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Notas do Autor - Capítulo 30

ALERTA DE SPOILERS! Antes de ler as notas, leia o capítulo correspondente primeiro!

...Eis que, 5 anos depois, concluímos a primeira temporada.

Tenho tantas coisas pra dizer nesse momento que nem sei ao certo por onde começar. Primeiro, estou feliz com a conquista, que demorou, e muito, mas ela chegou. Trinta capítulos (mais especiais). Uma temporada. A Saga X. Completa. Depois de tanto tempo.

Eu comentei em algum momento, se não me engano, que o final da temporada não seria simplesmente um número de capítulos que extrapolou. A temporada não mudaria só porque alcançamos um determinado número de episódios, mas sim porque o enredo sofreria uma mudança nítida. (comentei isso? Na minha cabeça sim, mas não tô lembrado de quando) E, de fato, com esse final demos um giro de cento e oitenta graus na história. A parte boa de demorar tanto pra postar uma fanfic é que o tempo é ótimo para amadurecer ideias. Há anos planejo tudo isso, e se um dia acabaríamos a Saga X com um inocente festival em Shalour, agora vemos o início de uma nova temporada com um clima muito mais tenso e obscuro.

A Saga X recebe esse nome porque ela representa Xerneas, a Vida. Ou seja, essa temporada toda foi sobre vivência. As primeiras experiências, o primeiro amor, as primeiras decepções, os primeiros medos, a imaturidade, o amadurecimento, o crescimento. Tudo isso, todo o ciclo da vida, esse momento de florescimento e cores da descoberta e da beleza de existir. Esse era o foco de Kalos até então. Eis que entramos na segunda etapa, que é a Saga Y, a Morte, regida pelo senhor do Caos Yveltal.

Nesse quesito, testemunhamos quase um falecimento de nossos protagonistas, porque eles não serão mais as mesmas pessoas. A partir deste momento, eles ganham um status de fugitivos. Agora não são apenas crianças em uma jornada Pokémon: eles são procurados por um dos homens mais influentes de Kalos e, apesar de nossa jornada continuar, não vai mais ser a mesma coisa de sempre. É inevitável que a Saga Y seja muito mais sombria e ominosa, porque viveremos sob uma constante atmosfera de dúvida e incerteza. Qualquer um pode ser um novo inimigo, qualquer um pode nos entregar. Na última vez que confiamos em alguém, ele nos traiu. Damos um "até logo" para as riquezas e luxos da família Windsor, porque agora o foco é a liberdade - e o custo dela é alto, muito alto.

Espero que tenha realizado algumas das ambições de vocês para o final de uma temporada. Tem explosão, tem diálogo forte, tem a Serena atacando o noivo com uma espada, tem Stevan levando cuspida na cara. Algumas perguntas importantes foram respondidas nos últimos capítulos, e finalmente poderemos começar uma nova etapa, renovados, pelo menos por enquanto.

SAGA Y: QUANDO?

Em teoria eu deveria fazer um hiato para começar a nova temporada, mas eu já tenho estado em hiato a cada capítulo desde... 2013 ~risos de nervoso~ ou seja, se eu falasse pra vocês GENTE AGORA EU VOU DEMORAR MESMO provavelmente só teríamos capítulo novo em 2023 ~mais risos de nervoso~. Neste caso, não esperem nada de muito diferente. Não vou lançar o capítulo novo semana que vem (tava lindo 3 semanas de capítulo seguidas, verdade). Maaaas também não pretendo tardar muito. Por sorte já comecei os planejamentos da Saga Y faz um tempo, então já tenho em mente como começar. Quero só ter um tempinho para me adiantar e dar umas mexidas no design, e prometo que logo atualizo vocês com a nova temporada. Afinal, essa mudança pede uma mudança nos protagonistas e no próprio layout. Fiquem de olho nas páginas por aí que elas passarão por mudanças durante esse tempo!

Deixo um agradecimento a vocês que me acompanharam até aqui, e espero contar com sua presença na nova temporada. Obrigado e bom final de semana <3

