Mar 1, 2023

Royal Emperium #4

OBS: Esse episódio está localizado entre o fim da Saga X e o início da Saga Y!

ENTRELINHAS
Royal Emperium - Capítulo IV

 


— Theodore.

O faz-tudo largou o martelo que segurava no mesmo instante, obrigando-se a saltar para trás antes que atingisse seu pé. Ele olhou para o prego todo torto na parede e tentou cobri-lo com o corpo para disfarçar ao deparar-se com Neal sério atrás dele. O garoto, impassível, encarava-o de frente. Theodore colocou-se em posição de respeito, batendo continência.

— Devo ser franco com você. — continuou o Pupitar.

Oh-oh. Coisas boas geralmente não vem depois dessa frase.

— Desde que entrou você tem sido um dos guerreiros mais esforçados da guilda. — murmurou ele. — O mais esforçado, talvez. Além disso, suas habilidades de batalha progrediram em uma escala enorme.

O quê? Por um segundo Theo piscou e quis muito se beliscar. Seria mesmo aquilo? Enfim, seu trabalho quase invisível na guilda teria sido reconhecido? Acima de tudo – reconhecido por Neal, o Guildmaster. Ele não conseguiu esconder as mãos trêmulas e a hesitação na voz quando se abaixou para pegar o martelo no chão.

— Por isso, eu me sinto na obrigação de nomeá-lo… — após momentos de uma pausa mortal, ele disse as palavras: — O novo Guildmaster.

Theodore largou o martelo de novo, quase derrubando-o em seu pé uma segunda vez.

— O quê?????

Ao redor, os outros membros da guilda vieram parabenizá-lo com palavras de acolhimento e tapinhas nas costas.

— Parabéns, Theodore. — comentou Neal abrindo um raro sorriso.

— UHUUUL, THEO, ORGULHO!! — comemoravam as crianças.

— Não esperava menos! — elogiou Mary.

— Já era hora! — Eryx acompanhou.

Ainda que com os protestos de Theo, eles o levantaram acima da cabeça, empolgados, carregando-o até um pedestal. O garoto coçava a cabeça, sem jeito com tamanha atenção. Nunca haviam prestado tanta atenção em si, ele parecia passar despercebido pelos corredores da guilda. Porém, dessa vez, todos o aplaudiam e soltavam assovios, observando-o falar ali naquela posição. Ansiosos por suas palavras, incentivaram que fizesse um discurso. Théo, tímido, começou.

— Hm… Primeiramente eu gostaria de agradecer a todos. — ele deu uma risadinha. — Meu Arceus, isso parece um sonho… É como se…

— THEODORE!

...

O garoto deu um giro tão rápido que caiu da cama. Ele colocou-se de pé no mesmo instante, coçando o lugar do rosto machucado pela queda. Olhou pela janela e encontrou o sol já a uma altura considerável. Desesperado, começou a se vestir, colocando as peças de roupa em ordem completamente trocada e sendo obrigado a recomeçar tudo de novo.

— Oh céus, já é cedo! — reclamou ele, nervoso.

— Já é tarde! — resmungou Neal, entrando no quarto. Théo logo fez uma posição de respeito. — Estive o aguardando há horas no salão principal, e nada!

— Senhor Neal, peço perdão!

Neal olhou para Théo com uma cueca na cabeça – possivelmente confundida com o chapéu na hora da pressa – e não escondeu um pequeno sorrisinho. Em seguida abanou uma das mãos, com leveza.

— Tudo bem. Acontece. Só espero que não se repita, por favor.

Théo respirou fundo e se olhou no espelho, tirando no mesmo instante a cueca da cabeça. Ele esfregou a mão no rosto, envergonhado. Por que essas coisas acontecem comigo?

O dia de Theodore seria cheio. Ainda mais com seu atraso nas tarefas, ele precisou ajeitar a Sala de Armas. Outros guerreiros como Neal, Tiberius, Agnes e Durendall haviam praticado bastante nos últimos tempos e estava tudo uma bagunça. Ele respirou fundo e colocou um avental de limpeza, pronto para tirar o pó de todo aquele amontoado de coisas.

Em dado momento, Théo procurou onde pendurar uma das espadas. Ele ficou intrigado com o peso daquele objeto. Levantou-a usando as duas mãos e admirou seu reflexo na lâmina polida. Passou um dos dedos pelo metal gelado, morrendo de medo de se cortar – ainda que aquela área não fosse de corte. Théo levantou o objeto e o estendeu frente a um inimigo imaginário, ensaiando alguns golpes desajeitados, mas estampando um sorriso no rosto.

— Ei, Théo!

