Se alguém estiver ligado vai perceber algo estranho: pela primeira vez o capítulo não foi postado em um sábado! O dia de postagem não irá mudar, mas resolvi fazer isso porque não tive a oportunidade de revisá-lo ontem, e também não queria esperar muito mais para trazê-lo. É um capítulo curto e simples, apenas narrando um diálogo entre Grant e Korrina após as discussões na Tower of Mastery.
O motivo de ser um especial é porque não lê-lo não vai mudar o entendimento da história no quesito acontecimentos. Contudo, eu recomendo que deem uma olhada porque permite que nos aprofundemos na personagem da Korrina, e entendamos a visão dela sobre os ocorridos no capítulo 25, e como ela encarará a batalha de ginásio. Tudo isso auxilia a criar a tensão necessária para o embate final dessa temporada!
A água quebrava em
leves golpes nas pedras. Ondas fracas e suaves banhavam com espuma as rochas
desgastadas da costa de Shalour em uma harmonia de sons. A cidade era
relativamente bem tranquila, mas a Tower
of Mastery, sobretudo, era um local extremamente retirado e agradável para
aqueles que buscavam paz. Já era tarde, o sol estava quase acabando de se por.
O céu outrora alaranjado abria espaço para os belos tons róseos e arroxeados,
enquanto uma fina camada de nuvens cobria o espaço. Era possível, todavia,
avistar inúmeras estrelas que pouco a pouco se tornavam visíveis do espaço.
Korrina se colocava
de pé em uma das pedras próximas ao mar, observando com calma o movimento
pacífico do oceano. Estava em um pé só, em uma das posições que costumava
utilizar para relaxar em treinamento. Suas mãos faziam gestos no ar enquanto
focava quase totalmente em manter o equilíbrio, respirando fundo, preenchendo
os pulmões com o ar limpo e expulsando-o de forma gradual. Sequer tremia.
Seus ouvidos
absorviam apenas o som das ondas, mas de repente detectou passos lentos vindo
em sua direção, virando-se em um pulo e se colocando em posição de ataque.
Grant levou um susto, fazendo um gesto de defesa e abrindo um sorrisinho. A
menina relaxou de sua posição, retornando com um olhar de simpatia.
— Parece que as
coisas se tornaram intensas lá dentro… — balbuciou ele, coçando a cabeça.
Ela concordou com a
cabeça, tímida, soltando um longo suspiro.
— Mais que eu
gostaria.
Ela sentou-se na
pedra, segurando os próprios joelhos com os braços. O outro ficou contemplativo
admirando o ambiente.
— Hm… Prefere ficar
sozinha? — indagou, pronto para sair.
— Não, não. —
rebateu ela. — Na verdade eu precisava mesmo era sair de lá.
Grant concordou com
a cabeça e deu alguns passos para se aproximar. Em seguida, abaixou e sentou-se
ao lado da moça, sem trocar olhares. Focou apenas na bela cena, na imensidão
azul do desconhecido que se colocava à sua frente. Como um admirador do mar e
exímio aventureiro, o líder era apaixonado por aquela visão. Ficaram ambos
preenchidos pela música das ondas, até que a garota precisasse romper o
silêncio.
— Ele fazendo aquela
cena com um treinador qualquer… — murmurou ela. — Ele só queria me provocar.
O rapaz ficou em
silêncio, – precisou de alguns segundos para voltar à conversa e compreender o
contexto – virando suavemente o rosto na direção dela. Korrina tinha olhos
perdidos, fitando o céu em busca de uma resposta.
— Há anos eu o vejo
meu avô apostando em outros treinadores, e me esforço para que ele veja que eu
também sou capaz… Participei da Liga, fundei um ginásio…
Suas palavras foram
gradualmente morrendo no caminho, logo deixando-os mais uma vez na ausência de
diálogo. Nenhum dos dois pareceu se importar muito. Ela, porém, não tardou a
voltar a falar:
— Foi mal, eu sei
que estou sendo meio infantil. — disse, envergonhada.
— Não é ser
infantil. — respondeu o outro. — Às vezes nós temos necessidade de provar
coisas para os outros. Seu avô significa muito para você, então a aprovação
dele é importante.
A frase pairou na
cabeça da líder, um pouco mais reconfortada, mas ainda assim repleta de
dúvidas.
— Você desafiou
aquele garoto só para poder provar a seu avô que é capaz de ser A Sucessora,
não é? — perguntou Grant com um toque de humor.
Korrina cobriu as
mãos com o rosto, deitando na pedra.
— Cara, foi tão
péssimo assim? — inquiriu, envergonhada.
Grant soltou uma
gargalhada.
— Não, tudo bem.
Você se deixou levar pela emoção, só isso. — tranquilizou-a, sorrindo com os
dentes, ainda tendo as sobrancelhas arqueadas.
A garota abriu um
sorriso, mas ainda tinha a testa franzida, ruborizada com sua própria atitude.
Fora quase um reflexo ter desafiado Calem, ao explodir com a discussão prévia
com seu avô. Korrina precisava de uma última chance de provar sua capacidade,
acabando com as provocações que vez ou outra sofria de Gurkinn ao solicitar sua
Key Stone.
— Eu sou uma líder
terrível. — cuspiu ela, com uma risada.
— Óbvio que não. —
retorquiu o outro. — Você ainda é novata no cargo, só. — disse, em tom
provocativo.
— Ei, não sou tão
novata assim. — ela deu-lhe um soco no braço.
Os dois começaram a
rir juntos em um momento descontraído que tornou o espaço mais leve por curtos
instantes. Quando as vozes falharam, ficaram a se encarar, sorrindo. Ele era
mais alto que ela, de maneira que Korrina olhasse por cima para encarar os
olhos acinzentados do amigo, escuros e misteriosos como um dia nublado. Após
alguns curtos momentoss, viraram o olhar, voltando a observar o pôr-do-Sol.
— Como está a Viola?
— murmurou a lutadora.
— Faz tempo que não
nos falamos. — respondeu ele, atirando uma pedrinha na água. — Ela tem andado
meio ocupada com uma exposição.
A garota concordou
com a cabeça, lembrando-se da amiga, a qual fazia tempo que não via.
Lembrava-se da sua época de treinamento e quando preparava-se para abrir um
ginásio. Era tudo novo, tudo empolgante, e era estranho olhar para trás e
pensar como crescera em tão pouco tempo. Agora enfrentar novatos era uma tarefa
trivial, e ainda que tentasse encarar cada desafio como uma batalha brilhante,
às vezes era apenas parte da rotina.
Ela soltou um longo
suspiro, retornando à sua realidade do momento.
— Grant… — soprou o
nome no ar. — E se eu perder?
O rapaz virou-se
para ela, mas ela continuava perdida nos devaneios, olhando para o horizonte.
Ele também virou o rosto, atirando outra pedrinha na água, ao longe.
— Se perder, perdeu.
— disse, com simplicidade.
— Nossa, valeu
mesmo.
— Não, é sério.
Ele deu uma
risadinha, disparando uma terceira pedrinha. Korrina acompanhou seu trajeto no
ar, enquanto ela fazia um barulho ao bater na água e afundar ligeiramente.
Alguns Wingull passaram planando em volta, fazendo seu típico barulho
desengonçado enquanto dançavam pelo vento da praia e se banhavam nas águas
oceânicas ao mergulhar e sair de lá bem rápido.
— Você também
competia, então sabe como é. — prosseguiu ele. — Não pode deixar as incertezas
te dominarem, ou vai ficar paralisada e se impedir de continuar.
— É diferente
competir por uma medalha, e competir por algo que eu desejei minha vida toda. —
rebateu ela, séria.
Ele estalou o
pescoço.
— Essa batalha não é
sobre ganhar, Korrina. — falou em um tom baixo. — É sobre mostrar que você é
digna de ser A Sucessora. De ter a aprovação de seu avô.