Capítulo 30


Capítulo 30
Até que a Morte nos Separe

O tempo passado na área litorânea de Kalos, suavemente mais quente, havia feito Calem se desacostumar com o clima frio e fechado de Vaniville Town. Algumas nuvens grossas se formavam e dançavam pelo céu, bloqueando ocasionalmente o Sol frágil de trabalhar naquela manhã. O garoto, contudo, foi capaz de tomar uma ducha como há muito não podia, nos confortos de sua mansão, saindo com um forte cheiro das mais refinadas ervas da região.
Envolvido por um robe grosso de tecido extremamente confortável, o rapaz recostava-se sobre uma varanda. De lá de cima, fitava um belo jardim perfeitamente podado, com sequer uma folhinha fora do lugar. Lembrou ligeiramente do Parfum Palace, embora o quintal deles não fosse tão grande quanto o de seu tio Louis.
Ouviu um ruído e virou-se para trás, encontrando Serena caminhando em sua direção. Também usava uma roupa mais confortável, e seus músculos faciais se alongavam em um bocejo. Ela encostou ao lado dele, encarando a paisagem, ainda se acostumando com a claridade após acordar.
— Não tenho a visto mais com tanta frequência. — murmurou o garoto.
Os olhos da menina deslizaram pela paisagem.
— Deu para descansar um pouco de mim, então.
Calem deu uma risadinha. Ao fundo, organizavam-se morros e montanhas, cobertos por uma neblina grossa que não permitia que se avistasse seu final. O rapaz engoliu em seco. Espiou de canto de olho a expressão da prima, e viu como seu rosto parecia perdido naquele cenário; os olhos azuis melancólicos e amargos sem a empolgação costumeira. Ele pigarreou.
— Serena, eu…
— Em Camphrier… — balbuciou ela, baixinho, o interrompendo. — Você disse que quando chegasse a hora, nós convenceríamos meu pai. — ela se virou para ele. — E em Shalour…
Calem esfregou as mãos, incomodado. Abaixou o olhar sem uma reação imediata.
— Serena, me desculpe. — falou, honesto. — Eu achei que…
A garota se afastou da varanda.
— Tudo bem, Cal. — ela balançou a cabeça, como se tentasse colocar os pensamentos de novo no lugar. — No final eu concordei com meu pai mesmo. Desculpa, eu não quis jogar tudo nas suas costas.
E pensar que poucos dias atrás estávamos nós encostados na varanda quase na mesma posição, mas admirando o mar que banhava Shalour, comentando sobre como finalmente eu me sentia capaz de estar viva desde que saíra de casa. Como o destino às vezes é irônico.
Ela afagou os braços no próprio corpo, se aquecendo. Em seguida caminhou para dentro, pronta para tomar café-da-manhã. Calem se virou, com pesar, deixando escapar uma pergunta.
— Você tem certeza do que está fazendo, Serena?
Ela parou de caminhar, dirigindo-lhe um olhar frígido.
— Não. — disse ela, simplesmente.
O garoto soltou um longo suspiro, segurando com força a sacada da varanda. Seus dedos tremiam com a pressão que exercia, como se tentasse extravasar de alguma forma. Ele prometera que a libertaria, mas naquele momento nenhum dos dois tinha mais forças para lutar contra a própria família.
O menino ouviu que alguém se aproximava e, como esperava que fosse sua prima novamente, sentiu uma pontada de decepção ao ver que era apenas um dos outros funcionários que trabalhava nas mansões. Uma senhora de cabelo preso em coque, protegido por uma redinha, entrou apressada à sua procura:
— Senhor Calem! — disse ela. — Tem visita para o senhor.
O rapaz arqueou uma sobrancelha.
— Quem é?
— Ele apenas disse para você ir urgentemente. — completou a senhora.
Calem ficou parado sem uma exata reação. Com certeza não esperava visitas, pelo simples motivo que era raro que qualquer visita aparecesse nas casas de sua família. Contudo, com o casamento de Serena, alguns conhecidos e parentes mais afastados estavam chegando à cidade, e isso poderia explicar o motivo da surpresa.
O garoto reforçou a amarradura do robe e desceu as escadas, seguiu pelos corredores até o hall de entrada. O piso de pedra estava perfeitamente brilhante àquela manhã, contrastando com o papel de parede de aparência vintage, decorado com alguns retratos pintados de membros da família. O rapaz deslizou a mão pelo corrimão longo de madeira escura e desceu com cuidado os grandes degraus, chegando a um tapete clássico de enorme extensão.
Seus olhos correram pelo ambiente à procura de alguém, até encontrar um garoto que de início não reconheceu pelas vestes. Quando o rapaz tirou seu chapéu e cachecol, ele assimilou instantaneamente aqueles olhos verdes desconfiados e o sorriso torto. Não evitou uma expressão de completa surpresa:
— O que você está fazendo aqui, Charles? — indagou, as palavras ecoando pelo enorme salão.
O garoto se aproximou, em um tom nervoso porém cochichado.
— O que você pensa? — inquiriu ele, balançando os braços.
O outro olhou para os lados e o empurrou para uma área mais oculta do hall.
— Você é louco? — inquiriu. — Se o pai de Serena o encontra aqui…
— Se eu não viesse você não iria fazer nada. Eu disse que era um primo que veio para o casamento. — interveio o garoto, instaurando uma pausa. — O Elliot contou tudo o que o pai da Serena sabe.
Calem encostou-se na parede, como se tivesse tomado um soco no estômago. Ele ficou encarando o garoto e deu uma risada, esperando pela pegadinha.
— Como assim? — murmurou. — Ele não tinha um…
— Ele nos enganou. Não tem avô nenhum, nem deve ter a idade que ele disse. — retorquiu Charlie. — Ele é só mais um dos encarregados nojentos do seu tio que veio nos perseguir.
O menino esfregou as mãos no rosto, incrédulo. O tempo todo ele sentia que havia algo nas perguntas que Elliot fazia, mas sempre tomou apenas como uma curiosidade. Jamais pensaria que estava entregando todas as informações que Stevan não tinha sobre o dia-a-dia do grupo. E, sobretudo, ele que deveria ter comunicado o homem sobre o fracasso de Calem em algumas de suas batalhas.
— Agora não dá tempo de se arrepender, eu já bati nele por nós três. — falou o outro com simplicidade. — Eu tenho um plano, só precisamos…
— Charles. — o menino voltou a encará-lo, segurando-o pelos ombros. — Você não entendeu ainda. — ele focou os olhos cinzentos sérios. — Acabou.
Um silêncio mórbido se instalou na área de entrada. Charlie desviou o olhar e se soltou, com uma expressão amargurada no rosto. Ele virou-se para Calem, voltando a sussurrar, mas não evitou que seu tom subisse inconscientemente:
— Você vai mesmo deixar Serena, sua prima, se casar?! — inquiriu, aproximando-se.
— Charles, — respondeu o outro. — talvez seja um mundo estranho para você, mas é assim que as coisas funcionam na nossa família há um certo tempo.
Charlie soltou uma risada de deboche.
— Então você desiste?
Calem ficou alguns segundos o encarando, cansado de receber tantas vezes aquela mesma provocação. Desta vez, ele mordeu a isca, respirando fundo e respondendo:
— Desisto.
O garoto deu passos curtos pelo espaço. Ficou a fitar um dos retratos de algum membro da família que sequer chegou a conhecer. Pelas vestes, sabia que aquele membro dos Windsor era de alguns séculos passados. Tinha uma pose heroica e nobre. Era apenas mais um entre tantos outros, das mais diferentes épocas, espalhados pelas paredes da mansão.
Calem tinha uma expressão vazia no rosto. Era como se repetisse apenas os discursos que lhe empurravam sem de fato crer naquelas palavras. Quando Charlie o questionava, sentia uma dor, porque era incapaz de defender algo que não concordava. Mas seu amigo não sabia o que era estar entre a cruz e a espada em um conflito familiar daquele porte.
— Eu acho que é para isso que nascemos afinal, Charles. — falou Calem, com um tom baixo. — Ficar aqui. Eu sabia isso desde o princípio. Nunca quis sair. — ele suspirou. — Por um tempo eu quase me esqueci, mas… É a verdade, afinal de contas.
