Feb 25, 2023

Capítulo 39

OBS: Como faz um tempo entre a publicação dos capítulos, vale dar uma passada de olho pelo 36, 37 e principalmente 38 antes de ler esse, para que as coisas façam sentido!
CAPÍTULO 39
Curto-Circuíto

cur·to-cir·cui·to {s.m} 1. [Eletricidade] Fenômeno onde dois pontos com diferença de potencial são unidos por um condutor de resistência fraca. ; 2. [Figurado] Colapso imprevisto quando uma situação atinge seu ápice, provocando desorientação.


Mesmo à baixa iluminação do quarto, as luzes do lado de fora atravessavam a janela e tingiam o rosto de Diantha, que parecia pálido como a neve. Nem a claridade da TV sem volume pendurada na parede conseguia lhe conferir cor. Os olhos azuis de Serena cravavam em si, suplicantes, confusos, esperançosos, em um turbilhão de emoções e pensamentos, mistérios talvez finalmente esclarecidos. Os momentos de silêncio não foram tão longos, mas para as duas, teria cabido uma eternidade.
— O que disse? — indagou a Campeã.
Diantha deu alguns passos para trás, subindo a mão em que segurava o telefone do hotel.
— Garota, você está delirando. — disse, digitando.
Serena avançou, tentando tocar sua mão mas ela recuou.
— Mãe, eu…
— Pare de me chamar assim! — seu tom aumentou, preenchendo o quarto. — Eu não sou sua mãe!
A menina não deu sequer um passo para trás.
— Meu pai disse que você era uma treinadora formidável.
— Pare!

— E sua família te pressionou por esse cargo… Eu já cogitei que fosse você, mas quando relembrei sobre sua família… As coisas fizeram sentido, eu acho que…

