Hoje é uma data especial. Não é só um dia 17 qualquer (como se um dia 17 pudesse ser um "qualquer"). Hoje nosso pequeno blog comemora um aniversário. (E também: É O PRIMEIRO ANIVERSÁRIO QUE EU POSTO NA DATA, inclusive (pós-graduação em esquecer aniversários, euzinho)).
Acharam que não ia ter meme, né? KKKKKKKK vai sim, 4 ANOS
Vai ser bem clichê dizer que passou rápido, e que parece ontem que eu vi o trailer de Pokémon XY, e que me sinto velho? Vai sim, mas eu vou dizer assim mesmo, porque é a verdade. Mas se me permitem, vou abrir meu coração para conversar a sério (o que não faço com tanta frequência, mas tudo bem).
Esse blog me acompanhou em momentos bem complicados. Desde o ensino médio, e agora na entrada para a faculdade. Vi minha vida mudar ao longo desses quatro anos. As pessoas. Os amigos. A família. Os lugares. Eu. Mas aqui não. Eu sempre poderia voltar para AeXY, que não importava o quanto mudasse, sua essência era de inocência e boas memórias, e me servia como uma corda onde eu podia me segurar.
Eu sempre podia abrir o computador, os capítulos e ver que eu mudei. Quatro anos fazem diferença para nós, especialmente quando se fala de adolescência e entrada na idade adulta. Mas não me arrependo, quando olho para trás, e leio coisas antigas. Vejo conversas bobas, descrições que eu sei que faria diferente hoje, mas não mudaria, pelo simples fato de que gosto como estão. A inocência, o sentimento puro. E quando olho para o presente, também não olho com chateação, querendo voltar para trás. Sou feliz com o autor que me tornei, e igualmente com cada passo que me trouxe até aqui.
Gostaria de ter podido me dedicar mais, é o único arrependimento que tive. Mas, infelizmente, às vezes temos que fazer escolhas. Sou grato por vocês terem entendido (ou não, de repente, né) e muitos apoiado essas decisões.
Recentemente tenho passado por uma fase de incertezas. Depois de toda aquela maluquice de perder o RG em outro estado e quase ter perdido a prova, eu consegui ser aprovado no vestibular (ufa)! Apesar de estar com um tanto hesitante, resolvi que vou começar a faculdade lá, na UFSC, e isso tem me deixado com um grande frio na barriga. Bom e ruim, Bom, é claro, porque estou indo fazer o que gosto. Ruim porque ainda tenho um pouco de medo de morar sozinho, me mudar, e tudo mais. Sou uma pessoa extremamente acomodada, e acostumada com minha cidade carinhosamente apelidada de feudo (Canas deve entender ~rsrs). Foi nesse momento que parei para pensar por um momento. "Como a Serena se sentiria?" Encontro muito de mim nela, e muito dela em mim (assim como todos os personagens, que carregam um pouco de mim). Já me senti como ela, exausto, aprisionado. E agora tenho a oportunidade de começar uma jornada. A minha jornada. Nesse momento foi quase como se eu estivesse voltando para Vaniville, vendo os portões se abrirem, com a Serena pronta para partir ao lado do Calem. Com um sonho, um objetivo, e sem ser capaz de prever como as coisas serão. E isso me deixou bem. Eles estão lá para mim. Eu sempre tenho para onde voltar - e eles sempre estarão aqui, de braços abertos, aguardando que eu abra o Word e volte a dar vida a eles. Eles sabem o que eu estou passando. É o momento em que uma fanfic de Pokémon se torna maior que ela mesma. Se hoje isso já foi um blog de historinhas e notícias, hoje, para mim, é muito mais. Hoje é parte de mim. Uma parte que amo, e que sempre estará comigo. E carregarei com muito carinho enquanto puder. Meus personagens sempre estiveram lá, e também quero estar lá por eles, todos conquistando nossos próprios objetivos. Estamos juntos nessa. Seja maravilhado como a Serena, encarando a realidade como o Calem ou de forma despojada como o Charlie. Estamos juntos. E vocês também estiveram aqui, fazendo parte disso. Obrigado, e bem-vindos à festa! Aqui tem espaço pra todo mundo!
Iniciais são Pokémons recebidos pelos treinadores no início de suas jornadas. Apesar da possibilidade de substituir o inicial após outras capturas, geralmente são utilizados por seus treinadores frequentemente, pois criam certo laço de afeição, assumindo até mesmo papéis de destaque em suas equipes. São geralmente encontrados nos laboratórios dos professores responsáveis pelas pesquisas na região. Logo, são extremamente raros na natureza.
Seus tipos principais geralmente consistem em uma mesma linha: Grass, Fire e Water. Todos são recebidos no nível 5, e apresentam dois estágios evolutivos.
Nos Jogos
Em Pokémon X e Y os Pokémons são entregues ao treinador por Tierno, a pedido do Professor Sycamore. Serena/Calem também recebem um inicial - o que apresenta vantagem em relação ao treinador - e Shauna outro - o que apresenta fraqueza em relação ao treinador. Depois de vencer a Elite, o treinador ainda recebe um Pokémon da mesma espécie do inicial de Shauna.
A escolha do inicial também influencia nos lendários encontrados: caso escolha Chespin, aparecerá Articuno; caso escolha Fennekin, aparecerá Zapdos; caso escolha Froakie, aparecerá Moltres.
Os Iniciais
Todos os iniciais seguem um certo padrão, dependendo de seu tipo e sua região. Em Kalos não é diferente. As linhas evolutivas de cada um assemelham-se a classes comuns de RPGs, portanto fazendo referência a guerreiros medievais de diferentes habilidades.
Chespin
Os iniciais do tipo Grass tem a habilidade Overgrow, e possuem como base animais pré-históricos (Venosaur um Dicinodonte; Meganium um Braquiossauro; Sceptile um Dilofossauro; Torterra um Anquilossauro, Serperior nas primeiras serpentes) No caso, relembra um dos primeiros mamíferos. Chesnaught, sua última forma, possui uma grande armadura, lembrando tanto tatus como paladinos. Portanto, representa a classe dos cavaleiros antigos, adquirindo o tipo Fighting.
Fennekin
Os iniciais do tipo Fire tem a habilidade Blaze, e possuem como base animais do horóscopo chinês (Charizard o dragão; Typhlosion o rato; Blaziken o galo; Infernape o macaco; Emboar o porco). No caso, simboliza o cão. Em sua forma final, Delphox, adquire o tipo psíquico e representa os antigos magos e feiticeiros, utilizando até mesmo uma varinha para controlar seus poderes.
Froakie
Os iniciais do tipo Water tem a habilidade Torrent, e possuem como base animais que vivem em ambientes tanto aquáticos como terrestres (Blastoise uma tartaruga; Croconaw um crododilo; Swampert uma salamandra; Empoleon um pinguim; Oshawott uma lontra). Em seu último estágio, tornando-se Greninja, adquire o tipo Dark, lembrando tanto um ninja como um ladino.