Charlie cerrou as mãos, balançando a cabeça.
— Não acredito que estou ouvindo isso.
O outro se aproximou das escadas novamente, virando-se por curtos instantes.
— Adeus, Charles. — disse, por fim.
— Calem, me escute.
Mas ele apenas continuava a subir os degraus, calmamente.
— PARA!!
Um eco reverberou por todo o hall e, consequentemente, pelos corredores mais próximos. Calem congelou no lugar, enquanto o amigo ofegava, no primeiro degrau. Charlie engoliu em seco.
— Eu sei que tem um por cento de você, que seja, lá no fundo, que quer que tudo volte ao normal. Que quer voltar para nossa vida. Ouça o que eu tenho a dizer, pelo menos. Por favor — disse o garoto em um tom de súplica que Calem nunca havia ouvido antes. — Eu vim até aqui.
Calem suspirou, e após alguns segundos de debate interno, se virou para ele, descendo alguns degraus, ainda que seu rosto ainda moldasse uma expressão dura.
— Você tem dois minutos. — disse, por fim.
...
O dia de Serena fora cheio. A expressão “dia de noiva” finalmente fazia sentido em sua cabeça. Desde que acordara uma equipe de pessoas controlou basicamente todos os seus movimentos. Apesar de lhe reservarem inúmeras atividades de relaxamento, a garota no fundo sabia que não conseguiria fazê-lo plenamente. Ainda não conseguia ter os pensamentos no lugar, mas esperava que tudo se acertaria quando aquilo terminasse.
A algum tempo da cerimônia, depois de longos horas de maquiagem e cabeleireiro, trajaram-na com o vestido de noiva cuidadosamente escolhido para aquela ocasião. Ele já havia sido usado por outras moças da família Windsor e por isso era extremamente tradicional. Deixava seus ombros livres, começando ao entornar seus seios, com um tecido tão fino e belo que a garota tinha até medo de pensar no valor que custava aquela roupa.
A parte de baixo do vestido era tão cheia e grande que até mesmo ficava difícil de andar. Se sequer conseguia ver as pernas por baixo daquelas camadas, imagine só os sapatos tão cuidadosamente selecionados, igualmente de tom branco. A cauda era imensa, e Serena tinha dó de arrastá-la pelo salão, de tão limpa que estava. Tinha que admitir que aquele vestido era uma das roupas mais lindas que já viu em toda a sua vida, milimetricamente decorado, mas de aparência geral simples, como se tanto requinte se escondesse em meio a delicadeza.
Uma das moças encarregadas de ajudá-la fez os últimos ajustes no vestido, prendendo-o em sua cintura no tamanho ideal. Serena se encarava no espelho, tentando reconhecer aquela figura que a encarava. Seus longos cabelos louros estavam brilhando, amarrados em um penteado que levou horas para ficar pronto. Seus fios eram sempre reluzentes como o ouro, mas sobretudo pareciam especialmente bem cuidados naquele dia. A moça sorriu a ela, dando alguns passos para trás.
— Você está linda. — elogiou.
A menina forçou um sorriso.
— Obrigada.
A moça fez um sinal para as demais assistentes, tocando a garota no ombro.
— Vamos preparar os arranjos de flores e já voltamos, está bem? — disse.
A garota fez um sinal positivo com a cabeça, e ficou a se encarar novamente. Ela sentiu-se, por um instante, como em sua festa de quinze anos. Desta vez, porém, o que a esperava depois do evento não era uma vida de aventuras. Não tinha um vestido brilhante e róseo; tinha o porte de uma moça, a pose tão intacta como uma princesa. Mas seus olhos ainda não conseguiam enganar, por mais que forçasse os músculos do rosto a sorrir.
A porta abriu e ela nem se virou, aguardando as moças encarregadas de ajudá-la a se preparar. Contudo, após ser sucedida pelo silêncio, resolveu olhar. Um rapaz alto de longos cabelos louros a encarava, e por mais que tentasse disfarçar, não evitou sua surpresa ao vê-la, naquelas roupas, daquele jeito. Após alguns segundos de confusão, ele deu uma risada constrangida, ajeitando seu terno.
— Desculpe, me disseram que o banheiro é aqui. — falou, envergonhado.
Serena balançou a cabeça, singela.
— Ah, é bem comum que se confundam. A casa é meio grande. — ela abriu um sorriso, apontando para o lado de fora da porta. — Na verdade fica no corredor de lá.
O rapaz assentiu e se preparou para partir, mas a garota acabou o interceptando:
— Já nos encontramos antes? — indagou.
Ele parou e se virou. A menina de fato sentia que já vira aquele rosto em outra ocasião, aqueles cabelos longos caídos pelas costas. Ele não era louro como ela, seus fios eram extremamente claros, quase tão pálidos quanto sua alva pele. Ele ponderou por alguns momentos, fitando seus olhos azuis com tanta profundidade que parecia explorar o interior de seu cérebro. Seu tom era tão pacífico que parecia uma melodia, ela sentia que poderia ouvi-lo falar o dia todo – e era maravilhoso finalmente algo que a acalmasse, naquele dia.
— Sinto que já. Perdão por não reconhecê-la, mas imagino que não estava vestida assim quando nos encontramos pela primeira vez. — brincou ele.
Serena não evitou uma risada.
— Não estava. — concordou.
Eles desviaram o olhar. O moço voltou a encará-la e, por alguns segundos, ficaram assim, até que ele rompesse com a quietude:
— Por que sinto que seu rosto está triste, no que deveria ser o dia mais feliz de sua vida? — perguntou ele.
Serena desfez o sorriso, dando leves passos pelo quarto. Infelizmente não conseguia andar muito – e nem queria arriscar, com medo de sujar o vestido ou estragá-lo.
— Eu não queria que tudo isso estivesse acontecendo. — respondeu ela. — Não agora. Não desse jeito.
O homem abaixou o olhar.
— Eu sinto muito. — disse.
Ela assentiu com a cabeça, e voltaram a ficar em silêncio. Ele se preparou para ir embora, mas parou com a mão na porta, não evitando um último contato.
— Ei, moça. — falou.
Serena focou o olhar, vendo-o abrir um sorriso fino em seu pálido rosto.
— A vida é uma só. — disse. — Não deixe que tirem sua chance de ser feliz.
Em seguida ele avançou rumo ao banheiro e a garota ficou parada, vendo-o ir embora. Aquelas palavras, ditas com o tom musical do rapaz, adentraram sua mente como um furacão. Ela encostou sobre a parede, a mente voltando a se envolver por um turbilhão. Logo as moças voltaram com os arranjos floridos para seu vestido, e a preencheram de conversas. Contudo, parte do cérebro de Serena não conseguia esquecer o que acabara de ouvir.
...
Era chegado o momento.
Havia horas que os convidados chegavam para a cerimônia. O local escolhido era um salão imenso entre as mansões da família Windsor, utilizado justamente para aquele tipo de eventos. Além dos parentes que já habitavam Vaniville, outros integrantes da família e conhecidos de todas as partes de Kalos haviam sido chamados. Havia seguranças por todos os cantos, tão imóveis quanto estátuas, apenas aguardando por qualquer necessidade de ação.
O evento também tinha cobertura para toda Kalos, pela televisão. Muitas pessoas se interessavam naquele tipo de festa de pessoas renomadas da região. Stevan fazia questão de cumprimentar aqueles que chegavam de longe, oferecendo uma recepção envolvida pelos melhores petiscos e uma música ambiente orquestrada.
Com o cair da tarde, todos foram convidados a adentrar o salão. A aparência do espaço lembrava as igrejas mais antigas de Kalos, apesar das centenas de assentos cobertos por um tecido branco fino, e as delicadas pétalas de flores derrubadas cuidadosamente para ornamentar. Sob um altar espaçoso, era possível ver pinturas antigas das lendas mais ancestrais do continente, batalhas de Vida e Morte; era difícil estimar sua antiguidade, mas os detalhes eram tão cuidadosamente feitos que as histórias pareciam ganhar vida na arte.
Foto original por Have Camera Will Travel