Diantha a afastou, quase rugindo:
— Garota, eu nunca tive filhos. Nunca. Eu fui proibida desde jovem, até que me casasse. Eu me lembraria se tivesse tido algum.
As palavras se espalharam pela imensa suíte, reverberando pelas paredes e sendo consumidas pelo silêncio consequente. Serena congelou, caminhou para trás e voltou a olhar perdida para as ruas. Por alguns minutos, tudo parecia que tinha sido resolvido. Ela não admitiria, mas criou um apego na simples esperança de uma descoberta.
Porém, logo se viu novamente perdida no mesmo lugar, como uma das almas em meio a Lumiose, se misturando entre as luzes das inúmeras ramificações urbanas. Seus olhos se encheram de lágrimas, e ela desabou. Diantha foi pega de surpresa, embora custasse a tirar sua típica expressão de repulsa do rosto. Ouvia as buzinas, os motores; mas os soluços da garota abaixada em sua frente superavam qualquer ruído.
Ela já teria gritado por algum segurança, porém não conseguiu evitar sentir-se tocada por Serena. Sem forças, ela parecia menos uma ameaça. Diantha aproximou-se lentamente, também sem muita noção de como proceder. Avançou a mão e sentiu sua pele. Em seguida, gradualmente se moveu para um abraço. Um abraço frágil, de consolo, que ela não soube dizer de onde exatamente vinha.
— Me desculpe. — falou Serena.
Diantha passou os dedos pelos fios louros da garota, penteando-os.
— Eu achei que finalmente… — soluçou a garota. — Finalmente…
A Campeã olhou reflexiva para a cidade na janela.
— Está tudo bem. — disse, ensaiando tanto as palavras, mas nenhuma delas seria boa o suficiente. — Você… Você irá encontrá-la.
Diantha não era o tipo de pessoa que simpatizava com estranhos daquela maneira. Contudo, algo em Serena lhe chamou a atenção. Perdida nos próprios pensamentos e ainda sem uma resposta, deslizou os olhos para o televisor, encontrando uma notícia sobre três fugitivos aparentemente escondidos em Lumiose City. Engoliu em seco e largou a loura, dando alguns passos para trás. Serena fungou o nariz e encontrou novamente o olhar de Diantha assustado, com o telefone na mão.
— Você é… — murmurou ela.
— Por favor! Não!! — gritou Serena, avançando contra ela.
Diantha tentou se defender, enquanto o telefone discava.
— Me desculpe. — falou.
Serena tentou impedi-la, mas as duas tiveram um embate.
— Polícia, eu encontrei uma fugitiva…
Serena deu um tapa que fez o telefone sair voando pelo quarto. Diantha soltou um grito e, de prontidão, seus seguranças se dispuseram a entrar no quarto. Serena tentou trancá-lo, e a outra se afastou, contra a parede, lutando para se manter neutra.
— Eles já vão vir. Vão ver de onde eu liguei, e vão…
Novamente Serena ameaçava chorar. Dessa vez menos de tristeza ou desapontamento, mais de ira. Começou a andar para os lados, sentindo os sentidos se bagunçarem e consumirem, estando a um passo de colocar tudo a perder. Diantha havia deslizado até uma Pokébola sua guardada para o caso de precisar se defender, mas a outra parecia enfrentar algo maior dentro de si.
— Você não entende!! — gritou ela, para a Campeã. — Meu pai vai matar o meu amigo. Vai trancar eu e meu primo para sempre na nossa casa, e eu NUNCA mais vou ver a luz do dia. Eu vou me casar, e viver infeliz para todo o sempre!! Você NÃO entende!! — rugiu.
Diantha poderia não conhecer Serena, mas de certo poucas vezes alguém teve a oportunidade de ver a garota daquela maneira. As batidas na porta ficavam altas, os seguranças começavam a tentar derrubá-la. Os dedos suados da Campeã pressionaram a Pokébola com força.
— Eu entendo mais que você imagina. — murmurou a outra, lutando contra os pensamentos que lhe invadiram momentaneamente a mente.
— Se entendesse de verdade não estaria fazendo isso... — retorquiu Serena. — Sua família lhe aprisionou em um cargo, e você quer um destino igual para mim!!
Diantha sentiu um aperto. Um turbilhão passou pela sua cabeça, em seus olhos opacos as memórias de um passado perdido e de uma vida que ela nunca teve dançaram; brincaram. Ela e os dois garotos, correndo descalços pela grama; sua primeira captura; e o sombrio e fatídico dia em que tudo terminou quase que daquela maneira, sendo arrastada de volta para a fortaleza de seu lar, onde viria a se tornar a mais forte pela honra de sua família.
Ela não teve mais tempo. Disparou a Pokébola e Serena viu uma criatura ganhar o espaço. Tinha uma silhueta humana, um corpo suave que levitava e olhos sérios que examinaram e leram toda a mente de Serena em segundos. Era uma Gardevoir, espécie psíquica extremamente ligada às emoções dos treinadores. Diantha murmurou, segundos antes da porta desabar.
— Teleport.
Art by @arengarci
Serena piscou.
Quando abriu os olhos, não fazia a menor ideia de onde estava. Parecia uma rua vazia. Seu coração ameaçava sair pela boca de tão acelerado, as mãos e pernas tremiam tanto que ela se abaixou e respirou todo o ar que conseguiu em seus pulmões, como se tivesse acreditado que nunca mais poderia fazê-lo. Levantou o olhar, e viu a moça à sua frente olhando para as estrelas que um dia esqueceu que existiam sob sua cabeça.
Apenas a respiração ofegante de Serena cortava a quietude do momento. Contudo, Diantha deu alguns passos, ainda com a cabeça alta.
— Talvez você, afinal, tenha me dado uma resposta que procuro há muito tempo.
Diantha tocou sua Gardevoir. O Pokémon não esboçou reações, mas era capaz de saber exatamente o que passava na mente de sua treinadora. Era alguém que acompanhou toda a sua trajetória ao longo dos anos, cada nuance e emoção que cruzou sua cabeça. A Campeã olhou para trás uma última vez.
— Fuja, e não deixe que te capturem. — disse. — Ou vai ser o fim.
— Para onde você vai? — inquiriu Serena, se levantando.
Diantha tornou a fitar as estrelas.
