JULHO
Data Not Available - Parte I
FARAWAY ISLAND
05 de Julho
Algumas décadas atrás
05 de Julho
Algumas décadas atrás
Um
novo Pokémon foi descoberto na selva, em Guyana.
— Por aqui.
O ar era sobretudo
úmido. O chão terroso afundava vez ou outra enquanto pisavam, mas era coberto
quase completamente por folhas e galhos caídos, fazendo ruídos conforme os pés se moviam.
Contudo, quase não ouviam os próprios passos em meio aos cantares das mais
diversas espécies de Pokémon que habitavam aquele lugar exótico e inexplorado,
aparentemente sem qualquer interferência humana conhecida.
Poucos cientistas e
exploradores haviam chegado tão longe.
— Há criaturas
formidáveis por aqui. — exclamou o homem, em torno de seus trinta e cinco anos,
que liderava a expedição, com uma bússola na mão. Seus olhos brilhavam.
Vez ou outra era
possível ver alguma criatura passando de relance ao longe. Nenhuma espécie
ainda desconhecida, de fato, mas já haviam avistado vários Pokémon que não eram
usualmente encontrados em outros lugares. Com colorações levemente diferentes,
ou mesmo emitindo sons diferentes. Aquele espaço tinha uma aura que nenhum
outro lugar no planeta possuía. Era quase um mito entre os exploradores – se não
tivessem conseguido alcançar, depois de dias de viagem.
— Será que podemos
fazer uma parada, doutor? — pediu um dos rapazes, diminuindo o ritmo do passo.
O homem que
caminhava à frente parou de andar. Esfregou uma das mangas na testa, emitindo um
suspiro não tão contente, mas consentindo.
— Tudo bem. —
concordou, ofegante.
Havia horas que
chegaram na ilha, e desde então não pararam de andar. O doutor era obrigado a
admitir que se contaminou pela forte energia e vontade de conhecer aquele
espaço. Não se conteve e começou a querer desbravar tudo. Já havia coletado
algumas espécies de planta que acreditava que eram novas – ou, ao menos,
extremamente raras na região que vivia, Kanto. Ele beijava seu colar em um
gesto religioso, agradecendo às divindades por permitirem que seu grupo
encontrasse aquela ilha perdida.
Alguns dos homens
aproveitavam a pausa para checar os equipamentos que carregavam, que poderiam
ter sido danificados com a mudança de ambiente. O doutor parou um momento,
pedindo silêncio, e em seguida buscou um cantil pendurado em sua mochila. Era
possível, com a quietude, notar o barulho de água corrente a uma distância relativamente
baixa.
— Estou ouvindo som
de água. — comentou. — Deve haver algum riacho por perto. Irei buscar um pouco
e já volto. — informou, por fim.
Os outros
assentiram, ofegantes, sentando-se. O doutor avançou alguns passos, ainda com a
bússola na mão. Seus olhos curiosos corriam por todas as direções, pesquisando
naquele paraíso verde alguma novidade. Seu sonho estava se realizando. Depois
de anos planejando e pesquisando sobre aquele lugar, finalmente encontrara.
O som de água
corrente se intensificava. Dito e feito:
encontrou um riacho estreito em largura, mas com comprimento que fugia de sua
vista. Agachou cuidadosamente, analisando por alguns momentos a água. Pegou em
sua mochila algo como um filtrador simples de papel, e o depositou na boca do
cantil, recolhendo a água em seguida. Apesar do cuidado, a água era tão
cristalina que parecia mais pura que qualquer outra a qual já bebera.
Inclinou sua cabeça
para o lado inocentemente, enquanto o recipiente enchia, se deparando com algo
que roubou sua atenção. Ele nunca havia visto algo como aquilo antes.
Um pequeno ser bebia
água do riacho, a certa distância, pacificamente. O ato não era o anormal, e
sim a forma da criatura: Tinha um tom róseo em todo o seu reduzido corpo. A
cabeça tinha um formato felídeo, e o que mais se destacava era sua longa cauda.
Ele não tocava o chão, parecia flutuar. Era como um embrião em um tamanho
ampliado – como o próprio cientista assimilou mentalmente em um primeiro
momento.
O doutor
vagarosamente levantou, tentando não chamar a atenção. Quando foi dar um
passo para a frente, contudo, pisou em um galho, o quebrando e fazendo um ruído
mais alto que gostaria. Por que sempre aconteciam coisas assim nos momentos
mais cruciais? A criatura virou-se para ele em um instante, e logo fugiu, arregalando
os olhos e deslizando em grande velocidade pelos ares, para longe.