Enormes pilares sustentavam as paredes altas, repletas de mosaicos com figuras também lendárias. Lustres de vidro tão pesados pendiam do teto metros acima, tão cuidadosamente articulados que pareciam esculturas de gelo brilhando. Os assentos foram quase todos ocupados pelos presentes, que se organizaram calmamente. Todos trajavam roupas extremamente elegantes, das melhores marcas e grifes de Kalos.
Calem ajeitou-se em seu lugar. As mãos estavam tão frias e inquietas que colocou-as no bolso de seu paletó. Respirou fundo – aquele lugar, apesar de imenso, conseguia deixá-lo claustrofóbico. Os falatórios cessaram quando a cerimônia teve início, e o garoto sentiu seus músculos congelarem.
A orquestra começou uma típica melodia de matrimônio. Gradualmente começaram a entrar os padrinhos – Calem sequer pôde ser escolhido como um, uma vez que Stevan movera seus peões para organizar tudo. Havia várias pessoas emocionadas, limpando as lágrimas em lenços, e o garoto revirou os olhos. Algumas pessoas ele sequer tinha visto na vida. Por que se emocionavam por um evento cuja gravidade sequer compreendiam?
Por último, o noivo entrou. Apesar de saber que não tinha culpa das coisas, Calem queria cuspir em seu rosto quando passasse por ele. Mas não o fez. O rapaz caminhou com um sorriso tão sincero que o menino sentiu uma pontada no peito. Curiosamente, ele utilizava não um terno qualquer, mas um uniforme refinado de guerreiro, incluindo uma espada presa a uma bainha. Era típico que famílias de grande poder mantivessem essa tradição, relembrando as conquistas militares de outrora. Algumas outras espadas decoravam o ambiente, embora o rapaz se perguntasse se de fato eram reais, para estarem assim expostas.
Ele subiu no altar, e os olhos de sua mãe marejaram. O rapaz tinha um sorriso perfeito, os cabelos penteados cuidadosamente no lugar. A melodia continuou por mais alguns minutos, e o coração de Calem disparava, porque sabia o que viria a seguir.
Não muito longe dali, Serena respirava fundo, dentro de um carro. Seu pai segurava sua mão, e ela sentia os dedos grossos tentando acalmá-la. Ele desceu primeiro, estendendo a mão e abrindo a porta para ela. A garota acidentalmente esbarrou em um dos funcionários que a ajudaram a se ajeitar logo que levantou.
— Desculpe. — falou ela.
— Sem problemas, princesa. — ouviu em resposta.
Serena assentiu, mas quando assimilou suas palavras, seu coração quase parou ao cogitar algo. Contudo, quando se virou e procurou pelo que havia pensado, notou que era apenas um delírio. Vários flashes de câmeras se dirigiam a ela, e a menina cruzava um de seus braços com o de seu pai. As mãos cuidavam para segurar aquele buquê enorme de majestosas flores. O véu em sua cabeça pesava, especialmente a tiara em sua cabeça, repleta de pedras.
Por um momento eu lembrei como odiava aquilo. Era como se todos os olhares em um raio de muitos metros só conseguissem focar em mim, e isso me incomodava. Incomodava porque a cada segundo eu só desejava que o chão me engolisse. Moldaram-me como uma boneca, eu quase não conseguia me mover. Não sabia para onde olhar, eram tantas fotos, tantas pessoas… E aquele momento, sobretudo, era o meu. Eu sabia o que viria.
Ela respirou fundo, tentando evitar o nervosismo. Stevan lançou um olhar solidário, tocando-a com leveza no queixo.
— Pode abrir um pequeno sorriso? — pediu, gesticulando a mesma ação com a boca.
A garota o fez, tentando encontrar forças para sustentá-lo. Estava tão nervosa que teria de ir no banheiro – se não tivesse feito isso três vezes antes. Conseguia ouvir a orquestra, e o momento dramático da melodia fazia seu coração pular, arrepiou-se dos fios do cabelo até os dedos dos pés. Ela já ouvia ouvido músicas do gênero antes, mas não imaginava que as ouviria em seu próprio casamento. Não tão cedo.

