Oct 15, 2017

Capítulo 25.5


Capítulo 25.5
Aprovação



A água quebrava em leves golpes nas pedras. Ondas fracas e suaves banhavam com espuma as rochas desgastadas da costa de Shalour em uma harmonia de sons. A cidade era relativamente bem tranquila, mas a Tower of Mastery, sobretudo, era um local extremamente retirado e agradável para aqueles que buscavam paz. Já era tarde, o sol estava quase acabando de se por. O céu outrora alaranjado abria espaço para os belos tons róseos e arroxeados, enquanto uma fina camada de nuvens cobria o espaço. Era possível, todavia, avistar inúmeras estrelas que pouco a pouco se tornavam visíveis do espaço.
Korrina se colocava de pé em uma das pedras próximas ao mar, observando com calma o movimento pacífico do oceano. Estava em um pé só, em uma das posições que costumava utilizar para relaxar em treinamento. Suas mãos faziam gestos no ar enquanto focava quase totalmente em manter o equilíbrio, respirando fundo, preenchendo os pulmões com o ar limpo e expulsando-o de forma gradual. Sequer tremia.
Seus ouvidos absorviam apenas o som das ondas, mas de repente detectou passos lentos vindo em sua direção, virando-se em um pulo e se colocando em posição de ataque. Grant levou um susto, fazendo um gesto de defesa e abrindo um sorrisinho. A menina relaxou de sua posição, retornando com um olhar de simpatia.
— Parece que as coisas se tornaram intensas lá dentro… — balbuciou ele, coçando a cabeça.
Ela concordou com a cabeça, tímida, soltando um longo suspiro.
— Mais que eu gostaria.
Ela sentou-se na pedra, segurando os próprios joelhos com os braços. O outro ficou contemplativo admirando o ambiente.
— Hm… Prefere ficar sozinha? — indagou, pronto para sair.
— Não, não. — rebateu ela. — Na verdade eu precisava mesmo era sair de lá.
Grant concordou com a cabeça e deu alguns passos para se aproximar. Em seguida, abaixou e sentou-se ao lado da moça, sem trocar olhares. Focou apenas na bela cena, na imensidão azul do desconhecido que se colocava à sua frente. Como um admirador do mar e exímio aventureiro, o líder era apaixonado por aquela visão. Ficaram ambos preenchidos pela música das ondas, até que a garota precisasse romper o silêncio.
— Ele fazendo aquela cena com um treinador qualquer… — murmurou ela. — Ele só queria me provocar.
O rapaz ficou em silêncio, – precisou de alguns segundos para voltar à conversa e compreender o contexto – virando suavemente o rosto na direção dela. Korrina tinha olhos perdidos, fitando o céu em busca de uma resposta.
— Há anos eu o vejo meu avô apostando em outros treinadores, e me esforço para que ele veja que eu também sou capaz… Participei da Liga, fundei um ginásio…
Suas palavras foram gradualmente morrendo no caminho, logo deixando-os mais uma vez na ausência de diálogo. Nenhum dos dois pareceu se importar muito. Ela, porém, não tardou a voltar a falar:
— Foi mal, eu sei que estou sendo meio infantil. — disse, envergonhada.
— Não é ser infantil. — respondeu o outro. — Às vezes nós temos necessidade de provar coisas para os outros. Seu avô significa muito para você, então a aprovação dele é importante.
A frase pairou na cabeça da líder, um pouco mais reconfortada, mas ainda assim repleta de dúvidas.
— Você desafiou aquele garoto só para poder provar a seu avô que é capaz de ser A Sucessora, não é? — perguntou Grant com um toque de humor.
Korrina cobriu as mãos com o rosto, deitando na pedra.
— Cara, foi tão péssimo assim? — inquiriu, envergonhada.
Grant soltou uma gargalhada.
— Não, tudo bem. Você se deixou levar pela emoção, só isso. — tranquilizou-a, sorrindo com os dentes, ainda tendo as sobrancelhas arqueadas.