— Venham aqui,
depressa! E tragam suas coisas! — gritou o doutor para seus companheiros,
correndo atrás daquele intrigante ser antes que o perdesse de vista.
Os demais fizeram o
possível para acompanhá-lo, e ele mesmo corria o mais rápido que podia, mas
além de não ser muito ágil, era complicado alcançar uma criatura que parecia
dançar no ar, com a sutileza com que flutuava por entre árvores e arbustos. O
que era aquilo? Quando seus companheiros estavam mais próximos, não evitaram um
tom de surpresa nas vozes ao observar aquele ser estranho. Com certeza era uma
nova espécie.
Quando a surpresa
parecia não poder ser maior, o doutor notou um comportamento estranho na
criatura. Enquanto se esquivava das árvores e arbustos ao redor, o Pokémon
parecia modificar por milésimos de segundo sua forma. Já se parecera com outras
criaturas, ou apenas sumia temporariamente, mas sempre retornava ao estágio de
embrião. Estaria o pesquisador delirando, após tantas horas caminhando sob o
sol?
— Me dê aquilo. — proferiu o doutor, olhando por
alguns instantes para trás.
— Mas ainda —
respirou um dos assistentes. — ainda estão testando, doutor! É só um protótipo!
— disse, tentando não perder o ritmo da corrida.
— Não importa!
Um dos rapazes tirou
sua mochila das costas, buscando um objeto dentro, enquanto tentava driblar as
árvores. De lá, retirou uma esfera bicolor, mas não como qualquer outra já
vista antes por olhos quaisquer. Era púrpura onde ficava o tom vermelho das
Pokébolas normais. Além disso, tinha adereços rosados em seu topo, onde uma
letra “M” estava centralizada em branco.
Ele aguardou o
doutor virar por mais alguns instantes para trás, e atirou o objeto visando
acertar sua mão. Era uma tentativa arriscada, pois qualquer erro e consequente
demora para pegara a Pokébola poderia resultar no Pokémon escapando. Por sorte,
o doutor conseguiu pegar a bola, e sem muito tempo para pensar, disparou-a em
direção à criatura.
Os momentos
subsequentes ocorreram em sua mente quase que em slow motion. Sequer parou para calcular como deveria lançá-la,
sendo que as chances de errar eram altas. Surpreendentemente, a esfera atingiu
em cheio a criatura rósea, que sem esperar por aquilo, foi materializada em
energia avermelhada e contida dentro da Pokébola. A bola caiu no chão terroso
no mesmo momento, e todos congelaram em seus lugares. O item ficou a oscilar no
chão, debatendo-se em uma luta que parecia durar eternidades; uma luta que
dividia entre o sucesso de uma descoberta e o fracasso; como era possível que
sentisse um frio percorrendo sua espinha se estava um calor dos infernos?
1… 2… 3… Por que
demorava tanto?
Seu coração quase
parou quando os movimentos da Pokébola cessaram. Ficou por alguns segundos
piscando, checando se não era uma ilusão. A captura estava completa.
O doutor deu uma
última corrida — desta vez não tão desesperada. — até a esfera, e a pegou do
chão, onde havia caído. Fitou por alguns instantes o item, enquanto buscava com
seus pulmões todo o ar que podia, aliviado. Funcionara, ele encontrara mesmo
uma possível nova espécie.
O que ele não
contava, é que aquela criatura mudaria mais sua vida do que poderia imaginar.
...
Foram necessários
mais alguns dias de viagem marítima para retornar à sua origem. Cinnabar Island era uma ilha do extremo
sul do continente de Kanto. Apesar da suposta atividade vulcânica que poderia
ocorrer, possuía uma boa localização, ao menos para o doutor. Outros
pesquisadores gostavam de se colocar em cidades grandes, ou em polos de estudos
científicos, mas ele especificamente gostava do clima privativo que tinha na
ilha, e do caráter exótico que Cinnabar permitia com seu vulcão.
Após deixar quase
todos os equipamentos de volta em seu laboratório, seguiu acelerado rumo à sua
moradia. Não era muito longe, conseguia ir a pé tranquilamente. O dia estava
frio, com o céu fechado em nuvens e uma fina garoa caindo na direção da
ventania gelada. Sua humilde casinha era branca, tinha um teto baixo
cor-de-barro e uma porta de madeira simplória.