As imensas portas do salão se abriram, e Serena sentiu na pele as centenas de olhares focando em si.
Os sinos batiam em sua presença; a música atingia seu ápice; pessoas choravam apenas por vê-la entrar, e ela não entendia o porquê. A luz transpassava pelos mosaicos fazendo aquele salão gigantesco brilhar nas mais variadas cores; as artes ganhavam vida pelas paredes. Serena sentia um aperto a cada passo que dava, como se sentisse que sua história estivesse sendo feita a cada movimento. O corredor até o altar parecia não ter fim, e ela não poderia correr para chegar logo. Apenas sorria para todos que lhe dirigiam o olhar admirado e faziam os melhores votos.
Finalmente seus olhos encontraram os de Calem, no meio dos bancos. O garoto parecia abismado. Nunca havia visto sua prima tão linda como naquele dia. Era fato que ela sempre era bonita, mas especialmente naquele dia haviam a produzido tanto que parecia ser simplesmente a moça mais bela de Kalos. Mas ele, ainda assim, tinha uma expressão triste ao vê-la assim justamente para aquela ocasião. Seu noivo, Henri, ao longe, formava um sorriso bobo no rosto, extremamente satisfeito ao vê-la se aproximar.
Quando ela chegou ao altar – embora parecesse ter passado horas – seu pai levemente tirou-lhe as mãos, permitindo que caminhasse sozinha. Ele revelou uma expressão de felicidade, vendo-a andar ao centro do altar, na companhia de seu noivo. Ela dirigiu-lhe um sorrisinho, e ele parecia estondeante. A melodia cessou e todos se sentaram, enquanto um líder religioso rompia com o silêncio que inundou o salão naquele momento.
Ele pigarreou, e o eco percorreu o imenso salão:
— Estamos aqui reunidos para celebrar um momento único na vida deste casal. — foram suas palavras iniciais.
Serena queria ouvir cada uma das palavras com cuidado, mas não conseguiu. Sua mente focava em tantas coisas ao mesmo tempo que era como se cada segundo durasse o dobro, como se estivesse submersa em um oceano, e as palavras se dissolvessem na água. O moço louro que a encontrou se vestindo estava algumas fileiras para trás. Calem estava de outro lado, apreensivo. O vestido a apertava. Os olhares e câmeras não disfarçavam o quanto a encaravam e monitoravam seus movimentos. Ela respirou fundo e focou em não cair ali mesmo, desmaiada.



