Capítulo 29
Matrimônio
Serena puxou o ar
pesado que rodeava a sala. Desta vez não mais sentia o aroma da maresia da
parte costal de Kalos, mas sim um familiar cheiro de mogno e aromatizador de
ambientes, que lhe de dava ligeiro enjoo. Aquela sala a deixava claustrofóbica.
As estantes altas de madeira escura repletas de livros que ela jamais leu
pareciam observá-la; os quadros de renomados artistas da região, intimidavam; oposta
à porta, havia uma parede de vidro que revelava um imenso jardim, contrastando
ao céu nublado e frio da área central de Kalos.
Ouvia o batucar dos
dedos grandes do homem em sua mesa de escritório. Queria que aquele barulho
cessasse o mais rápido possível, mas aquilo fugia ao seu controle. Se não por
esse ruído, a sala era inundada por um silêncio sufocante; intimidador. Dentro
daquele cubículo, era como se entrasse em um universo paralelo e assustador,
que a perturbava por toda sua vida, onde perdia todo o seu poder e voltava a
ser uma criança indefesa.
— Meses se passaram
e não recebo nem um “olá”? — perguntou Stevan, sentando-se em sua cadeira,
abrindo um sorriso fino.
Serena tinha os
olhos marejados. Levantou-os para seu pai, trêmula. Contra a luz do lado de
fora, Stevan mais parecia uma sombra inexpressiva que a observava.
— Como você pôde? —
perguntou ela.
Stevan fechou os
olhos. Apoiava-se em um dos braços de sua confortável e enorme cadeira, sem
dizer uma palavra sequer. Serena queria levantar e chacoalhá-lo, implorar por
uma reação. As palavras, mesmo não sendo gritadas, ecoavam pela salinha, na ausência
de outros sons. Serena ofegava; olhou para as próprias mãos, nervosa:
— Nós combinamos,
papai. — ela falou, segurando as lágrimas. — Você me prometeu.
O pai respirou
fundo.
— Eu prometi que
você poderia sair em uma jornada, Serena, mas sempre soubemos das condições
para tal. — replicou ele.
— Eu tenho quinze
anos. — retorquiu a garota, concisa.
— Exatamente,
Serena. — assentiu. — Capturar Pokémons e conhecer o mundo é um desejo de uma
criança de dez anos. Não de uma mulher.
Serena deu uma
risada debochada.
— Talvez eu seja uma
criança. — rebateu ela.
— Pois age como uma,
às vezes. — Stevan arqueou uma das sobrancelhas.
A loura cobriu o
rosto com as mãos, desacreditada.
— Pai, eu não posso
casar… — ela disse, soluçando. — Eu nem conheço meu suposto noivo! Eu não posso
abandonar tudo desse jeito…
— Você fala como se
conhecer alguém fosse algo decisivo para você. — apontou o pai, com um tom
sarcástico.
A garota hesitou.
— O que você quis
dizer com isso? — perguntou ela, incomodada.
— Quando ia me
contar que tem um criminoso andando com vocês? — inquiriu Stevan, se apoiando
na mesa enquanto seu tom subia ligeiramente. — Que vocês levam ele para todo
lugar desde que saíram de casa? Hm?
— C-como assim?
— Não me faça de
idiota, Serena!! — bradou Stevan, socando a mesa. A garota congelou, e um
silêncio se instalou após o som da madeira vibrando ressoar por todo cômodo
várias vezes. — Vocês viajam com um moleque qualquer, que mal conhecem, e
basicamente bancam todos os luxos dele! Você sabia que ele tem uma ficha
criminal registrada em Lumiose?!!
Serena se arrepiou.
— Você não conhece o
Charlie. — falou ela, reclusa.
Stevan jogou-se para
trás na cadeira, abrindo uma risada escrachada de inconformidade. Seus olhos
semicerrados focaram na garota, que não conseguiu encará-lo diretamente.
— E ainda por cima
estão namorando. — disse, massageando a própria testa. — Acha que eu não ia ver
você em um programa transmitido em toda a região?! Todos me ligaram perguntando
quem era o garoto que você estava vendo, e claramente eu não sabia nem
responder isso!
A respiração do pai
tornou-se mais pesada. Sua voz agora já alcançava níveis mais altos, mas ele
parecia tentar se controlar após as frases. A garota não evitava se recolher a
cada pronunciamento, como se voltasse a ter cinco anos de idade e não tivesse
para onde correr quando fosse tomar uma bronca de seu pai, não restando
alternativas se não recluir-se em seus próprios braços.
— Eu não estou
namorando o Charlie. — falou ela, subindo o olhar. — Ele é nosso amigo, e tem
sido de grande ajuda desde o princípio.
Stevan riu.
— Se passando por
você, por exemplo? — perguntou ele, provocativo.
A loura titubeou.
— Como assim? —
indagou.
O homem abriu uma
das gavetas da mesa de seu escritório e procurou entre um amontoado de papéis. Puxou
algumas páginas específicas, e as jogou à frente, em direção a Serena. A garota
alternou o olhar entre seu pai e as folhas, dúbia. Tinha medo de checar o que
aquilo queria dizer. Ele fez um sinal com a cabeça para que ela pegasse nas
próprias mãos.
— O que é isso? —
perguntou ela.
Ele apontou para que
ela olhasse. Serena levantou o pedaço de papel com calma, mas ficou nítido o
quanto tremia quando tentou equilibrar a folha nas mãos. Era a cópia de uma
carta, e a grafia era claramente rebuscada como a de seu pai. Apesar da
pressão, ela tentou ler cada palavra com calma, até o final.
Olá, Serena,
Tenho tentado
escrever a você há tempos, mas não tenho obtido resposta e isso me magoa
seriamente. Como posso saber que está tudo bem se você não me retorna? Consigo
apenas pensar em duas possibilidades para que isso esteja acontecendo:
1)
Você
não está recebendo as cartas; então procurarei contratar um mensageiro próprio.
2)
Você
está, por algum motivo que não consigo imaginar qual, as ignorando. Nesse caso
específico, terei de ser mais autoritário. Tenho minhas maneiras de observá-la,
minha querida filha. Não pense que não tenho recursos para encontrá-la e, na
pior das hipóteses, trazê-la de volta caso necessário. Se quer continuar
“livre”, então transmita-me confiança.
