— Eu queria propor um brinde. —
disse o moço, se levantando. — Ao aniversariante da noite.
Os olhos se viraram animados para o
indicado, com uma série de gritos empolgados, alguns batendo na mesa. Olhares
incomodados se voltaram para o grupo no bar, mas ninguém estava em grandes
condições de se importar. A música estalava em uma batida de funk que só se
abafava pelas conversas atravessadas e barulhos de garrafas se tocando. Uma
série de copos foi levantada para o alto, em sequência.
— A gente já tá brindando desde as
nove da noite. — retorquiu o aniversariante.
— São 20 anos completos. —
argumentou a moça de cabelos cacheados ao seu lado. — Deveríamos brindar até o
vigésimo copo.
— Deus me livre. — comentou a
menina do outro lado, balançando o copo. — Mas quem me dera.
Após uma sequência de risadas, o
rapaz de pé levantou seu copo cheio novamente.
— Ao Vítor. — falou, animado.
— Ao Vítor. — concordaram os
outros, brindando.
O aniversariante tomou um gole. O
gosto já parecia bem mais amargo que às nove da noite. Fez uma careta, mas
sorriu, abraçando os amigos. Era seu dia, seu momento. A cena já se desenrolava
em ritmo reduzido, os barulhos abafando em um torpor que inevitavelmente fazia
um sorriso se abrir em seu rosto. Disparou palavras de afeto aos conhecidos,
agradecendo pela ocasião. Duas décadas.
...
Quando a porta do elevador se abriu
naquela manhã, ele não evitou um olhar arregalado. Tirou os óculos de sol e
conferiu as olheiras grossas e roxas em torno dos olhos avermelhados de sono. Haja pepino para tratar isso. A ideia de
usar boné para disfarçar os cabelos desajeitados também não parecia ter
funcionado perfeitamente. O moletom rosa por dentro da calça estava meio
amassado, mas ele sequer reparou naquilo ao vesti-lo.
Deu uma mordida no croissant tão pequena que pareceu mal
diminuir de tamanho. Ainda assim, mastigou tantas vezes que até perdeu a conta.
Tentava ignorar o cheiro da comida, que lhe revirava o estômago do dia
anterior. Tentou todas as chaves para abrir a porta de vidro da secretaria, mas
claramente apenas a última servira.
Sentou em sua cadeira, ligando o
computador. Encostou-se e respirou fundo, tentando ignorar o cheiro doce do
aromatizador de ambientes. 9:38. Nunca chegou tão atrasado – e olha que era
relativamente famoso por seus atrasos onde quer que fosse. Ainda tinha a
desculpa do aniversário, que poderia funcionar, caso alguém perguntasse.
Tomou um gole forçado de água por
impulso, tentando ajudar o salgado a descer. Em seguida, um gole de café bem
quente. Algum dos dois deveria ajudar.
Ouviu o som dos saltos batendo pelo
corredor. Por pouco não chegou depois da chefe – não que pudesse ter o luxo de
se orgulhar, mas atrasar a esse ponto seria vergonhoso. Ela usava um vestido
preto com uma estampa floral linda, em conjunto a um casaco de cor viva. Os
olhos brilhantes corriam pelo corredor, enquanto sua voz doce cumprimentava aqueles
que cruzavam seu caminho. A chefe pisou com passos tranquilos, enquanto enviava
um áudio pelo celular – segurado na mão direita, enquanto a esquerda estava
cheia de pastas e sua bolsa.
— Bom dia. — disse, levantando o
olhar o estagiário, em seguida esboçando uma expressão de susto. — Meu deus,
você tá bem?
O garoto não abaixou os óculos escuros,
recostando-se na cadeira.
— Já tive momentos melhores. —
respondeu com relativo delay, o tom
mais rouco que o usual.
Ela deu uma risada, colocando suas
coisas na mesa. Aproximou-se dele, botando as mãos na cintura.
— Quando eu fui embora você parecia
bem. — comentou.
— E eu tava. — disse o garoto,
tomando um gole de água. — O problema foi agora de manhã.
Ela deu uma risada de preencher o
ambiente e jogou alguns bilhetes na lixeira.
— Aniversário de segunda-feira
nunca é uma boa.
— Foi o
que aprendi esse ano. — murmurou, massageando sua testa. — Acho que eu tive o
pior encontro da minha vida depois do bar, mas eu já não tenho mais certeza.
A moça
balançou a cabeça sorrindo, em sinal de julgamento. Ajeitou a ordem das pastas
que acabara de trazer, logo as depositando na mesa do estagiário.
— Pode levar esses documentos pra
mim, por favor? Lá no setor de diplomas.
— Posso, claro. — falou Vítor,
pegando no mouse do computador. —
Espera só eu terminar de mexer nessas fotos.
Ela assentiu.
— São pro post do evento de vocês?
— Isso. — assentiu ele.
O garoto abriu os arquivos,
editando as fotos o mais rápido que conseguia. Contudo, sua mente estava em
relativo atraso. Ele tentava morder o croissant
vez ou outra, mas nunca teve tanta dificuldade de ingerir qualquer coisa
nos últimos tempos. Ainda assim, sequer tivera tempo de tomar café em casa.
Precisava forrar o estômago de algum jeito. Mais uma vez ouviu passos se
aproximando, agora um par de chinelos batendo até a porta da secretaria. A menina
de longos cabelos pretos passou pela porta transparente com sua calça larga
estampada, disparando:
— Amigo, já fez o post? — inquiriu,
só então fitando os óculos escuros do rapaz e sua expressão mórbida. — Meu deus
o que aconteceu com você?
— Bom dia. — respondeu Vítor,
irônico. — Não, amiga, tô mexendo com as fotos ainda.
— Ah, tudo bem. — ela assentiu,
olhando para a tela do computador. — O Lucas pediu pra eu perguntar se você já
terminou o checklist pras gravações
desse final de semana.
O garoto apoiou a cabeça no braço,
cansado.
— Faltam as barracas ainda. —
respondeu, tirando os óculos. — Eu já vou conseguir isso, vou correr atrás hoje
de tarde.
Ele mordeu o salgado, vendo a
garota levantar uma sobrancelha.
— Croissant? Achei que você não comia mais esse tipo de carboidrato.
— falou, em tom de deboche.
— Vítor! — repreendeu a chefe, só
então notando o culposo salgado engordurado.
— Hoje eu como. — balbuciou o
garoto.
Aquele dia em especial poderia ter
lhe dado uma trégua, mas o “pós-aniversário” nunca tem o mesmo glamour para autorizar isso.
Especialmente quando o aniversário coincide em um contexto de milhares de
acontecimentos ocorrendo simultaneamente na vida acadêmica. Por sorte, o rapaz
não tardou muito para melhorar seu ritmo. Os primeiros semestres universitários
ensinaram que água, remédio para enjoo e um pouco de comida resolviam qualquer
pós-festa. Ainda assim, sentiu que parte das pendências daquela terça ainda
estavam sem resolver.