— De todos os mistérios do mundo, o amor é aquele que nos intriga desde os primórdios da humanidade. Ele nos atinge e, sem pedir licença, nos muda para sempre. — prosseguiu o senhor que dirigia a cerimônia.
A menina percebeu uma movimentação dos seguranças no canto do salão, e uma boa quantidade deles caminhou para fora. Stevan espiou o acontecimento também de canto de olho, bem como outros presentes, mas ninguém se importou muito. As palavras do senhor reverberavam pelo salão como uma profecia.
— O casamento é um marco na vida de um casal. Mas representa apenas mais um dia de amor, de toda uma vida de união e companheirismo. — disse. — Henri e Serena são uma família e, frente a tantas pessoas queridas, marcam hoje o dia em que anunciarão sua caminhada juntos pelo trajeto da vida, enquanto o grande senhor da existência, Xerneas, permitir que respirem juntos.
A menina levantou o olhar para as pinturas. Um cervo imenso era representado com toda a majestade possível; os chifres brilhando em tantas cores como um arco-íris, em um ambiente doce e natural. Ela desceu os olhos e encontrou seu noivo, sorrindo.
— Henri d’Ampierre. — disse o senhor. — Aceita Serena Windsor como sua legítima esposa?
O homem alternou seu olhar entre a noiva e o senhor que realizava a cerimônia. Por fim, respirou fundo:
— Eu aceito. — disse, abrindo um sorriso, com toda a certeza do universo. — Aceito Serena como minha esposa, e prometo amá-la e respeitá-la. Na alegria e na tristeza. Na saúde e na doença. Na riqueza e na pobreza. Por todos os dias de minha vida. — falou, com firmeza. — Até que a morte nos separe.
Aquelas palavras a atingiram. Todos ao redor se emocionaram e esboçaram sinceros sorrisos.
— Serena. — disse o senhor, dirigindo-se para ela. — Aceita Henri como seu esposo, e promete amá-lo até que a morte os separe?
"Até que a morte nos separe."
A menina sentiu que naquele momento carregava todo o peso do mundo em suas costas. Os olhares apontaram inquisidores em sua direção; seu pai a fitava com uma expressão autoritária mascarada em doçura; Era como se aquelas palavras separassem seu passado de seu futuro; um futuro que a perseguiria por todos os dias, até que a Morte decidisse que o caminho havia terminado.
Ela passou a língua pelos lábios secos, e sentiu a própria respiração. Por fim, abriu a boca, e tentou reunir forças para conseguir retirar aquelas palavras presas na garganta:
— Eu aceito.
Calem abaixou a cabeça. Stevan respirou aliviado. Henri sorriu. O senhor assentiu com a cabeça e olhou para as demais pessoas assistindo à cerimônia, emocionados. Levantou os braços, centrado:
— Se alguém tiver algo a dizer para impedir que esta união aconteça, que diga agora, ou cale-se para sempre.
As palavras ecoavam tão assustadoras quanto a promessa da eternidade que supunha. Que intimidador era intimar alguém a fazer promessas que durassem para sempre. Calem abaixou a cabeça, trêmulo, suprimindo os gritos que lhe ameaçavam escapar pela garganta. Por fim, fora a reverberação do som, o salão era inundado por um profundo silêncio, que aquecia a consciência de muitos, e perturbava a mente de alguns. O senhor fechou seu livro.
— Neste caso, eu os declaro…
— EI!
O grito vibrou pelo espaço, como uma descarga elétrica que trazia todos de volta à realidade. O coração de Serena disparou, e os olhos de todos correram para as imensas portas de entrada, onde um rapaz vestia os uniformes daqueles encarregados de trabalhar na cerimônia. Contudo, sem o chapéu, revelava cabelos castanho-claros rebeldes, e olhos verdes faiscantes como esmeraldas, provocativos como o sorriso travesso que tinha estampado na face.
— Senhores, desculpe interromper, mas quero sim impedir que a união aconteça. — disse Charlie, em tom alto.
As expressões dos rostos dos presentes pareciam um quadro de tragédia antiga. Se os olhares matassem, Stevan com certeza teria cometido uma chacina. Os seguranças começaram a correr em direção a Charlie, que revelou atrás de si uma pequena criatura quadrúpede, balindo enquanto o rapaz montava em suas costas:
— Skiddo, vamos correr!
As portas bateram, e foram fechadas com um Vine Whip do Pokémon. A criatura começou a avançar, e ambos conseguiram despistar alguns seguranças que tentavam abordá-lo, às vezes recorrendo às paredes ou adornos do salão, causando uma bagunça. Pessoas começaram a gritar, horrorizadas. Alguns dos seguranças começaram a apontar armas, mirando no garoto.
Calem se levantou de seu banco, apalpando os bolsos.
— Acho que agora é minha vez. Como sempre, sobrou para o Calem limpar a bagunça. — murmurou ele, puxando duas Pokébolas dos bolsos. — Skrelp, Tyrunt, saiam!
De uma das esferas saiu seu cavalo-marinho, com a típica expressão desafiadora nos olhos vermelhos. Da segunda, o Pokémon fóssil se revelou, alongando a mandíbula, assustando várias das pessoas que o avistaram naquele momento. Skrelp lançou um poderoso Water Pulse que desestabilizou os seguranças que tentaram atingir Charlie. Tyrunt levantou rochas pontiagudas do solo com o Stealth Rock, bloqueando a passagem de outros.
Skiddo fez seu caminho até o corredor no meio do salão, por onde os noivos entraram. Calem tinha uma expressão não muito contente no rosto, também no mesmo lugar. Charlie desceu do Pokémon, coçando a cabeça. As pessoas ao redor tentavam escapar pelas saídas, mas haviam sido fechadas por Charlie para impedir que mais seguranças entrassem, pelo menos nos próximos minutos. Havia uma gritaria coletiva que tornava o ambiente mais caótico que realmente se encontrava.
— Eu juro que era para ser mais discreto. — disse Charlie, com uma risada.
Calem arqueou uma sobrancelha.
— Mais ação e menos falatório. — respondeu. — Vá logo que eu lhe dou cobertura.
Naquele momento, Stevan avançava pelo corredor, em direção aos garotos. Charlie montou no Skiddo e desviou do homem, que fez uma expressão irada no rosto. Em seguida apontou para Calem, quase cuspindo fogo pela boca.
— O que você pensa que está fazendo?! — inquiriu, mastigando as palavras.
Calem deu de ombros.
— Surpresa?
Charlie e Skiddo avançaram em direção ao altar. As pessoas pareciam hipnotizadas observando aquele caos de lá de cima. Havia Pokémons lutando contra seguranças, e convidados correndo por todas as direções. Serena tinha uma expressão de tanta surpresa no rosto que era impossível dizer o que passava por sua mente. Quando o garoto se aproximou, o noivo afastou-a e entrou em sua frente, como se a protegesse.
Charlie desceu do Pokémon, e Henri sacou a espada que usava na bainha, ainda que a princípio parecesse apenas um adorno. Contudo, o garoto estendeu as mãos, em um falso gesto de rendimento. O noivo puxou-o, o imobilizando e forçando a espada contra sua garganta. Skiddo baliu, mas não pôde se movimentar para que seu treinador não fosse ferido. Os padrinhos soltaram um grito ao redor. Serena tentava assimilar tudo.
— Charlie, o que…
— Vim trazer o presente de casamento… — murmurou o garoto, em um tom debochado.
— Como você ousa? — perguntou o noivo, enojado.
Henri forçou mais ainda a espada em sua garganta, disparando ameaças. Serena correu os olhos pela cena, e focou em uma decoração não muito longe. Uma bainha. Puxou a espada que ali jazia, e sentiu o peso do metal frio em sua mão. Ela precisou segurá-la com as duas mãos. Então finalmente era assim que era segurar uma espada.
O noivo fez uma expressão de reprovação.
— Serena…
— Largue ele. — comandou ela, apontando a espada.
Henri ficou a observá-la e, por mais que o tempo valesse ouro naquele momento, ficaram por duros segundos a se encarar. Os olhos da garota brilhavam firmes e confiantes em azul, e o noivo não evitou ceder, largando Charlie, apesar de ainda dirigir-lhe um olhar fuzilante. Não o soltou por medo, mas por respeito a ela. Serena, contudo, não abaixou a sua espada.
— Serena, abaixe a espada. — pediu Henri.
— Lute comigo. — ela respondeu, direta.
Henri ficou a observando, esperando para ver se era uma brincadeira.
— Serena, a briga não é entre nós. É isso que este garoto quer que aconteça — falou o noivo. — Não quero que nos machuquemos.
— Lute. Comigo. — repetiu ela, avançando com a espada.
— Eu não vou lutar contra minha noiva. — respondeu ele, abaixando mais a própria espada. — Eu jamais a machucaria.
Serena balançou a cabeça.
— Que pena.
Em um movimento rápido, a garota girou e desferiu um golpe certeiro na perna de Henri. O metal passou com agilidade, criando um corte na coxa que rasgou a roupa, abrindo um pequeno ferimento. O noivo soltou um grito de susto, bem como todos presentes ali em cima. Charlie não evitou arregalar os olhos de surpresa. Em seguida, Serena empurrou Henri do altar, fazendo-o cair no chão, um pouco abaixo. Ela abaixou a espada, correndo até Charlie.
— O que foi isso? — indagou o garoto, boquiaberto.
— Eu estou um pouco cansada de príncipes tentando me salvar. — retorquiu ela, com uma risadinha.
Charlie bateu palmas.
— Acho que eu que acabei de ser salvo por uma princesa. — respondeu, fazendo-a abrir um sorriso. — Desculpe por causar uma pequena confusão, sei que concordou com o casamento…
Ela tocou-lhe o ombro.
— Quando eu estava lá em cima eu só conseguia pensar em como eu estava cometendo o maior erro da minha vida. — falou ela.
— Então está disposta a fazer mais algumas “loucurinhas”? — perguntou ele. Subitamente os guardas conseguiram abrir uma das portas do salão, causando um estrondo. — Nosso tempo está se esgotando.
Stevan olhou de relance para o altar. Serena levantava a espada para o alto e quase conseguia ver o metal refletir todas as cores da luz que atravessava os mosaicos. Com um rápido movimento, ela cortou o vestido, removendo a parte inferior em grande quantidade. Agora era possível ver suas pernas alvas livres e, após remover os sapatos de salto, a garota sentiu novamente um gostinho de liberdade, podendo tocar a pedra fria com os dedos.
O pai quase rugiu.
— Que droga você está fazendo? — gritou a Calem, aproximando-se do garoto ferozmente.
— Desculpe, tio, acho que não estou sendo muito civilizado. — rebateu o garoto, preparando-se para correr.
— Aquele esdrúxulo o convenceu a fazer isso?
— Ele teve a iniciativa. — respondeu Calem. — Mas o culpado da autoria sou eu. Só acabou sendo mais barulhento que eu esperava.
Stevan segurou-o com força pelo braço, o puxando com tanta ira que o rapaz quase flutuou no ar por alguns instantes.
— Você está louco? Está achando que vão fugir?! — perguntou ele, com os olhos tão perturbados que pareciam prestes a rolar para fora do rosto. — Eu posso encontrar vocês em qualquer lugar deste planeta!!
Calem balançou a cabeça.
— Pode até ser. — falou, aproximando seu rosto de Stevan. — Mas até lá prefiro ficar longe daqui, a passar minha vida inteira olhando para sua cara e a dessa gente nojenta e hipócrita.
No mesmo segundo, o garoto respirou fundo e soltou uma grande cuspida direto no rosto de Stevan. O homem soltou um grito de horror, dando-lhe oportunidade para escapar. Ele ardeu em ódio naquele instante, bradando tão alto que quase fez os sinos vibrarem apenas com a voz. Calem suava frio, não acreditando no que acabara de fazer. Ele virou-se para trás, vendo o homem amaldiçoá-lo com todo o seu furor.
— Vocês vão se arrepender amargamente disso!!! — gritou. — Eu prometo a vocês!!
Calem virou-se. Ele sabia disso.
Naquele instante, encontrou Serena e Charlie. O garoto fez um sinal para que seus Pokémon voltassem a acompanhá-lo. Mais alguns seguranças haviam entrado no ambiente, mas estava um pandemônio tão grande que não podiam ameaçar disparar naquele espaço. Ainda mais com a própria noiva no meio. A loura olhou discretamente para trás, e se deparou com o homem que a encontrara horas antes, no meio do caos.
Ele revelou um sorriso.
— Seja feliz, moça. — disse ele.
Ela apenas sorriu de volta.
— As portas estão protegidas, — comentou Charlie. — talvez aquela dali esteja melhor para…
— Ou resolvemos isso do jeito mais simples. — respondeu Calem. — Tyrunt, Ancient Power.
O dinossauro envolveu-se com várias pedras, utilizando-se de seus poderes ancestrais. Em seguida, disparou-as com tanta intensidade contra a parede que abriu um buraco. Charlie e Serena ficaram abismados com o movimento, enquanto Calem atravessou a passagem, os encarando com simplicidade.
— Vocês vão ficar aí esperando servirem o bolo? 
Os dois se entreolharam e, apesar de uma pequena resistência, o seguiram.
— Não foi você quem disse que precisávamos ser discretos? — indagou Charlie.
— Charles, se você conhecer um jeito discreto de despistar duas dúzias de seguranças, você pode ficar à vontade. — respondeu Calem, estressado, fazendo Serena gargalhar.
Charlie concordou com a cabeça.
— Eu adorei essa versão insana do Calem. — disse.
— Aproveite, porque assim que a consciência voltar ele vai se arrepender amargamente disso tudo. — retorquiu o garoto.
Os três saíram correndo o mais rápido que puderam. Retornaram seus Pokémon e torceram para conseguirem despistar os seguranças atrás. Com sorte, tiveram tempo de chegar a um dos carros. Um dos trabalhadores mais fiéis à família de Calem estava no volante, e abriu um sorriso quando viu os três entrarem. Tudo dentro dos conformes. O Pancham de Charlie estava os esperando sentado no banco de trás, com a mesma expressão séria de sempre.
— Para onde estamos indo? — indagou Serena, só então tirando sua tiara com o véu, que já ameaçavam cair fazia tempo.
Charlie bateu os punhos das mãos.
— Vamos fugir de barco. — respondeu, sussurrando. — Tem uma área de ilhas pouco conhecidas próximas a Shalour. A Korrina me contou.
Fugindo o mais rápido que puderam, não tardaram a chegar a um riacho. Um barquinho de madeira os aguardava, da maneira que o rapaz havia planejado. Se ele bem calculara, era possível fazer vários trajetos possíveis, pelo interior do continente ou pela costa, até chegar à área pretendida. Quando descobrissem que eles tentavam escapar pela água, já estariam o suficientemente longe para alcançar as ilhas por outros meios.