Ele puxou uma chave
e destravou a porta, entrando ansioso. Colocou as tralhas em suas mãos em um
canto no chão e espiou o corredor. Sua esposa apareceu indo de encontro a ele,
e por baixo da franja castanha escondia-se um par de olhos cor-de-mel acuados.
Os dois se abraçaram antes de trocar quaisquer palavras, o som das gotas caindo
no vidro da janela sendo o único ruído além das respirações inquietas. O abraço
durou longos segundos, e parecia incomodado, hesitante.
— Estou de volta… —
murmurou o doutor, com uma pausa. — Como está minha pequena…?
A mulher respirou
fundo e o encarou, seus olhos melancólicos e abatidos.
— Ela piorou. —
disse, simplesmente.
O pesquisador não
evitou ficar cabisbaixo, revirando algumas das coisas que trouxera.
— Talvez com os
exemplares de plantas que eu encontrei eu consiga fazer algum antídoto… Há
espécies bem raras onde fomos e…
— Querido… — ela o
tocou no braço de um jeito frágil, o interrompendo, como quem dava uma má
notícia a uma criança. — Ela precisa do tratamento. Eu sei que não podemos
pagá-lo, mas temos que dar um jeito… — a esposa tinha a voz fraca, e os olhos
corriam perdidos pelo ambiente, procurando uma luz. — Talvez se a casa…
Ele sentia uma
apreensão enorme ao vê-la assim. Suas palavras soavam com fragilidade, os olhos
antes cheios de vida pareciam cansados, envolvidos por olheiras grossas como de
alguém que já não tinha uma boa noite de sono havia tempos. O rosto da mulher
parecia melancólico, sempre pálido no cômodo velho apenas iluminado pela pouca
claridade que atravessava a janela da sala. O doutor a segurou pelas mãos,
tentando transmitir-lhe uma confiança que não tinha. Sentia as tremulações das
mãos de sua mulher, mas acariciava aquela pele fina com cautela.
— Eu vou dar um
jeito. — disse, olhando-a fixamente. — Eu prometo.
As palavras saíram
de uma forma tão automática, como se fosse a coisa certa a se dizer, que ele
sequer tomou cuidado. Promessas eram perigosas, mas ele deveria fazê-lo, porque
faria qualquer coisa que precisasse para ver sua filha saudável novamente. Ela
fora diagnosticada alguns meses antes com uma doença rara, e apenas um
tratamento extremamente específico – e caro – não muito comum em Kanto poderia
dar-lhe uma chance de sobreviver. Em poucas semanas ela piorou, tendo que abrir
mão da escola e de outras atividades, ficando restrita à casa. Mesmo os tratamentos
alternativos tentados pelo doutor não pareciam surtir efeito.
Ele fingia que tinha
a situação sob controle para sua esposa, mas era nítido que não tinha. Todos os
dias aquilo lhe ocupava sua mente, aquela responsabilidade que não conseguia
arcar. Cada segundo era um instante a menos no relógio da vida, e se o tempo
chegasse ao final, ele jamais se perdoaria. Aquilo lhe tirava noites de sono e
momentos de concentração. Mas talvez tivesse conseguido uma alternativa.
Talvez.
No dia seguinte,
tomou uma xícara de café puro e colocou seu uniforme habitual, caminhando até
sua área de trabalho. Não era difícil encontrar, não havia tantas coisas em
Cinnabar, portanto as pessoas o cumprimentavam ao longo do caminho, e sabiam
apontar o seu espaço de pesquisa caso alguém pedisse uma informação. Era uma
grande estrutura pintada de branco, com uma placa inconfundível na lateral,
agora já meio desgastada pelo tempo:
Pokémon Lab.
Dr. Fuji
Dr. Fuji
As portas de entrada
se abriram automaticamente e ele fez um aceno para a recepcionista. Em seguida,
seguiu para a área de pesquisa, e logo foi interceptado por um de seus
principais assistentes, que aparentava estar extremamente inquieto. O rapaz segurou
o doutor pelo braço, e seus olhos quase saltavam para fora do rosto. Ele nunca
aparentou estar assim antes.
— Doutor, esta
criatura é… Parece que nunca vimos algo antes assim. Os níveis de força… Não
pode ser um Pokémon qualquer. — ele dizia, atropelando a si mesmo. — E
aparentemente ele possui habilidade de mutação… Nós nunca vimos nada com essa
capacidade.