— Talvez eu a entenda mais que você imagina. — repetiu.
E logo sua imagem tremeluziu às sombras da noite, enquanto Gardevoir concentrava seus poderes psíquicos em um novo teletransporte, deixando Serena sozinha pela noite de Lumiose.
♠ ♣ ♠
Os pés de Charlie se mexiam nervosos no chão gasto, como se estivesse descalço no asfalto quente. Ele não conseguiu subir o olhar e encarar Marc; escondia as mãos vazias atrás das costas, suando frias, os dedos tamborilando entre si. O cheiro da fumaça do cigarro invadia as narinas e lhe dava náuseas – como se já não estivesse suficientemente nauseado naquele dia. Sem pressão, o irmão recostou-se na cadeira, soltando a fumaça pela boca.
— O que você pegou, Charlie?
Alguns segundos de silêncio já haveriam sido resposta suficiente. Um arrepio correu seu corpo como um choque.
— Nada. — respondeu, por fim.
Marc não mudou de expressão. Levantou-se e caminhou pela salinha, os passos vibrando nos ouvidos de Charlie, que continuava com os olhos no chão. Marc subitamente o agarrou pelo braço, e ele foi tomado por um imediato medo, ouvindo sua voz hipnotizante no pé do ouvido em um tom grave e ameaçador sem que o mesmo sequer fizesse esforço.
— O que tá acontecendo com você? Hein?
Charlie se desprendeu de sua mão, finalmente o encarando.
— Eu sei que foi você. — disparou. — Onde a Emma tá?
Marc congelou por curtos segundos, mas formou um fino sorriso, soltando uma risadinha. Charlie foi consumido no mesmo instante por uma fúria interior que bagunçou seus instintos, fazendo-o disparar um soco em direção a Marc. Os dois segundos de impensada coragem lhe pesaram no mesmo momento, quando percebeu que dar asas à sua vontade foi uma decisão estúpida.
Dois rapazes da gangue de imediato partiram para cima de Charlie, o imobilizando e derrubando. O garoto levou um soco no estômago que o deixou transtornado. Marc colocava a mão sobre o rosto ferido, encarando seu par de óculos escuros no chão, imerso em cólera.
— FICOU LOUCO? — gritou para o mais novo.
Marc se levantou, como se nada tivesse acontecido. Colocou os óculos e, logo, estava mais uma vez impassível, neutro em suas expressões. Sentou-se novamente, deu batidinhas no cigarro e tragou.
— Eu sabia que tinha alguma coisa estranha no sumiço dela. — murmurou. — Não acredito que tu mentiu pra gente.
Charlie tentou levantar o olhar, resgatando o oxigênio que lhe restava, fuzilando-o com os olhos.
— Você…
— Eu to cagando pra ela. — interrompeu Marc, soltando a fumaça em uma longa baforada. — Mas, seja lá o que aconteceu, bem feito. Aqui não tem lugar pra covarde.
Charlie abaixou a cabeça, sentindo ainda a dor aguda confundindo seus sentidos, impedindo-o de responder por si mesmo. Cerrou os punhos e encostou a testa no chão frio, deixando escapar quase que um pedido de socorro.
— Eu não quero mais fazer isso, Marc.
Levaram alguns segundos para que o outro novamente se levantasse. Com o pé, empurrou Charlie no chão, fazendo-o cair sentado. Puxou-o pela gola e o mais novo conseguiu ver de relance os olhos do outro por detrás dos óculos. Estavam diferentes, mas por essência ainda eram como Charlie se lembrava deles. Pareciam esconder, por trás da fúria, o mesmo medo de sempre.
— Você não tem que querer.
♠ ♣ ♠
Por que existe tanto medo do escuro?
Talvez o medo não seja propriamente da escuridão, e sim de não sabermos o que existe nela. É quando não podemos mais confiar em nossa visão para alertar se estamos presos em uma solidão sem fim, ou cercados por nossos maiores temores.
Charlie moveu as mãos, mas sentiu uma corda apertando os punhos que o impediam de movimentá-las. O corpo também pouco foi capaz de se movimentar para além da posição sentada em que estava. O breu era total, não conseguia sequer encarar seu próprio corpo. Em um silêncio absoluto, ouvia os próprios soluços desesperados e o coração batendo com velocidade.
Absorto por sua impotência, os curtos minutos de sua solidão no nada se estenderam por um torturante tempo incógnito. Até que gradualmente fosse capaz de distinguir passos em alguma direção e, talvez, o silêncio e a solidão soaram quase que como uma saudade, temendo o que estava por vir. Ele sabia o que era; lutou por muito tempo para evitar aquilo.
Uma porta se abriu às suas costas e uma réstia de luz preencheu momentaneamente o cômodo. Era uma pequena sala, parecia um depósito, muito menos horripilante que sua própria mente pintava. Contudo, os passos ganharam volume em sua direção, em um sádico prazer da dúvida. O garoto relutou para se virar, tentou disparar frases, porém tinha a boca amordaçada. Uma luz acima de si foi acesa, velha e empoeirada, que estalou por algumas vezes em uma falha, trazendo curtos relances da figura em sua frente.
— Eu avisei.
Seu irmão cruzou os braços, encostando em uma cadeira em sua frente. A lâmpada lhe atingia diretamente, criando uma sombra que àquele ângulo se desenhava como um personagem de filme de terror. Por trás dos óculos, os impassíveis olhos de Marc fitavam Charlie em um momento que ele aguardou por muitos anos, principalmente depois do reencontro da última estada em Lumiose.
— Eu poderia dizer que você até que tem um pouco de coragem. — disse Marc, cruzando os braços. — Mas aposto que foi só burro, mesmo. Porque covarde você deve ser até hoje.
Ele caminhou pelo cômodo.
— Charlie… Charlie…
Repetia o nome como uma melodia, a própria palavra perdia seu significado na repetição constante e ensaiada. O outro tentava se mover, mas não podia. Era inútil. Seu irmão o tinha aonde queria e ele podia ao máximo ser um espectador de sua própria desgraça.
— Eu avisei que você não deveria ter voltado.