Não demoraram a colocar o que precisavam no barco. Já estava quase tudo lá. Sentaram-se os três, e Charlie suava para conseguir dar partida no motor. Felizmente, deu tudo certo. Em questão de pouco tempo viram Aquacorde passando ao longe, e seguiram por uma via mais ao interior, afastando-se das áreas mais populosas. Serena ainda tinha o vestido de noiva rasgado. Calem seu smoking, e Charlie usava o uniforme dos funcionários. Os três finalmente respiraram mais aliviados.
— Mas e depois que chegarmos? — perguntou a menina, por fim, se dando conta da gravidade da situação.
Os dois garotos se entreolharam.
— Bem, tiramos todo o dinheiro que conseguimos das nossas contas. — disse Calem, mostrando algumas notas. — Com isso dá para viver uns bons meses… — ele olhou torto para o amigo. — Se não abusarmos nos gastos.
Serena sentiu um frio na espinha.
— Você está falando sério disso tudo? — perguntou ela. — Estamos fugindo?
Charlie deu uma risada.
— Sim, Serena. Estamos fugindo.
Ela dirigiu o olhar confuso a Calem. Ele deu de ombros.
— Eu prometi a você, e agora estou cumprindo.
Ela abriu um sorriso. Charlie, após conseguir certa estabilidade, adotou um tom instrutivo, encarando no fundo dos olhos os primos. Eles pareciam dispostos a escutá-lo, desta vez mais que nunca na aventura.
— Para isso dar certo, não podemos cometer nenhum deslize. — anunciou Charlie. — Qualquer coisa que denuncie onde estamos… Já era. — falou, por fim. — Cartões, Holo Caster
Ele jogou os itens citados na água. Calem sentiu uma dor imensa no coração de vê-los afundando, mas não falou nada. Sabia que era o primeiro passo a ser dado para aquela nova etapa.
— E para isso, precisamos morrer também. — prosseguiu Charlie.
Serena arregalou os olhos.
— O quê?
— Não de verdade. — respondeu ele, com uma risadinha.
O garoto entregou-lhe um pequeno retângulo de papel. A menina cobriu a boca com a mão ao ver aquele cartão. Era um ID, parecido com o dela, mas as informações não conferiam. Claire Duval. Laverre City. A foto também parecia um pouco diferente. Ela teve um misto de sensações, restando apenas buscar refúgio em Charlie que, à luz lunar, parecia confiante e compassivo.
— O que você diz? — perguntou Charlie, estendendo-lhe a mão. — Estamos juntos nessa?
Serena encarou seus olhos verdes. Já anoitecia e, sobre as estrelas, eles pareciam profundos como um oceano. Ela se virou para Calem. O garoto tinha uma expressão revoltada, como sempre, como alguém que dizia “agora não dá mais tempo de voltar atrás”. Ela deu-lhe a mão de volta e abriu um sorriso sincero.
— Estamos. — respondeu, por fim. — Fugindo, mas livres. E juntos.
Serena abriu sua mochila e pegou sua identidade. Serena Windsor. Ela forçou o pequeno cartão, rasgando-o ao meio. Depois ao meio de novo. Em vários pedacinhos. Em seguida, jogou-os na água, vendo aqueles pequenos pedaços se dissolverem, cada vez mais distantes. Em segundos eles iriam se desfazer, se perdendo nas águas. Era isso que a garota esperava fazer com si mesma.
Deixar-se dissolver, para que uma nova renascesse.
— Adeus, Serena. — murmurei para mim mesma, vendo aqueles pedacinhos de papel se perderem nas águas, se desfazendo, como tudo aquilo que representavam.