Mas quando, afinal, ele sentia que
todas as pendências estavam resolvidas?
Chegou em casa às nove e pouco.
Esqueceu que ainda tinha agendado uma reunião após o jantar, o que o fez voltar
à casa mais tarde do que gostaria. Era seu dia de lavar roupas, mas a previsão
do tempo dizia que iria chover no dia seguinte, então de que adiantaria? A
pilha já estava maior que o cesto permitia; isso iria ter que esperar. Enquanto
tivesse roupa limpa poderia sobreviver.
Sentou-se na cadeira, quase caindo.
Respirou fundo e olhou para o teto por alguns segundos, enquanto retomava o ar.
Sabia que tinha escrito na agenda as últimas coisas que precisava realizar
antes de dormir. Ainda assim, pensou que merecia um relaxo de alguns minutos.
Abriu o feed de alguma rede social
para poder se ocupar com algo extra, mas era sempre atrapalhado pela
notificação das mensagens de algum grupo. As conversas já se estendiam a um
nível que o rapaz perdera o controle.
Ana (3 mensagens): Oi amigo, tudo
bem? Sei que tá atarefado, mas olha, achei uma referência legal pro nosso
trabalho de Roteiro. Assiste depois e me avisa, tá?
Crush (4 mensagens) : Oi. Queria te
ver, comemorar seu aniversário... Mas não vai dar, tô ocupado essa semana.
Desculpa :(
BFF (20 mensagens): AMIGO KKKKKK VC
NÃO SABEEE PRECISO TE CONTAR
Lucas (6 mensagens): Amigo, ainda não
conseguiu as barracas né? Tenho uma ideia de pra quem você pode perguntar. Vou
te mandar o contato.
Bia Figurino (4 mensagens): Preciso
que me passe a paleta de cores da diária do final de semana para eu poder selecionar
os figurinos, por favor.
Calourete (8 mensagens): Queria te
convidar pra assembleia do CA que faremos semana que vem, falando sobre o
posicionamento do curso diante das eleições. É bem importante!
Professora (2 mensagens): Oi,
querido. Pode me confirmar se a equipe de som vai nas entrevistas de sexta?
Chefe (3 mensagem): Vítor, só pra
lembrar que amanhã tenho reunião e chego mais tarde! Se rolar algo importante
pode me deixar um recado :)
Deutschkurs (15 mensagens) : Hallo
Leute! Não esqueçam que o Hausaufgabe de amanhã vale nota e deve ser entregue
em folha separada!
Nutricionista (1 mensagem): Olá,
Vítor. Nossa consulta está agendada para quinta às 10h. Confirma?
Mãe (4 mensagens): Oi filho... Tudo
bem? Faz tempo que não falo com você... Me liga quando der.
Operadora dos infernos (1 mensagem):
Atenção, sua conta com vencimento 20/09 não consta como paga. Por favor, efetue
o pagamento ou sua linha será cancelada.
O garoto jogou o aparelho na cama,
agitado. Por mais que seu corpo implorasse por descanso, sua cabeça trabalhava
a mil. Fazia semanas que não via as mensagens totalmente lidas, sem pendências.
Quando lia, sempre faltava responder alguém. Não fazia muito que tinha o sonho
de ter celular, quando mais novo. Era da geração que já cresceu sabendo da
existência do aparelho móvel, querendo poder “bater foto” de tudo e “jogar
joguinho”. Hoje, seu sonho era sumir com aquele dispositivo dos diabos. Ainda
assim, sua existência dependia quase intrinsicamente daquela droga digital.
Ele se jogou na cama. De que iria
adiantar tentar fazer mais coisas naquelas condições? No dia seguinte tiraria
um tempo a mais para resolver o que precisava de mais urgente. Isso. Merecia um
descanso, certo? Arrumou a cama da maneira que pôde e tomou um banho quente,
sentindo o jato de água estalando nas costas com gosto.
“Quando foi que a vida ficou tão complicada?” — perguntou-se, mentalmente.
...
Saiu do banho enrolado na toalha,
como era típico, toda noite. O vapor embaçou o espelho, de maneira que precisasse
esfregar a mão molhada para conseguir se
ver melhor. Sentou na cama, pegando o celular. Abriu na conversa usual do grupo
de amigos, que já acumulava uma sequência de mensagens.
Lio: Gente vou só tomar uma ducha e
já to descendo na casa do Lu
Fer: Tamos esperando. Ana vem?
Ana: Yes. Vcs já tão bebendo ou vão
passar comprar alguma coisa no caminho?
O rapaz olhou o reflexo ao longe,
fitando os próprios olhos exaustos. Será que algum dia não teve olheiras?
Vítor: Gente, hoje eu não vou.
Após clicar “enviar”, aguardou
alguns segundos pela repressão.
Ana: QUE
Lucas: Hã
Fer: Ihhhh miado..
Vítor: Eu não tô muito bem. E
amanhã tem aula cedo.
Lio: Sim, eu tô nessa aula com vc.
Vamo, a gente não precisa voltar tarde.
Isa: Quinta de noite é nosso diaaaa
Vítor: Hoje não vai dar.
Ele soltou o aparelho na cama quase
como se estivesse pegando fogo. A tela voltou a acender, revelando as muitas mensagens
em sua resposta. Retirou forças não soube de onde para não lê-las e evitar o
reflexo de pegar o aparelho. Sempre parecia que era importante demais para
ignorar. Deu para trás quando uma nova conversa chamou sua atenção, todavia,
autorizando-se a voltar ao dispositivo.
???: Oi Haos.
Precisou de alguns segundos
encarando a tela do aparelho para assimilar aquela palavra de quatro letras. Há
quanto tempo não lhe dirigiam aquele nome? Alguém sequer se lembrava dele? Um
sentimento gostoso percorreu o corpo e, após ponderar, optou por responder,
ignorando as notificações das demais conversas.
Vítor: Oi. Quem é?
O número apareceu digitando.
???: Uma amiga antiga... Estava
pensando se você estava a fim de sair comer alguma coisa.
Vítor: Ah, hoje vai ser difícil...
Preciso resolver algumas coisas e amanhã cedo tenho que ir na aula. E vou
tentar passar na academia antes... Na verdade já deveria estar dormindo.
???: Por favor, prometo que vai ser
rápido... Eu estou com saudade.
Ele tinha ideia de quem poderia
ser. Isso o forçou a tomar forças para sair de casa. Não precisaria ir muito
longe, felizmente. A amiga concordou em encontrá-lo lá perto. O garoto não
caprichou muito nas roupas que escolheu – em questão de pouco tempo já iria
voltar dormir, mesmo. Por um momento ficou chateado de se despedir de sua cama.
Ela estava tão convidativa. Mais uma noite dormindo menos que seis horas. O
mito das oito horas de sono era com certeza a lenda de sua geração.