O doutor Fuji
folheou os relatórios que o assistente lhe dirigiu, em silêncio. O rapaz
continuou a lhe dirigir palavras, mas todas escapavam pelo ambiente e eram
absorvidas pelo doutor tal como o som do ar condicionado. Sua mente não
conseguia focar em todos os termos escritos nas páginas, ele só conseguia
capturar algumas que eram chave. Mas tudo aquilo era suficiente para ele
perceber que não estava lidando com uma descoberta qualquer. Aquela criatura
era completamente outro patamar. Replicação. Mutação. Regeneração. Todas as
palavras grudavam em seu cérebro como se tivessem sido gritadas em seu ouvido.
— Preciso que você
faça três coisas para mim. — disse ao assistente, saindo de seu transe.
— Pois não, doutor.
— respondeu ele, agitado.
— Primeiro,
certifique-se de capturar várias amostras do material dessa criatura. Se tudo
isso for verdade… — ele murmurava, passando as folhas cheias de anexos e
escritos científicos.
O assistente
assentiu com a cabeça.
— Segundo, — prosseguiu.
— dê prosseguimento ao teste de número 5.3, para confirmar algo que tenho em
mente.
Ele estendeu o papel
para o assistente.
— Por último: entre
em contato com companhias que apoiam projetos científicos. — falou, respirando
fundo. — Dê-lhes uma prévia da espécie que encontramos aqui.
O assistente ficou
ainda mais agitado.
— Mas doutor, ainda
não sabemos do que a criatura é capaz! — interveio.
— Nós não
conseguiremos explorar todo seu potencial sozinhos. — rebateu o doutor. — Precisamos
de apoio.
O moço ficou parado,
o encarando. Geralmente o doutor Fuji era um homem cauteloso, e tomaria muito
cuidado antes de anunciar uma descoberta daquele porte, ainda que seu
laboratório nunca tivesse feito grandes experimentos que exaltassem o
suficiente o nome daqueles pesquisadores. Porém, nas últimas semanas, esse
homem empolgado e cuidadoso abria espaço para um senhor cansado e insistente,
que fazia seus ajudantes mais próximos se perguntarem o motivo de tal mudança.
Ele respirou fundo.
— Apenas faça o que
eu pedi. — disse, quase como uma súplica para que não fizesse nenhuma pergunta.
O assistente
concordou, sem conseguir olhar nos olhos do doutor, que escondia sua feição.
Apenas disse, antes de passar por uma porta e executar o que lhe fora pedido:
— E como será o nome
do novo Pokémon?
Nós
batizamos o novo Pokémon descoberto de Mew
...
ROUTE 17, Kalos
Presente
Presente
— Slurpuff, Cotton
Spore!
— Inkay, Psybeam!
A fada não conseguiu
se esquivar totalmente do golpe psíquico, parecendo ficar um pouco desnorteada
com o golpe dirigido a ela. Contudo, balançou seu corpo gordo como um doce, e o
que pareciam ser esporos atingiram a pequena lula, causando impacto suficiente
para que paralisasse seus movimentos. Isso abriu oportunidade para que desse
uma investida, e o Slurpuff conquistasse sua vitória.
O treinador retornou
Inkay desagradado para sua Pokébola, enquanto uma menina comemorava do outro
lado. Ela tinha o cabelo dividido em grandes mechas castanhas dos dois lados, e
usava uma roupa rosa cheia de laços. Seus olhos verdes enormes e inquietos
brilhavam em orgulho com o resultado da batalha, abraçando seu Slurpuff.
— Eu venci! —
anunciou, feliz, mudando para um tom soberbo. — Não que eu esteja surpresa com
isso, né, mas…
Atrás de si, ouviu
um par de aplausos. Um garoto baixinho de cabelos ruivos, e um garoto mais alto
e robusto de cabelo espetado preto pareciam elogiá-la, se aproximando após o
combate ter sido concluído.
— Boa batalha,
Shauna. — disse Tierno, o mais alto.
— Eu sei! —
respondeu a garota, rindo.
— Você ainda precisa
tomar cuidado com esses golpes psíquicos… A líder do próximo ginásio usa apenas
Pokémons desse tipo. — alertou Trevor, o ruivo.
A garota fez que sim
com a cabeça.
— Sem problemas. —
disse. — Eu tenho treinado para isso.
— Dizem que é ela é
capaz de prever acontecimentos no futuro… — ponderou Trevor.
— Será que ela
consegue prever se eu vou vencer o próximo concurso de dança? — indagou Tierno.
