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Notas do Autor - Capítulo 24



Se eu dissesse que o capítulo 24 estava finalizado pouco tempo depois do 23 vocês acreditariam? Cara, faltava apenas revisar e consertar uns detalhes, mas eu simplesmente não achei tempo para isso com a volta às aulas e a dedicação a outros projetos paralelos. De repente passou um mês, e nada de capítulo! Pooorém, hoje vocês podem conferir a continuação de nossa querida história, com a passagem por um lugar que gosto muito em Kalos, a Reflection Cave.

Apesar de simples, o capítulo trouxe alguns acontecimentos importantes. Sei que há tempos vocês aguardam uma evolução, e aconteceu justamente com o primeiro Pokémon a entrar na fic como uma captura, o Flabébé. Espero que possa ter transmitido toda a singelez do momento, a ligação forte que a Serena tem com seus Pokémon e como isso reflete nas próprias habilidades deles. Chega um momento em que eles ampliam suas habilidades principalmente para serem capazes de acompanhar sua treinadora que sempre dá seu melhor por eles.

Outro personagem destaque nesse capítulo foi o Elliot. Cara, cara, cara. Esse capítulo foi super inocente, justamente pela proposta dele, mas não se enganem, o Elliot é um personagem importantíssimo para a fic, e vocês vão perceber isso porque apesar de ele ter sido convidado a andar com os principais, ele não será adicionado aos recorrentes, como a Kath, o Ald, o Mika e a Ash. Ele será colocado junto dos protagonistas, e oficialmente fará parte do grupinho. Sei que parece extremamente arriscado fazê-lo, uma vez que já estamos no capítulo 24 e estamos acostumados há uns 4 anos com o trio Calem-Serena-Charlie. Mas confiem em mim, essa ideia está em minha mente há tempos e o Elliot esteve apenas aguardando para fazer sua estreia. Eu não acrescentaria alguém a essa altura do campeonato para nada. Deem uma chance a ele!

Por fim, agradeço pela leitura e espero encontrá-los nos comentários. Espero durante a semana dar um jeito no próximo Royal Emperium, em que o Eryx ainda aparece como Flabébé (porque o especial já estava meio escrito desde antes desse capítulo) e atualizar a ficha dele também!

Resultado da Enquete

Mais uma enquete feita por curiosidade. Não julgo quem acessa o blog de vez em nunca, porque minhas postagens são bem imprevisíveis. Fico feliz de ver que tem gente que entra com certa frequência, e gostaria de poder manter atualizações sempre para fazer jus a essas visitas. Espero, de qualquer modo, que as entradas estejam sendo proveitosas no quesito de capítulos e posts agradáveis. Obrigado a todos que votaram e logo estarei substituindo a enquete