As palavras faziam
sentido, mas a moça não pareceu muito convencida com as palavras, permanecendo
estática, presa a seu conflito. O rapaz encarou as próprias mãos calejadas,
estalando alguns dos dedos em relaxamento. Pigarreou, e deu um soquinho sem
graça no braço da garota.
— Você é descendente
do guru das Mega Evoluções. Se tiver que ganhar essa batalha, fará com certeza.
— disse, confiante.
Korrina suspirou,
pensativa. Isso ainda lhe tiraria o sono, e até o dia da batalha, ficaria
extremamente conflituosa. Havia requisitado um desafio talvez maior do que
pudesse cumprir. Mas se não pudesse, então por que seria A Sucessora? Sabia que
tinha experiência suficiente para vencer a batalha, já enfrentara combates mais
difíceis antes, muitas vezes. Esse não era o problema. A questão era que em
nenhuma delas estava envolvida a admiração e a confiança de seu avô.
Balançou a cabeça,
tentando mudar de expressão.
— O que acha de uma
corrida na pista do Ginásio? — perguntou ela, abrindo um sorriso.
Ele a encarou em
silêncio, acompanhando o sorriso.
— Espero que você
tenha um par de patins do meu tamanho.
ALERTA DE SPOILERS! Antes de ler as notas, leia o capítulo correspondente primeiro!
Se me permitem dizer, esse capítulo é importantíssimo para a fic! É quando respondemos algumas das perguntas que estamos arrastando desde o começo da temporada, e de fato entramos no Arco de Shalour, o melhor até agora. Essa era uma denominação que antes se usava para marcar as pequenas sequências de acontecimentos que envolviam uma determinada localização ou evento. Aqui em Kalos fica difícil determinar isso, uma vez que percorremos vários lugares, muitas vezes em poucos capítulos. Porém, os próximos episódios se passarão aqui em Shalour, onde as coisas tem um começo, meio e fim.
Tivemos a participação de vários personagens novos, entre eles O Gurkinn, a Korrina e até o Grant, o líder que alguns capítulos atrás estava ausente do Ginásio. Pois bem, agora sabemos onde ele estava o tempo todo... Ah, e tem mais gente pra chegar! Vocês reconheceram nesse finalzinho quem está de volta, né? Acho que isso já diz muito do que esperar desse arco, e garanto que cada capítulo será intenso e muito importante, onde vocês realmente perceberão como a Saga X vai aos poucos se fechando e recebendo uma conclusão.
As Mega Evoluções são um tópico antigo de Kalos, e finalmente tivemos umas boas explicações sobre elas. Agora vocês entenderão como serão abordadas e qual a relevância delas. Apesar da Viola e o Dustin terem tido participação aqui e ali, a Korrina será a líder que tende a oferecer maior desafio ao Calem. Aqui não falamos mais de uma simples insígnia, estamos falando de um título. Como o Calem é o protagonista, geralmente torcemos para ele, mas se vocês pararem para analisar, talvez a Korrina seja muito mais merecedora de vencer essa batalha que ele. Tem mais coisas em jogo que simplesmente ganhar por ganhar. E é isso que tornará a batalha mais emocionante ainda! Nos próximos capítulos a ansiedade vai ser atiçada a um nível fora do que estamos acostumados.
O capítulo 25.5 será o próximo, fornecendo mais material para que entendamos o que exatamente representa essa batalha e esse arco para o lado da nossa adversária, Korrina. O 26, cara... Não posso dar spoilers, mas posso dizer que é foda! Fiquem ligados, porque eu não falaria tão bem de uma trama por nada!
O sol já se colocava
a um ponto alto durante aquele período da manhã, ainda que algumas nuvens
espessas marcassem o céu naquele dia. Os quatro caminhavam pelas ruas de pedra
de Shalour, aproveitando para conhecer o ambiente. A cidade era um ponto
turístico famoso de Kalos, sendo geralmente bem isolada do continente. Por este
motivo, tinha um caráter histórico muito forte, o que era possível perceber
pelas fortificações e prédios velhos que formavam o espaço. A todo momento
deparavam-se com pequenas ruas estreitas feitas de pedra, típicas de contextos
mais antigos da região.
O grupo aproveitou
para fazer a estadia em uma pousada turística próxima ao centro da cidade, mas
era possível ver ao longe em alguns lugares o mar. Era perceptível como Shalour
era histórica também pelos relevos bem diferentes ao longo da cidade, mostrando
um planejamento que fugia do urbano típico das grandes metrópoles. Além disso,
as fortificações de defesa da cidade logo iam de encontro às águas do oceano,
que batiam suavemente e as pintavam de espuma.
—Essa cidade é
incrível! — exclamava Elliot, recebendo concordância por parte de Serena.
Todos caminharam em
direção ao ginásio, que ficava em uma área mais retirada. Era uma grande construção,
também feita de pedra, e apesar de simular o caráter antigo de outros locais da
cidade, parecia ser muito mais recente. Majestosas pilastras marcavam a
entrada, e um símbolo típico dos ginásios se colocava no centro. Além disso,
placas ao redor confirmavam que estavam no lugar certo.
Ao adentrarem o
espaço, encontraram um hall repleto de algumas estátuas, e havia alguns jovens
trajando patins ao redor. Uma moça atrás de um balcão parecia a responsável
pelo agendamento das batalhas, a quem Calem foi recorrer.
— Desculpe, mas
Korrina, a líder do Ginásio não está disponível hoje. — respondeu ela, séria.
Calem atirou a
cabeça para trás.
— Qual o problema
com esses líderes? Ninguém gosta de trabalhar? — indagou para si mesmo,
irritado.
— Aconteceu alguma coisa
com ela? — perguntou Serena em seguida.
— Ela está em uma
reunião, e deve retornar mais tarde, apenas, e então poderei verificar sua
agenda para marcar uma batalha. — respondeu ela, com simplicidade. — Caso
desejem podem visitar a pista de patinação do Ginásio.
Todos retiraram-se
do balcão, e Serena exibiu um sorriso divertido.
— Cal, desde que
saímos de Lumiose não patinamos de novo! Pode ser divertido! — exclamou.
— Eu passo. —
resmungou o outro. — O que mais tem pra fazer nessa cidade?
— Eu preciso comer
alguma coisa. — falou Charlie, coçando a cabeça. — Antes de qualquer coisa.
Elliot assentiu.
— Eu também.
— Podemos visitar a Tower of Mastery. — murmurou Calem,
checando seu guia de viagem. — É o maior ponto de referência da cidade.
Serena pareceu empolgada.
— Podemos ir na
frente, e vocês dois nos encontram depois!
Todos concordaram, e
por um momento o grupo separou-se. Elliot e Charlie seguiram até um pequeno
café nas proximidades, parecendo um ponto bem clássico da cidade. Apesar de
estar dentro de uma construção maior, o lugar era baixo, a parede toda feita de
rochas e com janelões de vidro que davam para a rua. Algumas mesinhas ficavam
na calçada, a qual os dois preferiram sentar após escolher algo para comer.
Ambos ajeitaram-se e aproveitaram o momento para observar o local
reconfortante.
— Faz tempo que você
viaja com eles? — indagou Elliot, provando de seu salgado.
Charlie o fitou.
— Desde que eles
saíram em jornada. — respondeu, enquanto dava uma mordida. — Por quê?
— Ah, por nada. —
falou. — É que vocês parecem grandes amigos.
O outro deu uma
risadinha.
— Já passamos por
bastante coisa.
— Mas você não é da
família deles, né? — inquiriu o garoto, um pouco tímido.
Charlie parou de
comer um pouco e deixou sua comida no prato, admirando as pessoas caminhando ao
redor, conversando empolgadas.
— Não, nós nos
encontramos depois. — disse, sem encará-lo nos olhos.