O rapaz em seguida
fez uma sequência de passos de dança, sem querer tropeçando nos próprios pés e
caindo no chão. Os amigos apenas assistiram à cena sem nenhuma surpresa, como
quem estava acostumado com aquilo.
— Acho que não
precisamos dela para prever isso… — murmurou o outro.
...
CELADON CITY, Kanto
Algumas décadas atrás
Algumas décadas atrás
O doutor Fuji entrou
na sala de reuniões após algumas batidinhas e teve um pressentimento não muito
positivo. O cômodo era extenso, mais do que os outros em que costumava se
reunir. Contudo, era escuro: as lâmpadas modernas no teto não traziam tanta
claridade, pareciam prezar por um ambiente à meia-luz. Em uma parede oposta à
porta que entrou estava um imenso vidro fumê com vista para a parte
metropolitana mais movimentada de Celadon. Os imensos prédios cortavam o céu em
um espetáculo urbano, e um homem alto assistia serenamente a paisagem de cidade
que se estendia até onde seus olhos alcançassem.
— É incrível ver o
que o ser humano foi capaz de criar do zero… — ponderou o homem com uma voz
grave e imponente, notando a presença do doutor Fuji e os tirando da quietude.
O doutor o
acompanhou, encostando sobre a janela a observar aquela cidade. Era uma das
maiores metrópoles de Kanto, a selva de pedra se estendia até onde seus olhos
tentassem percorrer. As pessoas, muito abaixo, se moviam como insetos
indefesos, correndo contra o tempo em suas vidas monótonas pelas ruas, que se
interligavam como veias de um corpo cinzento.
— Como um cientista,
sou obrigado a concordar. — ele sorriu, tentando ficar mais confortável.
O homem se virou
para ele com um sorriso no rosto também. Sua expressão era intensa: os olhos
desafiadores fizeram o doutor Fuji inconscientemente desviar seu olhar. As
grossas sobrancelhas arqueadas pareciam provocar, ainda que não fizesse nada
demais. Ele juntou as mãos enormes em uma pirâmide, depois de ajeitar seu terno
e se sentar na mesa de vidro da sala de reuniões. O doutor o acompanhou.
— Obrigado por
conseguir um tempo para conferir minhas pesquisas. — disse Fuji.
— Eu que devo
agradecê-lo, doutor. — respondeu o homem. — Soube que anda muito requisitado
ultimamente.
O pesquisador coçou
a cabeça, desconfortável, embora soubesse se tratar apenas de uma brincadeira.
— Sabe como é. —
respondeu, fingindo descontração.
O outro deu uma
risada discreta, e logo ficaram em silêncio novamente, mas era um silêncio
perturbador e sufocante. A sala era quase completamente isolada dos ruídos ao
redor, de maneira que o doutor conseguisse ouvir sua respiração ofegante, a
saliva empurrada deslizando pela garganta, o coração batendo de maneira
descompassada, seus pés inconscientemente se movendo em um tique de nervosismo.
O outro não parecia fazer nenhum barulho, apenas o fitava da maneira mais crua
possível com seus olhos negros como buracos profundos cujo fim não se era possível
avistar. Ele se perguntava se ele conseguia ouvir toda sua inquietude, e se essa
ansiedade lhe era divertida.
— Mostre-me. — disse
ele com simplicidade.
O doutor engoliu em
seco e puxou um envelope, pegando alguns rascunhos e os espalhando na mesa.
— Como pode ver,
essa é a anatomia do novo Pokémon. — disse. — O chamamos de Mew.
— Não é exatamente
como o imaginei. — respondeu o outro observando o desenho da criatura.
O doutor respirou
fundo, tomando coragem.
— A melhor parte vem
agora. — anunciou.
Ele puxou outro
envelope e estendeu diversos relatórios, repletos de fotografias e anotações datilografadas.
O homem os pegou nas mãos enormes e ficou a folheá-los, enquanto o doutor o
orientava.
— Como pode ver,
esse é um exemplo de tecido de Mew. — apontou para uma gravura com sua caneta.
— As células aparentemente possuem um número incrível de genes não ativados,
que correspondem ao código genético da maioria dos Pokémons que testamos.
Ele indicou uma
outra página, e o senhor foi para ela.
— Além disso, há
várias células totipotentes que se diferenciam quando expostas a uma criatura
diferente. — prosseguiu. — E a parte mais incrível: o código fica armazenado no
DNA, como você viu, e as células se regeneram para a forma inicial.