Com o susto, ele acabou derrubando a espada, que fez um estrondo metálico ao redor. Corado, ele olhou para a porta da sala, deparando-se com Agnes, suada e agitada.

— Estamos fazendo um treinamento para o próximo ginásio! — comentou ela.

Théo abriu um sorriso empolgado.

— Sim…?

— Será que pode emprestar uma vassoura? Eu quebrei algumas coisinhas sem querer…

O Magikarp não conseguiu esconder a decepção no olhar. É claro. Dã. O que ele esperava que ela fosse falar? Convidar ele para treinar junto? Ele não seria útil. A não ser, claro, quando ficava de segurar os alvos – mas isso já havia se mostrado perigoso outras vezes. Ele procurou com o olhar uma vassoura e entregou-a para a garota, que saiu no mesmo segundo pronta para continuar.

Théo colocou a espada no lugar dela e prosseguiu com a arrumação. Quando concluiu, estava tudo brilhando. Ele soltou um longo suspiro de missão cumprida e partiu para a próxima etapa de seus afazeres. O garoto passou pelas Oficinas, onde Eryx cuidava de algumas das belas plantas floridas de sua floricultura.

— Ei Theo. — murmurou o rapaz. — Qual é o problema?

— Nenhum, Eryx. — disse o Magikarp, ajeitando as coisas ao redor. — Está tudo uma enorme paz.

— Eu consigo sentir suas emoções, Theo. — comentou o outro. — Desculpe, não quis invadir sua privacidade… Mas achei que talvez precisasse conversar?

Theo sentou-se ali mesmo. Os pés batiam um no outro, tímido.

— Sabe… Eu sou uma pessoa engraçada. E geralmente sei bem lidar com ordens, consigo fazer bem minha função...

— Me parece uma coisa ótima. — sorriu Eryx.

— …Só que eu queria ser mais que isso, entende? Parece que ninguém consegue me ver como nada além disso!

— Você sabe que não tem nada de errado com o seu jeito de ser, né? — comentou Floette.

— Eu sei, mas… Ninguém reage desse jeito quando o Neal entra. Ou o Durendall. Ou o Tiberius. Ou a Gwen. Mas quando eu passo, só conseguem ver um ajudante desengonçado que nunca vai ser nada além disso. E... Eu também sou do Mestre Calem, parece que todo mundo esquece isso.

Eryx colocou a mão no ombro do amigo.

— Só porque você acha que é assim que te veem agora, não significa que você não pode ser mais que isso. Não significa que não podem te ver diferente. Ou que você se veja diferente.

Theo ficou pensativo. Fazia muito tempo que ele não participava de um combate de verdade – era como se ninguém esperasse nada dele. Um dia após o outro se afastando dos outros, ele não se deu conta quando estava longe demais. Quando percebeu, já não havia muito o que fazer – já haviam absorvido que ele era alguém que estaria ali apenas para servir e ajudar. Théo gostava de fazer os outros se sentirem bem, mas como avisar que ele não queria ser para sempre assim?

Ele tinha medo de batalhas, tinha medo de enfrentar guerreiros fortes demais. Contudo, seu medo o paralisou a ponto de não conseguir progredir como os outros colegas. Quando se deu conta, ele estava estagnado frente a diversos amigos mais experientes, enfrentando adversários ainda mais difíceis. Como enfrentar o medo a essa altura?

— Você é incrível, Theo. — continuou Eryx. — Essa guilda não existiria se não fosse por você. Agora que estamos inaugurando tudo fica nítido como você foi importante. Se todos fossem iguais ao Neal, ou ao Durendall, ou mesmo igual a mim… Nunca sairíamos do lugar. Precisamos que todos tenham suas particularidades.

Theo sorriu, agradecido. Mas ele não sabia como dizer a Eryx: ele não queria ser assim. Ele queria acordar e não ser mais Theodore, não queria ser diferente. Queria ser igual aos outros. Queria acordar em outro corpo.

— Você é incrível. Mas não significa que você não possa se transformar para ser aquilo que você sonha em ser.

Theo saiu agradecendo Eryx. Porém, o guerreiro, com suas habilidades do tipo Fada, ainda conseguia ler suas emoções. Não sabia ao certo o que se passava ali, mas entendia que não havia ajudado muito. Floette suspirou, vendo o guerreiro continuar suas tarefas ao longe.

...

Uma batida na porta ecoou pelo salão. O som da madeira era evidente, mas sobretudo o som metálico da mão que batia. Neal abriu a porta e deparou-se com Durendall. Sinalizou para que entrasse e o guerreiro fez uma reverência honesta.