PS:
Notei, por acaso, em algumas faturas, logo nas primeiras semanas que você saiu,
gastos “para três pessoas”. Posso estar errado, mas você e Calem são apenas
duas pessoas. Pergunto-me quem poderia ser a terceira, ou se estou apenas me
enganando. Espero que possa esclarecer em sua carta para mim, a fim de
tranquilizar-me, para caso seja algum erro do próprio banco possamos resolver.”
Serena ficou muda
após terminar de ler, prolongando um pouco o tempo que fitava a carta enquanto
pensava em uma resposta.
— Papai, desculpe,
eu não havia recebido… — falou a garota, singela, por fim.
— Eu não duvidaria
disso, Serena. — respondeu Stevan, puxando um outro pedaço de papel. — Mas a
questão é que você me respondeu.
Ele atirou outra
página, e se era possível que Serena ficasse ainda mais arrepiada, havia
acabado de acontecer. Desta vez ela hesitou fortemente em pegar aquele segundo
pedaço de papel, e desejou mais que tudo levantar e sair correndo daquela sala.
Mas chegava um momento da vida em que isso não era mais uma resposta aceitável
para os problemas. Droga de amadurecimento.
Enquanto lia as
palavras da carta, Serena sentiu sua pressão cair.
Pai,
Peço desculpas por não ter conseguido respondê-lo. As cartas de fato não estavam conseguindo chegar até mim, mas consegui recuperar algumas delas. Não precisa se preocupar, está tudo ótimo, e a viagem está sendo incrível. Ah, e parece que havia um problema com a fatura dos cartões, mesmo. Não se preocupe, Calem já está indo resolver isso. Obrigada pela preocupação.
Serena
As mãos da garota
fraquejaram, e caíram sobre seu colo. Os olhos da menina ficaram fixos no chão,
percorrendo até seus sapatos, subindo vagarosamente, com medo de alcançar o
rosto de seu pai. Ele estava sério, parecia se deleitar com aquele silêncio
mortal instalado no escritório.
No
Parfum Palace. Charlie havia pegado meu diário. Aquele
dia ficou marcado na minha cabeça, mas agora tudo fazia sentido. Ele não queria
ler o que eu falava dele. Ele queria copiar minha letra para responder a meu
pai. Minha mente não consegue explicar o porquê de ele ter feito isso, mas era
a única explicação possível.
— A grafia de fato
era parecida. O vocabulário… — ponderou Stevan, apontando para a carta. — Mas
não era minha filha. Meses sem nenhum contato, e você me mandando uma carta
destas… — ele riu.
— Deve ter precisado
de um detetive para saber que não era eu. — disse Serena, para si mesma.
Stevan se levantou e
caminhou a lentos passos até sua filha. Ficou parado na frente dela, com uma
expressão impassível.
— Por que não me
conta a verdade? — disse.
Serena olhou para
baixo e assim ficou, teimosa. Stevan não se importava. Tinha todo o tempo do mundo
naquele dia.
— Eu não queria
responder você. — falou ela, com uma voz mais birrenta que gostaria. — Tinha
medo que descobrisse onde eu estou, e me mandasse voltar.
Stevan abriu um
sorriso.
— Como se eu não
conseguisse descobrir onde você está. — rebateu ele.
Serena fez um sinal
negativo com a cabeça, abalada.
— Eu não sei o que
tinha na cabeça. — falou, com a voz falhando. — Mas virou uma bola de neve, eu
não respondia por medo, depois esquecia… De repente achei melhor manter como
estava e parei de ler as cartas.
— Até que seu amigo
achou melhor se passar por você e me responder. — acrescentou ele, ríspido.
A garota fez um
murmúrio baixo.
— Eu não sei por que
ele fez isso, papai, mas eu sei que não fez por mal. — disse a garota, o
encarando com uma expressão piedosa no rosto. — O Charlie só quer ajudar.
Stevan bufou,
segurando com força em sua própria mesa.
— Como você pode
confiar em alguém que não conhece? — cuspiu.
— Mas eu conheço o
Charlie, pai! Conheço muito bem!
— Ah conhece? —
inquiriu ele, subindo a voz. — Quem são os pais dele? Onde ele estudava? Qual o
nome da rua em que morava? Onde exatamente ele estava um ano atrás?
Naquele momento
Serena não se conteve. Cada pergunta que Stevan fazia subia em volume, e lhe
atingia como uma pancada. Primeiro pela dor de ter seu pai questionando uma de
suas pessoas mais próximas. Em segundo lugar, porque ela sabia que não tinha
nenhuma daquelas respostas. No fundo, seu pai tocara em um ponto que a
incomodou a viagem inteira. Ela nunca soube quem de fato era Charlie, e sempre
hesitou por isso. Por mais que soubesse que não tinha más intenções, ela não o
conhecia por completo, como ele a conhecia. E quando Stevan forçou esse
ferimento, as lágrimas começaram a escorrer inevitavelmente.
— Eu…
— Vai me dizer que
ele nunca traiu sua confiança? Que não trouxe coisas ruins a vocês dois?
Por mais que Serena
soubesse que seu pai estava apenas a manipulando e forçando a odiá-lo, ele
sabia fazer isso como ninguém. Aquela voz hipnotizante e autoritária atingia
seu interior, e parecia puxar de dentro da garota imagens que ela lutava para
esconder. Inevitavelmente todas as piores cenas percorreram sua mente; a vez em
que o irmão de Charlie a torturou em Lumiose, e a traumatizou por todos os seus
dias subsequentes. Ela quase sentiu uma dor, onde a seguraram. As lágrimas
pesaram, molhando seu rosto e caindo no chão de madeira perfeitamente polido.
Naquele momento ela
soluçava, e era o único som que preenchia a sala. Curvava-se na cadeira,
tentando conter as lágrimas, mas era como tentar fechar uma torneira quebrada.
Naquele momento toda a dor de sua jornada pesou nos ombros de Serena. Ela não
precisava mais ser forte, não precisava se segurar. Não havia mais por que.
Stevan permanecia parado, a encarando em silêncio.
Serena respirou
fundo, tentando levantar os olhos. Mas não fitou Stevan cara a cara, porque
sabia que isso a faria chorar novamente. Ele também não exigiu isso.
— Minha filha, o
mundo é assustador. — ponderou Stevan, caminhando até a janela. Ficou por bons
instantes a observar a beleza de seu jardim, se estendendo por muitos metros. —
Eu não teria impedido você de sair há tanto tempo por nada. Eu só queria te
proteger.