Originalmente era uma espécie em exposição no Aquário de Ambrette, contudo, parecia frequentemente infeliz e doente. Quando Serena foi fazer uma visita e notou o Goomy chateado, resolveu tirá-lo de lá, causando um enorme prejuízo ao Aquário e acionando a polícia local. Após negociações de Calem, o Pokémon pôde permanecer na posse da garota, embora ela ainda se arrependa parcialmente de ter tomado essa decisão arriscada.
Antecedentes
O Goomy vivia junto de outras espécies no Aquário de Ambrette. Mais detalhes são ainda desconhecidos.
Estratégias e Envolvimento em Batalhas
Apesar de seu potencial, nunca explorou fortemente suas habilidades, por ser um Pokémon de exposição. Por esse motivo, é um pouco hesitante com combates, apesar de pertencer a uma espécie com linha evolutiva poderosa.
Royal Emperium
Oliver ainda se vê deslocado na guilda, depois de ter passado um longo período dentro de um aquário. Costuma ser um tanto medroso para combates e brigas, justamente por isso. Todavia, desde que ingressou na Royal Emperium e recebeu carinho de uma treinadora, demonstrou-se muito mais confortável que em sua habitação anterior.
ALERTA DE SPOILERS! Antes de ler as notas, leia o capítulo correspondente primeiro!
Olá, pessoal, e bem-vindos a mais um capítulo de nossa história, já estreando esse ano que chega! Antes de tudo, espero que tenham tido um bom período de comemorações nas últimas semanas, e aqueles que estão em férias estejam aproveitando!
Sobre o Capítulo
Ambrette é uma cidadezinha que eu gosto bastante. Apesar de não ter muito o que fazer nos jogos, quis aproveitar ao máximo o enredo nesse pedacinho de Kalos que considero tão querido. É uma cidade tranquila, geralmente frequentada por turistas ou pesquisadores, que se aproveitam do Aquário e da Glittering Cave. Tivemos uma pequena crise moral da Serena e uma investigação por parte dos de Charlie e Calem, tudo com um desfecho um pouco inesperado para resolver problemas legais.
Dou um destaque para os P.O.Vs do Calem do capítulo, que foram poucos, mas extremamente necessários. Em alguns momentos esquecemos, mas Calem e Serena são quase como celebridades, e vários de seus passos são acompanhados e flagrados. Todo mundo quer saber o que a filha de um dos homens mais poderosos de Kalos anda fazendo, e se é gente como a gente. Qualquer deslize pode ser um escândalo para a família Windsor, e nesse ponto tivemos que lidar com os bastidores da fama, a parte suja e corrupta que acaba envolvendo até mesmo os descendentes mais jovens. Cuidado ao seguir seu coração, Serena. ~rs.
Team Flare
Tivemos uma pequena aparição, depois de 18 capítulos, (e quase 4 anos) finalmente oficial do famoso Team Flare. Ainda que saibamos que nos jogos há um pequeno clichê, e aquela coisa de "SOMOS OS BANDIDOS E QUEREMOS DOMINAR O MUNDO, PREPARE-SE PRA VENCER MEU ZUBAT AAAAAAA" espero que entendam que as coisas na fic funcionam diferente. Em momento algum, repare que o Team Flare foi citado como uma facção criminosa (Inclusive, talvez houvesse alguma confusão com relação a isso). São apenas uma organização, uma equipe, que apesar de não se conhecer totalmente quais suas pautas, muitos resolveram aderir. Ponto final. Claro que isso é apenas o começo...
Semana de Aniversário
Depois de 3 anos esquecendo o aniversário de Kalos, desta vez eu resolvi tomar vergonha na cara e fazer algo especial. Uma semana com conteúdo novo, mesmo que de categorias as quais a gente já conhece, como a Pokédex. Deixarei um anúncio na lateral para lembrar que o capítulo foi lançado, para que não acabe se apagando em meio aos outros posts. Espero que estejam gostando, e aguardo vocês nos comentários do capítulo!
Resultado da Enquete
Essa enquete foi para sanar uma curiosidade mesmo. Feliz ou infelizmente, já tenho um esboço na minha cabeça das batalhas mais importantes, e como vocês já devem ter reparado na página dos líderes, alguns foram modificados. São adaptações feitas pelo roteiro. A Valerie ganhou em disparada, e admito que de todos, ela também é minha favorita! Todos os líderes farão uma aparição mais cedo ou mais tarde, mas as batalhas de ginásio, prometo que farei serem as mais fantásticas possíveis, seja com os originais ou com líderes novos (por qualquer que seja o motivo).
O vento balançava as folhas das
árvores, criando um som harmonioso. O céu estava escuro, apesar de ser de
manhã. A brisa mais parecia anunciar uma tempestade do que realmente refrescar,
pois apesar do clima litorâneo ligeiramente mais aquecido, o ar estava frio. O
som das ondas quebrando nas pedras era recorrente em Ambrette, que ficava estruturada
praticamente sobre um solo feito de rochas, alto. Um vai e vem constante que
terminava com a água arremessando-se no sólido e virando espuma branca, metros abaixo.
Levando em conta a previsão do
tempo, o trio decidiu adiar a viagem a Cyllage para o dia seguinte. A Rota 8
era longa demais para ser percorrida, e se um temporal os atingisse, não
haveria onde se esconderem – além da possibilidade de o mar ficar mais
agressivo com a chuva. Aproveitariam o dia para investigar as belezas da
cidade, reconhecida em todo o continente por ser um polo de pesquisas e
estudos.
Charlie sentava-se no hall do hotel
em que ficaram hospedados, enquanto tomava um gole de café para se aquecer. Com
a outra mão, segurava o jornal do dia, onde procurava assuntos interessantes.
Nada muito chamativo além do usual. Por cima das folhas de papel, notou uma
dupla de pessoas que passava pela saída do hotel, mas foi uma questão de apenas alguns
instantes antes das portas de vidro se fecharem atrás deles.
Vestiam trajes chamativos, de tons
fortes de laranja. Não houve tempo para reparar em detalhes, apenas notou a
predominância desse tom, mesmo nos penteados. Não reparou nos olhares –
possivelmente usavam óculos escuros. Conversavam de maneira despojada, e pelas
vozes que ouvira, eram um homem e uma mulher. Só conseguiu distinguir algumas
palavras do diálogo: “na Glittering Cave”.
— Será que…? — sussurrou o rapaz
para si mesmo, as palavras sumindo gradualmente.