Charlie se manteve em silêncio. Seu irmão puxou com cuidado a mordaça, permitindo que o garoto voltasse a sentir a dor nos lábios ao poder tentar falar novamente. Marc se aproximou; o cheiro de cigarro era um dos traços que marcava a figura de seu irmão as últimas memórias que teve. Só isso seria suficiente para fazer Charlie se arrepiar – quando alguém fumava perto dele, às vezes seu coração disparava só pela recordação.
Estava tudo igual, era exatamente assim que visualizava que as coisas terminariam, caso o pior acontecesse. Charlie forçou os olhos cansados contra ele.
— Você se tornou o nosso pai. — cuspiu as palavras. — Pior que ele.
Sentiu os dedos de Marc sobre sua pele – como se estivesse escolhendo onde iria provocá-lo, sentindo o hálito quente na contraluz.
— Eu me tornei o que eu precisei me tornar.
— BESTEIRA! — rugiu Charlie.
O outro o empurrou, a cadeira ficou balançando. Marc tomou alguns segundos para recuperar a respiração. Colocou-se de costas, já não era mais possível ver seu rosto, apenas olhar a sombra que fazia na parede do pequeno depósito, tomando proporções assustadoras com a lâmpada pendurada balançando.
— Tu deu sorte. — balbuciou. — Sorte de ter sobrevivido, sorte de ter encontrado esses riquinhos.
Marc pegou um cigarro e o acendeu, mesmo no cômodo fechado.
— A gente era uma família.
Charlie balançou a cabeça.
— Aquilo não é uma família. — falou, baixinho. — Ninguém deve ter medo da própria família.
Marc o pegou pela gola da camiseta.
— Você não sabe o que eu já fiz pra te defender.
Encarou os olhos confusos e suplicantes de Charlie quase desistentes e sem rumo, só querendo que aquele pesadelo acabasse. Marc ainda se lembrava do garotinho indefeso que era seu irmão e de cada capítulo que enfrentaram. Naquele reencontro, não havia mais o passado.
— Você é um traidor, Charlie. Um traidor das pessoas que te acolheram. E alguém que traiu a confiança do próprio irmão.
Silêncio.
— Mas foda-se. — balbuciou o irmão, em um tom nervoso. — Tu fez tuas escolhas. Agora vai arcar com elas.
E se preparou para apagar a luz acima de suas cabeças.
— Quando você veio aqui, a cabeça dos seus amiguinhos valia bastante. Mas agora… Agora elas valem uma fortuna. E até a sua. Quem diria que alguém iria procurar por você além de mim.
E Charlie se viu novamente no escuro. Rugiu, enquanto ouvia uma porta se abrir atrás de si e seu irmão se preparar para deixá-lo.
— Deixa eles fora Marc, eles não fazem parte disso. — se tentou usar um tom de ameaça, soou mais como um pedido.
Ele poderia ter visto um sorriso no rosto do irmão.
— Eles não são parte disso, Charlie. — falou, fechando a porta.  Eles são o todo..
♠ ♣ ♠
Enquanto Serena procurava algo para comer no frigobar, sentiu os olhos de Calem em si. Ela ignorou, improvisou um café da manhã, enquanto o outro tomava uma xícara de café escuro, fitando a janela embaçada e suja do hostel – a vista era reduzida, ao redor havia vários outros prédios, mas pelo menos conseguia espiar as nuvens grossas de chuva se formando no céu.
— Por onde você andou ontem de noite? — indagou Calem. — Fiquei preocupado.
Serena não o olhou nos olhos.
— Não precisava se preocupar.
Calem precisou de alguns momentos de silêncio para entender que aquela era a resposta completa. Suspirou, tenso.
— Serena, entendo que esteja passando por muitas coisas. — murmurou, com o olhar caído. — E retornar aqui é… Bem, sem palavras… Mas você precisa… Precisa ser sincera comigo. Por favor.
Serena largou as coisas nas mãos e sentiu a pressão sobre os ombros.
— Eu achei que tinha encontrado ela, Cal.
Quando falou isso, o controle começou a se esvair. Soluçou, e Calem imediatamente largou sua xícara de café e tentou se aproximar. Ela estendeu uma mão o impedindo e pareceu engolir qualquer coisa que estivesse presa na garganta, como se insinuasse que não precisava de ajuda. Ele estava arrepiado. Não sabia exatamente do que ela estava falando, mas ao mesmo tempo tinha noção o suficiente.
— Cadê o Charlie?
Aquela era a pergunta que Calem se fizera a manhã toda. Quando Serena chegou ao quarto, seu primo estava sozinho. Ele não apareceu a noite toda, mas ela tinha suas preocupações próprias. A situação estava tão tensa que o rapaz sequer ousou perguntar a ela antes o que poderia ter acontecido. Quando foi que pensou tanto antes de conversar honestamente com sua própria prima?
Calem apenas acenou negativamente com a cabeça.
— Estou com medo que algo tenha acontecido.
Após alguns momentos de pausa, voltou-se a ela.
— Você encontrou com ele ontem?
Serena respirou fundo. Sua última imagem era do garoto sair correndo do escritório do detetive, sem rumo em direção às ruas de Lumiose.
— Precisamos ir a um lugar. — disse ela.
♠ ♣ ♠
— O que cê tá fazendo, Charlie?
O garoto congelou no mesmo segundo com o susto, mas soltou um suspiro de alívio quando reparou que na penumbra quem o encarava não era Marc. Continuou jogando seus poucos pertences em uma mochila velha e gasta. Seu Pancham estava próximo, em estado de alerta. O outro se aproximou, sussurrando.
— Onde você vai?
Charlie não conseguiu encará-lo.
— Eu vou embora, Ludovic.
O garoto não soube exatamente como reagir. Só lhe ocorreu uma coisa:
— Teu irmão…
Charlie parou de guardar as coisas. Naquela escuridão, Ludovic não conseguia vê-lo direito; mas não precisava. Havia um terror claro em tudo, em sua voz, em seus gestos apressados.
— Eu sei. Não conta pra ele. Por favor.
Seus olhos verdes suplicavam, encarando-o tão no fundo em um pedido talvez grande demais. Ludovic olhou para os lados, agora sendo consumido pelo medo.
— Pra onde?
O outro colocou a mochila nas costas e acenou para seu Pokémon.
— Qualquer lugar.