Ele abaixou a
cabeça, encostando um pouco a cortina.
— Eu disse que
esperaria pelo dia em que você voltaria. — falou, se virando. — Mas sei que
você jamais cederia, porque é parte de sua natureza. Então eu a trouxe de
volta.
Ele se aproximou de
Serena. Ela tinha os olhos perdidos, vazios, como se não restasse mais nada
dentro deles após chorar todas aquelas lágrimas. Tocou a no ombro, e ela não
fez qualquer reação adversa. Apenas sentiu o peso dos dedos acariciando-a com
cuidado, enquanto Stevan olhava para as prateleiras da estante, com retratos e
conquistas da família.
— Minha querida, não
é o sangue de Charlie que corre em suas veias. — disse ele. — É o meu. Eu não
faria as coisas por querer seu mal. Acima de todos, eu sou a primeira pessoa a
querer seu bem. Porque eu sou seu pai.
Ele parou de
acariciar, voltando a se sentar em sua mesa, com cuidado.
— Eu planejo seu
casamento há um tempo. Seu noivo é um homem cuja família conheço há décadas. Um
rapaz honesto, intelectual, e que lhe proporcionará tudo de mais agradável em
sua vida, porque sabe como você é a maior preciosidade que eu tenho. — explicou
Stevan. — Você vai ser a mulher mais feliz do mundo, Serena. Eu lhe prometo
isso.
...
Como na cena de um
filme, o tique-taque do relógio na sala parecia o prenúncio de uma maldição que
nunca chegava.
Charlie caminhava de
um lado para o outro. Ele odiava
isso. Mas não conseguia evitar, sua ansiedade precisava ser extravasada de
alguma forma. Aldrick, Katheryn, Elliot e Vivian apenas observavam o garoto inconscientemente
caminhar para as duas mesmas direções e, por mais que também ficassem
incomodados, não ousavam impedi-lo. Eles mesmos tinham uma ligeira vontade de
fazê-lo enquanto aguardavam por notícias.
— Foi uma manobra… —
murmurou o garoto.
Os demais
dirigiram-lhe o olhar. Charlie apoiou-se em uma das janelas da pousada em que
estavam hospedados anteriormente em Shalour. Calem e Serena haviam partido para
Vaniville Town, mas eles precisaram
ficar. A pior parte de todas era ter que adivinhar o que estava acontecendo do
outro lado de Kalos.
— Foi a droga de uma
manobra que aquele idiota do pai dela fez para trazer ela de volta para casa e
prender ela de novo. — proferiu o garoto, passando os dedos furiosos pelo
vidro.
Os demais se
entreolharam, abatidos. Aldrick se levantou, chegando um pouco mais perto. Sua
voz sempre era mansa, e suficientemente calma para tranquilizar as pessoas. Ele
conseguia ser a única pessoa a acalmar Katheryn, afinal de contas. Tocou
suavemente Charlie no ombro, tentando consolá-lo.
— Charlie, sei que é
difícil relaxar agora, mas vai dar tudo certo…
— NÃO VAI, PORRA! —
gritou Charlie, se virando tão bruscamente que Aldrick retirou sua mão do
ombro.
O brado fora tão
repentino que todos levaram um susto naquele momento. Charlie ofegou, e logo
voltou a ouvir apenas o som do relógio infernal na parede do quarto. A culpa
não era de nenhum deles e não era justo descontar. Apenas sentou-se, cobrindo o
rosto com as mãos, esfregando os olhos com força.
— Não vai dar tudo
certo. — ele balbuciou, para si mesmo — O pai dela estava só esperando o
momento para fazer isso. Ele queria prender Serena de novo.
Os outros
permaneceram em silêncio. Já haviam percebido que não havia palavra dita no
mundo que pudesse mudar aquela situação, a não ser que Serena aparecesse lá e
dissesse que estava tudo bem. Mas não parecia algo próximo de acontecer.
...
Após as batidinhas
suaves na grande porta de madeira, Stevan levou apenas alguns segundos para
alcançá-la, puxando a maçaneta sem muita cerimônia. Logo que liberou a entrada,
não disfarçou um pequeno sorriso de satisfação, caminhando tranquilamente até
sua cadeira favorita. O rapaz entendeu o convite e adentrou o escritório,
encostando a porta com calma. Sentou-se em uma cadeira do lado oposto da mesa,
com um olhar sério estampado no rosto.
— Tio Stevan. —
murmurou o garoto.
— Calem. —
cumprimentou o homem.
O garoto passou uma
das pernas por cima da outra, cruzando-as.
— Um golpe de mestre
o seu, admito. — anunciou. — O que um ser humano desprezível não é capaz de
fazer para arrastar a filha de volta para casa e fazer ela te dar mais
riquezas.
Stevan soltou um
longo suspiro, virando sua cadeira para que avistasse um pouco a paisagem ao
fundo.
— Achei que você me
entenderia, pelo menos. — respondeu.
Calem não evitou uma
risada.
— Achou? Agora pelo
menos não preciso mais esconder o quão repugnante você é. — retorquiu ele. — Você
vai obrigar sua própria filha, com quinze anos, a casar com um homem que ela
nunca viu. O quão doentio você é?
O tio virou a
cadeira de volta com as sobrancelhas arqueadas, não parecendo muito contente
com as palavras lhe disparadas.
— Mantenha a
compostura. — manifestou, aumentando o tom de voz. — Parece que alguns meses na
natureza deixaram você um tanto selvagem também.
Calem semicerrou o
olhar, incomodado. Stevan passou o dedo nos lábios, igualmente não muito feliz.
— Você só precisava acompanhar
Serena. — falou, gesticulando com simplicidade. — E fez exatamente o oposto,
convidando um garoto que vocês acharam na rua para andar com vocês. Como posso
confiar em você?! — inquiriu, nervoso. — E se ele fosse um assassino?
Calem encarou as próprias
mãos.
— Falando assim você
faz parecer que Charles…
— E não foi assim? —
perguntou, arqueando uma das sobrancelhas. — Me conte como foi, então. — pediu
ele, falsamente interessado.
— Fazer uma menina casar vai resolver esse problema de
confiança?
— Desde o segundo
que Serena completou quinze anos planejo esse casamento. — admitiu Stevan, se
levantando. — Esse foi só o timing
certo.
— Você não está
garantindo a felicidade futura da Serena, tio. — interveio Calem. — Você está
eliminando completamente. Ela nunca vai ser feliz.