Chegou no lugar marcado e pegou uma
das mesas de madeira, sentando-se. De lá conseguia observar o movimento, via os
carros passando na rua, os demais universitários caminhando em direção ao happy hour, carregando garrafas já
meiadas e ouvindo música em volume alto. O ritmo até que fazia seus dedos
baterem em sincronia na mesa.
Ele a viu se aproximar, tocando-lhe
nas costas. Seus olhos não evitaram esboçar uma surpresa. Suas suspeitas foram
confirmadas, mas a moça parecia diferente da última vez. Seu estilo estava mais
refinado, ainda que mantivesse a mesma meiguice costumeira. Os olhos sempre
empolgados agora pareciam mais maduros, condizentes com sua idade. Seus cabelos
compridos divididos entre o azul e o rubro se distribuíam em belas mechas
presas atrás da cabeça. Ela se sentou, abrindo um sorriso.
— Oi… — murmurou o garoto. — Nossa.
Você tá diferente. — disse sem pensar.
— Eu não estou tão diferente assim.
— respondeu a amiga. — Você está.
Ele apoiou-se na mesa, ainda um
pouco surpreso.
— Meu deus quanto tempo faz? —
perguntou ele.
— Quase um ano. — falou ela, com um
sorriso sem graça.
Ele se jogou para trás, quase que
levando uma pancada.
— Tudo isso? Tem certeza? —
indagou.
A moça balançou a cabeça.
— Tenho. — respondeu, com
convicção.
Ela sabia mais que ninguém. O
menino corou, um pouco sem jeito. A garota mexeu as mãos, corrigindo-se.
— Eu não tô ofendida. — disse, com
uma risadinha. — Eu sei que não sou a única amiga que você não fala há meses.
Vítor sentiu-se ainda pior com o
comentário, dando uma risada constrangida.
— Não é. — concordou. — Desculpa,
eu me sinto mal por isso. Mas juro que nas férias…
— Você falou isso nas férias de
Julho também. — ela lançou um olhar de julgamento
— Justo.
Sabe quando você encontra uma
pessoa que outrora lhe foi muito especial, mas parece que a intimidade já não é
a mesma? Que os assuntos antes tão naturais agora pareciam íntimos demais para
tangenciar? Que medo temos disso. Que medo temos de um dia transformar um
coração meramente em um rosto conhecido. Quantos protagonistas nos caminhos de
nossa vida – e como nossa vida tem caminhos – não se tornam meros coadjuvantes
sem uma lógica explicação?
— O que você está olhando? —
perguntou a garota, com seus olhos profundos heterocromáticos.
O menino forçou um sorriso
encabulado.
— Por que as coisas não são mais as
mesmas com você? — perguntou, quase que como um suspiro.
— Porque você não é mais o mesmo. —
respondeu a moça com tranquilidade.
Ele aceitou as palavras, com uma
expressão perdida. Por um milésimo de segundo viu-se como um estranho naquele
espaço, como uma criança procurando pelos pais. Durou pouco, ele sabia onde
estava. Sabia onde seus pais estavam. Mas resquícios daquele sentimento ainda
lhe apertavam o peito olhando para aquela mulher.
A amiga se levantou, estendendo-lhe
uma mão.
— Pra onde nós vamos? — perguntou
ele.
— Viajar. — respondeu a moça com um
sorriso simpático.
Ele esqueceu como ela sorria.
Sorria como ninguém, em um ar reconfortante e familiar. Com leveza. O moço
sentiu seus músculos quase sendo puxadas para suas mãos, e em momento algum se
opôs. Levantou-se e caminhou com ela, deixando-a guiar o caminho. Era consumido
pelas palavras.
Não soube dizer em que momento o
cenário mudou. Parecia um sonho, quando os contextos mudam drasticamente sem
que se perceba, aceitando-se consumir apenas o motivo da transformação. Não era
como estavam lá, mas sim por que estavam.
Os prédios transformavam-se em
árvores retorcidas pela idade, em cores sazonais mágicas. O céu escuro fechado
se abria em uma noite estrelada onde ele podia avistar as mais diversas
constelações e sonhar com as criaturas desconhecidas escondidas na imensidão. Uma estrela cadente, faça um pedido. O
concreto esburacado da rua passava a ser um caminho de terra por entre as
flores mais belas que a estação podia proporcionar. O som dos carros aos poucos
se convertia a ruídos da noite, o que poderiam ser grilos, mas em um cantar
quase melódico e convidativo. Não tinha medo, pois sabia onde estava. Sentia o
aroma doce das flores que tinha o perfume que mais gostava. Sentiu os dedos
macios da garota deslizando por sua mão suada. Tentou reagir, mas ela levemente
soltava sua pele, deixando-o caminhar sozinho.
Haos desamarrou os cadarços de seus
tênis apertados, deixando-os de lado como se pudesse esquecê-los ali. Sentiu a
pele quente tocar a grama fofa, fazendo leves cócegas. Abriu os braços com a
brisa refrescante daquela noite, como há muito tempo não podia.
— Peguei. — disse ela, tocando-lhe
o ombro.
O menino saiu de seu transe após
alguns curtos momentos, tentando assimilar.
— Faz tempo que não brinco disso. —
falou com uma risadinha, disfarçando.
A moça colocou as mãos na cintura.
Ele continuou rindo de um jeito forçado, olhando para os lados levemente.
— Esqueceu que ninguém pode vê-lo
aqui? — indagou a moça.
O garoto ficou em silêncio. Olhou
mais uma vez para os lados e correu. Os primeiros passos foram desengonçados,
incertos. Mas logo retomou a corrida em um disparo, sem mais hesitação pelos
julgamentos. Correram livres pelo campo de flores, sozinhos. Ele conhecia cada
centímetro daquela terra. Ele já esteve lá muitas vezes, e sabia que ninguém iria
observá-los e julgá-los.
...
Encararam-se.
Ambos deveriam ter em torno dos
quatorze, quinze anos. Um garoto franzino, olhos castanhos curiosos e tímidos
ao mesmo tempo, e a menina de cabelos coloridos com as mãos atrás das costas.
Seus olhos eram das mesmas cores opostas do penteado. Eles sorriam, um tanto
sem jeito. Parecia o protocolo a seguir.
— Hm… Oi.
— Oi.
— Eu sou o Haos. — falou o garoto.
— Sou novo na Aliança.
A menina concordou com a cabeça
suavemente.
— Você é meio tímida. — comentou
ele. — Não vai nem me falar seu nome?
Ela nada disse, evitando fitá-lo
nos olhos. O menino não julgou, respeitou seu tempo.
— Tudo bem, vamos dar tempo ao
tempo. — disse, com empolgação. — Se não acredita em mim, pode perguntar pro
meu amigo, o Ethron! Nós trabalhamos juntos já faz um ano!!
A garota brincou com uma das mechas
de cabelo, enrolando-a nos dedos.