Calem desceu as escadas do hotel e
deu bom dia a Charlies sem nem olhá-lho ao certo, dirigindo-se para o
restaurante, onde procuraria algo para comer. O garoto o seguiu, e enquanto o
primeiro servia-se, começou a falar:
— Calem, escuta. Nem acredito que
estou pedindo isso, e provavelmente irei me arrepender, — dizia, enquanto o garoto pedia uma xícara de
café. — mas preciso de sua ajuda.
O rapaz então o observou, com certo
espanto no olhar, mas ao mesmo tempo um sorriso de quem estava gostando
daquilo.
— Ora, ora, que surpresa, Charles. — falou, cruzando os braços. — O que tem em
mente?
Charlie respirou fundo:
— Eu vi um grupo suspeito se
dirigindo a uma caverna próxima da cidade, e decidi investigar o que está
acontecendo. — disse, um pouco baixo e
rápido demais. — Vai comigo?
O rapaz o ficou observando por
alguns instantes, até cair na risada sozinho. Charlie ficou a encará-lo com
desgosto enquanto se divertia. Calem replicou:
— Deixe-me ver se entendi: você
resolveu bancar o detetive, porque viu alguém estranho? E quer que eu vá com
você? Até uma caverna? Charles,
desculpe, mas isso não faz o menor sentido. Se eu fosse perseguir cada pessoa
estranha que eu visse…
Ele tornou a dar uma risadinha
cínica, enquanto Charlie começava a se arrepender do pedido.
— Por que não chama a polícia, se
isso te incomoda tanto?
— Sério? Eu chamando a polícia? — frisou o garoto. — Escute, Calem, isso está me incomodando
muito, muito mesmo. Eu não sei como explicar, mas eu preciso ir para lá. — Nesse
momento Calem parou de rir, pois a voz de Charlie assumia um tom sério, do tipo que jamais tinha ouvido antes. — Por favor, vá comigo.
— E o que eu faço se encontrar
criminosos? Jogo álcool em gel no olho deles?!
— Não são criminosos, acho. Por
Arceus, eu já estou me arrependendo. — disse Charlie, esfregando a palma da mão
no rosto. — É na Glittering Cave, é
famosa porque tem fósseis lá dentro, você deve conhecer. — explicou. — Vários
treinadores vão até lá.
Calem respirou fundo, olhando para
seu café.
— E se chover?
— Calem, é uma caverna! — exclamou
o outro, já impaciente. — Ela é mais segura que aqui no hotel.
O menino ficou mais um tempo
parado, pensando, até dizer:
— O.K., espere, que só vou chamar a
Serena.
— Não, não a chame! — interrompeu
ele, colocando-lhe a mão no ombro como impedimento. Encararam-se. — Ela vai
ficar mais segura aqui. Caso aconteça alguma coisa.
— VOCÊ ACABOU DE DIZER QUE NÃO TEM
PERIGO. — rebateu Calem. — Ótimo, e comigo pode acontecer alguma coisa, né?
Antes que pudessem dizer qualquer
coisa a mais, foram interrompidos pela voz tranquila de Serena, próxima a eles.
— Meninos, onde vocês estão indo?
Ela havia acabado de se ajeitar e
também descera para tomar café. Os cabelos ainda estavam úmidos. Charlie ficou em uma saia justa, sem saber ao
certo o que dizer. Aproximou-se da garota, segurando-lhe pelas mãos enquanto
falava em tom baixo:
— Sabe, princesa… Eu e Calem
estamos pensando em dar uma volta a sós. Acho que tivemos muitos atritos desde
que começamos essa jornada, então pensamos em nos conhecer melhor. — disse, tom
sério, mas com um sorriso.
Serena por alguns momentos ficou a
observá-lo, e em seguida lançou um sorriso sincero:
— Olha, minha família sempre foi
muito contra isso, mas eu considero que o amor supera todas as coisas, Charlie!
— disse.
— O quê? — indagou o rapaz, sem entender. Em seguida,
refutou, em tom alto. — Não, não é isso, Serena, por Arceus. — fez uma
expressão de nojo. — E mesmo se eu fosse assim, não iria querer conhecer logo o Calem. Estamos só indo dar
uma volta mesmo. Você se importa? — perguntou.
— Ah, sim, desculpe. — ela deu uma
risadinha. — É claro que não. Inclusive fico feliz de ver vocês se dando bem
assim. — a garota tocou o queixo, reflexiva. — Estou pensando em conhecer o
aquário da cidade, enquanto isso.
Os dois garotos assentiram, e a
deixaram tomar café enquanto iam em direção à chamada Glittering Cave. A menina selecionou algumas frutas e um bolinho,
acompanhados de café. Após ingerir tudo, sem pressa, levantou-se de sua cadeira
e saiu do hotel. Havia um mapa no interior que dizia os principais pontos da
cidade, mas sequer era tão grande assim para se perder. Além disso, o aquário
da cidade era famoso, e indicado por várias placas.
Ela parou em um banco de madeira
para observar a bela paisagem. Daquela altura, podia ver, ao longe uma
imensidade azul, contrastando com o céu nublado e gradualmente escurecido. O
som das ondas a acalmava de uma maneira surreal. Serena estava feliz de ter
conhecido a costa de Kalos.
Após alguns minutos, dirigiu-se
para o aquário, após pedir informações a algumas pessoas ao redor para
confirmar. Era uma construção que não conseguia contemplar com uma olhada
rápida. O famoso Aquário de Ambrette era um dos maiores de todo o mundo, e
muito usado em pesquisas e para a reabilitação de Pokémons feridos. Ela pegou
um folheto e pagou sua entrada no início. Em seguida, um rapaz indicou para
onde deveria prosseguir.
A menina notou-se em um corredor
bem escuro, o que a deixou ligeiramente incomodada. O atravessou porque via, à
certa distância, algumas iluminações. Chegou, por fim, em uma sala com várias
informações iniciais sobre o estabelecimento, e duas grandes caixas iluminadas.
Quando parou para reparar nas “caixas”, notou que na realidade eram tanques de
água.
Ela correu para observar. Os dois
tanques eram iluminados, e algumas espécies de Pokémons nadavam na água. Havia
alguns Magikarps como o de Calem, junto de peixes de tom esbranquiçado e cauda
fina e repleta de camadas – Goldeen, como dizia em uma placa de informação. – e
ainda uma espécie acastanhada de aparência esquisita – Feebas.
Ela ficou lá, observando o aquário
encostada no vidro. Afastou-se um pouco quando um funcionário a tocou e apontou
para uma placa que dizia “Favor não bater no vidro”. Serena continuou sua
caminhada após longos momentos admirando o nadar despretensioso daqueles peixes
inocentes. Avistou em uma placa:
A garota seguiu para a esquerda.
