Para onde você está
indo, linda princesa? — perguntou.
— Segundo o mapa do Calem, a próxima
cidade é Aquacorde Town. — explicou. — Mas nosso primeiro destino é Santalune,
onde ele vai batalhar pela primeira insígnia.
— Entendo. E estão os dois,
viajando sozinhos. — observou Charlie, curioso.
— Não entenda errado, somos
primos. — explicou Serena. — Mas sim, só nós dois.
— Não era isso que eu queria
dizer. Vocês não irão durar muito tempo assim, sozinhos. — alertou. — Vão
derrubá-los antes que possam terminar de dizer a palavra “queda”.
Calem se pôs à frente de Serena,
mostrando uma expressão certamente incomodada. A prima não falou nada, apenas
observou a cena. O primo levantou o tom da voz, ao perceber que estavam mesmo
sozinhos naquela rota.
— E posso saber por quê? —
questionou. — Acha que sou incapaz de proteger minha prima se precisar?
— Você estava com uma corrente de
ouro, e ela com anéis. — observou Charlie. — Não sei de onde vocês vêm, mas
Kalos pode ser perigosa se vocês não a conhecerem direito. E principalmente se
não conhecerem as malandragens que habitam ela. — confessou.
Calem levantou a sobrancelha.
— E por que deveríamos confiar em
você? — indagou de forma ríspida.
— Vocês não devem. — Charlie se
virou e começou a andar. — Aliás, toma sua corrente de volta.
E jogou a corrente que Calem
usava.
— Mas como… ?
— Porém, pude perceber que nenhum
de vocês tem noção de mundo muito bem. Precisam de alguém pé no chão para
chegarem em segurança a Santalune. — comentou. — Se estivessem dispostos, é
claro.
— Agradecemos sua semi-irrecusável oferta, mas sabe como
diz o ditado: Antes só do que mal acompanhado. — rebateu o rapaz rudemente.
Charlie levantou os braços em
sinal de “Então não posso fazer nada”.
— Como preferirem. — concordou, voltando
a caminhar.
Calem murmurou algumas coisas,
mas Serena não deu ouvidos. Apenas fitou o mais novo conhecido se retirando com
seu Pokémon, e pensou no que ele acabara de falar. Talvez tivesse razão. Com
certeza tinha razão. Mas será que poderiam confiar naquele sujeito?
— Espera... Charlie... Venha
conosco, por favor. — pediu a garota.
Calem a encarou mortalmente, como
se ela tivesse feito exatamente o oposto do que ele dissera. Serena deu de
ombros com sutileza enquanto era repreendida pelo mais velho.
— Você, por acaso, ficou louca?!
Quer que ele nos acompanhe? Acabei de
falar do perigo que é ter ele por perto! — avisou.
Serena olhou para baixo.
— Mas talvez ele tenha razão. —
admitiu. — Nós nunca saímos de casa, Cal. Precisamos de alguém de fora para nos
guiar, e evitarmos as coisas ruins.
— É claro que umas coisas ruins
vão diminuir... Nós estaremos andando com outra coisa ruim! — debateu.
— Confie em mim. — ela disse, segurando
seu rosto. Por um instante ele ficou em silêncio, e os dois apenas se
encararam, ofegantes. — Se não pode confiar nele, confie em mim. É temporário.
Tudo bem? — perguntou com delicadeza.
Charlie
gostou da ideia de nos acompanhar um pouco, embora eu só quisesse que, no fim,
desse tudo certo. Confiar em qualquer um é um pedido de suicídio para alguns, mas
para mim não era. Foi então que me dei conta de que, finalmente, tinha começado
minha jornada... A contagem regressiva havia acabado, eu finalmente estava
livre para viver as minhas próprias aventuras.