— Ela vai. Ela vai
aprender a ser feliz.
Stevan naquele
momento recostou-se sobre sua mesa. Ele adorava fazer isso. Ficava mais alto
que quem estava sentado, e podia encará-los por cima. A posição lhe dava poder,
era apenas uma questão psicológica. Ele abriu um sorriso provocativo, apontando
para o garoto com a mão.
— Por que está tão
empolgado para voltar para sua vidinha de treinador Pokémon? Não vai me dizer
que sonha em capturar bichinhos e vencer lutinhas, para ser um “mestre”? —
provocou.
Calem naquele
momento calou-se. Stevan abriu um sorriso maior em vitória.
— O problema de vocês jovens é que vocês deixam as ideias subirem à cabeça, e ficam cegos. — falou, caminhando um pouco pela sala. — Há gerações o casamento jovem se repete, e…
— Sou um cara
clichê, mas já estou um pouco cansado de “tradições” ultimamente.
— Sabe por que elas
existem? — perguntou Stevan, fazendo uma pausa. — Porque funcionam. E se
repetem. E quando alguém tenta quebrá-las, percebe que não deveria. E a tradição
retorna. É assim que elas se formam.
O menino soltou uma
risada e balançou a cabeça, debochado, como se discutisse com alguém que não
sabia ouvir o que não queria – o que era exatamente o caso. Stevan parou em
frente ao garoto, com um olhar sério.
— Você nunca vai ser um mestre Pokémon, Calem. —
disparou, deixando o garoto um pouco surpreso. — E isso não importa. Vai ser um
excelente homem que irá levar os negócios de nossa família para frente. Isso
está em você. — ele deu de ombros. — Ou, ao menos, na sua versão civilizada que
deixou essa casa alguns meses atrás.
O rapaz viu-se pego
de surpresa pelo comentário. Se ajeitou na cadeira, tentando formular um tom de
voz centrado, mas não tardou a ser interrompido novamente.
— Quer parar de…
— Você é uma piada
entre treinadores. — continuou Stevan apoiando-se sobre sua mesa com as duas
mãos, em uma expressão que dividia-se entre a ira e a diversão, adquirindo um
toque sádico perturbador. — Tem medo de Pokémon. Perdeu uma batalha importante
para um rival que colocou o nome de nossa família em jogo.
— C-como você…
— Como eu sei? Eu
sei de tudo, Calem. Sei de todos os seus fracassos, e acho que eles já foram
suficientes para você entender que seu futuro é outro. — acrescentou,
estendendo os braços.
Calem naquele
instante ficou mudo. Sentiu seu coração disparar, enquanto as palavras finais
gritadas de Stevan reverberavam pelo pequeno escritório. Seu ouvido vibrava com
as batidas cardíacas. Depois de dias de dúvidas sobre seu futuro como
treinador, ele parecia ter encontrado uma pequena paz, um conforto mínimo.
Bastaram alguns segundos para que Stevan lhe mostrasse que aquela paz era
apenas uma ilusão, e tudo voltasse a desmoronar.
Ele nunca havia sido
um grande treinador. Ele era uma piada, até para seus próprios amigos.
O garoto queria
retrucar, mas sentiu que não havia o que pudesse dizer. Contra fatos não há
argumentos, diziam-lhe. Tudo o que foi capaz de fazer foi se levantar, ainda um
pouco tonto, com as palavras dançando em sua cabeça. Stevan não escondia um
pequeno sorriso no canto do rosto. Quando o garoto abriu a porta, sem se virar,
ouviu pelas costas:
— Você pode brilhar.
Pode mesmo. Mas você sabe que não é como um treinador Pokémon. — finalizou
Stevan, sentando-se em sua cadeira.
O garoto encostou a
porta e caminhou até seu quarto. Encarava o chão, cada detalhe do piso – que
ele nunca havia reparado até então. Não conseguiu cumprimentar os parentes e
trabalhadores que tentaram puxar assunto, pois sua mente estava tão distante
que as palavras pareciam entrar por um ouvido e saírem por outro. A barriga
revirava.
Chegou aos seus
aposentos e olhou para as coisas jogadas em sua cama. Um conjunto de Pokébolas.
Uma pequena caixa, com suas três insígnias conquistadas a muito custo. Alguns
manuais de bolso sobre batalhas. Qual o valor de tudo aquilo, frente à verdade?
Frente ao fracasso? Calem jogou os livros com força na parede, como nunca havia
feito antes, impensadamente.
O barulho foi
imenso, reverberando pelos corredores. Sua respiração pesava, e ele ficou
assim, parado, vendo tudo chegar ao chão, sem valor algum. Em seguida
recostou-se na cama, contendo as lágrimas o máximo que pôde. Elas não caíram.
...
— Açúcar?
— Não, obrigada.
Serena recostou-se
na cadeira. Sentiu saudades das roupas confortáveis que usava em seu dia-a-dia.
Aquele vestido a espremia na cintura, sendo que havia meses que não sabia mais
o que era esse sentimento. Seus cabelos estavam presos em um penteado delicado,
contendo as ondas louras atrás da cabeça. Ela pegou uma mecha rebelde e colocou
atrás da orelha. Subiu os olhos azuis tristes para espiar aquele rapaz, e corou
ao ver que a encarava.
Era alto, com
certeza de pé ela não chegaria aos seus ombros. Tinha uma pele tão alva quanto
a dela, e cabelos negros alinhados, caindo especialmente por um lado do rosto.
Seus olhos tinham um tom de cinza tão escuro que pareciam uma nuvem carregada,
fitando-a com admiração e interesse. Ele ocasionalmente dava uma ajeitada em
seu terno. Talvez grande parte das garotas que conhecesse que estivessem lá se
derreteriam por aquele rapaz.
Mas Serena não
conseguia, porque sabia quem ele era.
O rapaz abriu um
sorriso discreto, com um toque compassivo. Misturou o café com uma colherzinha,
e admirou a paisagem ao redor. A mesa em que se sentavam ficava em uma área
externa e reservada da mansão, fortemente arborizada. Um vento frio soprava,
balançando as folhas das árvores que se estendiam frente àquele céu nublado.
— Acho que começamos
de um jeito bem… Hm… Errado. — disse o moço.
Seu tom era calmo, e
a voz poderia ser considerada encantadora. Mas não pela menina.
— Chamo-me Henri. —
falou o rapaz. — Henri d’Ampierre.