Andou por um corredor ainda mais escuro, que terminava em uma sala iluminada
por várias cores, que a intrigou. Não eram luzes quaisquer, e sim Pokémons que clareavam o
ambiente com seu próprio corpo. Chinchou e Lanturn possuíam luzes naturais que
utilizavam nas profundezas de seu habitat, enquanto Finneon e Lumineon tinham
detalhes em seus corpos que, no escuro, brilhavam em tons de neon, formando
desenhos que dançavam na água, contrastando com o ambiente totalmente
escurecido. A menina ficou maravilhada em como a natureza era capaz de criar
coisas tão singelas e bonitas.
Em seguida, avançou para uma
próxima sala, essa bem clara, simulando as zonas mais superficiais do oceano.
Havia o som ambiente Wingulls voando, e o barulho de ondas se movendo. Havia
várias espécies pequenas nadando nos tanques em cores vivas, passando por entre
os corais também multicoloridos.
Pequenos Horseas paraciam cavalos
apostando corrida embaixo da água com Skrelps. Alguns Staryus ficavam grudados
no vidro, presos, observando o exterior. Um Quilfish em um aquário isolado se
inflava quando alguém se aproximava, virando uma bola cheia de espinhos
engraçada. Um dos corais começou a se mover, revelando ser, na verdade, um
Corsola escondido.
A menina continuou, indo para uma
sala quente e de ar úmido. Os tanques agora já não eram totalmente preenchidos
de água, mas imitavam um ambiente terrestre. Havia alguns Polywags brincando e
espalhando a água de uma poça. Woopers e Tympoles também aproveitavam o terreno
lamacento, enquanto alguns Shellos – de dois tipos diferentes. – subiam pelo
vidro vagarosamente.
Serena notou a presença de um
Pokémon escondido no canto, que a maioria das pessoas sequer reparou. Se
assemelhava ao aspecto de um Shellos, porém era arroxeado, e tinha grandes
olhos, que estavam hesitantes naquele momento. Ele parecia abatido, encostado
sobre uma rocha, sem brincar com os outros. Pelas informações de uma placa, a
garota concluiu que era um Goomy.
— Ei, moço, — disse a menina a um
funcionário, que passava. — aquele Pokémon me parece doente…
O rapaz olhou de relance para a
direção do Goomy, e logo voltou a caminhar.
— Ele fica sempre assim. — disse, virando-se — Não há nada de errado.
A garota ficou a encarar o Pokémon,
que também a observava. Ela abaixou-se e tocou o vidro – cuidadosamente, para
não ser descoberta. A lesma aproximou-se um pouco, mas logo voltou a ficar
recostada com a mesma aparência infeliz de antes. Ela ficou por mais alguns
momentos, parada, tentando descobrir como ajudar. Percebendo que não havia o
que fazer, se não confiar no funcionário, continuou a visitação.
Ela agora passava por uma espécie
de túnel, mas com as paredes feitas de vidro. Uma voz constante que informava
cada atração comentava sobre aquela área, dizendo que simulava um túnel como o
Marine Tube de Unova. Naquele tanque passavam espécies de Pokémon realmente
assustadoras. Um enorme Tentacruel apareceu rente ao aquário, com seus tentáculos
dançando na água. Um Octilery grudou no vidro, assustando algumas crianças que
atravessavam o corredor. Um Wailmer passou próximo à menina, nadando de maneira
engraçada. Uma enorme Mantine parecia planar como um avião, com
vários Remoraids grudados na parte de baixo de seu corpo.
Serena ficou maravilhada. Todavia, por
outro lado, a imagem do Goomy veio em sua cabeça. Parou para observar aquelas
espécies, imensas, e só conseguiu projetar a feição daquele Pokémon: infeliz.
Talvez aquelas outras criaturas se sentissem da mesma forma. Eram imensos, e
ficavam confinados em um espaço de vidro que tentava imitar um pequeno pedaço
do oceano, onde pessoas passavam, apontavam, e fotografavam. Sentiu por um instante a sensação que tinha ao viver confinada em sua casa.
— Esse não é o lugar desses
Pokémons. — sussurrou a garota para si mesma, incomodada.
Algumas pessoas ao seu redor
conversavam, maravilhadas, e apontavam para cada ser fantástico que aparecia
nas águas ao redor, mas a menina já se sentia estranha, como se algo lhe
embrulhasse o estômago. O som das pessoas começava a se misturar com a voz robótica
e incessante que informava sobre as atrações.
Passou por um último corredor, que
tinha a aparência de um enorme freezer, com espécies como Spheals, Sealeos e
Lapras, que se moviam na água e no gelo, porém, Serena já não conseguia mais
olhar para nada. Sentia-se sufocada, ainda mais depois de imaginar como seria
aquela caixa artificialmente resfriada. Aproximou-se da saída, um pouco
ofegante. Antes de passar pela catraca e se retirar completamente, um outro funcionário sorriu:
— O que achou da visita?
— Foi… Surpreendente. — ela deu um sorriso de volta, mas a voz estava frágil e quebradiça.
Quando estava prestes a sair,
apalpou sua bolsa:
— Eu acho que minha carteira caiu
quando eu estava passando. — disse,
andando de volta. O rapaz apenas acenou com a cabeça, enquanto ela voltava.
A garota voltou a passos rápidos,
passando por entre as salas, perdida. Tentou seguir as placas, mas as letras
quase embaralhavam. Aqui não. Aqui não. Por fim, chegou à sala que esperava
quando sentiu uma temperatura discretamente maior. Lá estava o Goomy infeliz.
Ela se aproximou e abaixou na altura do Pokémon por trás do vidro. Ele, pela
primeira vez, mudou o olhar, aproximando-se um pouco dela.
Serena olhou ao seu redor, mas não
havia ninguém mais naquela sala e naquele momento.
— Agora vamos tirar você daqui.
A garota puxou de sua mochila a
Pokébola de sua Espurr, revelando a pequena criaturinha de pelos acinzentados.
A garota sussurrou algo ao Pokémon, que levitou uma placa de ferro com seus
poderes psíquicos e atingiu o vidro com força. O som dos estilhaços foi mais
alto que a menina esperava, assustando todos os Pokémons do lado de dentro. Um
ar ainda mais quente e úmido veio de dentro, e Serena estendeu as mãos ao
Goomy.
O Pokémon saltou em seu colo, e por
um momento ela sentiu a textura de sua pele mole e gosmenta, mas sequer teve
tempo de reclamar, pois começou a correr na companhia de Mary. Várias pessoas
foram para ver o que havia acontecido, e gritaram ao ver alguns Pokémons
escapando pelo espaço recém-aberto no vidro.
Serena corria e seu coração parecia
que a qualquer momento saltaria para fora de seu peito. Via as salas passando,
e em questão de segundos estaria do lado de fora. Seu instinto dizia que havia
feito algo certo, mas ao mesmo tempo temia estar cometendo um grande erro.
Quando menos esperava, trombou com um dos funcionários, que a segurou antes que
pudesse voltar a correr.
— Fim da linha. — disse ele, com
cara de poucos amigos.
...