Deu um abraço em Ludovic. Não durou muitos segundos, mas foram intensos o suficiente – muito provavelmente seria um adeus; a partir dali, seguiriam diferentes rumos com seus próprios riscos que poderiam tranquilamente impedir qualquer reencontro. Mas ali, Charlie tomava uma das decisões mais importantes de sua vida, em todos os aspectos.
Caminhou tentando emitir o menor dos ruídos possíveis, o coração quase parando a cada passo. Não sabia se a cada segundo estava mais perto de sua salvação ou de sua sina. Às vezes nos apegamos a um pequeno estímulo de coragem para decisões fundamentais. Quando conseguiu deixar o casebre, acelerou o passo, esgueirando-se entre as sombras dos becos de Lumiose onde nenhum rosto conhecido o encontraria.
Sentia-se mais uma vez perseguido; o monstro estrava atrás de si. Mas Charlie corria. Aos poucos, conseguia ver as luzes brilhantes de Lumiose em uma madrugada turística, as pessoas saindo das festas em uma área movimentada da cidade, onde ainda havia bares e boates abertos àquela hora. Corria, e aos poucos tinha um vislumbre de estar com Emma dançando pelas ruas da cidade, brilhando como a Torre.
Mas, desta vez, efetivamente livre.
Quando o Sol começou a nascer e a tingir os céus, ele já estava distante. Com um mapa amassado em um panfleto de algum estabelecimento da cidade, ele se guiava; mas, como dizia um antigo ditado: para quem não sabia para onde ir, qualquer caminho serviria.
E assim foi.
Sem rumo, em um misto de fuga de um passado que sempre o perseguiria e uma busca de si mesmo sem ao certo saber como encontrar, esteve desde as ondas quebrando no litoral às montanhas gélidas do interior. Rumava por dias a fio, mas seus instintos da Lumiose Gang o ajudaram a sobreviver. O que não sabia, aprendeu da pior maneira.
Com o passar dos meses e, mesmo, poucos anos, Charlie conseguiria afastar a imagem de Marc de sua cabeça. E mesmo de seu pai. De Emma, da gangue. Ele nunca saberia o que era efetivamente a liberdade; a vida dos treinadores que observava nunca seria a sua; porém, certamente começou a encontrar algo que não era perfeito, mas suficientemente uma paz que nunca pensou ser capaz de alcançar.
Se não pela tensão que seu passado lhe trazia, ele sentia-se mais leve. Era como começar de novo, sentindo o ar fresco lhe trazer as aventuras que um dia sonhou e, talvez, estivesse na hora de ter um vislumbre. Foram anos de aprendizado, às vezes de um aprendizado difícil – a solidão não o ensinou a lidar com seus traumas, mas de como impedir que eles o travassem.
Seu irmão passou muito tempo tentando lembrá-lo de quem ele era. E Charlie passou mais tempo ainda tentando se esquecer.
♠ ♣ ♠
Marc entrou mais uma vez na salinha. Charlie se encontrava em uma dicotomia: sozinho no escuro, as memórias lhe consumiam e os medos abstratos tomavam as formas que quisessem para assustá-lo – mas, por pior que fosse, quando seu irmão abria a porta e entrava, os temores tornavam-se concretos. O sorriso de Marc e seus óculos escuros eram sempre uma incógnita. Entrou e saiu tantas vezes que a dúvida era apenas parte da tortura. O irmão jamais o daria o prazer de acabar com tudo de uma maneira simples e rápida; ele queria vingança, e o faria da maneira mais apropriada possível.
Quando se sentou na frente de Charlie, murmurou:
— Gostou daqui?
Charlie estava com o rosto acabado; nos últimos dias, não conseguiu descansar. Não sem acordar no meio da noite tomado por pânico, apenas contando os segundos que restavam para Marc encontrá-lo.
— Onde a gente tá? — indagou, suplicante.
A pergunta fez Marc abrir um sorriso quase infantil, todo pintado pelo amarelo da lâmpada velha pendurada no teto. Levantou-se fazendo um estrondo na cadeira.
— Vai se surpreender. — comentou, caminhando. — Chega de ficar no escuro. Chega de becos, salas fechadas, prédios abandonados…
Abriu a porta atrás de Charlie e abriu os braços.
— Cansei, porra. Hoje a gente vai ser parte da Cidade Luz.
E, com ajuda, virou a cadeira de Charlie para que o garoto pudesse olhar para fora. Após segundos de uma tensão, o ele ficou momentaneamente cego pelo contraste de luz. Seria dia novamente? Quanto tempo esteve preso?
Mas não. Era noite, e aos poucos os feixes luminosos se mostravam inúmeros pontinhos em uma malha que não terminava, aonde quer que seus olhos explorassem. Muitos e muitos metros abaixo, Lumiose o observava, sem ter a menor ideia do que ocorria àquela distância. Charlie nunca esteve tão alto. Seu corpo foi tomado por uma vertigem, enquanto Marc o arrastava de volta ao cubículo escuro de seu cativeiro.
— Bem-vindo à Prism Tower!
Foto extraída daqui
♠ ♣ ♠
— É isso mesmo, Diantha, A Campeã de Kalos, e uma das modelos e atrizes mais bem-sucedidas de todos os tempos está desaparecida. Após fazer uma denúncia, ela simplesmente sumiu dentro de seu quarto de hotel. Supõe-se que os criminosos que ela falava no telefone podem estar associados…
A batida na porta fez com que o homem desligasse a imensa televisão de plasma. Desenhou um sorriso, largando o sofá e deixando sua xícara de chá quente em uma mesinha de centro. Caminhou a passos lentos pelo apartamento, até chegar e abrir a porta. Lysandre ficou parado, vendo a expressão séria da moça em sua frente. Diantha trazia consigo uma mala cheia e um par de olhos vazios.
— Eu aceito. — falou.
O ruivo abriu espaço, estendendo as mãos para dentro de seu apartamento.
— Seja bem-vinda, minha amiga, ao Team Flare.
♠ ♣ ♠
Enquanto vagou sem rumo, Charlie experimentou um pouco dos mais distintos lugares de Kalos. Mas, de todas as cidades em que esteve, Laverre foi uma de suas preferidas. Por diversos motivos especiais. E, mesmo sem eles, o garoto admiraria aquele lugar. Ouvira muito sobre o misticismo daquela área e, por mais que achasse tudo ridículo, não evitou se contagiar pela aura que parecia ser emanada de todo aquele espaço. Ainda que fosse uma cidade relativamente grande, mais parecia um vilarejo em sua energia e na tranquilidade com que os habitantes interagiam.