Serena ficou em
silêncio.
— Eu também não
sabia que as coisas iriam acontecer assim tão… Rápido. — ele ponderou,
suspirando. — Eu queria tê-la encontrado antes. Conhecido. Tenho certeza que é
uma garota incrível, como seu pai me contou.
A menina continuou
muda, com o olhar baixo e desamparado. Henri tocou-a no queixo, levantando sua
cabeça.
— Seu pai me disse
que seu sorriso era o mais lindo de Kalos. Mas ainda não tive a oportunidade de
vê-lo. — ele abriu um sorriso.
Serena forçou os
músculos para tentar articular um sorriso. Infelizmente, não parecia natural.
— Desculpe, eu ainda
estou tentando lidar com isso. — falou ela, baixinho.
Henri tomou um gole
de seu café, calmamente. O som do vento brincando com as plantas o reconfortava.
— Serena, sei que
não posso mudar aquilo que nossas famílias fizeram até agora. — disse Henri com
um toque sincero em sua voz. — Mas eu posso lhe prometer que farei tudo o que
puder para vê-la feliz assim que nos casarmos.
Eu
sabia que não era exatamente culpa dele. Talvez tivesse sido obrigado tanto
quanto eu. Talvez esse fosse seu destino desde que nasceu, como o meu. Mas não
havia outra forma de olhar para ele, se não como o próximo passo que eu daria
rumo ao resto da minha vida, como o futuro que eu tanto lutei contra. Senti-me
idiota. Por tanto tempo, acreditei que seria uma heroína. Uma guerreira. Que
meu futuro estava tão aberto e livre como um livro em branco.
Infelizmente,
este livro já foi preenchido por alguém. Talvez algumas pessoas nascessem para
ser guerreiras; outras para serem princesas.
O
sabor da liberdade era doce. Cada um dos dias que degustei dela valeram a pena.
Mas talvez eu não estivesse mesmo preparada para tudo aquilo. Os dias amargos
me marcaram mais que qualquer dia presa dentro daqueles portões. E, sem ter
outra alternativa, restava-me apenas acreditar que as coisas melhorariam.
A garota soltou um
longo suspiro. Felicidade. Já não parecia mais um sonho tão próximo assim.
— Obrigada. —
respondeu, forçando um sorriso tão frágil que se desfez com o vento.
...
Charlie agradeceu
aos céus quando não precisou mais esperar. Por mais que insistissem, ele não
havia comido praticamente nada e nem saído do quarto. Encarava o Holo Caster de Aldrick incansavelmente,
como se aquilo fosse mudar alguma coisa. Finalmente, depois de horas de espera,
viu o objeto vibrando e tocando uma música qualquer, e correu imediatamente
para atendê-lo.
Sua respiração ficou
mais tranquila quando o objeto materializou uma pequena forma holográfica igual
a Calem, que tinha uma expressão não muito contente no rosto, como de quem
odiava estar se comunicando por aquele objeto.
— Calem! — exclamou
Charlie.
— Eu odeio utilizar
esse negócio. — resmungou o garoto, com o Holo
Caster que ganharam de Lysandre, em Lumiose.
Apesar de ansioso, o
garoto esperou algo ser dito. Calem abaixou o olhar, não muito feliz, e
murmurou:
— O casamento vai
ser daqui a uma semana.
Charlie sentiu um
arrepio.
— Você falou com o
pai dela?
— Falei.
— E então?
O garoto soltou um
longo suspiro. Sempre restava para alguém dar as más notícias. Calem geralmente
era essa pessoa.
— Acabou, Charles. —
falou, por fim.
O outro tremeu, não
modificando sua feição:
— Do que você está
falando?
— Está tudo certo há
tempos, não tem o que fazer. — explanou o outro, com a voz fraca.
— Você não falou com
ele direito! Você tem que…
— Quer calar a boca
e me escutar?
Charlie
instantaneamente ficou em silêncio, apesar de sua vontade interior ser a de
gritar um monte de orações sem nexo.
— Não há o que
fazer. — falou Calem, com uma bufada. — Já está decidido. A Serena está
desolada, mas no final concordou.
— Eu preciso falar
com ela.
— É melhor não. —
interrompeu. — Stevan sabe sobre você.
— O que exatamente?
— Tudo. Até coisas
que ele não deveria saber. Que não teria como saber. Ele sabe até de uma
batalha que eu enfrentei alguns dias atrás quando o Larvitar evoluiu.
Charlie sentiu um
frio na barriga e se encostou em uma cadeira para não perder o equilíbrio. Era
como estar em labirinto e qualquer caminho que se tentasse percorrer fosse na
verdade uma armadilha, sem chance de fuga.
— Stevan não está
brincando, Charles. Não há o que fazer.
— Calem, você está
realmente escutando ele? Você está desistindo?!
— Não é questão
disso. O tio Stevan sempre consegue o que quer. O melhor a se fazer agora é…
— …Desistir.
O menino suspirou.
Aproximou o Holo Caster de seu rosto,
de maneira que Charlie quase conseguisse ver ao vivo sua expressão desagradada
de sempre. Mas, desta vez, seu rosto era apático, de alguém tão desiludido que
não tinha mais energias para aquela discussão.
— Charles, foi
divertido. — murmurou. — Foram meses que eu… Nunca pensei que viveria. Mas tudo
acaba um dia.
— Não.
Charlie não
conseguiu parar de tremer. Levantou-se de supetão, aumentando o tom de voz.
Calem evitava encará-lo como se não quisesse aumentar a dor do momento. Às
vezes era preciso fazer como um band-aid,
e puxá-lo de uma vez para que doesse menos.
— Calem, por favor.
— Você foi um bom
amigo, Charles. Me ensinou mais que eu pensei que poderia aprender.
— Calem, pare.
— Eu vou pedir para
que Serena escreva a você quando estiver pronta.
— Calem, eu estou
implorando.
— Eu preciso
desligar. — falou Calem, cravando-lhe os olhos cinzentos tristes, mas falando
em um tom tão sincero que Charlie nunca havia ouvido antes. — Obrigado por
tudo, Charles. Eu nunca o esquecerei.
A imagem de Calem
tremeluziu e logo Charlie estava sozinho no cômodo. Não havia Calem para
levantá-lo e reclamar que estava sujando seus sapatos. Não havia Serena para
dizer sua versão encantada e pura dos motivos do destino. Restava apenas o
mesmo garotinho que outrora vivia sozinho pelas ruas de Lumiose, chorando
porque não tinha ninguém. Ele disparou o Holo
Caster na cama e permitiu-se cair no chão, desabando em lágrimas.