Calem e Charlie seguiam os
indicadores em Ambrette que informavam uma saída do lado direito da cidade. Iriam
para a Rota 9, que permitia o acesso à Glittering
Cave. Um vento pesado soprava, trazendo o aroma de maresia, e também o
prenúncio de uma chuva forte que não tardaria a chegar.
Quando chegaram à rota,
surpreenderam-se ao notar que o solo não era uniforme. De alguns metros de onde
estavam em diante, o chão era rebaixado e coberto por pedregulhos de tamanhos
diferentes, alguns deles afiados, e onde alguns rochedos despencavam do alto de um morro, deslizando e
se partindo em pedaços menores ainda no solo.
— Não tem como atravessar essa
rota, Charles. — concluiu o garoto.
O outro ficou a observar a rota,
confuso. Aquilo era verdade, não havia outros treinadores ao redor que
estivessem caminhando naquele terreno acidentado. Parecia perigoso. Um homem,
todavia, apareceu ao longe, aproximando-se cada vez mais. Estava nas costas de
um Pokémon grande, que parecia ter uma pele coberta por placas resistentes e de
aparência rochosa. Um chifre estendia-se na parte da frente de sua face,
chamando a atenção. O homem desceu do Pokémon próximo aos dois, conversando:
— Vocês precisam ir montados em um
Rhyhorn. — explicou, ao ver a cara de
dúvida de ambos. — Não se preocupem, eles foram treinados para transportar
treinadores e são muito dóceis.
Disse, indo embora. De fato, havia
vários Rhyhorns amarrados nos arredores, parados, aguardando um treinador.
— Charles, você me convidou para ir
até uma caverna. E eu tenho que MONTAR. EM. UM. POKÉMON. — resmungou
Calem, alto. — Qual é o seu problema?!
— Ora, vamos, é só fingir que é uma
bicicleta. — disse Charlie aproximando-se de um Rhyhorn e tentando disfarçar
sua hesitação.
— Uma bicicleta de cem quilos que
anda em quatro patas e pode me atravessar com um chifre.
— Pense como quiser. — falou,
subindo, por fim, nas costas do Pokémon. Ele sequer se mexeu em reflexo. — Você
vem ou não?
Calem ponderou por vários momentos
como aquilo era contra vários de seus princípios. O outro preparava-se para
partir. Por fim, começou a subir nas costas do Pokémon, atrás de Charlie, que
levou um susto:
— O que está fazendo? É para subir
em outro! — reclamou.
— Charles, por mais que eu o odeie,
eu não vou subir nessa coisa sozinho. Ponto final. — falou ele, segurando nas
costas do rapaz, que soltou um suspiro de desprezo.
— A cada segundo mais arrependido.
Charlie fez um sinal com algumas
batidinhas nas costas do Pokémon para que andasse, e quando de fato ocorreu,
Calem soltou um grito instantâneo. O outro riu. Era uma sensação esquisita,
pois a dimensão do Pokémon era de certa forma assustadora, e sua pele tão dura
e protegida como uma montanha. Porém, era manso, caminhando a passos lentos, de
forma que outros treinadores que chegaram depois acabassem ultrapassando os
dois.
— Esse bicho não consegue ir mais
rápido? — reclamou Charlie, segurando as rédeas.
— Charles, não o apresse. — ordenou
o rapaz. — Mais cedo ou mais tarde chegaremos lá.
O outro concordou, relutante.
Ficaram observando os arredores enquanto o Pokémon caminhava com simplicidade e
preguiça pelo terreno rochoso.
— Parece que beeem mais tarde.
Após um tempo bem maior que o
previsto, puderam avistar um local na entrada da caverna onde não precisariam
mais da companhia do Pokémon para andar. Charlie já não aguentava mais Calem
tremendo e se remexendo com incômodo durante toda a travessia. Quando atingiram
o final, desceram do Rhyhorn sem tantas dificuldades, vendo uma placa fixa a
uma pedra: GLITTERING CAVE.
— Charles, não sei que mal me deu
na cabeça para aceitar vir aqui com você.
— Você pode parar de reclamar por um
minuto?
— Trinta segundos é o meu limite.
Entraram.
O caminho não era de todo escuro,
pois havia algumas lâmpadas nas paredes que envolviam o trajeto que ficavam
integralmente acesas. Contudo, na penumbra, ainda era difícil distinguir certas
coisas, ainda que alguns treinadores jovens estivessem nos arredores,
batalhando com espécies que se escondiam naquele ambiente. O som de vozes e
ruídos era amplificado e ecoado por toda a caverna, mesmo a metros de
distância. Calem, subitamente, parou de andar.
— Essa não.
— O que foi? — perguntou o amigo.
— Essa é a Glittering Cave. — ponderou ele.
— Sim, foi o que eu disse. — falou,
revirando os olhos. — Várias vezes.
— Eu não tinha parado para me dar
conta de que era aqui. — disse Calem, puxando seu guia da mochila e tentando
folheá-lo próximo a uma das luzes.
Charlie revirou os olhos, cruzando
os braços enquanto aguardava o garoto se explicar.
— Foi nessa caverna que montaram um
ossuário depois que os cemitérios não conseguiram mais receber pessoas. —
falou, apontando para uma página.
— Traduza para mim, por favor? —
pediu Charlie, sem sequer olhar para o livreto.
— AMONTOARAM UM MONTE DE OSSOS
HUMANOS E BOTARAM NESSA CAVERNA. ESTÁ CLARO OU QUER QUE EU DESENHE? — gritou
Calem, permitindo que sua voz fosse repetida pelo eco ao longe.
Charlie coçou a cabeça, não muito
impactado.
— Eu já havia ouvido falar, mas não
sabia que era aqui. Vamos lá, Calem, não me diga que tem medo dessas lendas? — brincou ele.
— Não seja tolo, Charles, medo de
lendas não faz sentido. — disse ele, guardando o guia novamente. — Por outro
lado é totalmente racional ter medo de vermes nojentos comedores de gente. O
que fazemos agora?
— Como assim? — indagou Charlie. —
Vamos continuar, ué. Eu vou parar por causa de uma bobeira dessas? Mesmo que
essa sala exista, ela deve ser bem escondida. Se não, não iriam deixar crianças
visitarem a caverna.
— Esse é sempre seu argumento? —
retorquiu Calem. — “Crianças visitam, então eu também posso”? — falou,
simulando a voz do amigo. — Crianças comem cola líquida, só por isso você vai
comer também?
— Você comia cola quando criança?
— Chega, eu vou voltar.
Quando Calem começou a fazer o
caminho de volta, ouviu um trovão ribombar do lado de fora, e logo um som de
gotas se quebrando no teto da caverna ecoou. Ao longe, podia ver pingos finos
caírem persistentemente do lado de fora, pela entrada. Havia começado a chover.
—
Droga.