Era final de tarde. O sol tinha um tom alaranjado, entrava pelas janelas daquele chalezinho retirado. Charlie dava passos sutis pela grama, deslizando os olhos pelos lados, mas não havia ninguém que o avistasse. As portas e janelas estavam escancaradas, como era muito comum pela cidade. Se esgueirou pela porta dos fundos, caminhando com tanta leveza quanto a brisa que soprava àquele horário.
Antes que cometesse um de seus furtos, ficou admirado com o lugar. Não era grande, nada do tipo. Era bem humilde, mas tão aconchegante que se sentia aquecido só de estar entre aquelas paredes e aquele teto baixo. Charlie não entendia exatamente o sentimento de “estar em casa”, pois em seu passado tal contexto nunca foi aconchegante – mas aquele lugar lhe dava uma boa dimensão.
Recuou um passo quando ouviu alguém vindo do cômodo ao lado, uma pequena sala. Ele olhou por trás do batente da porta e avistou uma moça, não deveria ter muito mais que quarenta anos, e era bela, muito bela. Tinha cabelos claros presos em um coque, mas alguns fios lhe caíam pelo rosto. Ainda assim, ela parecia abatida, tossia com uma tosse tão profunda que parecia tentar expulsar sua alma para fora do corpo. Ele correu para ela e lhe tocou as costas.
Em seguida, voltou à cozinha e pegou um copo de água, oferecendo-lhe. A moça sequer questionou, apenas tentou beber. Ele a acalentou segurando em seus ombros, abaixado. Gradualmente sua tosse foi cessando, e ela conseguiu inspirar o ar com aroma das árvores de Laverre. Algum pássaro cantava do lado de fora.
Ela tocou o peito e fechou pálpebras. Estava pálida, as olheiras lhe contrastavam os olhos. Ainda assim, ela lhe encarou com belos olhos azuis, agradecida.
— Obrigada.
Ele abriu um sorriso. Ela coçou a cabeça.
— Como você…?
Charlie sentiu um calafrio naquele momento. Nada mais ético que assaltar uma moça doente.
— Eu ouvi a tosse. — mentiu. — Vim ver se precisava de ajuda.
Ela abriu um sorriso acalentador.
— Obrigada. De vez em quando eu tenho uma crise.
Ele foi até a cozinha e lhe trouxe outro copo.
— Aqui. Água.
— Desculpe pela preocupação. — falou ela.
— Não foi nada. — murmurou ele, se levantando, um pouco sem jeito. — Bem, vou indo então. Quer que chame algum médico?
— Não precisa… Eu estava montando a mesa do chá. — disse ela antes que ele saísse de lá. — Aceita alguma coisa?
Charlie parou.
— Não, imagina, não quero incomodar.
— Você mora aqui?
— Bem, é uma longa história. — falou, os braços se movendo tímidos. Olhou ao redor, a casinha acolhedora lhe abraçando. — Talvez eu aceite o chá.
♠ ♣ ♠
Os olhos de Calem já estavam cansados de encarar o Observador indo de um lado para o outro da sala, batendo os sapatos escuros no piso velho. Serena acariciava o Espurr que dormia pelo escritório. As horas passavam e as perguntas seguiam pairando no ar, sem qualquer sinal de solução.
— De onde vocês se conheciam? — indagou Calem, cortando o silêncio.
O Observador parou na mesa abandonada, encarando um porta-retratos.
— Ele vinha aqui sempre. Ele e a Emma eram… Muito grudados. Depois parou de vir um tempo. Até ela…
O silêncio foi suficiente para concluir a frase. O homem colocou a foto de volta.
— Ela foi como uma filha para mim.
Os primos se entreolharam.
— Eles conheceram um pouco do pior dessa cidade. — murmurou o homem, e agora já não era possível dizer se ele conversava exatamente com os dois, ou sobre o mesmo assunto. — Às vezes não sabemos que histórias sombrias se escondem ao nosso redor, mesmo em um lugar tão belo quanto Lumiose.
Ele balançou a cabeça.
— Vocês acham que pode ter sido a antiga gangue responsável pelo sumiço do Charlie?
Os dois ficaram quietos, com medo de responder em voz alta e admitirem a possibilidade de que seu maior medo se concretizasse. Ainda assim, assentiram tristemente em consonância.
Com um estrondo, a porta do escritório se abriu. Todos tomaram um susto, mas respiraram com um mínimo alívio ao verem a figura de Sycamore e de Ashley adentrando o cubículo, como se estivessem conversando e decidissem fazer uma visita. Ainda assim, a expressão dos dois não indicava qualquer cortesia, e sim o profundo terror de quem acabara de encontrar um fantasma.
Pardon pela interrupção, havia recebido a mensagem e estava a caminho o mais rápido que pude. — disse o professor, estendendo um Holo Caster. — Não, eu não sabia sobre o Charlie…
Ashley deu um passo.
— Mas sinto que temos uma resposta.
O Professor estendeu o aparelho e um holograma transmitia as notícias. Os primos sentiram um frio na espinha, com medo. Todos os canais durante o dia ficaram noticiando o suposto desaparecimento de Diantha; mas, naquela hora, era uma nova reportagem. A música indicava que era uma notícia urgente. Um helicóptero sobrevoava a Prism Tower, com uma multidão em volta. Serena conseguiu ler: Atentado à Torre Prisma.
Um homem sem rosto apareceu na tela. Sua voz era distorcida, parecia um robô com um tom assombroso, ditando tais palavras como uma sentença sem emoção:
— Cidadãos de Lumiose. Moradores de Kalos. Estamos no controle da Prism Tower, junto de diversos reféns. Qualquer tentativa da polícia de invadir ou tomar a Torre, pode acabar em uma tragédia, e não queremos isso. Não queremos machucar ninguém. Temos apenas uma exigência, que acreditamos ser de mútuo interesse da população.
O coração dos primos quase parou.
— Estamos com Charles Stuart, membro da gangue responsável pelo atentado em Vaniville Town. Calem e Serena Windsor, para preservar seu companheiro, compareçam à Prism Tower sozinhos e desarmados em oito horas. Ou o companheiro de vocês enfrentará as consequências.