— As pessoas estão meio curiosas. —
comentou, singela.
— Sim. Mas todo mundo confia na
gente. — ele murmurou.
A garota olhou perdida para o céu,
suspirando.
— E qual será nossa história? —
perguntou, abrindo um sorriso ainda de papel, frágil.
Ele correspondeu.
— Ainda não sei. — disse. — Mas sei
que vai ser inesquecível.
E seria. Ela se chamava Kalos,
descobriu algum tempo depois. Tornaram-se amigos como as pétalas caídas
transpassam pelo rio – seguindo o fluxo, em seu tempo. Ela lhe apresentou os
castelos mais bonitos que ele teve o prazer de apreciar, tão majestosos que
jamais pensou que seria capaz de pisar lá; as maiores e mais movimentadas
cidades, tão brilhantes que transformavam a noite em dia com suas luzes
singulares; as praias mais límpidas, onde podia ver os próprios pés enquanto
pulava as ondas, admirando a imensidão azul encontrando o horizonte; as
montanhas gélidas mais frias, onde os flocos formavam desenhos e esculturas de
gelo; as cavernas onde os cristais brilhavam e reluziam feito espelhos; os
campos de flores mais cheirosos e tranquilos que jamais teve a oportunidade de
conhecer.
Compartilharam dos melhores e
piores dias.
Naquele, em especial, ele chorava,
sentado no escuro. Sentia a mão dela no ombro, mas os pingos escorriam como uma
tempestade que não poderia ser amansada com tão pouco. O respirar dela parecia
lhe dar mais motivos para permanecer ali, por mais que o fizesse em silêncio.
— Eu não aguento mais, Kalos. —
disse, engasgado.
— O que?
— Eu… Eu me sinto estagnado, sabe?
Ela passou a mão em suas costas,
com uma expressão afetada.
—. Parece que eu tô preso… Briguei
com meus amigos, briguei com minha família... Eu não… Eu preciso de espaço, eu
preciso respirar, e não consigo. Tem tanta coisa guardada e eu não consigo
soltar.
— Por que não vem comigo? —
perguntou ela, tentando levantá-lo. — Conheço um lugar ótimo pra tomarmos café!
Ele não aceitou ser puxado.
— Kalos, tudo isso é ótimo… Mas
mesmo quando você tenta me ajudar a esquecer, o problema continua.
Kalos baixou o olhar. Agachou até
ficar em sua altura e limpou suas lágrimas com os polegares. Ela não parecia
saber muito mais o que fazer, mas tinha ternura em seus olhos.
— Haos, eu não posso resolver seus
problemas. — falou, tímida. — Mas eu posso estar com você, independentemente
deles.
— E o que eu faço?
O silêncio preencheu a pausa.
— Nada se transforma do dia para a
noite. — ela disse. — Mas você pode amenizar a dor escrevendo.
Ele balançou a cabeça.
— Escrever igual sempre fez. —
incentivou.
— Como isso pode resolver qualquer
coisa?
— A dor existe, mas você é livre
para fazer o que quiser dela. — falou a moça, colocando um caderno e uma caneta
no chão, desgastados pelo uso.
Não foi do dia para a noite, mas
aos poucos ele conseguia ver quem Kalos lhe instigava: era uma moça de louros
cabelos, dourados e brilhantes; olhos azuis como o céu mais aberto e belo que
alguém poderia sonhar; um sorriso puro como o de uma criança pronta para
desbravar o mundo. As palavras ganhavam vida, as correntes eram arrastadas pelo
quarto, tentando se romper, em um grito no escuro que ninguém iria escutar, mas
que ecoava pelas paredes;
“Eu sinto que estou morta há
muito tempo, e quero renascer. Há muito tempo essa princesa cansou de esperar
pelo príncipe, cansou de pensar no mal como o ruim, cansou de ver sem
experimentar. Há uma linha tênue entre a vida e a morte, e a qualquer momento
ela pode ceder. Eu não quero esperar por este rompimento, quero aproveitar as
últimas oportunidades”
Sua jornada erguia-se aos poucos em
três pilares: os sonhos de uma criança em ver o mundo pela primeira vez, em
sentir as primeiras experiências e atribuir valor a cada sopro de sua vida; as
hesitações de conhecer um universo que lhe parece às vezes hostil, onde se
precisa esquecer do pré-concebido e retornar à pureza dos primeiros anos; e a
tentativa de avançar mesmo com os pesos do passado, independentemente das dores
e dos fantasmas, sem perder a chance de sorrir mais uma vez. Serena. Calem.
Charlie.
Observava aquela liberdade da
janela, admirava uma jornada que com certeza sonharia, na esperança de ter a
sua. Suas asas ainda eram pequenas demais, mas ele conseguia ajudar alguém a
voar independentemente delas. Ninguém lhe tiraria duas coisas: sua imaginação e
seus sonhos.
E Kalos lhe dava a mão. Trilhavam
cada rota, sentindo a textura de cada pedra desgastada amontoada no canto; as
gotas das tempestades mais violentas que percorriam o corpo molhado; ouviam o
farfalhar da grama conforme surgiam as criaturas mais fascinantes que o mundo
jamais veria, que poderiam ser um conjunto de pixels programado para qualquer um que avistasse: mas em seus olhos
o mundo ganhava a proporção que quisesse. Os mundanos tornavam-se heróis e, as
criaturas, guerreiros. Os sonhos nunca eram bobos demais ou grandes demais,
eles sempre tinham espaço. O impossível estava a algumas palavras mágicas de
distância.
Os ecos do real, todavia, sempre
estavam presentes em sua cabeça. Abria os olhos às vezes e se lembrava de onde
estava. Os cantos mágicos das aves lendárias tornavam-se piados; os grilos,
buzinas; as batalhas que sempre teriam o final que desejasse tornavam-se
imprevisíveis e perigosas, e a espada em sua mão era apenas um simples lápis,
pequeno demais para ser apontado de novo.
— Acho que precisaremos nos
esforçar para o próximo capítulo. — disse, segurando com firmeza as mãos de sua
amiga Kalos. — Vou precisar de mais algumas semanas.
Até as mãos tão firmes afrouxarem.
— Kalos, vou precisar ficar na
escola até de noite. Estou estudando para o vestibular. Nos vemos no final de
semana, ok? — falou, vendo os olhos compreensivos da moça esboçarem um tímido
concordar.
…até quase soltarem.
— Kalos, eu não passei na prova. —
ele socou a mesa. A moça segurava seu ombro, tentando abraçá-lo, mas ele não
permitiu, enquanto as lágrimas correram pelos olhos. — Eu vou continuar preso.
Eu não vou aguentar, eu não quero fazer tudo de novo.