Elliot ficou a
olhá-lo. Sabia que talvez estivesse pisando em um terreno delicado, mas seu
interesse falava mais alto que qualquer coisa.
— Onde está a sua
família? — indagou, um tanto baixinho.
O rapaz o fitou nos
olhos.
— Bem curioso você,
né? — disse simplesmente, com uma risadinha, e um silêncio pairou no ambiente,
dando a entender que não queria falar sobre o assunto.
Há
assuntos em que não se deve tocar pelo simples fato de que eles não trazem nada de positivo quando vêm à tona. É isso que acontece por exemplo quando
se pergunta sobre minha família. Basta o que Serena e Calem conheceram – Marc. Sei
que o garoto não perguntou por mal, mas não fui capaz de dar uma resposta
bonitinha e interessada. Se ele quisesse viajar conosco, deveria entender que
alguns tópicos não deveriam ser mencionados. Era assim que nosso trio
sobrevivia.
Charlie manteve uma
expressão neutra, e ficou a mastigar seu lanche, enquanto um vento fino varria
as folhas na calçada suavemente. Logo trouxe algum outro assunto trivial à
mesa, e o outro menino entrou na conversa, mas sabia que nenhuma de suas
perguntas de fato haviam sido respondidas. Afinal de contas, como conseguia
aquele rapaz ser tão aberto e o receber bem ao grupo, mas ainda assim parecer
tão misterioso?
— Você não ia deixar
algo com seu avô? — indagou Charlie.
— Oi? — o garoto
pareceu voltar a realidade.
— Por isso que
estava na cidade. — prosseguiu. — Ia deixar algo com seu avô.
Elliot balançou a
cabeça.
— Ah, sim! Mas à
essa hora ele não deve estar em casa.
Charlie alongou o
pescoço.
— Podemos tentar. —
disse. — Estamos sem fazer nada mesmo.
O outro ficou por um
tempo pensando, mas murmurou uma resposta:
— Tudo bem.
Ambos foram
caminhando por um trajeto que Elliot indicava, ainda que parecesse um pouco
perdido na cidade. Era um caminho de pequenas ruazinhas e casas humildes que
seguiu, parando em frente a uma pequena morada específica. Ficou a observá-la
por um tempo, as pedras que subiam em um telhado baixo, uma estreita porta de
madeira antiga que já parecia roída pelo tempo, e um canteiro de flores à
frente, decorando a casinha. Charlie coçou atrás da cabeça.
— É essa? — indagou.
— Sim. — respondeu o
menino de prontidão. — Parece que não tem ninguém em casa. — observou.
Charlie olhou
melhor.
— Tenta, ué.
Elliot assentiu, e
bateu na porta. Três batidas que reverberaram pela madeira gasta, ecoando pelo
pequeno espaço. Engoliu em seco e seu coração batia com mais velocidade, ainda
que não estampasse isso em sua expressão simplória. Imensos segundos se
passaram, mas não houve uma resposta. O menino suspirou, e virou-se para
Charlie.
— É, acho melhor
voltarmos mais tarde. — assentiu o outro.
...
A Tower of Mastery era a maior marca
possível de Shalour. Sempre que alguém pensava na cidade, logo a assimilava
àquela instigante construção, sendo um dos mais famosos pontos turísticos da
região de Kalos. Serena a admirava ao longe, pela cidade, e logo percebeu que
percorreriam um caminho longo até chegar a ela, o que desanimou seu primo. A
fortificação, por mais estranho que parecesse, ficava no meio do mar, e havia
um corredor de areia que ligava Shalour à torre, sendo o único caminho possível
por via terrestre.
Ambos foram
caminhando animados, ainda que Calem parecesse desconfiado com o ambiente.
Serena apaixonava-se pela paisagem, parecendo andar nas águas, sendo envolvida
pelo mar de ambos os lados. Conseguia avistar, se olhasse bem, vez ou outra
algum Pokémon aquático nadando ao longe, o que tornava tudo ainda mais mágico.
Quando chegaram,
depararam-se com alguns turistas fotografando da areia. Havia algumas
residências e estabelecimentos construídos junto, mas a torre ainda era maior e
central. Serena puxou o garoto pela mão passando por uma entrada de pedra com
ar histórico e mítico, onde imensas pilastras formavam arcos e induziam a um
majestoso salão de pedra: tudo tão decorado e detalhado que era formidável
cogitar que havia sido construído em tempos em que as ferramentas de construção
não eram tão aprimoradas.
— Que lugar
maravilhoso! — falou a garota, boquiaberta.
— Não é? — Calem foi
obrigado a concordar.
Uma estátua de
tamanho magistral se colocava no centro do espaço. Era uma criatura que até então
não haviam visto pessoalmente, mas sabiam que era uma importante figura em
histórias lendárias de heróis dos mitos de Kalos, e de outros continentes. Era
um Lucario, ainda que parecesse bem diferente do que estavam acostumados a ver.
Tudo ao redor era construído de maneira circular, tendo como epicentro o grande
Pokémon, mostrando sua importância para aquele espaço.
Curiosamente,
naquele dia a torre em específico estava vazia. Os dois conseguiam ouvir seus
passos reverberando pelo local, que pelo material e formato permitiam que o som
ecoasse de maneira amplificada. Assim, mesmo outros ruídos eram facilmente ouvidos,
o que permitiu que, ao ficarem em silêncio admirando o espaço, escutassem
alguns barulhos abafados provindo de algum lugar.
— São vozes? —
perguntou Calem.
Os dois ficaram em
silêncio para tentar ouvir o que quer que fosse. Era difícil decifrar os ruídos,
pois o som ecoava tanto nas paredes que era quase completamente distorcido.
Ainda assim, foram capaz de detectar algumas frases soltas, uma vez que o tom
da suposta conversa parecia aumentar de volume a cada momento.
— Vovô, o que mais
você quer que eu faça?! — gritava o que parecia ser uma moça.
Os primos ficaram a
se olhar, concentrados, enquanto tentavam continuar interpretando os ruídos.
— Eu dou tudo de mim
sempre e isso nunca é suficiente! — prosseguia a voz.
— Não se trata
disso, minha neta. — dizia uma segunda voz, desta vez mais grave e rouca. — Você
não está pronta, e eu saberia se estivesse.
Naquele momento
ouviram alguns passos bem claros que atrapalharam as vozes. Desta vez não se
tratava de alguém ao longe, mas de um movimento próximo dos dois. Ambos se
viraram um pouco assustados para a entrada a fim de ver quem era, mas logo
puderam avistar uma figura já conhecida, o que lhes causou certo espanto ao
encontrá-la naquele lugar e naquele instante.
— Professor? —
indagaram em uníssono.
Sycamore fez um
aceno com a cabeça, revelando um sorriso caloroso. Desde a estadia dos jovens
em Lumiose eles não se viam, de maneira que se mostrasse extremamente receptivo
e satisfeito com o reencontro, abrindo um pequeno sorriso de agrado aos primos.
— Oui, que prazer encontrá-los por aqui!
Que grande coincidência! — falou o professor.
— Está tudo bem por
aqui? — indagou Serena, apontando para cima.
O outro soltou uma
risadinha e começou a caminhar.
— Apenas alguns
conflitos familiares, que eu prefiro não me envolver. — disse. — Vieram
desafiar o Ginásio da cidade?
— Exatamente. —
respondeu Calem. — Mas a líder aparentemente não estava disponível.
— É ela que estamos
ouvindo, inclusive. — ele deu uma risadinha discreta. — Estávamos em uma reunião,
mas os assuntos de repente se tornaram um pouco pessoais.
Os dois não
compreenderam exatamente a referência do professor, mas surpreenderam-se com o
fato de ser a líder de ginásio a dona de uma das vozes. Sycamore voltou ao
assunto, tocando Serena no ombro com uma de suas mãos e lançando um olhar de
simpatia.