Charlie riu, levando um soco no braço
pelo amigo. Os dois voltaram a caminhar para dentro, seguindo algumas placas
sem ao certo saberem para onde ir. Alguns Pokémons ocasionalmente apareciam,
mas não se mostravam muito incomodados com a presença humana – pelo menos não
nas áreas mais visitadas da caverna.
Chegaram em um local em que foram
acometidos pela surpresa: As paredes e o chão eram cobertos por pedras
especiais que eram famosas, e inclusive faziam jus ao nome da caverna. Algumas dessas pedras eram cobertas por pequenos seres bioluminescentes, que brilhavam em um tom azulado e iluminavam o interior da sala. Outros cristais tinham em seu interior uma luz própria, que refratava nas várias faces que possuíam e eram lançados para diversas direções. Pouquíssimas lâmpadas eram
colocadas na parede, justamente pela falta de necessidade. Havia avisos
indicando a importância de preservar aquelas pedras, portanto qualquer extração
ilegal era proibida.
O local possuía uma iluminação neon
natural que os deixou embasbacados e pensativos com relação a como a natureza
teria conseguido criar um mineral capaz de iluminar o próprio interior da
caverna, ou como criaturas conseguiam produzir tal brilho. Charlie sorriu ao outro, provocativo:
— Isso está um pouco melhor que um
cemitério.
A dupla continuou a caminhada por
alguns minutos pela caverna iluminada, até que Calem voltou a quebrar o
silêncio:
— Você pelo menos sabe para onde
estamos indo?
O garoto se virou para ele.
— Você quer a verdade?
— Hm. Melhor não.
— Boa escolha.
Conforme avançavam, o som de seus
passos deixou de ser a única coisa audível – além, é claro, dos ruídos típicos
de uma caverna. – pois, não tão longe, era possível notar o som de vozes
conversando. É claro que o ambiente permitia que confundissem as reais
distâncias em virtude das paredes que reproduziam eco, mas as vozes ficavam
cada vez mais perceptíveis.
Por uma entrada, Charlie colocou
sua cabeça ligeiramente à mostra, observando a mesma dupla de pessoas
uniformizadas que vira mais cedo no hotel. Também havia um senhor mais baixo
que eles, de jaleco e óculos – um estereótipo de pesquisador – participando do
assunto.
— Ali, são eles. — apontou Charlie.
Calem colocou sua cabeça inclinada
sobre a entrada também, as mãos apoiadas na rocha, escondido da mesma forma do
amigo. Fez uma expressão de julgamento no rosto.
— Um pouco excêntricos esses
trajes, né? — comentou.
— Não estou com um bom
pressentimento sobre esses caras. — balbuciou Charlie.
— Eles estão de terno, Charles. —
argumentou o outro.
— Calem, não é porque a pessoa
veste terno que ela não é perigosa. — falou, revirando os olhos enquanto
voltava a observar o trio ao longe.
— Charles, eu vou continuar
fingindo que acredito que você não faz ideia do que está acontecendo assim como
eu, se o tranquiliza. Mas saiba que eu vou cobrar uma explicação futuramente.
Se Charlie ouviu o que o outro
dissera, não dava para saber, porque continuou observando a conversa sem
piscar. O companheiro também continuou olhando, como se sua fala anterior nunca
tivesse sido dita. Em determinado ponto, o volume das vozes aumentou, bem como
os gestos tornaram-se mais acalorados, parecendo uma discussão. Charlie se
remexeu:
— Precisamos fazer alguma coisa. —
comentou, se levantando.
— Você nem sabe do que eles estão
falando. — retorquiu o outro.
— Você vem comigo ou não? —
perguntou o garoto, colocando-se em posição de caminhar, como se mostrasse que
qualquer ação seguinte sua era inevitável.
Calem respirou por um momento e
soltou um longo suspiro:
— E eu tenho escolha?
O amigo sorriu de um lado e desfez
o sorriso em seguida sem dizer nada, dando a entender que não, não havia
escolha. Avançou de uma só vez, soltando um brado mais alto que gostaria:
— Ei. — os três viraram-se para ele, sem muita
surpresa. — Está tudo bem aqui?
Todos se entreolharam de maneira
duvidosa, e Calem aproveitou a deixa para aparecer também. O senhor mais baixo
respondeu:
— Sim, jovem. Aconteceu alguma
coisa? — perguntou com simplicidade.
— Vimos vocês discutindo… —
comentou Charlie, mas notou que suas palavras não faziam sentido. Era difícil
explicar quando nem ele conseguia se justificar do porquê de estar lá.
— Estávamos apenas conversando com
o senhor Cuvier e divergimos sobre os sedimentos que formam a caverna. — um dos
capangas, o rapaz, abriu a boca. Sua voz era firme, mas tranquila. — Mas ele
tem mais propriedade que eu para falar sobre esses assuntos, não é?
— Ele é o pesquisador-chefe do
Laboratório de Fósseis de Ambrette. — comentou a moça ao lado dele.
O senhor deu uma risada descontraída
e ajeitou seus óculos, como se quisesse ver os garotos melhor.
— Ora, não coloquem tantos créditos
assim em minhas costas. — falou de forma humilde. — Já visitaram o laboratório,
meus jovens?
Os dois se entreolharam e fizeram
que não com a cabeça.
— Fazemos muitas pesquisas,
principalmente no campo dos fósseis. — explicou, com um sorriso. — Sabem o que
são fósseis?
— São… Restos de criaturas
pré-históricas, né? — disse Charlie, de maneira despojada.
— Charles, não me envergonhe. — o
amigo deu-lhe uma leve cotovelada. — Os fósseis mostram vestígios de como era a
vida há milhões de anos, principalmente como surgiram alguns de nossos
ancestrais. — explicou o outro quase que como um parágrafo decorado de um livro
de história.
— Exatamente. — falou o senhor Cuvier,
satisfeito. — Houve um grande processo de sedimentação nessa caverna, portanto
é possível encontrar diversos fósseis por aqui. Por isso escolhi Ambrette para
sediar o laboratório.
Ele tinha uma mochila consigo, que
até então não haviam notado porque estava jogada no chão, desgastada. O senhor
revirou a mala olhando por cima dos óculos, e pegou um pedaço de rocha disforme
de sua mochila:
— Hoje meus colegas encontraram
isso. — disse, entregando a pedra para Calem. — Interessa a você, jovem?
Ele pegou o rochedo com hesitação.
Em sua mente não faria isso em outras ocasiões, pensando em como deveria estar
cheia de germes, mas não queria desapontar o senhor com suas manias. Observou
por todos os ângulos, ainda que pegando na ponta dos dedos:
— Que tipo de fóssil é esse? —
perguntou.
— Oh, você descobrirá se levar até
o Laboratório de Fósseis. — falou ele, com um olhar provocativo.
Calem sorriu, colocando a pedra com
cuidado em um bolso de sua mochila.