Ela o abraçou, e assim ficaram. Tentou
memorizar o rosto do garoto, pois já o via tão vagamente que quase esquecera
sua feição. Os olhos brilhantes pareciam opacos e cansados. Os cabelos
desgrenhavam-se em tufos sem brilho. Ele já tinha aquelas grossas olheiras? E
desde quando lhe crescia barba? Aquelas espinhas com certeza não deveriam estar
ali aos montes. A cada vez, mais distantes, ele parecia diferente. Ela jamais o
confrontou: respeitou e falou que aguardaria. Acreditava que ele voltaria.
E ele voltou, tempos depois.
— Eu consegui, eu passei! —
exclamou, parecendo reganhar as luzes em suas pupilas. — Será minha vez de
começar uma jornada.
Ela festejou junto. Esperaram por
esse momento havia muito. Mas as promessas pareciam se distorcer com facilidade
conforme percebia seus dias mudando. O sorriso de Kalos não perdia seu brilho,
mas começava a se desfazer. Cada vez que acreditava em algo, passava a se
perguntar se de fato aquilo se tornaria realidade:
— Kalos, estou meio ocupado, mas é
só agora no começo. — falou. — Assim que puder voltamos a planejar coisas, ok?
Ok. Ela concordou. E ele voltava.
Os dois tinham resquícios de seus melhores dias pelos lugares mais belos
daquele místico continente, mas ele sempre parecia meio distante. Interrompiam
a viagem por causa de bobas mensagens no celular. Ele sumia da mesma maneira
que voltava, em um piscar de olhos.
— Eu não sei se sou bom pra estar
aqui na faculdade, Kalos. — falou, um dia, desabafando. — E se aqui não é meu
lugar?
Ela já não sabia o que dizer. Kalos
conhecia lindas paisagens, mas não era capaz de lidar com aquilo. Ela já havia
dado todos os conselhos que conhecia. Não podia ensiná-lo a cozinhar, não sabia
como mostrá-lo a pagar suas primeiras contas. Ela nunca precisou lidar com o
perigo das ruas que não fossem as de Lumiose, e com certeza não podia
consolá-lo de um relacionamento que partira seu coração.
O garoto precisou buscar aquelas
respostas sozinhos, longe do mundo que tanto lhe ensinou. Por mais que
questionasse às vezes seus novos passos, acreditou talvez fosse seu lugar
aquele em que precisava estar. Ele olhava para Kalos e sabia que gostava
daquilo que ela ensinou, ele amava contar histórias. Ela era testemunha.
— Kalos, as pessoas compartilharam
uma história que eu postei. — ele falou, empolgado. — Olha quanta gente viu!
Ela sorriu e o parabenizou, mas
seus olhos escondiam algo distante. Havia outra história? Por que ninguém nunca
a reconheceu daquela forma? De repente suas belezas naturais e seus velhos
contos de deuses da vida e da morte pareciam história de criança que todos já
não queriam mais ouvir. Haos dizia assim dela em outros tempos, estampava com
orgulho a página de seu blog aos amigos. Dizia com orgulho que participava de uma
Aliança, que era um autor, um ficwriter...
...mas, nas últimas semanas, ela
parecia uma amizade boba do passado, daquelas que não se confessa sem
constrangimento.
— O que é esse arquivo “AeXY” no
seu computador? — indagava alguém.
— Ah, é um arquivo velho. —
respondia Vítor, fechando a tela. — Devo ter esquecido de deletar.
Até que os meses, e mesmo anos, se
passaram.
— Kalos, eu fui chamado para uma
pesquisa!
Passaram.
— Kalos, eu vou começar um estágio!
Passaram.
— Kalos, me convidaram para fazer
um filme.
Passaram.
— Kalos, conversei com minha mãe, e
agora voltamos a nos falar normalmente.
Passaram tanto que ela se tornou um
arquivo nas profundezas do virtual. Um blog que os mais saudosistas visitavam
de vez em quando, esperando por uma novidade, um sinal de vida do autor. A moça
sabia que eles tinham momentos de vez em quando. Uma anotação, um parágrafo
perdido. Um desenho esquecido na gaveta que nunca veria a luz do dia. Mas os
outros não sabiam.
Pelo menos naquela noite, em meio a
um turbilhão, ele voltou. A moça via seus perdidos olhos castanhos correndo pelos
prédios iluminados de Lumiose, balançando a colher de metal pela xícara de café
preto. O vapor subia até seu rosto, perdendo-se no alto ao se dissipar. Kalos
tocou-lhe os dedos, resgatando-o para o presente.
— Eu estou feliz que você voltou. —
murmurou a moça.
— Desculpa. — ele falou.
Fungou o nariz.
— Eu não queria ter colocado você
para trás assim.
Era difícil decifrá-la na penumbra,
parecia estar no único ponto escuro da cidade, onde os flashes já não mais alcançavam e os postes deixavam de iluminar. Ouvia
sua respiração pesada, quase mais alta que todos os ruídos orquestrais da
cidade.
— Você precisou abrir mão da nossa
jornada — Kalos preencheu o silêncio. — para começar a sua própria. Eu estou
orgulhosa.
Kalos se levantou e virou de
costas. Não havia mais Lumiose, não havia prédios ou Prism Tower, não havia os rostos borrados no fundo e os gritos dos
pneus atravessando o asfalto. Havia só um quarto escuro e um silêncio
ensurdecedor; só um par de olhos cansados e pernas exaustas demais para dançar,
rendendo-se aos joelhos.
Ela sentiu seu corpo ser abraçado.
Braços trêmulos envolvendo seu corpo, com tanta força, como se quisesse
entrelaçar-se com sua alma. E sentiu gotas escorrendo pelas costas, não de
chuva, mas dos olhos fechados do rapaz tocando sua pele fina.
— Você foi minha jornada enquanto
eu não podia ter uma. — falou ele, a voz falhando. — Desculpe se eu me esqueço
disso às vezes.
Kalos se virou de frente a ele e
retribuiu o abraço. Os olhos escorreram, inundaram. Como as duas crianças
perdidas e reclusas, sonhando com uma aventura que não poderiam viver,
procurando consolo em um mundo onde poderiam ser tão grandes quanto almejassem.
Onde poderiam ser todos e, ao mesmo tempo, um rosto anônimo e desconhecido,
escondido nas sombras de um arco-íris.
— Você sempre vai ser minha melhor
jornada. — gaguejou Haos.
Kalos se afastou e encarou seus
olhos fundos, onde os fantasmas translúcidos do passado já não mais habitavam,
e abriam espaço para a sóbria opacidade de uma criança livre ao universo, mas
que perdera aonde poderia se segurar nas quedas que lhe ameaçavam. Passou os
dedos com um carinho que já não encontrava há muito tempo e desenhou um fino
sorriso no canto da boca, tão verdadeiro que mais uma lágrima se formou. Ela
passou o dedo indicador, limpando.
— Não precisa ter medo que eu
desapareça. — sussurrou a moça. — Eu sempre vou estar aqui.
Ela deu-lhe um beijo na testa.