Capítulo 24


Capítulo 24
Verdadeiro Desejo
Após uma madrugada turbulenta e cheia de acontecimentos estranhos, o trio resolveu passar mais um dia em Geosenge para recuperar as energias necessárias. No dia seguinte, já despertaram prontos para seguir um novo rumo, desta vez para Shalour City, uma cidade importante e conhecida do litoral, e também sede de um dos Ginásios que Calem poderia desafiar.
O rapaz arrumava sua mochila cheia de bugigangas, enquanto Charlie jazia sentado na janela do hotel, observando as humildes casinhas de Geosenge, e os famosos monumentos esculpidos em pedra que eram a marca da cidade. Além disso, se virasse um pouco o olhar, encontrava a Route 10, mas não parecia muito ansioso para admirar aquele caminho depois dos acidentes anteriores. Serena estava próxima da porta, já com sua bolsa, aguardando pelos amigos.
— Aparentemente só falta eu acordar no meio da madrugada e resolver enfrentar espíritos revoltados. — balbuciou Charlie, recebendo uma revirada de olhos de Calem.
— Charlie, não brinca com essas coisas. — repreendeu Serena.
— Estou só enchendo o saco, princesa. — ele sorriu.
A garota virou-se para trás e foi em direção ao quarto em frente. Mikala estava revirando suas coisas, enquanto Ashley mexia em seu computador, deitada na cama e com a máquina no colo. Quando ele avistou a loura, levantou-se com as mãos no rosto e revelando um grande sorriso com os dentes.
— Tem certeza que vai ficar aqui? — indagou ela.
— Tenho sim. Pode ir tu na frente, que eu e a Ash vamos ficar um tempo por aqui, e depois iremos a Lumiose. — concordou ele.
Serena sentiu um pequeno calafrio.
— Acho que vai demorar um pouco para voltarmos para lá.
Ele a fitou com seus olhos cor-de-mel.
— Isso significa…
— Que a gente vai ficar um bom tempo sem se ver. — completou ela, em um tom cabisbaixo.
Os dois ficaram em silêncio porque não sabiam exatamente o que dizer. Na última semana, de meros desconhecidos, ambos tornaram-se muito próximos, dividindo experiências e pensamentos como com nenhuma pessoa antes. Todavia, encontravam caminhos que divergiam em um lugar imenso como Kalos, e sabiam que mais cedo ou mais tarde aquilo aconteceria. O garoto tirou a mão do bolso e dirigiu à menina, fazendo-a estender suas mãos. Em seguida, colocou algo dentro delas e as fechou logo em seguida.
— Fica com isso. — pediu.
— O que é? — ela indagou.
A garota abriu suas mãos, e havia um pequeno colar, fino e simples, mas com um pequeno símbolo na ponta esculpido em madeira, que parecia um totem.
— É Tapu Lele, o guardião da ilha que eu moro. — explicou ele. — Nós acreditamos que seja o criador de todas as pessoas, Pokémon, da natureza, e de toda vida. — ele sorriu. — E espero que ele te abençoe na tua jornada e dos teus amigos.
A garota ficou um momento sem reação, realmente tocada. Ela sabia o quanto Mikala era apegado às crenças de Alola, portanto, um gesto como aquele significava muito para o garoto, e isso era suficiente para mostrar o quantos e importava com ela. A garota segurou o item firme em suas mãos e o estendeu em seguida, muito contente.
— É lindo, Mika! — exclamou, empolgada, em seguida mudando seu tom para um arrependido. — Desculpa, eu não trouxe nada para você…
— Imagina. — ele fez um gesto com a mão para tranquilizá-la. — Tu pagou a nossa hospedagem nos hotéis e tudo mais por todos esses dias. A gente é que tem que agradecer.
Ela sorriu e segurou o colar com força.
— Prometo que vou guardar e usar com muito carinho.
Os dois deram um grande abraço, e ficaram assim por alguns momentos, apenas os dois, aproveitando aqueles instantes de união antes de se separarem de vez. O rapaz acreditava que o destino não era um acaso, que as coisas aconteciam por motivos muito mais profundos, como o próprio encontro de ambos. Por esse motivo, tinha fé que aquela não era uma despedida definitiva. Era algo unicamente temporário, e se os guardiões da vida quisessem, não tardariam a se reencontrar.
Após minutos, os outros dois garotos terminaram de arrumar suas coisas, preparando-se para deixar o local. Foram até Mikala e o cumprimentaram, desejando sorte. Ashley levantou-se e veio despedir-se de todos também. Serena deu um abraço mais longo que a ruiva gostaria, mas ainda assim ela se mostrou razoavelmente simpática ao menos na partida.
— Sucesso então com suas batalhas. — apontou para Calem.
— Obrigado. — respondeu ele. — E boa sorte com suas pesquisas.
— Eu não acredito em sorte. — ela deu de ombros.
— Nem eu. — rebateu o rapaz.
Ambos começaram a rir em sincronia, e Charlie ficou um pouco confuso. Talvez fosse bom afastar duas pessoas com características semelhantes – especialmente se essas características eram justamente as quais considerava seus defeitos. O trio foi até a recepção do Hotel Marine Snow e resolveu as pendências, em seguida dirigindo-se para a saída da cidade ao leste, próxima a um portal feito de pedras.