— Tenho acompanhado
seu progresso com a Pokédex, querida Serena. Devo dizer que anda encontrando
espécies muito interessantes. — falou, fazendo-a revelar um sorriso de orgulho.
Novamente o som de
passos reverberou pelo salão, e uma nova pessoa aparecia entrando na Tower of Mastery. Tratava-se de um rapaz
alto e de pele escura, e corpo esguio, marcado nas suas roupas que pareciam ter
um toque esportivo, apesar de se supor que estivessem bem na moda. Chamava a
atenção seu penteado, com acessórios coloridos que lembravam pedras presos a
seus cabelos crespos.
— Seu café,
professor. — disse ele, com uma voz baixa, estendendo um copo térmico a
Sycamore.
— Obrigado. —
replicou o outro. — Gostaria que conhecesse meus amigos. Pessoal, esse é Grant,
o líder do Ginásio de Cyllage.
Os primos não
evitaram um olhar de espanto para o rapaz.
— Ué.
— Você não tinha
quebrado um osso? — indagou Calem, arqueando uma sobrancelha.
— Ah, sim, vocês
passaram pelo meu Ginásio? — perguntou ele, um pouco sem graça. —Felizmente já
estou curado.
— Não faz nem uma
semana. — respondeu Calem, logo voltando ao assunto. — O que está acontecendo
exatamente aqui?
O professor indicou
um lance de escadas espiral que parecia não ter fim, contornando a imensa
torre. As vozes ao redor iam ficando mais nítidas a cada passo, mas eram
interrompidas pelo sons dos vários sapatos batendo nos degraus de pedra,
criando uma acústica que parecia transformar aquele espaço em um ambiente muito
maior e de ar praticamente místico. Sycamore parou em frente a um portal entre
duas pilastras e fez sinal para que entrassem.
Dentro havia uma
sala menor, protegida por um portão de ferro que estava aberto naquele momento.
Duas estantes de madeira velha se colocavam no fundo do espaço, repletas de
livros, e móveis de caráter antigo também se espalhavam pelo espaço. Mas o que
chamava a atenção eram os donos das vozes, que naquele momento haviam cessado a
conversa para dar espaço a um silêncio enquanto os outros entravam.
De um dos lados
estava um senhor não muito alto, careca se não por alguns tufos de cabelo e
enormes sobrancelhas que lhe caíam dos lados, além de ter um olhar pesado e
marcado pela idade encarando os jovens. A moça parecia um pouco exausta também,
e usava artigos esportivos, como se tivesse acabado de sair de uma pista de
patinação; um imenso rabo de cavalo louro caía-lhe pelas costas. Aquela deveria
ser Korrina, a Gym Leader de Shalour.
— Estamos de volta.
— disse Sycamore, entrando.
—
Quem são esses? — indagou de prontidão o velho.
— Jovens
promissores, meu caro companheiro. — respondeu o professor. — São descendentes
da família Windsor. A bela Serena me auxilia a coletar dados do novo projeto de
Pokédex, enquanto o rapaz Calem é um treinador em formação.
Os primos fizeram um
sinal respeitoso com a cabeça, recebendo um cumprimento de volta.
— O grande Gurkinn é
um velho conhecido. — continuou o professor, agora apresentando os outros dois.
— Fui seu aluno por algum tempo antes de tornar-me professor. E essa é a líder
do ginásio de Shalour, Korrina.
— Peço perdão caso
tenham ido ao Ginásio solicitar um desafio. Estive um pouco ocupada nos últimos
dias. — falou apressadamente Korrina.
—
Estamos discutindo sobre um tópico importante, e talvez possam nos ajudar, meus
queridos. — disse Sycamore.
— Não deveria ser
uma conversa teoricamente secreta? — murmurou Grant, um pouco desconfiado.
O professor
ajeitou-se em uma cadeira de maneira confortável e tomou um gole do café
quente, observando o vapor se dissipando no ar.
— Eu gosto de ouvir
mentes jovens opinando. — falou, com um sorriso de canto.
Os outros pareceram
um pouco deslocados, como se voltassem a se recompor no motivo pelo qual
originalmente estavam naquela sala. Calem e Serena tentaram não parecer
intrusos, ainda que não fizessem ideia do que estava acontecendo lá em meio
àquelas pessoas, que pareciam tão aleatórias que era difícil cogitar por que
estavam juntas naquela reunião.
— Vocês certamente
já ouviram falar sobre as Mega Evoluções, eu creio. — disse Gurkinn.
— Mega… Evoluções? —
ponderou Serena, por um momento.
— Suponho que não
seja o mesmo que uma evolução. — falou Calem.
O velho assentiu com
a cabeça. O professor prosseguiu.
— Quando um Pokémon
se depara com uma determinada condição, ele é capaz de mudar sua forma
permanentemente para uma outra espécie. A mudança além de visual pode alterar
seu tipo, ataques e potencial de luta. — explicou Sycamore, calmamente. — Isso
se chama evolução.
— Porém, é possível
que sua forma seja alterada por uma curta duração de tempo, ganhando uma
quantidade de poder surreal. — prosseguiu Gurkinn. — É o que chamamos de Mega
Evolução.
Serena saltou o
olhar, interessada.
— Como isso é
possível?
— Mega Evoluir exige
uma grande quantidade de energia do Pokémon, por isso é uma forma que não
consegue ser mantida por muito tempo. — prosseguiu o senhor.
— Era um método bem
antigo de vencer oponentes, certo? — arriscou Calem.
— Oui. — concordou o professor. — O velho
Gurkinn é descendente direto do primeiro treinador a utilizar a Mega Evolução
em Kalos.
Os dois pareceram
ficar surpresos com a informação, mas o senhor deu de ombros.
— É um método bem
antigo, inclusive foi proibido por algum tempo. É difícil controlar uma Mega
Evolução, e não são todos os Pokémon que conseguem fazê-lo. — continuou.
— Mas isso não é
tópico novo, tampouco secreto. — interveio o menino, um pouco ríspido. — Sobre
o que vocês estão discutindo então?
Um
silêncio pairou no ambiente, e Sycamore demonstrou uma risadinha divertida. Ele
sabia que o garoto não era bobo, e ia direto ao ponto quando necessário.
— Estamos há algum
tempo tentando resolver o grande mistério das Mega Evoluções. — falou o
professor. — Sabemos que para fazê-lo o treinador precisa de uma Key Stone, e o Pokémon deve carregar uma
Mega Stone. Além disso, segundo minha
tese, ambos precisam compartilhar de um laço suficientemente forte para que a
nova forma se estabeleça.
— Porém, apesar de
conseguirmos diferenciar as pedras que provocam a Mega Evolução, não sabemos o
que as torna capazes de provocar essa transformação, nem sua conexão com a
suposta relação treinador-Pokémon. — prosseguiu Grant.
— E estamos tentando
compreender essa suposta energia emanada das pedras, que é o real motivo de
esse ser um assunto… Privado. — concluiu Sycamore.
Os primos ficaram
por um tempo quietos, até que Calem interveio:
— Essa energia à
qual se refere, professor. — falou. — É
a Energia Infinita?
Apesar de tentarem
disfarçar, um clima de surpresa tomou o espaço. Sycamore franziu o cenho de
maneira indiscreta, tomando um gole de seu café de maneira agitada, ao
descruzar e cruzar novamente as pernas enquanto se ajeitava na cadeira,
fortemente interessado. Uma de suas sobrancelhas fez o formato de um arco,
examinando o garoto.
— Como você sabe
sobre isso? — inquiriu.
Calem deu um sorriso
provocativo.
— Tenho minhas
fontes.
O outro comprou a
provocação, não acrescentando nenhuma pergunta. Levantou-se, ajeitando o jaleco
e deixando o copo de café sobre uma mesa. Em seguida, começou a caminhar para
os lados, falando enquanto gesticulava com as mãos.