— Você cresceu tanto...
Algo em si gritava que ela estava
para partir. Instintivamente o moço segurou-a com mais firmeza. O sorriso se abriu
como o sol primaveril após uma noite de tempestades, trazendo a luz e o calor
para as almas perdidas. Era como segurar água, que escorria pelos dedos e
respingava pelo chão.
— Me desculpe. — reiterou ele,
abrindo um choro como há muito não fazia. — Desculpe, desculpe, desculpe.
Ela tocou seu lábio com o
indicador, pedindo silêncio. O garoto desabava. Com o passar dos anos
aprendemos a controlar nossos instintos. O choro era um deles. Mas, uma vez que
se abria aquela porta, era difícil fechar. Apenas a paciência e tranquilidade
de Kalos conseguia acalentá-lo para que sua ofegante respiração se
transformasse em uma inspiração de paz.
— Quando as coisas apertaram, eu
estava aqui. — disse Kalos. — Se elas apertarem de novo, eu continuarei aqui. Senti
que você precisava que eu te lembrasse disso.
Ele tentou segurá-la.
— Continue aquilo que nós começamos
— pediu ela, com palavras que nunca esqueceria. — E conte as aventuras que seu
coração pede.
Ele não se lembrava mais como era
ser aquela criança. Os pensamentos outrora tão vivos tornavam-se memórias de
alguém que não mais morava naquele universo. Por isso sempre estava diferente. Sempre que voltava ao seu mundo,
olhava tudo com novos olhos. Poderia não ser mais os olhos de uma criança que
queria sair em sua primeira aventura...
...mas talvez os olhos de um adulto
que, em meio a tantos caminhos, sonhava com a inocência e singularidade dos
primeiros passos; que queria se lembrar como era aquele trajeto que tanto fez
que até esqueceu da mágica. Como amava aquela terra. Como não poderia? Era sua
própria jornada que contava, eram seus sentimentos perdidos que ali estavam.
Eram seus sonhos abertos a quem tivesse paciência e coragem de ler.
Sabia que o mundo mudava. Os dias
se passaram com tanta velocidade que se arrependeu de um dia querer avançá-los.
Como odiou, no passado, aqueles que diziam que era horrível crescer. Seu maior sonho era crescer, parecia um
desperdício dizê-lo. Agora era ele que dizia aos céus que gostaria de ter
demorado mais para crescer. O crescimento é como uma flor se abrindo: parece
tão fluido que só percebemos que aconteceu tempos depois, olhando para o jardim
e pensando “faz tempo que isso aconteceu?
Passo aqui todo dia e esqueci de conferir”
Depois de um tempo, foi capaz de
compreender e entender. Com as grandes responsabilidades veio sua liberdade, e
com a liberdade lhe vieram as responsabilidades. Com a maturidade vieram as
incertezas, e com as incertezas veio a maturidade. Não era um ponto, mas um
conjunto de vírgulas, um amontoado de paradoxos e um eterno ciclo. Era essa a
beleza do viver: não chegar a um ponto, mas aproveitar a sua jornada, cada uma
das cidades, cada um dos amigos, cada uma das rotas.
Como em um
jogo.
Ele se transformou, mas não
abandonou seu eu antigo. Ele nunca saiu de lá. Apenas custava um pouco deixá-lo
falar às vezes. As memórias não sumiram, elas estavam vivas e quentes em seu
coração, em um lugar onde colecionava tudo com muito carinho. Era no passado que
se encontrava não as respostas do futuro, mas sim a coragem para procurá-las. Suas
histórias estavam todas lá, apenas aguardando para serem escritas. E ele queria
contá-las. Kalos mostrou isso. Ele precisava
contá-las.
Faltava apenas abrir os olhos, mas
permitiu-se ficar assim mais um pouquinho. Poderia voltar para aquele mundo quando
quisesse, não se esquecia. Poderia demorar. Mas ele sempre voltava, pois era na
fantasia de suas histórias que eternizava a verdade de seu coração. Quase
sentia sua pele brilhar, envolvida em um brilho prateado.
What?
CYNDAQUIL is evolving!
E abriu os olhos, pois ainda tinha
uma longa jornada pela frente.
Haos, faz tempo que não te vejo em local algum, e aí alguém só grupo fala que tu postou algo, e eu fui ver, fui conferir... É agora, terminei de ler.
ReplyDeleteDevo te dizer que eu comecei lendo o texto achando que fosse apenas um especial, com alguns personagens novos, que iriam ser apresentados formalmente depois. E então eu chego na metade, e vejo que não era só um texto. Era algo mais. E devo te dizer que, sinceramente, me emocionei ao ler, aquela emoção que faz algo chegar nos olhos, mas que não saem. Isso é raro, mas você fez ocorrer.
Eu li o texto e lembrei do que eu vi por aqui, lembrei do que você fez aqui. E eu descobri mais coisas lendo o texto. Como você ter outra história, a qual eu não conheço.
Ao terminar o texto, eu devo dizer que senti muitas coisas, e não sei expressar elas aqui. Então vou parar aqui o comentário, mas não antes de lhe perguntar uma coisa :
Haos, como você está? Como vai a vida? Já está resolvido?
Hey, Sir! Imaginei que poderia ser um certo choque trazer um capítulo assim, sem mais nem menos, depois de tanto tempo. Quando pensei no aniversário de Kalos de verdade, esse especial começou a esboçar na minha cabeça e resolvi tentar escrevê-lo. Fiquei com medo que houvesse uma reação negativa, porque é bem diferente de tudo o que já passou por aqui, mas senti que meio que devia isso, sabe? Aos leitores, aos meus companheiros da Aliança, aos meus amigos... Tem coisas que eu nunca conseguiria expressar em uma mensagem ou em uma nota - então, acatei o conselho da Kalos: escrevi.
DeleteAgradeço pela sua preocupação, mas está tudo bem, sim! Houve períodos mais caóticos, mais complicados, mas são capítulos naturais do crescimento. Sentimos as responsabilidades chegando, certos receios tomando forma, algumas coisas que não estamos acostumados... E acho que a parte mais difícil é quando percebemos que a vida não tem um manual de instruções e ninguém tem a resposta pra tudo. Eu gosto muito desse tema, gosto de escrever sobre isso, e foi interessante - e um tanto assustador - me colocar como protagonista. O especial representa justamente um momento de respiração em que se olha para trás e percebe quanto caminho já foi percorrido. Com o final do capítulo, a história continua, nada do que nos aflige some, mas os olhos já não são mais os mesmos. E sigo cada vez mais apaixonado pela jornada, de Kalos, e a minha.