O caminho da Route 11, apesar de formado principalmente por terra e grama, levava a um solo mais rochoso à medida que se aproximavam da Refletction Cave. Além disso, alguns belos cristais se erguiam do chão em direção ao céu, em um tamanho às vezes considerável. Serena adorou admirar essas formações minerais, que reluziam à luz do sol tímido daquele dia. Não havia tantos treinadores ao redor, mas os poucos que habitavam Geosenge aproveitavam a rota para brincar passavam por entre o matagal e corriam pelo chão de pedra que antecedia a caverna.
— Agora somos só nós três de novo. — ponderou Charlie.
— Parece que fica um vazio… — murmurou Serena.
— Um vazio que logo será preenchido com o Calem reclamando. Para variar. — respondeu o garoto de prontidão.
— Para seu azar, hoje caminharemos por uma caverna, Charles. — falou Calem, seguindo um passo relativamente empolgado. — Garanto que vou reclamar bastante.
O outro já adivinhou que seria verdade. Após subirem algumas elevações do terreno, encontraram várias possíveis entradas e saídas da caverna. Calem observou seu mapa por alguns momentos para planejar o melhor caminho – e mais rápido, é claro. – de chegar a Shalour, que ficava ao norte. O grupo se preparou antes de entrar, passando repelente e pegando uma lanterna.
— Pronto? — perguntou Charlie ao amigo.
Calem soltou uma gargalhada rápida.
— Óbvio que não. — disse ele, seguindo em frente. — Mas minha vida já está toda desgraçada mesmo.
Os três avançaram vagarosamente alguns passos rumo à entrada. A umidade já era mais nítida, e o som de gotas caindo de algum lugar, além de passos ecoava por entre as paredes de pedra. O solo rochoso era liso em alguns pontos, de maneira que havia algumas placas penduradas alertando para o perigo de escorregões. Após alguns minutos de caminhada, os jovens depararam-se com algo surpreendente.
Vários cristais saíam do solo como do lado de fora, mas agora eram maiores, e muitas vezes se entrecruzavam nos caminhos. Serena passou por um deles, e eram simplesmente tão brilhantes que conseguiu ver a si mesma com imensa clareza. Algumas paredes de certos salões da caverna eram totalmente cobertas por esses cristais, refletindo todo o ambiente iluminado em uma visão admirável.
— Parecem… Espelhos… — ponderou Serena.
Alguns cristais distorciam a imagem devido ao seu formato. Calem sabia que se tratava apenas de um fenômeno físico, mas a sensação que tudo lhe causava não era traduzível em palavras. Por um momento se esqueceu de todos os pesares da caverna, ao ver dezenas de si mesmo em vários ângulos, em meio à caverna repleta de iluminação quase natural dos minerais.
— Isso é fantástico. — admitiu o rapaz para si mesmo.
— É um dos lugares mais lindos que já vi. — comentou a menina, ainda admirada.
Passar pelo trajeto passou a ser uma atividade mais prazerosa, porém, os vários reflexos vez ou outra confundiam a mente de todos, de maneira que se perdessem de qual caminho ou direção deveriam seguir, e não compreenderem sem uma boa olhada quantas alternativas palpáveis havia para se seguir. Já haviam ouvido algumas histórias de pessoas que se perdiam na Reflection Cave justamente por essa confusão que os espelhos causavam, alguns nunca conseguindo encontrar a saída.
De repente, do alto teto da caverna caiu algo no meio dos três que fez um barulho alto, quase metálico. Passado o susto, o trio notou uma criatura que se assemelhava a uma semente de dimensões consideráveis, repleta de espinhos. Seu corpo, todavia, parecia reluzir como metal, e um par de grandes olhos desafiadores parecia tentar se localizar no cenário.
Calem deu alguns passos para trás e dirigiu sua mão vagarosamente ao bolso, chamando a atenção do amigo.
— O que você vai fazer? — indagou Charlie.
— Seria um grande acréscimo para meu time. — comentou Calem puxando uma Pokébola.
O outro dirigiu as mãos à cintura, com uma expressão confusa estampada no rosto.
— Calem, estou particularmente surpreso com você.
— Não se engane, Charles. Metade de mim está gritando por dentro querendo correr para longe daqui. — resmungou o outro puxando uma Pokébola e fazendo Serena dar uma risada.
— Eu imaginei.
A julgar pelo nível não tão alto esperado do Pokémon, Calem simplesmente atirou-lhe a esfera, fazendo-o se converter para um conjunto de raios avermelhados e ser sugado para dentro. A bola começou a se remexer no chão, e todos ficaram estáticos aguardando pelo resultado. Um… Dois…Três…
Logo, ela se abriu novamente, fazendo o Pokémon escapar. O Ferroseed fechou seus olhos, nervoso, seu corpo se contraiu por um breve momento, e quando menos esperavam, um ruído alto ecoou pela caverna e a criatura pareceu explodir, atirando-os para longe com o impacto. O teto da caverna naquele local cedeu, derrubando estalactites de cristal no solo.