— Bem, sim. Digamos
que existe algo que não sabemos o que é, talvez uma aura, e a chamemos de
Energia Infinita.
Ele pigarreou.
— Essa suposta energia
é a responsável pelas Mega Evoluções acontecerem, e provoca toda essa mudança
de poder na estrutura genética de um Pokémon temporariamente. — continuou a
hipótese.
— Levando em conta
que minerais podem ter milhões de anos, encontrar pedras que mesmo depois de
gerações não perdem seu poder de provocar transformações em Pokémon, significa
que é uma energia que não se esgota fácil. — acrescentou Grant.
— E se soubermos
como gerá-la e como convertê-la é possível que encontremos uma fonte
praticamente inesgotável de energia, mais intensa que qualquer outra usada
hoje. — finalizou o professor.
Calem jogou a cabeça
para trás, semicerrando os olhos.
— Isso é incrível. —
confessou. — E quais são os reais avanços na área?
O líder de Cyllage
coçou o queixo.
— Bem, estamos em
pesquisa ainda. Não somos capazes de afirmar muita coisa.
— Por isso resolvi
me reunir com um de meus grandes mestres. — falou Sycamore, apontando para
Gurkinn. — Ninguém entende melhor de Mega Evoluções que ele.
Calem e Serena
ficaram por alguns momentos assimilando as muitas informações disparadas. Agora
estavam mais ou menos a par do tópico que os especialistas discutiam, ainda que
não soubessem como ajudar. Korrina permanecia quieta em seu canto, observando o
diálogo. Gurkinn tossiu levemente, ajeitando sua blusa.
— Vocês nunca viram
o fenômeno acontecendo, certo? — indagou.
Os dois concordaram,
e o velho puxou de seu bolso uma Pokébola um tanto gasta. Em seguida, atirou-a
para cima em um gesto simples, libertando uma criatura bípede, de corpo magro e
púrpuro. Suas pernas eram consideravelmente mais grossas, em um tom forte de
rosa, assim como sua cabeça. Parecia um lutador, ao mesmo tempo que sua
aparência o tornava próximo de figuras ligadas a algumas culturas e
religiosidades de outras regiões.
Gurkinn levantou uma
de suas mãos, onde havia uma pedra presa a um bracelete cuja cor se parecia
difícil de se definir. Os garotos então observaram que o Pokémon também tinha
uma pedra parecida adereçada em seu corpo.
— Medicham, vamos
nessa, velho parceiro. — disse o senhor, estendendo a pedra para frente. — Mega
Evolua!!
As pedras começaram
a brilhar, e o Medicham fechou os olhos por um momento, tendo seu corpo tomado
por uma luz intensa. Era possível ouvir grunhidos provindos do Pokémon, que
movimentava uma quantidade de energia tão forte que mesmo pedaços de papel
soltos começaram a voar ao seu redor. A forma da criatura mudou ligeiramente,
enquanto Gurkinn também parecia extremamente focado na ação. Quando foi
possível perceber o resultado, Medicham estava severamente modificado em sua
estrutura corporal.
Os primos ficaram
perplexos, observando aquele Pokémon em uma nova forma, exalando um tipo de
aura desconhecida.
— O tipo de energia
que possibilita essa transformação… — comentou Sycamore, admirado. — Esse é o verdadeiro mistério.
Gurkinn abaixou o
olhar.
— Confesso que
apesar de saber muito sobre Mega Evoluções, não sou capaz de responder todas as
perguntas. — disse ao professor. — Talvez encontremos algumas respostas nos
arquivos da Torre Mestra, vendo documentos antigos. Meus ancestrais souberam tudo
o que se pode saber sobre Mega Evoluções.
Ele virou-se então
para Calem.
— Me surpreende que
nunca tenham visto isso de perto. É um treinador, certo?
O garoto fez que sim
com a cabeça suavemente.
— Para lutar contra
os gigantes… — falou, observando seu Pokémon. — Você precisa ser capaz de
ultrapassar os limites de força que conhece. — fez uma pausa. — Mega Evoluir.
— Como… Como podemos
obtê-las? — indagou Calem, quase que como um devaneio.
O senhor sorriu.
— Já tive o prazer
de entregar a um Windsor uma Key Stone.
— falou, causando um pequeno espanto nos garotos. — Hoje em dia vocês jovens
conseguem tudo de qualquer jeito. No nosso tempo, apenas se conseguia recebendo
de alguém e o sucedendo nas Mega Evoluções.
Ele voltou a olhar
para o garoto com seus olhos firmes e impassíveis.
— Eu enxergo longe,
meus jovens. Entreguei a alguns sucessores pedras em outros tempos… E alguns se
tornaram os maiores mestres que esse mundo já conheceu. — falou, com um sorriso
no rosto.
Em seguida, virou-se
para Korrina.
— Minha neta teima
que deve receber essa Key Stone desde
pequena. — deu uma risadinha, mostrando a pedra em seu bracelete. — Mas ela não
está pronta.
A garota deu um soco
na mesa em que se encontrava apoiada.
— Isso não é justo,
vovô! — exclamou.
— Se quer tanto Mega
Evoluir, por que não procura de outra pessoa? — perguntou Calem curioso.
Ela fez um olhar de
incômodo.
— De que adianta?! —
inquiriu. — Não é uma pedra qualquer, mas o que ela representa. Eu não quero
simplesmente alcançar novas formas de poder. Eu já sei o quanto eu e meu
Lucario somos próximos.
Ele respirou fundo,
uma vez que notou que seu tom estava mais acelerado que de costume.
— Essa é a última Key Stone que meu avô tem. — disse. — A
que ele usa com seu Medicham.
Gurkinn deu de
ombros.
— Lamento, Korrina. Há
anos eu lhe digo que você ainda não está apta a recebê-la, e ainda não mudei de
ideia. — prosseguiu.
— Como alguém pode
provar a você que é digno de receber uma Key
Stone? — questionou Calem, sucedido por um silêncio.
O velho não escondeu
um sorriso.
— Eu apenas sei, meu
caro. — disse, com as sobrancelhas contribuindo para sua expressão divertida. —
Interessa a você?
— Você não vai dá-la
a um treinador qualquer que acabou de aparecer aqui. — interveio Korrina, se
aproximando naquele momento.
Calem levantou as
mãos em um gesto de defesa.
— Eu não quero me
meter em uma briga de família. Já bastam as minhas. — retorquiu. — Eu apenas
perguntei por curiosidade.
— Não é uma briga,
meu rapaz. — Gurkinn balançou a cabeça. — És um treinador, e para vencer a
Liga, você precisa de uma dessas. É de confiança de meu pupilo Sycamore, e
compreende sobre a existência de Energia Infinita. — prosseguiu. — Tenho
certeza que não é um qualquer.
— Nenhum desses dois
é. — assentiu Sycamore incluindo Serena.
Korrina parecia
tomada por sentimentos conflitantes em sua cabeça. A moça estendeu o braço e
apontou para o rapaz.
— Calem. Eu o
desafio então para uma batalha. — disse, simplesmente, deixando o rapaz em
choque por um momento.
— Não é o treinador
quem desafia o líder? — perguntou o garoto, com um sorrisinho.
Ela ignorou a
brincadeira.
— Uma batalha pela Rumble Badge, e para decidir de uma vez
por todas quem será O Sucessor a receber a pedra de meu avô. Daqui a dois dias.
— ordenou. — Assim, faremos a cerimônia de recebimento da Key Stone junto de um festival da cidade, quando a lua estiver
cheia.
— Cerimônia? —
perguntou a garota.
— É uma tradição que
quando uma Key Stone é entregue a
outro sucessor, seja feita uma cerimônia de entrega. — explicou Gurkinn.