A garota abriu um sorriso, mas ainda tinha a testa franzida, ruborizada com sua própria atitude. Fora quase um reflexo ter desafiado Calem, ao explodir com a discussão prévia com seu avô. Korrina precisava de uma última chance de provar sua capacidade, acabando com as provocações que vez ou outra sofria de Gurkinn ao solicitar sua Key Stone.
— Eu sou uma líder terrível. — cuspiu ela, com uma risada.
— Óbvio que não. — retorquiu o outro. — Você ainda é novata no cargo, só. — disse, em tom provocativo.
— Ei, não sou tão novata assim. — ela deu-lhe um soco no braço.
Os dois começaram a rir juntos em um momento descontraído que tornou o espaço mais leve por curtos instantes. Quando as vozes falharam, ficaram a se encarar, sorrindo. Ele era mais alto que ela, de maneira que Korrina olhasse por cima para encarar os olhos acinzentados do amigo, escuros e misteriosos como um dia nublado. Após alguns curtos momentoss, viraram o olhar, voltando a observar o pôr-do-Sol.
— Como está a Viola? — murmurou a lutadora.
— Faz tempo que não nos falamos. — respondeu ele, atirando uma pedrinha na água. — Ela tem andado meio ocupada com uma exposição.
A garota concordou com a cabeça, lembrando-se da amiga, a qual fazia tempo que não via. Lembrava-se da sua época de treinamento e quando preparava-se para abrir um ginásio. Era tudo novo, tudo empolgante, e era estranho olhar para trás e pensar como crescera em tão pouco tempo. Agora enfrentar novatos era uma tarefa trivial, e ainda que tentasse encarar cada desafio como uma batalha brilhante, às vezes era apenas parte da rotina.
Ela soltou um longo suspiro, retornando à sua realidade do momento.
— Grant… — soprou o nome no ar. — E se eu perder?
O rapaz virou-se para ela, mas ela continuava perdida nos devaneios, olhando para o horizonte. Ele também virou o rosto, atirando outra pedrinha na água, ao longe.
— Se perder, perdeu. — disse, com simplicidade.
— Nossa, valeu mesmo.
— Não, é sério.
Ele deu uma risadinha, disparando uma terceira pedrinha. Korrina acompanhou seu trajeto no ar, enquanto ela fazia um barulho ao bater na água e afundar ligeiramente. Alguns Wingull passaram planando em volta, fazendo seu típico barulho desengonçado enquanto dançavam pelo vento da praia e se banhavam nas águas oceânicas ao mergulhar e sair de lá bem rápido.
— Você também competia, então sabe como é. — prosseguiu ele. — Não pode deixar as incertezas te dominarem, ou vai ficar paralisada e se impedir de continuar.
— É diferente competir por uma medalha, e competir por algo que eu desejei minha vida toda. — rebateu ela, séria.
Ele estalou o pescoço.
— Essa batalha não é sobre ganhar, Korrina. — falou em um tom baixo. — É sobre mostrar que você é digna de ser A Sucessora. De ter a aprovação de seu avô.
As palavras faziam sentido, mas a moça não pareceu muito convencida com as palavras, permanecendo estática, presa a seu conflito. O rapaz encarou as próprias mãos calejadas, estalando alguns dos dedos em relaxamento. Pigarreou, e deu um soquinho sem graça no braço da garota.
— Você é descendente do guru das Mega Evoluções. Se tiver que ganhar essa batalha, fará com certeza. — disse, confiante.
Korrina suspirou, pensativa. Isso ainda lhe tiraria o sono, e até o dia da batalha, ficaria extremamente conflituosa. Havia requisitado um desafio talvez maior do que pudesse cumprir. Mas se não pudesse, então por que seria A Sucessora? Sabia que tinha experiência suficiente para vencer a batalha, já enfrentara combates mais difíceis antes, muitas vezes. Esse não era o problema. A questão era que em nenhuma delas estava envolvida a admiração e a confiança de seu avô.
Balançou a cabeça, tentando mudar de expressão.
— O que acha de uma corrida na pista do Ginásio? — perguntou ela, abrindo um sorriso.
Ele a encarou em silêncio, acompanhando o sorriso.