— Combinado!
Os dois seguiram conversando sobre
assuntos que Charlie sequer tentou compreender. Algo envolvendo rochas
magmáticas. Ou seriam magnéticas? Viu que a dupla ao seu lado cochichava entre
si, um pouco deslocados. O rapaz aproveitou da distração e da proximidade para
observar um crachá que o homem usava em seu pescoço. Como tudo neles,
predominavam os tons alaranjados, com alguns dados e números que não sabia para
que serviam. Embaixo de um emblema, leu um nome:
— Team Flare. — murmurou.
Os dois voltaram suas cabeças
vagarosamente para ele. Usavam óculos que impediam que seus olhos fossem vistos
– ainda mais àquela iluminação. –, então era difícil ler suas expressões. A
mulher continuou, com uma voz interessada:
— Ouviu falar?
Charlie titubeou, arriscando:
— Vocês não são a organização que
estava roubando os outros?
Os dois lançaram um olhar rápido um
para o outro, e logo caíram na risada. Charlie sabia que ladrões jamais
admitiriam, assim, seu crime. Contudo, esperava diversas reações diferentes,
que não uma gargalhada sincera como a que demonstravam.
— Então é isso que falam sobre nós?
— disse o homem, ajeitando seu topete.
— Menino, ou estão nos confundindo,
ou é apenas um boato que espalharam para nos difamar. — explicou ela. — E vou
dizer que não seria a primeira vez.
— Estou um pouco confuso. —
confessou Charlie.
— Nós somos uma organização, sim.
Mas não queremos roubar o dinheiro de ninguém. — falou o moço, ainda soltando
uma leve risada.
— Há algumas facções que querem
isso aqui em Kalos. — comentou ela. — Mas nós também temos medo deles.
Os dois riram entre si, e Charlie
os acompanhou, mesmo que estivesse desconfortável demais para se divertir. Por
um momento veio em sua cabeça a imagem de Marc, seu irmão, que claramente seria
líder de um desses grupos perigosos. Tentou afastar, de uma vez, a imagem
perturbadora de sua mente.
— Se não se importam. — disse o
homem, checando um relógio de pulso, após parar de rir, ao tocar o senhor Cuvier no
ombro. — Precisamos ir, agora que a chuva deve ter parado.
Os garotos naquele momento pararam
para reparar que o som de gotas caindo no teto da caverna já havia cessado.
— Tudo bem, meus companheiros. —
falou o pesquisador. — Espero ter sido útil.
— Foi muito, sim. Obrigada pelo seu
tempo. — agradeceu a moça. — Entraremos em contato com o senhor. Até mais,
garotos.
Todos fizeram um aceno, enquanto os
dois dirigiam-se novamente para os corredores da caverna, como se soubessem
exatamente por onde ir, sem nem precisarem pensar. Calem e o senhor Cuvier continuaram sua conversa, e quando Charlie sentiu que estavam distantes o
suficiente, interrompeu:
— O que aqueles caras queriam?
Os dois voltaram o olhar para ele
após a interrupção, e o pesquisador demorou um pouco para interpretar a
pergunta, agora que o assunto mudara bruscamente.
— Eles queriam conversar sobre
pedras… — falou, fazendo um gesto com a
mão de pouco caso. — Desculpe, garotos, não posso falar muito mais sobre isso.
— O senhor foi… Contratado por
eles? — perguntou, levando em conta o que ouviu pela conversa.
— Bem, eles me ofereceram uma
proposta. — disse, e embora Charlie esperou que ele fosse continuar, nenhuma
outra palavra foi proferida.
— O que aqueles caras querem? — repetiu.
— O Team Flare é uma organização de cientistas e intelectuais bem
antiga. — falou ele, gestualizando. — Ninguém sabe direito o que fazem em suas
reuniões, mas dizem que prezam por “um mundo mais belo”.
— Cientistas e intelectuais que
acreditam em um mundo melhor. — resumiu Charlie cruzando os braços.
— Exato. Muitas pessoas de
influência aderiram à organização depois de se familiarizarem com os interesses
deles.
O senhor despediu-se deles após
checar o horário, e os dois garotos ficaram lá, parados por um tempo. Aquele
encontro havia sido estranho em muitos aspectos, mas por algum motivo era
difícil conciliar um grupo tão curioso como o Team Flare com a imagem dos
benfeitores de Kalos.
— Bom, Charles, está mais tranquilo
agora? — indagou o rapaz.
— Eu acho que sim. — respondeu-lhe,
mas havia uma pontada de mentira. — Mas me dá medo quando vejo alguém falar sobre
“um mundo melhor”.
— Não deveria. — riu Calem.
Os dois seguiram em silêncio pelo
caminho de volta. Agora já não era mais tão difícil e nem assustador retornar,
uma vez que conheciam o trajeto. Era só cuidarem para não se perderem, ainda
que fosse difícil, pois as pedras brilhantes eram bem marcantes. Quando estavam
quase na saída, Charlie quebrou o silêncio:
— Calem. — o outro encarou seus
olhos esverdeados que esboçavam sinceridade naquele momento. — Obrigado por ter
ido comigo.
Ele olhou para frente, sorrindo.
— Disponha.
Entardecia, mas mesmo assim estava
bem mais claro que dentro da caverna, causando-lhes um incômodo por alguns
segundos Até mesmo irem montados em um Rhyhorn já não era mais tão cansativo,
embora estivessem exaustos – o segundo que pegaram era um pouco mais veloz que
o primeiro.
Fizeram o caminho de volta em
direção ao hotel, mas viram uma multidão se acumulando nas proximidades.
Vencidos pela curiosidade, seguiram a direção pela qual um certo número de
pessoas também ia, percebendo que a acumulação era em torno do aquário da
cidade. Os dois se entreolharam com espanto e lembraram de Serena, aumentando a
velocidade do passo.
No centro do amontoado de pessoas
havia alguns policiais, vários funcionários do aquário, alguns fotógrafos e
jornalistas, e uma menina loura de saia vermelha e chapéu rosa – Serena.
— Serena, o que aconteceu? — gritou
Charlie, indo à frente do amigo.
Alguns policiais bloqueavam a
passagem fazendo uma barreira que envolvia Serena e os funcionários. Quando
Charlie tentou ultrapassá-la, um dos policiais o questionou:
— Essa garota está com vocês?
— Está. — respondeu Calem de
prontidão. — Qual é o problema?
O policial deu um grito aos que
estavam próximos a ele, e permitiram a passagem dos dois garotos, apenas.
Serena estava junto a um homem baixinho e calvo, com vestes extravagantes, que
mais pareciam uma tentativa frustrada de ser elegante e chamativo ao mesmo
tempo. A garota tinha certo pânico no olhar, assustada com a pessoas em sua
volta, principalmente os fotógrafos.