Um silêncio tomou a
sala, e Calem ficou por um tempo fitando Korrina com desconfiança. Serena não
parecia contente com o ocorrido, desconfortável com a provocação feita. Os
demais também não tinham uma exata expressão de aprovação, mas a líder fora tão
incisiva que não se abriu espaço para debate.
Foram poucos segundos de troca de olhares, mas a garota logo pareceu
ceder, perguntando por cima:
— Aceita ou está com
medo? — provocou a líder.
Calem pigarreou.
— De certo eu nem
veria por que entrar nesse conflito familiar. — disse. — Mas já que iria desafiá-la de
qualquer jeito, por que não deixar tudo mais interessante? — sorriu ele. — Desafio
aceito.
...
—
Ei, então nós somos tipo uma família? — disse a menininha, abrindo-me um
sorriso simpático.
—
Eu não sei, eu não gosto da minha família. — falei, ingênuo. — Mas gosto de
você.
—
Então somos mais que uma família, Charlie? — indagou ela em seguida, empolgada.
Soltei
uma risada infantil e concordei com a cabeça, tão animado quanto.
—
Acho que somos! — falei.
Ela
pegou minha mão e saímos correndo e rindo. A noite já caía, mas Lumiose estava
brilhante como sempre. Dançávamos por entre os postes de estética antiga,
admirávamos os imensos telões e neons que nos lembrava que estávamos na Cidade
Luz. Estava frio, bem frio, eu me lembro bem, mas a gente não se importava.
Tinha gente de casaco, cachecóis da última moda caminhando pelo Boulevard e
tirando muitas fotos. Como gostavam de registrar as coisas em fotos. Nós não
tirávamos, guardávamos tudo na memória. Corríamos entre as pessoas, que
praguejavam ao longe; recebíamos olhares tortos dos donos dos estabelecimentos
mais requintados de Lumiose. Mas naquela noite, não nos importávamos, porque
éramos nós que brilhávamos naquele lugar.
Minha
família. Talvez aquela fosse minha família.
...
A areia entrava nos
vãos dos dedos dos pés da menina, que caminhava tranquilamente, aproveitando a
brisa marítima enquanto se deleitava com o olhar ao ver a imensidão das águas
ao redor, ao tempo em que o sol se punha ao longe. Tudo se tingia em tons de
laranja e amarelo, o céu e o mar. Ela sorria, de braços bem abertos, inflando
os pulmões com a pureza do oceano que banhava Shalour.
— O pôr-do-Sol nessa
cidade é tão lindinho! — exclamou.
— O litoral de Kalos
é fantástico mesmo. — concordou o rapaz ao seu lado, apoiando as mãos na
cintura.
— Agora DÁ LICENÇA
QUE EU VOU MERGULHAR NESSA ÁGUA AÍ! — gritou, correndo em direção às ondas e se
despindo.
— Kath, espera, essa
água é funda e…
— Kath não! Kate
Berry!
— Droga… — murmurou
Aldrick, sabendo que se meteria em alguma confusão.
Tentando ser o mais breve possível porque não temos muito a falar do capítulo. Pode parecer um capítulo extremamente pequeno e bobo, mas ele esteve em meus rascunhos por MUITO tempo. Eu cheguei a conferir quando ele foi criado no Word, e marcava dezembro de 2015! Cara, faz tipo um ano e meio. Eu foquei tanto na história central - que já foi bem difícil de manter a postagem - que os especiais ficaram jogados de lado, praticamente. Muita coisa mudou desde que esse rascunho era escrito, mas para não inutilizar tudo que eu tinha feito, mantive.
Vocês devem ter percebido comentários como o do Honedge ser um Pokémon "novo", a ausência do Tyrunt e da Skrelp, além do Eryx não ter evoluído ainda. Porém, pensem que é um capítulo possivelmente da época de Ambrette, antes de chegarem a Cyllage. A guida ainda está tomando forma, e os Pokémon estão se adaptando à nova realidade e organização. Foram cenas curtas, mas que ajudam a ilustrar esses personagens que gosto muito, e espero que vocês também possam compartilhar dessa minha visão. Espero que tenham tido uma boa leitura!
Theodore mantinha
completa concentração na atividade que praticava. Uma das instalações das lâmpadas
recém-colocadas havia queimado, e ele, como sempre, era o encarregado em
consertá-las. Tomava um grande cuidado ao manusear os fios, sabendo que
qualquer toque errado poderia provocar uma descarga elétrica. E ele, como
guerreiro do tipo aquático, tinha ainda mais pavor de eletricidade que qualquer
outro.
Com cuidado, começou
a reparar o local danificado de maneira calma e cuidadosa. Theodore era
extremamente habilidoso com tais atividades, uma vez que já era acostumado a exercer
os mais distintos ofícios na guilda. Precavia-se de não cair da escada, se equilibrando
de uma maneira um pouco confortável. Tudo bem, muita calma.
— THEO! — o tom
agudo de Mary ecoou pelo cômodo.
O grito foi
suficiente para assustar Theodore, o fazendo levar um choque e cair da escada
direto no chão. O Magikarp tentou levantar, e nesse momento a garota o
encontrou, tentando ajudar.
— O que você está
fazendo deitado aí, tolinho? Não é pra descansar, você deveria estar
consertando o suporte da lâmpada. — repreendeu Mary. — Mas pode deixar, eu não
conto pro Neal.
— Muito gentil de sua
parte. — murmurou ele, ainda deitado no chão.
— Quando terminar
precisamos que você compre mais Pecha
Berries na feirinha aqui perto.
Ele levantou a mão,
fazendo um “positivo” para concordar. A garota saiu da sala saltitando,
enquanto o peixe se colocava de pé novamente. Alongou as costas, sentindo um
leve ardor onde caiu, mas logo posicionou a escada novamente e começou a subir.
Respirou fundo e tomou mais cuidado para ajeitar a fiação, desta vez sem
interrupções.
— THEODORE. — a voz
de Neal era a que ecoava agora.
Tomando mais um
susto, Theodore não evitou cair no chão na mesma posição, já quase nem abalado
mais. O Guildmaster apareceu na
porta, balançando a cabeça.
— O que está fazendo
deitado? A guilda não pode parar por um só instante. — murmurou ele.
O Magikarp começou a
se levantar, segurando as costas. Sequer respondeu, porque já estava acostumado
com coisas assim acontecendo. Coisas assim só aconteciam com ele.
— Ouça bem,
precisarei ficar ausente pelo resto do dia. — disse o Larvitar. — Até lá,
deixarei, temporariamente, o controle da guilda em suas mãos.
Theodore tomou um
susto maior que as duas quedas juntas. Ele tocou o próprio peito.
— M-m-minhas mãos?
— Sim. Tente manter
as coisas na linha, tudo bem? — falou o garoto começando a retornar. — E não
faça eu me arrepender dessa decisão quando voltar.
O outro se colocou
em posição de continência, estufando o peito:
— De forma alguma,
senhor. Majestade.
Com um imenso
sorriso no rosto, o Magikarp preparou a escada uma terceira vez. Contudo,
resolveu esperar por alguns momentos antes de subir, porque sabia que a vida
encontraria uma forma de surpreendê-lo de novo. De fato ouviu o som de alguém
se aproximando, e finalmente respirou aliviado de se poupar de mais uma
derrota. Sabendo que não tomaria susto, subiu até a lâmpada e terminou de
ajeitar a fiação.
O som de passos era
extremamente metálico. Logo, um guerreiro totalmente coberto de armadura chegou
ao cômodo, parando na porta. Uma voz sinistra como um rugido de outro mundo ecoava
de dentro da proteção de ferro, embora não fosse possível ver nenhum detalhe de
seu rosto. Era o Honedge de Calem, um dos guerreiros mais novos da guilda.
— Onde está o
detentor deste pequeno império? — perguntou a voz.
—
Bem, você pode falar comigo, se quiser. — respondeu Theodore, concentrado.