O homem ouvia tudo
em silêncio, lendo as páginas brevemente enquanto o doutor falava. Ele tentou
resumir todas as informações que lhe foram dirigidas, voltando seu olhar ao
pesquisador:
— É um Pokémon que
pode copiar o código genético de qualquer outro. — sintetizou.
— Mais que isso,
senhor. — falou Fuji fazendo uma pausa, inquieto. — Ele talvez seja a origem de todos os Pokémon.
O homem ficou
quieto, digerindo todas as informações. Aqueles não eram dados quaisquer: elas
explicavam alguns dos maiores mistérios da humanidade, se de fato fossem
realidade. Ele apenas encarava o doutor, impassível.
— Vocês ainda têm o
Pokémon? — inquiriu.
Fuji se recolheu.
— Infelizmente ele
escapou. — falou, logo adicionando informações. — Porém, conseguimos recolher
seus dados e extrair tecidos o suficiente para muitas pesquisas.
O outro aproximou
seu rosto, falando em um tom mais baixo.
— O suficiente para
uma… — ele parou de falar e disse o final da frase quase que como um sussurro.
— Cópia genética?
— O senhor diz…
Clonagem? — indagou Fuji em sequência.
Após receber um
aceno afirmativo, ficou alguns instantes refletindo.
— Bem, teoricamente
sim. — falou, em seguida completando. — Porém, os equipamentos necessários para
isso não estão no orçamento do meu laboratório.
— Você busca
financiamento. — concluiu o outro.
Fuji concordou, sem
rodeios.
— Em troca da maior
descoberta científica do século. — persuadiu.
Ele entregou um
modelo de contrato para o dono da sala, que deu uma olhada rápida. Em seguida,
sem ler com atenção, deixou a página cair na mesa e voltou a olhar para o
pesquisador.
— Eu poderia
fazê-lo. — disse. — Poderíamos equipá-lo com todo o necessário e mais moderno,
e enviar uma equipe de cientistas altamente qualificados. — falou. — Se
aceitassem fazer parte de nossa empresa.
Ele entregou um
outro contrato para o doutor, que olhou ligeiramente e ficou um tanto decepcionado.
— Mas isso significa
que o senhor quer comprar o laboratório. — disse, jogando o contrato de volta.
— Não posso fazer isso. Sinto muito, senhor, mas tenho recebido grandes
propostas e que não envolvem vender o meu nome. — disse ele, juntando as coisas
e se levantando.
O outro subitamente
bateu a mão na mesa, prensando uma das folhas que Fuji tentou puxar,
surpreendendo-o. O barulho do golpe no vidro ressoou pela sala, e ficaram assim
por alguns momentos desconfortáveis.
— Você ainda
receberá todo o mérito por suas descobertas. — explicou, puxando em seguida um
cheque do bolso e o jogando para o pesquisador. — Escreva aqui o quanto de
dinheiro você acha necessário. Mais que qualquer proposta que te ofereceram.
Nós pagamos tudo.
Fuji ficou a
observar aquele pedacinho de papel. Tinha quase tudo preenchido, menos o valor.
Como um pequeno pedaço de papel, tão frágil e simples podia deixá-lo tão
desestruturado e obsessivo? Tinha receios, seu corpo demonstrava todo o
nervosismo possível demonstrando que havia algo errado. Mas ele não conseguia
tirar a imagem de sua filha da cabeça. Assim seria possível tratá-la, com mais
certeza que qualquer outra proposta que recebera antes. O homem estava sério, e
parecia provocá-lo com suas sobrancelhas enormes. Sua filha.
Por fim, o doutor
Fuji destampou sua caneta e escreveu um generoso valor no cheque, em seguida
assinando seu nome no contrato com a mesma caneta em uma grafia trêmula.
...
ANISTAR CITY, Kalos
Presente
Presente
Uma brisa gélida
noturna soprava por entre os prédios no lado leste de Kalos. Os postes acesos
se estendiam até os limites da rua, terminando em uma saída para um canal, onde
a água fazia um leve barulho de ondas quando se movimentava com o vento. Já era
tarde, e a rua estava praticamente deserta. Os saltos de Olympia faziam um
grande barulho quando batiam nas pedras antigas da calçada, e a mulher
aguardava impacientemente o grande portão de seu ginásio se fechar para
trancá-lo. Não era frequente que ela se encarregava de fechar o próprio
ginásio, mas naquele dia fora necessário.
Um ruído ao longe
chamou a intenção da líder, que se virou em posição de alerta instantaneamente.