Era uma relação curiosa. Durendall era séculos mais velho e mais experiente que Neal. Ainda assim, ele exercitava certo respeito pelo Pupitar em sua posição de Guildmaster. Ambos sentaram-se à mesa. Neal não era do tipo que hesitava em conversar com outros, mas havia um quê intimidador no jeito de Durendall. Afinal, era impossível saber se havia algo por trás daquela armadura e, se houvesse, como aquele sujeito reagiria. Não havia qualquer sinal mínimo de expressão. Nenhum movimento. Poderia ser apenas uma das armaduras que enfeitava o salão.

— Qual a questão, jovem rapaz? — indagou o Honedge.

Neal voltou à realidade. Levantou-se e caminhou, a fim de ficar de costas para a mesa. Ele também não queria exatamente demonstrar expressões, naquele momento.

— Um dos membros da guilda... Pascal, o Kecleon. Ele era um infiltrado com más intenções.

Silêncio. Pupitar ouviu um ruído metálico; Durendall havia se movimentado.

— Um traidor. — disse o murmúrio por trás do metal. — E onde se encontra agora?

— Distante. Não sei onde.

— Em meus tempos de império, não haveria dúvida. — argumentou Honedge. — Buscávamos pelo traidor, onde quer que fosse, oferecendo uma recompensa por sua cabeça. E quando o traziam…

O silêncio falou por si. Neal continuou reflexivo, olhando por uma das janelas. Dali, conseguia admirar a guilda; Agnes enchia o saco de Tiberius. Gwen, Thanos e Austin discutiam, ao longe. Durendall se levantou em um movimento só, pronto para rumar em direção à porta.

— Precisa ser mais firme, garoto. És demasiado frouxo para o líder de um império.

As palavras foram simples e diretas.

— Não posso fazer os demais membros pagarem pelo desvio de caráter de um idiota, senhor Durendall. — respondeu o rapaz com a voz firme.

— Quando és temido, pupilo… És respeitado. Ninguém ousa fazer-te de tolo. Espalhe o temor… E não terás que te preocupar com a ordem tanto quanto necessitas hoje.

Honedge saiu da sala, deixando-o em um absoluto silêncio. Neal cerrou os punhos, nervoso. Alguém havia entrado na Guilda e traído sua confiança. Debaixo de seu nariz. Para sua sorte, aquele Kecleon não havia feito grandes estragos – queria apenas informações. Contudo, da mesma forma, poderia ter sido alguém que colocaria tudo a perder. Alguém que poderia ter machucado seus colegas. E ele seria o maior culpado.

Por um momento, pensou se havia errado em comentar a falha com Durendall. Neal não gostava de contar quando havia algo errado a ninguém, embora o Honedge estivesse em uma posição de mais prestígio. Ainda assim, temia ser visto como um líder incapaz de guiar o restante dos guerreiros. A última coisa que ele queria era que duvidassem de si.

Naquele momento, Mary apareceu caminhando pelo corredor, após ter ouvido tudo.

— Neal, você não está realmente ouvindo ele, certo? — comentou a menina.

Aquela era a única que conseguia fazê-lo desarmar. Ele encostou-se na cadeira, permitindo um pouco sua expressão descansar.

— Mary, o senhor Durendall liderou um império por décadas… Suas opiniões são válidas.

— Mas ele era um tirano odiado por todo o seu povo...

Neal encarou as próprias mãos. Em seguida, cerrou os olhos, dando um soco na mesa.

— Se eu não tivesse deixado aquele Kecleon…

Mary correu para abraça-lo. Alguns segundos depois, ele a puxou de volta para afaga-la também. Não era muito confortável encostar nele com tantas camadas de armadura metálica por cima, mas ela não parecia se importar. Ela era a única que via por debaixo daquela proteção.

— Não foi culpa sua. Nós confiamos nele. A gente confia nos amigos. E isso nos torna vulneráveis por um lado... Mas somos igual a uma família pelo mesmo motivo.

Neal deu um sorrisinho para ela. Ainda assim, ela não ficou feliz. Ela odiava aquilo. Odiava quando ele agia como se ela estivesse falando alguma bobagem engraçadinha. Mary sabia que ele tinha muitas coisas em sua cabeça e não queria ser mais alguém a sobrecarregá-lo, mas sempre que o assunto apertava, ela deixava de ser alguém com quem ele ligasse para a opinião. Parecia ingênua demais para ele.

Mary virou as costas, pronta para deixa-lo. Ela olhou para trás uma última vez.

— Por favor, Neal... Não vira um tirano.

E o deixou sozinho com seus pensamentos flutuando pela sala. O Pupitar voltou a encarar a janela, vendo a noite chegar, enquanto seus companheiros passeavam pelo pátio de forma descontraída, divertindo-se entre si. Tenso, o rapaz soltou um logo suspiro, retornando às suas atividades.