Um dia Serena lhe
perguntara por que ele não conseguia chorar, e ele havia dito que esqueceu como
fazia para as lágrimas caírem. Mas naquele momento ele se lembrou muito bem. A
solidão era sua maior fraqueza. E naquele momento era o único sentimento que
percorria seu corpo, consumindo-lhe por inteiro.
Ele ouviu vozes. Os
demais amigos chegaram, e logo que viram a cena, correram para acolhê-lo.
Aldrick e Katheryn puxaram o garoto, cujo rosto estava tão vermelho que ficaram
assombrados por um instante.
— Charlie, o que
aconteceu?! — indagou Kath.
— EU ESTRAGUEI TUDO!
— gritou o garoto, como uma criança.
— Charlie, a
primeira coisa que fazemos é nos culpar… — murmurou Aldrick. — Mas não faça
isso, não é culpa sua…
— Se eu não tivesse
implorado para andar com a Serena o pai dela não obrigaria a voltar!! Se eu
tivesse ido embora em Lumiose depois de colocar eles em perigo estaria tudo bem
agora!! — o garoto não conseguia conter que mais lágrimas caíssem. Depois que
elas encontraram o caminho para fora, não dava mais para segurá-las.
Charlie limpou o
rosto com a blusa.
— Ele sabe de tudo,
eu não sei como que…
De repente, foi como
se um relâmpago o atingisse. Todas as palavras começaram a se juntar em sua
cabeça, como peças de um quebra-cabeças que finalmente ele era capaz de montar.
“Stevan sabe sobre você” disse Calem. “Até coisas que ele não deveria saber.
Que não teria como saber” Ele sentiu um frio imenso no estômago.
“Faz
tempo que você viaja com eles?” a voz de Elliot reverberou em sua mente. “Onde
está a sua família?”
Ele levantou os
olhos, e se deparou com o garoto de cabelos castanhos o encarando ao longe.
— Você. — apontou.
Instantaneamente, os
amigos tomaram um susto quando Charlie avançou direto da cadeira em direção a
Elliot. O garoto desferiu um soco imediato em sua face, fazendo Vivian soltar
inevitavelmente um grito de susto. Aldrick e Katheryn correram para tentar
pará-lo, mas Charlie parecia possuído por uma energia furiosa que nunca haviam
visto antes.
— O que você está
fazendo?! — indagou Aldrick.
— Charlie, por
favor, pare!! — implorou Elliot.
— Você!! — gritou o
garoto, em fúria. — Você me dedurou!
— Charlie você está
delirando! — interveio Katheryn, tentando puxá-lo.
— Eu nunca faria
isso! — choramingou o garoto.
Charlie abriu os
braços, empurrando Kath e Aldrick para trás inevitavelmente. Em seguida
suspendeu o outro garoto pela gola de seu traje, jogando-o contra a parede. O
menino ficou a se debater no ar, balançando as pernas buscando ar.
— A culpa é sua, seu
traidor de merda!! — gritou Charlie, o soltando e dando mais um soco no rosto.
Elliot caiu no chão,
cobrindo o rosto. Emitia um som como um choramingo. Todos congelaram em suas
posições, enquanto Charlie ofegava, a mão latejando com o impacto, suja de
sangue. Aos poucos o som de Elliot dava abertura para uma pequena risada quase
indecifrável.
— Stevan mandava
cartas porque não sabia quase nada do que estava acontecendo com Serena. —
cuspiu Charlie. — Coincidentemente, um “viajante” novo começa a andar conosco,
e ele descobre tudo. O pai de Serena mandou você aqui, não é?! Seu avô nem mora
em Shalour!
Elliot aos poucos
descobriu o rosto, revelando vários machucados que desfiguravam ligeiramente
sua feição. Contudo, não escondia um sorriso.
— Sim, Charlie. —
respondeu, por fim. — Foi ele. E não, meu avô morreu há três anos.
Charlie bagunçou os
próprios cabelos, incrédulo.
— Desde que você
enviou aquela carta estranha para ele, ele resolveu tirar a prova de o que
estava acontecendo. — explicou Elliot, não desfazendo o sorriso, ainda no chão.
— Ainda mais quando apareceram nos jornais que vocês estavam namorando.
— Por que você está
me contando isso? — indagou Charlie, segurando-o pela gola, ameaçando um novo
golpe. Aldrick tentou impedi-lo.
— O que eu tenho a
perder? — murmurou o garoto, confiante. — Quer me bater? Bata. Mas a única coisa
que eu fiz foi comunicar da sua existência. O resto é com o pai dela. E o
casamento vai acontecer, eu apanhando ou não.
Charlie sentiu-se
tão enojado que largou o garoto, fazendo-o cair no chão. Elliot limpou o sangue
da boca com a manga de sua blusa, agora já toda suja.
— Como você pôde
fazer isso?! — inquiriu Charlie, aos brados. — Serena olhou nos seus olhos e
convidou você para andar com a gente. Ela confiou
em você. Ela te ajudou. E você colocou ela no fogo!!
— E você?! — gritou
Elliot de volta, se levantando. — Acha que não sei de onde você vem? Acha que
eu não sei do risco que você oferecia para aqueles dois?
Os olhos de Charlie
reluziram em ira, mas o outro não se intimidou, apontando-lhe o dedo.
— Você é o
verdadeiro egoísta. Que coloca todos em perigo só para ter seu “conforto”. —
falou, balançando a cabeça. — Queria que acontecesse com Serena o mesmo que
aconteceu com a Emma?
As palavras atingiram
Charlie como um tiro. O garoto voltou a suspendê-lo pela gola da camisa contra
a parede do quarto. Aldrick, Katheryn e Vivian permaneciam congelados,
abismados com toda a situação, incapazes de interromper aquele diálogo que
parecia pegar fogo. Charlie não escondia as mãos trêmulas.
— C-como você…
— Nós sabemos muito sobre
você, Charlie. — continuou Elliot, com um sorriso confiante. — Vá em frente.
Bata em mim. Mas a verdade é que vocês já perderam.
Charlie o encarou
tão incrédulo, que sabia que não havia soco no mundo que extravasasse toda a
sua raiva e indignação naquele momento. A única coisa que conseguiu fazer foi
largar o garoto, afastando-se devagar. Encarou as próprias mãos, sujas de
sangue, vibrando com a ansiedade e a adrenalina. Lançou um olhar indignado para
o outro no chão, dando-lhe um chute fraco.