— O serviçal? —
indagou Durendall, nervoso, se aproximando. — Ora, quanta audácia dirigir-te a
um dos maiores imperadores da história diretamente!
O Magikarp respirou
fundo e terminou de grudar os fios. Em seguida começou a descer as escadas,
calmamente.
— Olha, se o senhor
quiser falar com o senhor Neal voltar vai ter que esperar até o final do dia.
Se não, só eu mesmo. — comentou, testando o interruptor. — Agora, se me dá
licença, preciso limpar o…
Naquele momento em
que pressionou o botão, a luz se acendeu, e Durendall quase deu um salto,
fazendo até mesmo Theodore estranhar. O guerreiro apontou sua espada para ele,
rapidamente:
— O que fizeste?
— Acendi a luz…? —
respondeu Theodore quase que como uma outra pergunta.
— Então isso é a
eletricidade. — ele ponderou, indo até o interruptor e espantando Theo. — Instantânea.
É… Brilhante!
Ele começou a
apertar o botãozinho, entretido, extremamente admirado com a rapidez com que o
circuito funcionava. Em seus tempos de rei, toda a iluminação era feita por
meio de velas e fogo, e com o passar dos séculos em que ficou preso, não havia
acompanhado inovações como a eletricidade. Era tudo uma nova descoberta para o
Honedge.
— Espera, não fica
ligando e desligando assim, você vai… — dizia ele, até que um ruído alto o
interrompeu, assustando o peixe. — Queimar.
Durendall continuou
mexendo nos botões, mas a lâmpada permanecia apagada.
— O que aconteceu?
— Você queimou a
lâmpada que eu acabei de trocar. — respondeu o Magikarp, sem qualquer
empolgação.
Honedge continuou
parado.
— Isso foi um jargão?
Theodore esfregou a
mão no próprio rosto, tentando manter a calma.
— O que você… Digo,
vossa majestade precisa?
Durendall continuava
apertando timidamente o interruptor, vendo se algo acontecia.
— O QUE VOCÊ QUER? —
gritou o Magikarp para lhe chamar a atenção.
No mesmo instante o
soldado avançou na direção de Theodore, tão rápido que parecia ter flutuado até
lá. O Hondge prendeu-lhe pela gola do pescoço e o levantou alto no chão,
fazendo com que o garoto começasse a entrar em desespero, se debatendo como era
típico de sua espécie. Tudo aconteceu tão rápido que foi impossível prever.
— Jamais ousa
levantar o tom assim novamente, jovem serviçal. — murmurava a voz por dentro da
armadura.
— Pode deixar, uso o
tom que você, digo, vossa majestade quiser. Posso até ficar em silêncio. Quer
que eu fique mudo?
— Theo, você tá bem?
Mary naquele momento
havia retornado ao cômodo. Durendall abaixou o peixe e o colocou no chão
novamente, de maneira que pudesse voltar a respirar aliviado. A garota correu
em direção a ele, checando se estava tudo bem. Ela encarou aquele cavaleiro
alto e misterioso, intrigada.
— O senhor é o
Pokémon que o mestre Calem capturou, certo? — indagou.
— Creio que capturar
seja um termo inadequado. — respondeu ele, pomposo. — Tão inadequado quanto o
vestido que usas! Por Arceus, tragam algo para cobrir as pernas desta criança.
— Mas tá calor lá
fora, senhor. — respondeu Mary inocentemente.
— É que ele acordou
de alguns séculos atrás. — Magikarp coçou a cabeça. — Precisa de alguma coisa,
Mary?
— Eu ia falar que a
lâmpada do galpão das oficinas queimou. — respondeu ela com um sorriso.
— …mais uma?
...
Nada como a
tranquilidade. A paz de uma tarde sem ninguém para incomodar. O doce silêncio,
que estimula a mente a seguir o mesmo caminho e trabalhar em um ritmo mais
lento e agradável. O momento de respirar e permitir que o corpo funcione em seu
próprio tempo, sem qualquer pressa e degustando da calma do momento.
Óbvio que esse
cenário dura pouco.
Smeargle cochilava
em uma rede, mas foi acordado repentinamente por um grupo de crianças correndo.
Espurr, Flabébé e Goomy berravam enquanto seguiam um atrás do outro, de maneira
que o artista tivesse levado um susto e se levantasse de supetão. Os três ainda
passaram em disparada por baixo da rede, balançando-o e o aborrecendo.
— Ei, ei, ei!
Crianças, não veem que eu estou tentando descansar? Vão brincar em outro lugar.
— gritou ele.
— Você não deveria
estar projetando uma estátua para o pátio central? — indagou Mary.
— Eu estou apenas
deixando a ideia se aprimorar na minha mente. — respondeu o Smeargle.
— Não está não, você
só estava dormindo. — caçoou Flabébé.
Ele se levantou.
— Claro que não! Que
acusação injusta. Eu deveria processar todos vocês... — falou, balançando as
mãos, enquanto as crianças o encaravam com seus olhos enormes. — Mas, não farei
isso.
Logo se colocou
novamente deitado na rede, enquanto viu o trio sair correndo para longe, e
respirou aliviado. Finalmente a paz e a doçura do silêncio. Contudo, não evitou
abrir um dos olhos, incomodado. Estava quieto até demais, e crianças em
silêncio com certeza não era um bom sinal. Ele se colocou de pé e os viu ao
longe mexendo em uma caixa com vários pincéis e papéis diferentes.
—Ei, o que vocês
estão fazendo?! — inquiriu, preocupado.
— A gente ia
desenhar com as suas coisas. — respondeu o Goomy sinceramente.
— Eles não são para
brincadeira, são para trabalhar!! — resmungou Vincent.
O rapaz correu na
direção do trio para pegar suas coisas, mas as crianças corriam mais rápido que
ele. O moço parou e ajeitou sua boina no lugar, tentando recarregar as energias
para voltar a persegui-los. Contudo, Mary o fitou com seus grandes olhos
púrpuros, e logo eles assumiram um tom azulado. A garota estendeu as mãos em
sua direção, e Smeargle sentiu uma intensa dor de cabeça, da mesma maneira que
seus sentidos pareciam se misturar na cabeça.
Jurou que os
apanharia, mas ouviu um coro de risadas abafadas de uma direção que não sabia
definir qual, e logo entendeu que ainda não havia conseguido. Era um Confusion, que provavelmente o fazia ser
um motivo de risada para os pequenos, fugindo com as tintas e pincéis. Gradualmente
as coisas pareceram voltar a ficar claras para Vincent, que franziu o cenho.
— É desse jogo que
vocês querem jogar, é?
De seu bolso, puxou
um pequeno bloquinho, e do outro uma caneta típica que usava para esboços
rápidos. Em seguida encarou a Espurr e começou a fazer traços curtos e rápidos,
a desenhando em questão de poucos segundos como se no mesmo momento em que
havia usado o Confusion. Logo, eram
seus olhos que agora brilhavam em azul, e disparou uma forte onda de energia
contra as três crianças. Era o Sketch,
uma habilidade típica de sua espécie que permitia mimetizar golpes.
— Ele copiou sua
habilidade! — exclamou o Flabébé, tentando andar em linha reta.
O Smeargle caminhou
tranquilamente até os três, pegando de volta suas coisas. Quando retomaram
consciência, cruzaram os braços, chateados pela brincadeira ter terminado.
— Acham que podem
passar a perna em mim, é? — disse ele, orgulhoso. — Eu sou velho nessas
brincadeiras!
O artista começou a
caminhar para longe, mas acabou tropeçando em uma pedra que não avistou à sua
frente, tombando no chão com todas as coisas. As crianças voltaram a rir, se
jogando em cima dele para que não conseguisse se levantar, ainda que ouvissem o
artista resmungando várias vezes.
Não muito longe,
Theodore corria apressado com um saco de frutas aparentemente bem pesado em seu
colo, até ouvir uma voz autoritária o interceptando:
— Ei, bobo-da-corte.