FIM DA SAGA X

    


Pokémon Multiformes




Como o nome sugere, Pokémon "multiformes" são aqueles que possuem mais de uma forma, aspecto e estado. Dependendo de sua origem geográfica, habitat, condições de batalha e mesmo influência humana, podem adquirir uma nova aparência que interfere ou não em suas habilidades dentro de campo ou comportamento.


Vivillon
Vivillon possui dezoito diferentes estampas de suas asas, incluindo a de sua forma comum, rosa. Esse status é inerente ao Pokémon, ou seja, é relacionado a seu nascimento e não pode ser modificado futuramente. Apesar de não estar relacionado exatamente ao mundo Pokémon, as formas são influenciadas pela localização do jogador que gerou/capturou o Scatterbug: algumas só podem ser encontradas em determinadas regiões do planeta. Curiosamente, a forma mais frequentemente representada de Vivillon é sua "Meadow Pattern", encontrada no mundo real onde corresponde à França, que seria a parte que representa Kalos. Algumas estampas ainda podem ser encontradas em eventos apenas, como a Poké Ball Pattern e a Fancy Pattern.



Flabébé, Floette e Florges
São espécies frequentemente encontradas em flores, devido aos laços que são capazes de formar com elas ser tão importante que praticamente tornam-se parte de seus corpos. Por esse motivo, é possível encontrar Flabébé em cinco tipos diferentes de flores: Vermelha, laranja, amarela, azul e branca. Essa característica torna-se mais marcante na forma de Florges, quando a flor literalmente torna-se parte de sua fisiologia. Os bebês Flabébé terão a mesma cor de flores que suas mães.

Furfrou
Os Furfrou, apesar de terem apenas uma forma, podem decorar seus pelos de nove maneiras diferentes. Tais padrões não alteram as habilidades em combate, são apenas efeitos estéticos. Cada estilo de pelo dura cinco dias sem retoques, e tenderá a desaparecer caso o Pokémon seja depositado no Box ou no Pokémon Bank. Em Pokémon X & Y, essa mudança pode ser feita na Friseur Furfrou, na Vernal Avenue de Lumiose. Em ORAS, pode-se podá-lo no Pokémon Fan Club em Slateport. Por fim, em Sun & Moon e Ultra Sun & Ultra Moon, pode-se cortar o pelo do Furfrou com uma Punk Girl no salão de Malie City ou com uma moça em Hau'oli City.
Natural



Aegislash
Aegislash possui duas formas, que são alternáveis durante uma batalha graças à sua habilidade Stance Change. É comum, fora das batalhas, que se encontre em sua Shield Form, em que suas habilidades de Defense e Special Defense são melhoradas. Quando opta por fazer um ataque em batalha, sua habilidade faz com que mude de forma para a Blade Form, reduzindo seus níveis defensivos e aumentando Attack e Special Attack. O golpe King's Shield permite que volte ao estágio de escudo. Tais mudanças permitem que Aegislash seja um Pokémon hábil tanto para segurar impacto dos adversários quanto para investir ofensivamente.

Pumpkaboo e Gourgeist
As diferentes formas destes Pokémon dizem respeito a seus tamanhos diferenciados. Cada qual pode ser de quatro diferentes gradações: pequeno, médio, grande ou super grande. A diferença, além de estética, está nos Stats. Pokémon menores tendem a ter maiores índices de Speed, porém menor HP, enquanto o inverso acontece para os maiores. Além disso, Gourgeist menores possuem Attack mais reduzido se comparado às versões de tamanho superior.

 
Xerneas
Xerneas possui duas formas: Neutral Mode e Active Mode. A diferença é meramente estética no gameplay: o modo neutro possui os chifres em um tom de azul brilhante, enquanto no modo ativo os chifres brilham em dourado e em várias outras cores graças às pedras das pontas. Xerneas se encontra no modo neutro durante situações normais, apenas em batalha que opta por sua forma ativa - diz a lenda que é porque tal forma emana energia vital pelos chifres.

Zygarde
Zygarde, apesar de ter sido introduzido em Pokémon X & Pokémon Y com apenas uma forma, mostrou-se complexo com o passar dos games. O Pokémon dragão é composto por inúmeras células, denominadas Zygarde Cells. Cada unidade é capaz de se comunicar telepaticamente com as partes mais centrais, apesar de não serem seres independentes. Um Zygarde Core é uma unidade mais autônoma, também incapaz de aprender ataques, mas que se comunica com as células, como parte do cérebro do Pokémon.

Quando 10% das células totais de Zygarde se unem, ele adquire sua forma 10%. Torna-se mais complexo na forma de 50%, com metade do total de células - adquirindo o formato em que se encontra em X & Y. Quando seu HP está cheio, pode mudar destas formas para a Complete Form, com 100% das células. Conforme a forma de Zygarde se torna mais complexa, seus níveis de força também aumentam, modificando os Stats e o tornando mais poderoso. Essa mecânica toda é explorada melhor em Pokémon Sun & Moon.

Hoopa
Hoopa possui duas formas: Confined Hoopa (Psychic/Ghost) e Unbound Hoopa (Psychic/Dark). A segunda forma é notavelmente mais forte em seus níveis de ataque, e pode ser obtida ao utilizar a Prison Bottle, item surgido a partir de Pokémon ORAS. Depois de três dias, a forma Unbound retorna a Confined, bem como quando Hoopa é depositado no Box, Pokémon Bank ou Daycare Center. Além disso, estando em formas diferentes, Hoopa pode aprender diferentes ataques a depender do nível, uma vez que também muda de tipo ao alterar seu modo.


Greninja
Um caso diferente ocorreu no anime, quando o Greninja de Ash mudou sua forma ficando mais parecido com o treinador. Conhecido como "Bond Phenomenon". Este Greninja pode ser obtido nos games, tendo a habilidade Battle Bond que fará com que modifique sua aparência após derrotar um oponente. Essa forma dura até o encerramento do combate (ou até que seja derrotado), e aumenta o poder do golpe Water Shuriken. Não se sabe se outros Pokémon futuramente poderão adquirir características dos treinadores também.


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