    

5 comments:

  1. Depois de tanto tempo sem capitulo, chegamos aqui! Com estas personagens tão amadas já nos seus traumas kkkk

    Eu vou admitir, que não reli os capítulos anteriores, mas à medida que fui lendo este capitulo, inúmeros detalhes que já não me lembrava voltaram à memória. E só tenho a dizer:

    O QUE FOI ISTO?
    EU TREMI! NÃO FAÇA ISSO COM CHARLIE AAAAA
    JÁ ESTOU COM MEDO DO QUE VAI VIR NO 40.

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    1. AISDJASH Aii eu imaginei que iam ficar várias coisas pairando por conta desse hiato todo... Por isso dei uma empenhada pra poder trazer os próximo capítulos seguidos e não deixar isso acontecer de novo :') Mas que bom que mesmo assim conseguiu arrancar umas surpresas!! Os próximos vão ser de arrepiar!

      Até a próxima, Shii!!

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  2. cê acredita que A LUZ CAIU assim que abri esse cap?? incrível seu poder qq (xinguei cinco gerações de todos os funcionários da light por uns bons minutos, mas pelo menos voltou rápido)
    enfim, muito bom ser a leitora doida que releu esses caps pelo menos umas duas vezes no meio tempo de publicação, pois dei risadinhas com a obs qq
    ngl eu acho que a serena tá delirando com essa conclusão, mas quem sabe a diantha tem alguma pista chave pra apontar ela na direção correta?
    man, tudo a família dela regra, mesmo como ela conduzia suas relações, não é a toa que a serena se vê nela
    Ela não admitiria, mas criou um apego na simples esperança de uma descoberta > oh, we always do. depois de tanta procura, qualquer possibilidade de resposta a gente se segura assim
    adoro que em algum momento ela considerou a serena uma ameaça. a serena. olha pra ela sabe. miga pfvr q
    me surpreendi que ela ainda sabe como abraçar ngl, e realmente magia da serena que até o coração dela se compadeceu q
    mds lumiose NÃO TEM MAIS O QUE FAZER NÃO i mean claro que não MAS MDS PQ TÁ PASSANDO OS POBIS NA TV i mean eu sei um poderoso como o pai dela comanda tudo MAS PLMDDS
    E DIANTHA PUTA QUE ME PARIU VIU, MEIA HORA DE SOCO SEM AMIZADE NENHUMA, QUE TIPO DE SER SEM CORAÇÃO OLHA PRA ESSA CARA DE CRIANÇA E PENSA “NOSS TOTAL DEVE SER PERIGO” EM VEZ DE “PUTZ DEVE TER ALGO DE ERRADO NESSA TRETA, XO TENTAR AJUDAR ESSA GAROTA”
    Eu entendo mais que você imagina > ENTÃO PQ NÃO AJUDA VAGABUNDA PUTA MERDAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
    grazadeus deu uma crise de consciência no último milésimo de segundo (MAS CÊ AINDA TÁ NA MINHA LISTA SUA BROACA EU VO PESSOALMENTE DAR UNS TAPAS NA TUA CARA)
    a gardevoir also >: lenda iconica sempre
    (e fiquei curiosah de pra onde ela foi, talvez entrar em contato com amizades antigas?)
    enf leria mais cinco cenas da diantha sendo uma anta insensível antes de passar por isso de novo. ô deus. not ready at all for more charlie memories (e aqui ainda tocando valley of the dolls kkkkkkkkkk me jogando da ponte)
    MDS BICHO FOI ELE QUE FERROU A EMMA??? MDS FILHO DA PUTA TU NÃO SE CANSA DE DESTRUIR NÃO, COMO É QUE PODE QUE VIROU PIOR QUE O PAI
    ah okay não foi. não muda o que eu falei tho q
    Pareciam esconder, por trás da fúria, o mesmo medo de sempre > oh dear, have u looked in the mirror lately? u just became what you feared most
    É quando não podemos mais confiar em nossa visão para alertar se estamos presos em uma solidão sem fim, ou cercados por nossos maiores temores > helloooooooooo eu nem sei qual é pior mds
    eu vo concordar com ele que não deviam mesmo ter voltado pra lumiose, e ninguém queria mesmo, de coração q (mas esse inferno de cidade tem que estar no centro de tudo!! NEM MERECIA, CIDADE FEIA E CHATA DA PORRA)
    — Você se tornou o nosso pai. — cuspiu as palavras. — Pior que ele. > OBRIGADA CHARLIE EU PRECISAVA QUE ALGUÉM ESFREGASSE ISSO NA CARA DELE probs cê vai morrer agora mas valeu a pena obrigada qqq
    QUE FAMÍLIA, SEU PERTURBADO, PRA TER FAMILIA PRECISA TER ALMA E A TUA TU VENDEU
    Um traidor das pessoas que te acolheram > oh boy, this doesnt make me feel good >.>
    kkkkkkkkk FUCK ele vai direto entregar numa bandeja pro stefan, fudeu
    meninos que bom que cês estão num confortavel café da manhã, agora PLMDDS DEEM FALTA DO CHARLIE E SE TOQUEM QUE DEU RUIM
    E retornar aqui é… Bem, sem palavras > MELHOR DEFINIÇÃO NUNCA VAI TER
    Quando foi que pensou tanto antes de conversar honestamente com sua própria prima? > não pra ser a EU TO DIZENDO EU TO AVISANDO mas plmdds gente SENTEM E CONVERSEEEEEEEEEEEEEEM [sacudindo as crianças e amarrando elas pra conversar]
    mas, como dizia um antigo ditado: para quem não sabia para onde ir, qualquer caminho serviria. > oh, alice, não é? cheshire diz isso pra ela
    ai, charlie, você com certeza aprendeu muita coisa, mas, enquanto negava tudo o que existiu antes, isso só se tornou uma avalanche pronta pra te derrubar....
    Seu irmão passou muito tempo tentando lembrá-lo de quem ele era. E Charlie passou mais tempo ainda tentando se esquecer > jesus cristoooooooooooooooooooo