O garoto parou
instantaneamente, retomando o equilíbrio e respirando fundo, sentindo calor
pela corrida segurando as frutas. Virou-se e notou a presença de uma moça de
pele escura e cabelos ruivos chamativos, com um par de olhos tão vibrantes e
perigosos que não evitou um pequeno arrepio ao vê-la se aproximar com o olhar
fixo. Contudo, não evitou um comentário baixo.
— E-eu tenho um
nome, sabia?
— Ah, sim, não me
interessa. — falou ela, simplesmente, puxando um papel amassado em seu bolso. —
Eu estava lendo este papel aqui e não entendi direito, diz “vigia da torre um”.
Ele olhou com calma
para a tabela feita contendo as funções de cada membro da guilda.
— Ah, sua função foi
designada para cuidar de uma das torres. — explicou.
— Sim, mas isso é
chato. — retorquiu a outra.
Ele apoiou por um
momento o saco de frutas em uma de suas pernas, desconfortável, murmurando com
uma voz ofegante:
— Perdão, eu
gostaria de poder fazer alguma coisa, mas o senhor Neal que é o responsável por
dividir as funções e tudo mais. — disse, simplesmente.
— E quem deixou ele
no comando? — a Litleo arqueou uma sobrancelha.
Theo respirou fundo.
— Senhorita Gwen, eu
gostaria de poder ajudar, mas estou atolado de coisas para fazer! — disse,
quase que como uma súplica.
Ela preparava-se
para responder, mas naquele momento Austin se aproximou a tranquilos passos,
quando Theodore notou uma oportunidade de escapar. O Skiddo soltou uma
risadinha.
— Já está arrumando
briga, “guardiã da torre I”? — falou, em tom provocativo.
— Do que você está
rindo, “guardião da torre II”? — rebateu ela, sem sorrisos.
Ele fez uma
expressão de surpresa.
— Isso é sério? —
disse, tomando da mão dela o papel e procurando por seu nome. — Bom, melhor que
eu esperava.
Ela fez um rosto de
deboche.
— Mesmo?
— Tem gente ajudando
a construir esse lugar do zero. Nossa única função é ficar em cima de uma torre
vigiando as redondezas. — o Skiddo deu de ombros. — É isso pelo conforto de uma
boa cama e cinco refeições por dia.
— É, mas isso é
chato. — resmungou ela. — E arriscado.
— Por que alguém
invadiria nossa guilda? Ela não tem nada demais. — tranquilizou o outro.
— Por que o Thanos é
tesoureiro? — perguntou ela, conferindo o papel.
— O quê? —
questionou o outro em seguida.
Quase
concomitantemente, o Pancham apareceu próximo aos amigos, andando como sempre
em seu ritmo lento e solitário. Os dois gritaram para chamar sua atenção, e o
rapaz os acompanhou, vendo suas expressões não muito contentes. Ele manteve seu
rosto neutro e levemente mal-humorado, as olheiras marcando a pele pálida.
— Por que você não
tem que vigiar uma torre? — inquiriu Mason.
— Eu pensei que você
tivesse gostado de vigiar torres. — comentou a garota para o amigo,
provocativa.
Thanos permaneceu os
encarando sem compreender nada. O bode empurrou a ele a tabela de dados da
guilda.
— Por que a sua
função é mais importante? — inquiriu.
Ele olhou para o
papel ligeiramente para ver do que se tratava, e logo entregou de volta.
— Todas as funções
são importantes. — falou, simplesmente.
— Para de falar
igual eles, seu bundão. — resmungou o Skiddo.
— Porque eu estou
aqui há mais tempo que vocês. — acrescentou o garoto, com seu tom arrastado. — E
conversei com o Neal sobre.
Mason ficou por
alguns momentos ponderando, e em seguida estendeu a mão para um cumprimento,
agora empolgado.
— Cara, mandou bem.
Agora que você vai ser tesoureiro a gente ainda pode passar a mão nas coisas
deles e…
— Eu não escolhi
esse cargo para roubar nada de ninguém. — interrompeu o Pancham.
Os dois ficaram a
encará-lo desconfiado.
— O maior ladrão de
Lumiose se aposentou. — provocou o amigo, em um tom irônico.
— Você realmente
está entrando nessa? — perguntou Gwen com as sobrancelhas arqueadas.
O outro soltou um
longo suspiro.
— Eu só não quero
estragar tudo desta vez. — falou. — Só isso.
Um silêncio incômodo
pairou sobre o grupo, de maneira que ficassem a se contemplar, sabendo que
haviam chegado a um atrito. O Skiddo jogou os braços atrás da cabeça,
preparando-se para sair de lá.
— Eu vou é vigiar a
minha torre que eu ganho mais. — murmurou, saindo.
Os outros dois nada
disseram, ficando em silêncio. Gwen dirigiu ao outro seus olhos verdes de
maneira investigativa, pesquisando sua expressão. O Pancham também ficou a
olhá-la, mas parecia que sua feição nada dizia, embora suas ações fugissem do
que a amiga esperava.
— Você acha que
cuidando das coisas de uns meninos estranhos vai mudar alguma coisa? — indagou
ela, mais baixo que em outros momentos.
— Gwen. — ele
suspirou. — Vocês finalmente têm uma oportunidade de fazer algo diferente. Por
que não aproveitam? — perguntou, se retirando.
A moça ficou parada,
querendo responder, mas as palavras não saíram. Ela odiava não ser a última a
dar uma resposta, ser aquela que não termina o assunto. Por muito tempo havia
sido apenas ela, Thanos e Austin juntos de seu treinador nos diferentes lugares
de Kalos. Em seguida, eles se afastaram do Pancham, voltando a se reencontrar
somente nos últimos tempos. Por mais que ele não tivesse mudado tanto, ainda
assim era possível perceber que era diferente. Thanos sempre fora solitário,
mas parecia fazer questão que seus amigos se envolvessem com aquela guilda,
mesmo que permanecesse sozinho.
Ela não sentia essa
necessidade, sentia que poderia muito bem se virar sozinha, como sempre fez,
sem precisar ceder a um grupo qualquer de garotos. Por outro lado, sentia um
conforto esquisito ao poder estar com eles e não se preocupar com certas coisas
básicas. Todos se encarregavam de cuidar de todos e proporcionar o melhor para
cada membro. Isso a dava um alívio que até então Gwen nunca havia sentido
antes, e ainda tentava compreender como articular isso.
...
A noite caía na
Royal Emperium. Neal caminhava tranquilamente pelo pátio principal, sentindo-se
confortável de estar de volta em casa. Além disso, as construções da guilda
estavam maiores que quando partira. Finalmente estava tudo tomando mais forma,
as obras quase em conclusão. Aos lados via as crianças brincando, e isso o
fazia sorrir discretamente, vendo sua inocência e diversão.
— Majestade!
Ele retornou à
realidade ao se deparar com o Magikarp caminhando apressado em sua direção,
logo em seguida colocando-se em posição de sentido, estufando o peito e não
conseguindo evitar uma respiração arfante de cansaço. Neal assentiu com a
cabeça, e ele relaxou a posição, coçando a cabeça enquanto acompanhava seu
líder na caminhada.
— Hm, veja bem, a
guilda está meio desarrumada, mas…
— Relaxe. —
interveio o outro. — Só de ela não ter pegado fogo eu já fico melhor. — ele deu
uma risada cansada. — Aproveitou o dia em que o controle da guilda ficou em
suas mãos?
Theo parou por um
minuto para refletir sobre seu dia: as lâmpadas trocadas, as berries a se comprar, e as inúmeras
tarefas que fez para toda a guilda. Em seguida, soltou uma risada de nervoso,
limpando a testa suada com a manga de sua roupa.
— Pensando bem,
senhor, não senti exatamente muito controle nas minhas mãos não.