— Espero que você tenha um par de patins do meu tamanho.

    

7 comments:

  1. adorei o simples facto de, em tão poucas palavras, o haos ter a capacidade de transmitir o sentimento das suas personagens! e aqui não temos presente, calem, serena ou charlie, mas sim dois simples líderes de ginásio: grant e korrina.

    korrina parece ser uma jovem bastante dedicada no seu objetivo e espero sinceramente que consiga vencer o combate contra calem e ser a verdadeira sucessora! SORRY BRO :/ até porque se virmos bem, pelo que percebi, um antecessor dos Windsor ganhou uma, não é verdade? quem sabe ele não possa vir a ficar com ela no futuro?

    também fiquei muito curioso quanto à relação entre os dois líderes... todos esses olhares e conversas revelam uma relação um tanto intima ou sou só eu? quão interessante seria ver-mos a jornada de todos eles até atingirem o seu cargo atual?

    é tudo! :)

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    1. O capítulo foi curtinho, mas que bom que conseguiu atingir o objetivo! Fico contente que você captou bem a personalidade da Korrina. Ela é extremamente dedicada mesmo, e também acabei torcendo pra ela durante a batalha de Ginásio! Huashdauisdhausd

      E já surgiram aí suposições das relações entre os líderes! Confesso que eu gostaria muito de trabalhar mais com eles, acho Gym Leaders personagens muito carismáticos, e dizer um pouco sobre seu passado seria uma oportunidade super bacana. Quem sabe não exploramos isso em algum especial, como o Canas havia feito? São possibilidades, e com certeza eu adoraria entrar mais no passado desses personagens queridos!

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  2. esse cap já começou tão relaxing aes, i feel in peace
    korrina bem goals né, queria eu estar meditando na beira do mar, e ainda já tendo um equilibrio e uma resistencia boa dessa
    grant pls conversa com ela to sentindo que ela tá precisando
    ai eu quero tanto abraçá-la >>: you have your value and it's a freaking lot!!
    Foi mal, eu sei que estou sendo meio infantil > NÃO TÁ NÃO BB good that grant gave a good reply <3
    Cara, foi tão péssimo assim? > assim foi meio insensato e um tanto extremo mas teu avô tava provocando mesmo né qq
    ai ela citou a viola e só fiquei pensando que quero muito mais momentinhos desses dos líderes, eles parecem ter uma boa amizade >:
    Se perder, perdeu > WELL he's right at a point. but it's hard. i know
    Essa batalha não é sobre ganhar, Korrina > he has a point yet again (i hope)
    ai bb vai relaxar sim TENHO CERTEZA QUE TEU AVÔ VAI RECONHECER COMO TU É SENSA
    (e deixo aqui meu profundo amor por caps como esse <3 tanto pela conversa, pela casualidade e pelo foco em personagens "secundários" mas que no fundo tem sua importancia e sua própria historia a ser narrada <3 )

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    1. AAAAA Que maravilhoso que você curtiu a vibe desse cap! Geralmente esse tipo de cena fica dentro de outros capítulos, né, mas resolvi fazer algo separado em um especial. Pular a leitura dele em teoria não atrapalha o entendimento da história, mas acho fundamental para quem quer entrar mais dentro do enredo e compreender as personagens. Foi uma delícia escrever, porque adoro ceninhas assim também, bem soft e com conversas nesse ritmo. Também gostaria muito de trabalhar mais com os líderes, e espero poder fazer isso mais para a frente. Aqui estamos nós, defensores das cenas soft em histórias <3 HASUDHAUSIDSA

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  3. Era um capítulo assim que eu esperava para a Korrina! Obrigado por este presente, sempre adoro algo tranquilo que traz aquela paz de espírito e o lado mais humano dos personagens. Ainda trouxe esse diálogo do "E se eu perder?". Acho que essa é uma das lições mais valiosas da vida, cara. Esses dias vi um vídeo do Terry Crews ( POOOOER!) falando que podemos nos fazer de vítima para tudo de ruim que acontece na vida, ou então nos levantarmos e agirmos como Reis responsáveis por tudo que acontece em nosso reino. Eu sei que falar é mais difícil do que erguer a cabeça e fazer, mas o cara tá certo. A Korrina é uma batalhadora por chegar e chegar até o nível de se tornar uma líder de ginásio respeitada, a diferença é que ela só não conseguiu o respeito da pessoa que mais esperava, como um filho que jamais tem a admiração de seus pais. Essa vai ser uma baita batalha de ginásio pra fechar a temporada! Eu não sei direito o motivo, mas o terceiro ginásio sempre me marcou em todas as fanfics da Aliança. Sei que não vou me decepcionar em Kalos!

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    1. Ahhh eu também adoro esses capítulos! Foram tão poucos nessa temporada de especiais, mas nessa ocasião da Korrina senti uma necessidade de fazer uma cena separada para ela. Até poderia tentar encaixá-la em outro capítulo, mas penso que desse jeito ela ganhou o destaque e a importância merecida para que a vissem como uma personagem de respeito.

      É exatamente isso que você comentou! Ela conquistou um cargo, entre várias outras coisas em pouco tempo, mas é como se isso não valesse de verdade porque o que ela espera mesmo é a aprovação do avô. Quando sabemos disso, a batalha assume um nível tão diferente do que simplesmente o Calem atrás de uma insígnia, e é por isso que gosto tanto dela!

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  4. Haos, Haos, quanto mais leio, mais me envolvo... É bem impactante a maneira como você apresenta a nós aquela cena no capítulo anterior, para então neste pequeno especial trazer de maneira, para mim, sutil, as emoções da personagem.

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