NOTAS DO AUTOR

Bem, faz bastante tempo que não temos um episódio da RE... Pior é que esse rascunho estava há muito tempo comigo (tanto que ele fala de uma época antes da Saga Y), e não queria desperdiçar tudo contido nele. Acho que traz aquela energia gostosa e bobinha do começo, e escolhi que o capítulo ficasse nessa duração mesmo. Os capítulos recentes da historia central têm passado as 5 mil palavras, então acho que tudo bem termos uns episódios mais curtinhos pra dar uma diferenciada e ainda assim pegarmos gosto pelos guerreiros da guilda!

Só para lembrar: o Kecleon ao qual eles se referem é o Pascal, Pokémon do Elliot (aquele que os acompanhou na época de Shalour mas era um traidor, enviado pelo Stevan). Só para dar contexto!

2 comments:

  1. mds não acredito que vamos começar março tão abençoados NOVO ROYAL EMPERIUM YASSSSSSSS
    e rapaiz ainda por cima entre as sagas, tava ansiosa demais pra ver como estavam no meio dessa treta
    o pobi do theo sempre na tensão aksdnççsdadançksdaçksda
    MAS SOCORR VEIO ELOGIO?? assim deserved sabe!! mas mds o theo já preparado pra treta, tem nem roupa pra isso qqq
    okay isso é pegadinha, novo guildmaster é um tantinho demais qq
    claro que era sonho, coitado T^T (mas pelo menos melhor do que ser pegadinha, pq os demais iam zoar dele o resto da vida qq)
    theo se empolgando com um treino improvisado, affs nene >: tudo bem migo vai chegar a hora que cê vai estar plenamente armado, vai por mim q
    AGNES MINHA FILHAAAAAAAAAAAAAAAAAAA e ai ele achando que ia ser chamado pro treino asçkdnksdançksdaçksda SOMEDAY BABE SOMEDAY (até pq assim melhor mesmo cê não ir pro ginasio de grama q)
    eryx anjineoooo, conversa com ele sim nene, faz bem
    ERYX TELL HIM!! vai treinar theo, mostra pra eles, vai em busca da imagem que você quer pra você!!
    Um dia após o outro se afastando dos outros, ele não se deu conta quando estava longe demais > i came here to have a good time and honestly feeling so attacked rn
    eu gosto que o eryx tanto elogiou quem ele já é, mas também deu forças pra ele tentar mudar (mesmo que o theo não tenha captado tanto isso)
    eu acho que, por mais que exista óbvia diferença de idade/exp, o durendall é tão apegado a tradições que mantem o respeito por um líder (also, o neal é um bom líder e com muito potencial desde cedo, então o durendall vê isso também)
    ai, o pascal. essa foi uma puta rasteira, e tão cedo pra essa jovem guilda....
    durendall não invente ideia, se for pra desviar o neal eu pessoalmente te finco na rocha de novo q
    MARY OBG MEU ANJO não acredito que ela vai ser a voz da consciencia, olha a situação de vocês sabe qqq
    — Mas ele era um tirano odiado por todo o seu povo... > ASDÇKNASDÇKNSDANÇKSAD she has a point q
    — Não foi culpa sua. Nós confiamos nele. A gente confia nos amigos. E isso nos torna vulneráveis por um lado... Mas somos igual a uma família pelo mesmo motivo. > [pausa pra chorar]
    ainda bem que esse cap veio agora pq se viesse um ano atrás eu não teria forças pra terminar essa leitura e comentario q
    ver a mary ressentida que nem sempre sua opinião é levada em conta, algo que não esperava, mas faz sentido. ela é vista ainda como criança, mas ela já tem sua experiencia de vida e de viagem, e é bom que a ouçam (de vez em quando, pelo menos qq)
    ouve a mary, por favor, neal. por favor >:

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    1. Simmmm esse rascunho ficou guardado por tanto tempo que mesmo que a gente estivesse bem mais avançado não queria deixar de postar (até pq tem o ponto de vista dos Pokémon sobre os mesmos acontecimentos). Querendo ou não também foi um período marcante pra eles, principalmente com a saída do Pascal e como isso impacta as relações lá dentro (até no capítulo anterior, se não me engano, o Eryx tem alguma desconfiança com ele).

      Apesar de ser curtinho, acho que dá pra destacar principalmente como o Theo e o Neal estão nesse momento da história e que rumos eles podem tomar, e é uma coisa que quero explorar bastante também! Tanto do Neal sentindo essa pressão de várias direções quanto do Theo de ser um membro antigo e se perceber sendo superado por vários outros. Tenho mais um rascunho guardado que precisa de uma finalização, mas espero poder trazer logo ele, porque foi muito divertido voltar aos episódios da RE <3

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