O coração da mulher bateu mais rápido, e ela não evitou um ligeiro susto quando
os passos tornaram-se mais nítidos e foi capaz de perceber alguém se
aproximando. Respirou aliviada ao ver que era apenas um trio de crianças,
correndo em sua direção.
— Moça, espera! —
gritava Shauna, parando em frente a ela extremamente arfante, tentando se
recuperar. — Por favor, não fecha! Atrasamos no caminho, mas eu preciso batalhar
contra a líder de ginásio!
Olympia franziu o
cenho.
— Eu sou a líder de
ginásio. — retorquiu ela.
— Ah, que ótimo!
Achei que já tivesse ido embora! — exclamou a garota.
— Isso não quer
dizer que eu aceite seu desafio. — interveio a mulher para os três. — É quase
meia-noite! O ginásio já está fechado. Se quiser batalhar, deverá marcar um
horário na recepção a partir de amanhã.
Shauna preparou-se
para discutir, mas Trevor tocou-lhe no ombro e fez sinal para que não o
fizesse. Os três dirigir-se-iam para o Centro Pokémon. A líder ficou de braços
cruzados vendo-os partir, soltando um longo suspiro de exaustão. Em seguida
também seguiu seu rumo, caminhando pela rua solitária a passos lentos, passando
pelos postes de luz fraca.
Ouviu o som de motor
e olhou discretamente para trás, vendo um táxi frear próximo de seu ginásio.
Mais uma vez encheu seus pulmões de ar e soltou lentamente. Um novo treinador
querendo desafiá-la àquela altura da noite era um teste para sua paciência. Contudo,
o táxi logo partiu, e enquanto a mulher se preparava para seguir sem sequer
olhar para trás, ouviu um barulho alto quando a pessoa que desceu do carro esmurrou
os portões do ginásio.
Olympia foi em
direção do indivíduo e encontrou uma moça agachada contra as portas, suas mãos
ainda estendidas no portão depois do impacto. Quando ela chegou perto o
suficiente para que a luz do poste iluminasse a figura, percebeu que a moça era
pálida e de cabelos azuis, dirigindo-lhe seus olhos misteriosos e vermelhos
como rubis. Ela parecia subitamente satisfeita ao vê-la.
— Senhora Olympia… —
ela se levantou, recompondo-se. — Olá. Meu nome é Sabrina.
Olympia assentiu com
a cabeça.
— Eu sei quem você
é. — disse, simplesmente. — É meia-noite, e você está na porta do meu ginásio.
Sem rodeios, por favor, eu estou realmente exausta. — falou a líder.
Sabrina a fitou.
— Sei que a senhora
é dotada de certas habilidades especiais, e creio que elas poderiam ajudar a…
— Querida, essas
coisas são apenas… Rumores criados por treinadores. — interrompeu ela, fazendo
um gesto com a mão. — Não acredito que viajou de Kanto a Kalos por causa dessas
bobeiras.
A mulher preparou-se
para caminhar de volta, mas todos os postes da rua subitamente se apagaram.
Sabrina permanecia impassível parada ao longe, observando a líder de Kalos,
cuja respiração começava a pesar. Ela foi obrigada a parar e se virar de volta,
e encontrou a moça de Kanto a encarando na penumbra com seus olhos vermelhos
como uma criatura infernal à espreita de sua presa.
— Eu sei que você
também deve ter tido visões dele. —
disse Sabrina, quase que assoprando as palavras. — E saiba que de fato há um
perigo bem grande se aproximando. Maior que nós somos capazes de prever.
Olympia ficou quieta
e permitiu que o som do vento assoviando fosse o único ruído no ambiente por
alguns momentos. Uma presença imprevisível e incomparável era sentida não muito
longe, e parecia que seus palpites pareciam mais concretos que nunca, como se
aquela moça viesse como uma mensageira confirmando suas hipóteses. Ela quebrou
a quietude amedrontadora com uma voz firme e ligeiramente cansada.