— Você é nojento. —
balbuciou.
Em seguida começou a
caminhar para fora do quarto, tendo seu braço segurado por Aldrick.
— O que você vai
fazer? — indagou o loiro.
— Eu tenho uma
semana para impedir que a Serena cometa o maior erro de sua vida. — respondeu
Charlie.
finalmente conseguindo ter um momento pra (levar tiro, passar altos nervouso) ler, to loca desde que vi o cap postado
ReplyDeleteenf
ai minha nenemzinha presa de novo nesse terror de lugar >: MAS TÁ TUDO BEM SERENA EU TO INDO INVADIR AÍ E DEMOLIR TUDO
Meses se passaram e não recebo nem um “olá”? > VOCÊ NÃO MERECE ISSO SEU NOJENTO
mds mano eu quero espancar esse cara plMDDS
ELA /É/ UMA CRIANÇA, E AINDA POR CIMA UMA CRIANÇA QUE NUNCA VIVEU NADA POR TUA CAUSA, ELA TEM TODO O DIREITO DE SAIR PELO MUNDO (ESPECIALMENTE PRA BEM LONGE DE VOCÊ)
well, claro que ele já sabe do charlie (até pq, mesmo que não soubesse, depois do showcase....... mas tbh ele já devia ter uns espiões atrás da menina anyways)
E ainda por cima estão namorando > DEUS QUE ME DIBRE, TÁ NEM PERTO DISSO
oh shit, as cartas, indeed. charlie devia ter falado com ela >.>
(tho, tbh, mesmo que a propria serena respondesse, ele totes ia trazê-la de volta. we all know that. pais abusivos querem sempre manter o controle)
Tenho minhas maneiras de observá-la, minha querida filha > see
Mas chegava um momento da vida em que isso não era mais uma resposta aceitável para os problemas. Droga de amadurecimento > um mood desse
migo se tu acha que a carta dela seria muito mais que isso, tá muito loco mesmo :v PLS ELA NEM DEVIA RESPONDER MESMO
mds o stefan é TÃO nojento, eu só queria poder torturá-lo, OLHA QUEM TÁ FALANDO DE TRAZER COISAS RUINS PRA MENINA NÉ
Eu só queria te proteger > a propria gothel falando né nom
você quer é controlar a menina, teu babaca. isso nunca teve a ver com preocupação ou cuidado
Eu Não Quero Seu Mal, ele diz, enquanto serena perde qualquer sinal de vida em seus olhos. tá fazendo muito bem sim :)))))
quem raios planeja um casamento pra uma menina de QUINZE ANOS e diz que tá fazendo bem mds
oh, o calem foi tambem?? somehow this is better but also DAMN TODO O RESTO DA EQUIPE FICOU PRA TRAS, TAVA ACHANDO QUE CAL IA FICAR E ELES TUDO IAM BOLAR UM PLANO DE RAPTAR MENINA SERENA DE VOLTA, MAS PORRE E_E
aldrick sei que tuas intenções são as melhores mAS NÃO DÁ PRA RELAXAR AGORA
O CALEM SENDO DIRETISSIMO E TOTAL SINCERO, TE AMO MANO
QUE COMPOSTURA LIDANDO COM UM SER DESPREZIVEL COMO VOCÊ, ELE ATÉ QUE TÁ MUITO DE BOAS, EU JÁ TERIA MANDADO MEU TEAM INTEIRO TE PISOTEAR
alias porre cal tu tem um poke venenoso e uma espada amaldiçoada na equipe, deve dar pra fazer algo na surdina pra despachar esse cara
ele lá liga pra felicidade dela pls
DeleteELE TAVA MUITO BEM SEGUINDO COMO TREINADOR VIU, EM VIAS DE SE TORNAR UM CAMPEÃO
como se discutisse com alguém que não sabia ouvir o que não queria – o que era exatamente o caso > right???? to dizendo, para de conversa, só manda teu pupitar demolir tudo e se manda com a serena
cacete o cara realmente mandou espião atras deles a jornada toda, vsf
SE SABE DE TODOS OS FRACASSOS, SABE DE TODAS AS VITÓRIAS TAMBEM, MAS VEJO QUE TU ESCOLHE IGNORAR CERTAS COISAS BEM IMPORTANTES NÉ
ai mano tadinho do cal >: NÃO LIGA PRA ELE, TU SABE QUE ELE É UM NOJENTO QUE JOGA COM AS PALAVRAS, TU SABE QUE NADA DISSO É VERDADE
é o carinha de mystical messenger gente??
e ai minha nenem com todos esses incomodos que totalmente não merece, nesse ambiente que totalmente não é o dela, nÃO AGUENTO MAIS UGH
Tenho certeza que é uma garota incrível, como seu pai me contou. > she is, but totally not as her father sees, totally not as he wants
AI MINHA BB EU PRECISO TANTO TE RESGATAR, TU É UMA GUERREIRA SIM, MINHA LINDA PRINCESA DESTINADA A COISAS GRANDIOSAS E UM BELO FINAL FELIZ ESCRITO POR VOCÊ MESMA
CLARO QUE TEM O QUE FAZER, COLOCA TUA CABEÇA PRA PENSAR CAL, TEM QUE TER
(e sigo gritando que tu tem armas poderosissimas em mãos com teu team ein)
mano, o calem agradecendo ao charlie............ é quando tu percebe que ele realmente desistiu, ele realmente acha que nunca mais vai voltar pra essa vida (pra vida que vale a pena) ai bicho eu vo chorar no meio da facul
ai, charlie, não se culpe mesmo >: it's not on you, você foi só a desculpa que apareceu, mesmo que tu nunca tivesse falado com eles, aquela praga arranjaria outra pra pegar a serena de volta
qUE. COMASSIM O ELLIOT. ELE ACABOU DE APARECER. Q U E
MANO COMASSIM ELLIOT DO CÉU COMO QUE É EU TO MUITO PERDIDA
EU QUERO SOCAR ESSE MOLEQUE SE ELE REALMENTE É ESSE NOJENTO QUE PARECE MAS AO MESMO TEMPO ????? QUE???????? HOW????? EU TO SENTINDO MINHA CABEÇA GIRAR
E TIPO QUE QUE ELE GANHA??????