— Ela tentou roubar um Pokémon do
Aquário. — disse o homem, ríspido, dando a entender que era o dono do aquário.
— Quebrou um vidro e tirou a paz daqueles Pokémons.
— A criminosa não sou eu. — falou a
garota com um tom emotivo, quase derramando lágrimas dos olhos. — Eles é que
mantém vários Pokémons inocentes como reféns naquele lugar fechado e infeliz.
Os garotos se entreolharam,
compreendendo a gravidade do problema.
— Posso falar com ela um instante?
— pediu Calem, puxando a garota pelo braço um pouco distante dos outros
funcionários, onde podia conversar sem tanto incômodo.
— Serena, é um aquário. — disse ele,
fazendo gestos expansivos com as duas mãos. — Essa é a proposta. Esses Pokémons
são melhor criados e alimentados que nós dois andando pelo mato, sabia?
A garota engoliu em seco e ficou
por alguns momentos encarando o primo, em seguida voltando a falar, atropelada:
— Mas lá não é o lugar deles, Cal.
Eu não sei, não consegui aguentar. — dizia, cobrindo o rosto com as mãos, em um tom
quase sofrido. — Eles são tão grandes, e aquele vidro tão pequenino… O Goomy
estava tão triste.
Calem estapeou a própria testa com
suas duas mãos.
— Por Arceus, você sequestrou um
Goomy?
— Ele estava infeliz, Cal. —
argumentou, falando mais alto que gostaria. — Ele gostou tanto quando eu o
libertei.
Não
é novidade que o lado sensível da Serena me incomoda, mas em alguns momentos
ela simplesmente extrapola. Ser sentimental é legal, é bonito, porém, quando
você começa a fazer escolhas erradas e a colocar os outros em perigo, colocando
o sentimento acima da razão… Isso eu já não concordo. A razão deve se sobrepor,
sempre. Talvez com um Pokémon infeliz a mais no mundo, porém, sem problemas e contas de
vidraçaria a pagar. E, é claro, eu que precisava consertar as besteiras que
minha prima fazia por ser tão passional.
— Serena, eu juro que estou me
controlando para não dar uma na sua cara. — disse, estressado. Você não pode
sair fazendo coisas assim. — Você não sabe como funciona o Aquário. Você não sabe
de onde vem os Pokémons. Então não se meta. — falou. — Eles cuidam de espécies feridas em reabilitação, sabia?
Serena fungou, claramente abalada
com o tom ríspido que o primo usara, mas ele sequer se importou. Talvez até
então ele nunca tivesse ficado tão bravo àquele ponto com ela, e naquele momento
só conseguia focar em resolver aquele problema pendente. Puxou um dos
funcionários nos arredores pelo ombro:
— Alguém fotografou ou filmou o
momento? — questionou-lhe, impositivo.
— Não, não havia pessoas nos
arredores quando aconteceu. — respondeu ele, depois de alguns momentos pensando
na resposta.
Agora dirigia-se ao dono do
aquário, que estava de braços cruzados e com a pior expressão imaginável no
rosto. Charlie tentou consolar Serena, enquanto, sem ser intimidado, Calem
encarou o dono nos olhos:
— Quanto vocês pagaram para esse
Goomy chegar aqui, e quanto fica o conserto do vidro? — perguntou de uma vez.
O homem, após um olhar duvidoso com
as sobrancelhas arqueadas, puxou em seu bolso apertado um papel todo amassado,
com um valor que provavelmente era o orçamento do reparo do dano causado por
Serena. Mostrou para Calem, que o examinou, e logo fitou de volta o senhor:
— Pagamos o triplo disso se
deixa-la ficar com o Pokémon sem que os pais sejam notificados. — disse, com
firmeza. — Acho que não precisamos incomodá-los com essas besteiras, não é?
Escolhas
pessoais trazem consequências para os outros ao redor. Quando se fala de uma
família como a nossa, - e digo isso sem qualquer orgulho – um pequeno rumor
logo vira capa de revista de fofocas, daquelas que minha mãe lia enquanto o
cabelereiro lhe fazia um penteado novo. Uma fotografia da filha de um dos homens
mais poderosos de Kalos cometendo um crime é um prato cheio para um colunista
procurando furos para manter o emprego. E, por mais bravo que estivesse com
Serena, sabia que Stevan não ficaria nada satisfeito se soubesse disso.
Depois de alguns momentos ponderando,
o homem fechou os olhos com força e fez gestos como quem afastava uma ideia
para longe:
— Não foi apenas uma besteira. —
rebateu, guardando a conta de volta. — Não aceitamos suborno.
Calem arqueou uma sobrancelha e
revelou um pequeno sorriso.
— Então iremos processar o Aquário.
— disse com simplicidade. — Por maus tratos e aprisionamento indevido de
Pokémons.
O dono jogou a cabeça para trás.
— Isso é loucura!
Calem aproximou-se dele, abaixando
um pouco o tom de voz.
— Minha prima é muitas coisas, senhor.
Inocente. Tola. Inconsequente. — enumerou. — Mas não é mentirosa. Se ela disse
que havia um Pokémon doente ou incomodado, então havia. — falou ele com
convicção. — E duvido que seja difícil encontrar outro Pokémon nesse estado
para provar, sendo que todos estão presos em caixas cheias de água.
O homem começou a suar frio, e
Calem notava seu incômodo pela forma com que mudara sua respiração, agora mais
ofegante. Com o avançar dos anos, aquários começaram a receber objeções e
reclamações. Bastava um escândalo para que o maior aquário de Kalos ser forçado
a fechar as portas. O dono sabia disso. Calem também.
— Quer o meu conselho? — falou o
garoto, colocando algumas notas dentro de um envelope, tirando o homem do
transe. — Pegue o dinheiro de uma vez. E fique em silêncio. Ou garanto que os
advogados da família Windsor farão muito, muito, mas muito pior do que estou
fazendo agora. — e empurrou-lhe o envelope.
Àquela altura o dono pegara o
pedaço de papel trêmulo, e sua pele encontrava-se bem mais pálida. Puxou
Serena, que estava um tanto distante, por um braço e Charlie os seguiu. Quando
tentaram barrar sua saída, alguns funcionários avisaram que o trio estava
autorizado a se retirar. Procuraram um vão onde não havia mais um aglomerado
grande de pessoas, mas mesmo assim alguns fotógrafos tentaram aproveitar a
chance. Escondendo o rosto, correram e conseguiram despistá-los.
— Cal… O que você fez? — perguntou
a menina, um pouco com medo.
— Apenas o que eu tinha que fazer.
— respondeu ele de forma ríspida.
— Eles não vão avisar o pai da
Serena? — questionou Charlie, duvidoso.
Calem suspirou.
— Provavelmente não. — disse, por fim. — Agora vamos logo, está
escurecendo. Amanhã iremos embora desse lugar bem cedo.