— Aceita um chá? —
perguntou ela, séria. — Deve ter sido uma viagem longa.
aeeeee com uns dias de atraso mas chegando aqui pra ser derrubada por mais um pedaço dessa historia /o/
ReplyDeletelugares inexplorados tem toda uma magia propria, adoro ver sobre, mas ao mesmo tempo fico "tira os humano daí pfvr vai dar merda"
adoro que sempre tem um que tá Hyped enquanto os outros padecem por ter que acompanhar asdndsançdknsdskad
mds o doutor vai sair sozinho?? é assim que se cai num buraco e nunca mais é achado migo, toma cuidado qq
MDS EU NÃO ACREDITO QUE PRIMEIRA APARIÇÃO DE MEW É ELE TODO NENEMZINHO BEBENDO ÁGUA AFFUUUUUUUUUUUUUSS QUE COISINHA MAIS LINDA MDS
claro que ele ia pisar num galho né asdnskasçdadsnç (mas que bom, deixa meu nenem qq)
tho é dia de sorte pq mew tá facilitando pra ele, podia ter simplesmente se teleportado mas ainda quis brincar de pique
eita nois não lembrava sobre o mew mudando de forma???? mAS QUE GRAÇA AI
EITA PORRE A MASTER BALL, FUUUUUUUUUCK
OH NO, DAMN, FUNCIONOU MESMO >.>
ai bicho como ousam prender meu bbzinho isso vai dar treta e não quero ele de cobaia mds ç_ç
eita mano ele ainda tem uma criança doente?? ai >>:
well mas agora certamente ele vai arranjar uma grana qq
ia perguntar onde que tava o bichinho mas okay já tava no lab
(mas ai tadinho do meu bb ç_ç)
uma parte minha quer que tudo exploda quando ele for mostrar, mas outra queria que ele ganhasse o bastante pra ajudar a filha, aFFUS HAOS PQ TU SÓ ME DÁ DECISÕES DIFICEIS
okay mas agora to aqui [thinking emoji] de pq tu voltou pro presente nesse plot
AIMDS É A SHAUNEE???? A MINHA NENEEEEEEEEEEEEEM EU TO CHOROS SIM
ALIAS O GRUPINHO TODO DE NENENS AFFUS <3
eu não to gostando mesmo desse cenario lmao doutor sai daí
migo sério como que tu não morreu de nervoso com um cara desse (como que tu confia de mostrar uma pesquisa dessa pra um cara desse mds)
AO MENOS MEU NENEM JÁ ESCAPOU mas a treta já tá armada anyways lmao (mas pelo menos ele tá livre dos testes <3 )
sabe aquilo de vender a alma, doutor fuji? you just did it
MDS SHAUNEE OLHA A HORA ASDÇKNSAÇSNDÇSDAKÇDSA VAI DORMIR CRIANÇA
EITA A SABRINA??? e parece num desespero de encontrar a olympia......
(e duas de psiquico........... this aint going right........)
por giratina, olha o lvl de treta que isso deve dar >.>
Ahhh sim, que gostoso trabalhar com lugares inexplorados! Mas bem real que a magia está justamente nos humanos ficando bem longe desses espacinhos -Q Eu gosto muito de trabalhar com esses pontos cheios de mistério e de aura meio misteriosa, tenho um crush por pesquisar e conhecer coisas do tipo. Vai entender HAUSDHAISD
DeleteE depois de muuuuito tempo finalmente apareceram a Shauna e o grupinho todo dos rivais de X & Y <3 Hoje fizeram só uma pontinha de apresentação, mas nas próximas partes do especial eles vão ser bem mais importantes. Demorou, mas dá pra ver que eu não sumi com eles na história HAUSDHASUDA Faz tanto tempo que eu postei um preview com a sombra deles que nem sei mais se vocês lembram disso. Mas o importante é que mesmo muito tempo depois deu tudo certo, e o especial finalmente tá aí! E tenho um carinho muito especial por ele, então espero que você goste das próximas etapas <3
Olha, eu não sou nenhum psíquico como a Sabrina e a Olympia, mas estou prevendo uma treta das brabas! Já se passaram 21 filmes, e os caras não aprenderam ainda que mexer com Pokémon lendário dá problema? Tá faltando acabar o mundo pra isso?
ReplyDeleteA princípio eu não entendi bem o que o grupo de crianças estava fazendo nesse capítulo, mas de repente estou de olho na Shauna... Involuntariamente formulei umas teorias aqui que não vou dizer quais são para de repente não correr o risco de estar certo e estragar a surpresa. Ou então não correr o risco de estar errado e passar vergonha kkkkkkkkkk Mas se quiser saber o que eu estou pensando a gente pode conversar. :v
Aquele homem negociando com o Dr. Fuji... Se for quem eu estou pensando, eu já sei onde isso vai dar. Vai dar em m****, isso sim! Mas que culpa tem o Fuji, se seus sentimentos paternos o obrigam a desafiar seus princípios? É instintivo, até mesmo para um cientista que deveria ser alguém racional.
Cara, eu tô botando fé nesse especial. Já aguardo a continuação.
Até! õ/