ALSO ELE SOA JÁ CONHECER O CHARLIE DE ANTES??????
A EMMA QUE PERA
PLMDDS CHARLIE FAZ ALGO MESMO, VOCÊ PRECISA SALVAR A SERENA E O CAL (E PLMDDS AL E KATH, VÃO JUNTO)
CACETE EU NÃO TO ENTENDENDO MAIS NADA E TÁ TUDO EXPLODINDO PQP
HIASHDAISUDHAISUDHASIUDHASIUDAS Acho que o fim do comment resume tudo muito bem
DeleteFico feliz que o capítulo conseguiu manter esse hype de conflito e principalmente causado essa revolta (muito justa). Isso tudo que você disse é muito real: a questão não é o Charlie ou uma carta. Tudo isso são só elementos que o Stevan usa para aumentar a força do seu discurso e se convencer de que está fazendo a decisão certa. Ele mesmo disse: eu planejo isso desde que ela fez quinze anos (e imaginamos que bem antes disso). Desde o começo da história isso sempre esteve nos planos do Stevan, por seus motivos, e provavelmente há tempos isso já vem sendo organizado - afinal, não se faz um evento deste porte em uma semana só, né - restando apenas avisar... A própria Serena.
Nesse ponto a Serena já praticamente desistiu, e o Calem também. Eles lutaram a vida toda contra essa força da família, e chegou um momento que eles não veem alternativa, sabe? O Stevan sabe convencer os outros com sua autoridade, de uma forma ou de outra, mais cedo ou mais tarde isso iria acontecer. É isso que ele quis mostrar. O único que ainda tem forças para fazer um esforço é o Charlie, mas resta agora a gente saber se essa energia de fato é suficiente para impedir algo tão grandioso e combater tanto poder assim. Obrigado pelo comentário, Anne, e aguardo você no próximo capítulo!! <33 o/
PLOT TWIST!!!
ReplyDeletemeu haos, eu não acredito no que acabei de ler!
coitadinha da serena, o pai dela é horrível, super mente fechada e tradicional, até dá pena do senhor... MENTIRA SÓ DA NOJO MESMO!!! eu adorei ver o calem a enfrentar o tio e espero sinceramente que ele repense a sua decisão! ele não pode desistir! HELL TO THE NO!
o charlie foi outra peça chave neste capítulo: o seu passado voltou a assombrá-lo, mas na realidade, nem tudo é culpa dele pois pelos vistos, stevan já tinha isto planeado há muito tempo... mas é interessante vermos que quando um deles está mal, todos os outros também estão... quase como uma família! e muita mais real e unida que aquela que liga serena ao pai...
E ESSE ELLIOT PORRA!!! EU SABIA QUE ELE NÃO ERA ASSIM TÃO INOCENTE!!! eu adorei essa cena onde o charlie se transformou numa annalise keating e ligou os pontinhos e partiu para cima dele!
AGORA TEMOS QUE IR SALVAR A NOSSA PRINCESA!!! GO CHARLES!
Você fez um baita trabalho marketing com o Capítulo 30 mano, porque quem estava atrasado com Kalos foi pego totalmente desprevenido com a notícia do casamento da Serena. Quando eu vi o convite fiquei tipo: MASOQ, FAZ TANTO TEMPO ASSIM QUE NÃO LEIO A FIC DO HAOS? kkkkkk E analisando o conjunto como um todo, você construiu toda a primeira temporada até esse ponto, cara. No momento em que os jovens saíram de Vaniville você já tinha isso em mente? Eu sei que muitas ideias boas surgem conforme a história progride, mas parece que você sempre teve esse casamento como a sua carta na manga. Desde a apresentação no show até a cena hyper discreta do Charlie lendo o diário da Serena, mandou muito bem nos detalhes. Ah, e excelente trabalho com o Elliot em torná-lo um cara bem neutro, assim podemos descer porrada nele sem remorso kkkk
ReplyDeleteSabe, na primeira conversa do pai de Serena com a filha, eu entendi o ponto dele. Eu venho uma família tradicional também, nada comparado a ter que se casar e tudo o mais, mas vamos seguir a ideia de herdar uma empresa, por exemplo. Isso sempre mexeu com o meu senso do que querer para a vida quando eu fosse adulto, mas tive sorte de ter pais que me apoiavam em qualquer decisão. Às vezes precisamos quebrar a cara também, sabe? Ver que aquele nosso sonho era uma merda e teria sido melhor ouvir os mais velhos... Mas acho que a vida já é tão cheia dessas merdas... por isso as histórias de fantasia existem. Queremos ver a princesa ser resgatada no final, só queremos a felicidade dela. De decepções já basta a vida. Você abordou um tema pesado e tem mostrado que sabe como trabalhar com ele, eu adoro quando o autor leva algo da realidade para discutir com todos os públicos! Estou ansioso para a conclusão dessa temporada. Vamos lá, mostre o que faz as pessoas amarem contos de fada!
UAHSDUAHSUD Eu tinha essa ideia do convite de casamento planejado pra dar um susto no pessoal, e não é que deu certo?? Pra ser 100% sincero contigo eu não tinha a ideia fechada desde o começo. Mas sempre deixei algumas pontinhas abertas para algumas possibilidades como essa da temporada. Mas sim, faz um tempão que penso nisso, pelo menos desde todo aquele papo da carta e do diário. Pensei: vão me matar por demorar pra revelar isso, mas vai valer a pena! UAHSDUAHSD
DeleteE eu achei muito bacana que você olhou pelo lado do Stevan nesse ponto. Não que ele esteja certo em forçar a Serena a tudo isso, mas não é um pensamento anormal em famílias que são mais tradicionais. Na cabeça dele ele pensa que todo o sofrimento que ele causa à filha de alguma maneira é justificável. Eu pretendo abordá-lo ainda mais na próxima temporada e revelar um tanto do passado dele. Estou muito ansioso pra isso, porque planejo há um certo tempo! Falta ver exatamente onde encaixar tudo, mas espero que seja muito em breve!!
Cara, tu invocou meu ódio! Morte ao pai de Serena! Morte à Elliot! Filhos duma Kenga!
ReplyDeleteÉ sério, eu fiquei com muita raiva, muita mesmo. Cara, é algo excepcional o que ocorreu quando eu tava lendo, tu puxou um sentimento da gente que poxa vida... É inacreditável.
Vou ao próximo capítulo esperando ver Charlie ir até lá.