Deixo um grande obrigado a você, não só pelo comentário, mas especialmente por estar sempre presente por aqui, incentivando. Como disse nas notas, os amigos leitores foram fundamentais para mim ao longo desses anos para sustentar Kalos, que é tão importante para mim. Obrigado, de verdade! Um abração e um feliz 2019!! :DD
É, menino Haos, 6 anos se passaram desde que você foi introduzido a essa pequena garotinha chamada Kalos... Lembro quando o blog ainda eram só notícias e os iniciais da região cobriam o header; Calem, Serena e Charlie ainda estavam sendo contratados para seus respectivos papéis. Rolava aquela insegurança, a ansiedade de entrar no palco e começar o espetáculo. Você traçou um longo caminho até aqui, e o show mal começou!
ReplyDeleteNo comecinho, fiquei curioso para descobrir quem era a menina, até você usar aquela ideia da personificação das regiões que me encheu de saudade! Nunca achei que você lembraria, pensei que fossem daquelas conversas perdidas em comentários aleatórios. Você me levou em uma montanha russa de sentimentos, de uma tremenda nostalgia até olhos esbugalhados por conta das dificuldades que nosso personagem têm passado. Kalos é o seu quarto, onde você pode ir e fazer tudo que quiser, se expressar como quiser; também é aquela velha companheira ansiosa para continuar sua viagem, a primeira que lhe ofereceu essa chance de sair em uma jornada pelo mundo. Obrigado por vir compartilhar isso conosco, com seus leitores, com ela.
Aqui tivemos Vítor, o ator principal. Pelo visto, Vítor tem tido uma vida difícil, com aquela pitadinha de fantasia que só uma história bem contada sabe oferecer. De lá para cá, tive medo de que chegasse um momento em que visse sua foto nos contatos e pensasse: "Esse aqui? Era parte do meu coração, mas agora é só rosto conhecido". Mas quanto mais o tempo passou, mais fui percebendo que isso não aconteceria. Acho que tudo isso já faz parte de mim. Quando eu penso no jovem Vítor, levando sua vida de cineasta lá longe, só me vem uma coisa na cabeça: Que orgulho desse menino! De quem ele se tornou, do que percorreu. Você, Haos, merece todo amor do mundo, e por mais que não possamos estar do seu lado nessa solitária jornada que é a vida adulta, estamos sempre nesse universo mágico e cheio de purpurina mandando boas energias.
Você deixou meus olhos marejados cara, foi uma surpresa das boas... É como aquele sentimento de ser recebido por uma festa surpresa depois que estamos velhsos, mas sem balões, convidados ou comida farta — só um bolinho, alguns bons amigos e amor. E não importa quanto tempo passe, continue olhando para trás, naquele arquivo antigo cheio de amor. E se esse amor está todo aqui, guardadinho, é porque você também sempre escreveu com o coração. Parabéns para vocês dois!
Cara, nem me fale dessas memórias... Lembro bem também dessa época em que os iniciais ficavam no topo, e éramos ainda "Aventuras em ???". Até aqui parece que passou rápido, mas ao mesmo tempo foi um caminho longo e cheio de aventuras.
DeleteFico feliz de ter resgatado aquele sentimento nostálgico das fanfics com seus gijinkas... Eu até comecei a ilustrar a Kalos, mas acabou que não ia dar tempo de finalizar a tempo... Ainda trago um desenho bonito pra esse capítulo, acho que merece!
Sou muito grato, Canas, não só por sua presença por aqui mas por tudo o que vem antes e além disso. Desde as menores dicas de escrita com Ethron até o companheirismo e amizade de um irmão mais velho. Fico muito feliz de poder compartilhar esse crescimento com você, e espero que ainda tenhamos muito chão pela frente, seja contando histórias, seja apoiando um ao outro.
Acho que parte disso era algo que eu precisava dizer a vocês, que eu sentia: o tempo acaba afastando, as coisas se transformam, mas no fundo a essência ainda é a mesma; continuamos todos querendo seguir nossa aventura em meio aos guerreiros e Pokémons. O carinho segue o mesmo, por mais que às vezes tenhamos inseguranças e dúvidas.
Por mais íntimo que fosse, sabia que seria especial àqueles que me conhecem há mais tempo... Fico feliz, então, que possa ter alcançado você(s) e que tenha gostado da surpresa. Obrigado por esses (mais que) 6 anos, Canas, e um grande abraço!
Uau, que capítulo legal! Sua construção é sensacional Haos, conseguindo fazer tudo fluido. Muito bom!
ReplyDeleteEu não sou muito boa vom comentários, mas eu gostei muito. Conseguiu me tocar, fiquei feliz.
Eu quero acompanhar Kalos. E eu sentia que não poderia fazer isso enquanto eu não jogasse e tivesse minha propria aventura. Joguei, me diverti, e acho que já estou pronta. Fico feliz ao ver que você não desistiu, e isso é inspirador. As vezes me sinto longe de MD(Mystery Dungeon), mas tento voltar para lá.
Não sou muito boa dando incentivos, mas boa sorte! :)
White, que bom vê-la por aqui!! Fico muito feliz que tenha gostado do capítulo, que tenha te envolvido e mesmo inspirado de certa forma. Acho que escrever isso foi tão especial pra mim que saber que te tocou me deixa mais agradecido que qualquer outra coisa que eu já tenha postado, sabe?
DeletePenso que deve entender, especialmente por também ter a fic de Mystery Dungeon com você. Por mais que às vezes nos afastemos, voltar é especial, né? Demorei um pouco pra perceber que nunca haveria um tempo 100% livre para me dedicar a Kalos, e sim que às vezes eu precisava abrir mão de outras coisas para escrever, porque eu gosto, porque são algumas horinhas de visita a esse mundo que me faz tão bem...
Sem pressões, mas será muito bem-vinda quando quiser acompanhar por aqui! Também quero muito passar em MD... De vez em quando dou um pulinho nos blogs do pessoal da Aliança para ver como andam as coisas, e vejo sempre uns desenhos muito bonitos seus na sua fic, espero logo poder dar uma conferida na história! Obrigado pelo seu comentário, White, e pelo incentivo. Significam muito pra mim! <3
confesso que eu não sei bem o que dizer. tu deixou uma escritora (e oversharer, como bem sabe q) sem palavras, que locura askdnçsdançsa e eu sei que geralmente faço comentario estilo 'anotando conforme lê', mas por algum motivo esse eu senti que queria que fosse assim. simplesmente fui lendo, deixando tudo acontecer....