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    1. Quando se sentou na frente de Charlie, murmurou:
      — Gostou daqui? > super, mó receptivo e acolhedor, clima familia qq
      mds ele tá A DIAS?????? tho a percepção de tempo dele deve estar toda ferrada né. mas com certeza mais de um dia deve ter, meu jesus
      PLMDDS ELE TOMOU A FUCKING PRISM TOWER olha que nunca gostei da referencia mor a paris mas não precisava sujá-la com essa imundície sabe
      (e, assim, rolava umas suspeitas pela pagina de lideres de ginasio, mas mermaozinho, o reveal foi de arrepiar)
      AI AQUELA FODIDA FERRANDO AS CRIANÇA ATÉ QUANDO NÃO FOI NECESSARIAMENTE A INTENÇÃO DELA, AGORA AINDA VÃO FICAR DE SEQUESTRADORES, EU VO CAÇAR ESSA VAGABUNDA E_E
      PUTA QUE ME PARIU????????????????????????????????? TEAM FLARE???????????/ FUCKING TEAM FLARE????????????????? DIANTHA SUA PERTURBADA EU ESPEREI QUE VOCÊ FOSSE PROCURAR O SYCAMORE NÃO O INSANO MDS DO CÉU [SCREECHES]
      (E CARALHO HAOS PUTA QUE ME PARIU TU ME PEGOU MUITO DESPREVENIDA NESSA, VO IR TE SOCAR E DEPOIS ABRAÇO PQ PORRA QUE GALAXY BRAIN??? MAS PRIMEIRO O SOCO VIU)
      mds ele já esteve em laverreeeeeeeeee (e mds que medo dessa menção assim “do nada” pq duvido que realmente seja do nada rçrçrçrç e se eu fechar o note e fingir que não li nada disso ein)
      o charlie a ponto de assaltar uma pobi doente askdçnsdansddsçksda (also mds eu nunca ia ter coragem de assaltar ninguém em laverre, eu me mudava se precisasse continuar nessa vida de ladra pq fora de cogitação T^T)
      olha haos se ele foi de alguma maneira adotado por essa senhora e cê der um jeito de arrancar nosso coração pela milésima vez com esse plot eu VO te caçar
      ai nada nunca é tão ruim que não possa piorar né (a demonia sem alma que me recuso a nomear apareceu de novo)
      JESUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUS O SHOW TÁ ARMADO EIN noss magina o stefan vendo isso, vai na hora pra lá kkkkkkkkkkkkkkk mds o Caos que vai dar isso, não tenho saude pra uma coisa dessa

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    2. Morrendooo com a vida imitando a arte e derrubando a energia (espero que as coincidencias parem por aí qqq)

      To muito feliz que algumas das surpresas realmente pegaram de surpresa AUISDUIS Mesmo umas coisas que acho que já dava pra imaginar (ainda mais vc que sempre repara em todos os detalhes!) a gente ainda não sabia como iam se amarrar... E a resposta é que num grande nó qq

      Tem tanta história ao mesmo tempo... A Diantha, o Charlie com o irmão, os primos fugindo do Stevan... Pior ainda é que essas coisas se misturem logo na pior cidade possível q Se eu não me engano, com esse capítulo só temos mais uma cena agora de flashback do Charlie... Ou seja, por agora, o Charlie do passado e o do presente já quase se encontraram... Falta bem pouquinho kkkkk

      OBS: E amei que vc pegou a referência de Alice <3 Aquele quote é de lá mesmo, e uma das minhas favoritas <3

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