ReplyDeletee, céus, que catártico. tenho certeza que foi uma catarse pra você escrever isso, e talvez eu não esperasse que fosse tanto pra mim ao ler, mas foi. tem tanta coisa aí que eu entendo, que sinto, que entendi recentemente.... foi realmente libertador
ah, amada kalos. ela sempre vai estar aqui, indeed, e isso é sempre reconfortante. talvez ela não resolva todos os problemas (uma pena né q), mas com certeza ajuda demais. segurar a mão dela com certeza te faz mais forte, e mais você mesmo. e é isso que importa :')
um fato curioso: hoje é niver da lina, a minha "primeira" protagonista (se contar por publicação, né, por escrever já tivemos outras antes, mas enf). achei interessantissimo que eu acabei iniciando esse dia lendo essa postagem. o universo tem seus alinhamentos, e nunca vou duvidar dele - porque ele sabe o que faz.
ah, eu realmente não sei mais o que falar. mas que venham nossas jornadas! que retomemos aquelas que importam, e também comecemos novas. estamos crescendo, afinal. estamos nos movendo. e isso é muito bom
AAAAAA você deve imaginar o quanto significa pra mim ter te deixado sem palavras, justamente por conhecê-la! AUSHDAUS
DeleteMeu coração ficou quentinho de saber que também foi uma experiência pra você. Como autora e como pessoa, sei que também tem um longo caminho e que com certeza compartilha de muita coisa parecida. Assim, saber que essas palavras puderam ter um significado para você me deixa feliz demais. A gente fala bastante sobre crescer, sobre amadurecer, e como isso reflete nas nossas histórias... Acho que foi a vez que mais direta e abertamente falei sobre isso, e é muito especial ver você lendo e compartilhando desses sentimentos comigo
E mdss como assim é níver da Lina?? O destino prepara umas "coincidências" (que pra mim não são só coincidências -q) que me fazem sorrir todo bobo. Com certeza vocês duas entendem muito bem tudo o que eu poderia tentar dizer ao longo desse capítulo.
Obrigado demais por estar sempre segurando minha mão, sempre mandando forças, ouvindo, incentivando... Mesmo quando as energias estão baixas, você sempre traz algo positivo - pra mim e pra Kalos - só sendo você mesma, sendo a amiga e pessoa incrível que você é. Obrigado por acompanhar cada passo até aqui. Que sigamos nossas jornadas com muita força de vontade, e espero que esses caminhos continuem se cruzando. <3
Poxa Shii, você falou que não é muito boa com comentários, mas me deixou com o coração muito quentinho... (e não é de hoje, eu sempre amo seus comentários!).
ReplyDeleteAcho que a parte mais gratificante é saber que essas palavras ajudaram você a entrar em contato consigo mesma, a pensar em sua própria jornada, suas escolhas. Eu queria muito que, por mais pessoal que fosse, os outros pudessem também se sentir contemplados de certa forma. O tempo passa para todo mundo, e acabamos amadurecendo com ele, das mais diversas formas. Todos temos altos e baixos nesse processo, medos e inseguranças... Faz parte.
Que felicidade saber que a Aliança teve esse papel em sua vida! Digo isso porque foi o mesmo comigo, mesmo antes de eu fazer parte. Foi o incentivo para que eu começasse a escrever, e veja como as coisas são hoje... Não sinta vergonha dos seus projetos antigos! Entendo muito bem o que sente, mas é exatamente o que disse: eles são fundamentais para que cheguemos onde estamos hoje. Confesso que também não toco muito nos meus, mas às vezes bato o olho e sorrio com a inocência e sensibilidade das primeiras páginas... Aprimoramos nossa escrita, mas devemos sempre dosar com aquele espírito aventureiro de criança.
Obrigado pelo comentário super querido, e por acompanhar minhas aventuras desde Ethron. Que possamos juntos continuar crescendo, como leitores, autores, e pessoas! <3
Senhor Haos. Que capítulo, hein?
ReplyDeleteEu não li mais que 5 capítulos aqui em Kalos (Ainda) e sou um pequeno novato entre os autores da aliança, mas lembro de você começando a escrever Ethron antes de eu sumir do radar da internet, quando eu ainda era da Arena Xw2, MAS CARA... QUE CAPÍTULO, HEIN?!
Sei bem como é a famosa vida de universitário, e espero que você possa dar uma respirada logo. Eu estou para terminar no meio desse ano e já decidi tirar 6 meses de férias, porque já fazem 3 anos que comecei a estagiar e desde então não tive férias. Durante as fases mais atribuladas do TCC, Kanto coitada fica parada também. Deve trocar altas ideias com Kalos. Mas é o que eu sempre digo cara: Não importa quanto tempo vai levar, eu vou terminar. Lendo esse especial acredito que você também tenha esse sentimento com AeXY.
Acho que a unica vez que nos falamos tenha sido para nos apresentarmos, mas espero poder trocar ideia com você mais vezes, querido sempai. Agora como um Haos Quilava, quero ver um avatarzinho novo.
Smell ya latter!
Killer, peço também desculpa pela minha demora.
DeleteCara, que nostalgia tive com o que você falou agora. Lembro da gente batendo papo pelo Xat da Arena naquela época, Kalos ainda nem estava perto de ser anunciada... Que legal que você também se lembra dessa época, fiquei com o coração muito quentinho com essa memória! HAUSDHASU
Fico feliz que você me entende... Imagino como deve estar sendo, tanto tempo no estágio e ainda TCC deve estar dando uma bela canseira. Serão merecidas férias, com certeza! Nesse meio tempo, Kanto pode fazer companhia para Kalos, coitada, que sempre acaba meio abandonada AUSHDUASH E sim, também tenho essa sensação: Ir de pouquinho em pouquinho, né? O importante é estar traçando esse caminho; continuar, mesmo que em um ritmo mais lento.
Obrigado pelo seu comentário super querido - é sempre muito bem-vindo pelas terras mais frias de Kalos! Um abração e agradeço por ter passado por aqui o/
Hey Shadow! Me desculpe pela demora, cara.
ReplyDeleteEu ri com sua comparação do capítulo ter vindo do nada AHSUDHASUH Eu achei até que o pessoal ia demorar pra ver, como nem tinha anunciado, nem nada. Mas, mesmo assim, vocês vieram aqui, e não tenho como expressar o quão especial foi vê-los lendo e tendo uma boa experiência.
Fico muito tocado, de verdade, que possa ter te ajudado, mesmo que um pouco, e que esse capítulo tenha feito sentido pra você. Eu agradeço, da mesma forma, pelas palavras que deixou pra mim. Elas significam muito, não só como um companheiro de equipe de longo tempo, mas como um amigo que me viu crescer por todo esse período.
Agradeço também pela paciência comigo. Não é sempre que vem capítulos, ou que eu apareço para bater um papo, mas com esse especial espero ter conseguido mostrar que isso não elimina o quanto vocês continuam com um espaço reservado no meu coração. Sei que vocês sabem, mas senti que mereciam que eu lembrasse disso. Vê-los discutindo suas ideias, postando seus capítulos, isso tudo me inspira. Acho que a melhor parte de sermos um grupo, ao longo de todos esses anos, continua sendo a troca de energias e incentivo entre todos.
Enfim, obrigado pelo seu comentário, Shadow, pelo carinho, e pode deixar que a Saga Y vai vir SIM e o pau vai quebrar SIM! HASUDHAUSH Semana que vem chego por aqui com capítulo novo, finalmente! Não vejo a hora!
Um abração!! õ//