O coração de todos disparava com a surpresa. Assim que retomou total consciência e se percebeu saudável, Calem levantou do solo correndo, balançando as mãos com repulsa de ter deitado no chão sujo da caverna. Charlie colocou-se sentado, apoiando a mão na cabeça para se recuperar da queda, um pouco tonto ainda.
— O que foi isso? — indagou.
Self-Destruct. — comentou Calem.
— Até o Ferroseed percebeu que é melhor explodir que andar com você. — comentou Charlie.
— Bem que você poderia tentar qualquer dia desses, Charles. — retrucou o outro, em seguida olhando para os lados. — Onde está a Serena?
— Eu estou bem… — uma voz ainda se fortalecendo ressoou.
A voz da garota parecia vir de trás das estalactites caídas, que cobriam a passagem do estreito corredor em que se encontravam. Era possível vê-la por entre as frestas dos cristais tombados, onde Charlie foi correndo atrás para olhar. Ela parecia bem, se levantando após o impacto e também se colocou no mesmo lugar, do outro lado da barreira.
— Droga, esses cristais devem ter caído do teto com a explosão… — murmurou Charlie. — Por que o teto das cavernas sempre cai com a gente dentro?
— Acho que é um dom. — respondeu o outro.
— Não conseguimos destruir eles? — perguntou Charlie.
— São cristais. Não vão sair daqui fácil. — ponderou Calem, indo ao lado do amigo. — Está me ouvindo bem, Serena?
— Estou. — respondeu a menina, embora só pudesse avistá-la por uma pequena fenda.
— Tem alguma saída onde você está?
— Tem. — mais uma vez disse de prontidão.
— Se esse mapa não me engana, acho que podemos pegar caminhos diferentes e nos encontrar em um mesmo ponto. — falou, pensativo.
Ele riscou seu mapa com um marcador e passou pela fresta dos cristais, entregando à menina.
— Tente nos encontrar nesse ponto, certo? — falou, se afastando.
— Vamos deixá-la indo sozinha? — inquiriu Charlie, levantando a voz.
— A menos que você tenha um teletransportador no bolso, sim. — respondeu o outro com simplicidade.
— Não se preocupe, Charlie. Eu posso ir sem problemas. — falou a menina, do outro lado.
— Eu confio em você, princesa. — ele disse, em seguida abaixando o tom de voz, mas tornando-se mais agressivo. — Ela terá que ir sozinha? E se encontrar algo perigoso?
— Eu ainda estou aqui… — murmurou ela.
— Por Arceus, Charles, eu sei, sou eu que sempre digo isso e você nunca me ouve. — resmungou Calem, batendo os braços. — Não é você que sempre diz que “não é nada, até crianças de dez anos atravessam cavernas”? Pois bem.
Charlie ficou por um tempo em silêncio.
— Não precisava ser grosso.
Chegava um momento que mesmo eu era capaz de atribuir certa confiança em Serena. Se antes eu era o responsável por tentar defendê-la enquanto o Charles ajudava a libertá-la, parecia que a situação se invertia, pelo menos depois de Lumiose, quando ele de alguma forma parecia sentir-se responsável pelo que aconteceu com ela. Eu permanecia desconfiado porque considerava minha prima inconsequente, mas ainda assim reconhecia que às vezes ela era até mais habilidosa que eu para se safar de algumas coisas.
Os dois começaram a voltar e procurar um caminho alternativo para encontrar Serena. A garota retirou uma Pokébola e de lá lançou sua Espurr, que saiu da esfera coçando o próprio pelo. A menina sorriu para a criatura e ficou mais tranquila com a companhia. A área afinal de contas não era tão ruim de se deslocar, uma vez que estava relativamente bem iluminada – isto é, para uma caverna. – e todo o cenário era apaixonante.
Em determinado momento, Serena quase bateu em uma parede por pensar que se tratava de uma passagem. Só então a garota reparou como tudo era confuso: os vários reflexos, distorcidos ou não, pregavam-lhe peças. Já não tinha total consciência de quantas direções de fato existiam, e o fato de o som sempre ser ecoado apenas intensificava o sentimento de confusão. Não era possível afirmar com cem por cento de certeza onde era a saída, e mesmo que chegasse a algum portal, todos os lugares da caverna eram parecidos.
— É como se os espelhos estivessem brincando com a minha cabeça. — murmurou a menina.
Assim, logo parou de andar e fechou seus olhos. A Espurr fez o mesmo, pois assim o Pokémon poderia concentrar sua energia psíquica e amplificar sua audição, o que auxiliaria a encontrar o caminho certo. Contudo, quando foi capaz de realmente se concentrar no ambiente ao redor, reparou exatamente como várias coisas aconteciam e contribuíam para criar aquela atmosfera confusa.
Havia passos muito ao longe; um rufar de asas de algum lugar; seu coração batia com intensidade; a respiração tanto dela quanto de seu Pokémon ofegava discretamente. O que mais chamou sua atenção, todavia, foi uma sucessão de estrondos não muito à frente, acompanhada de vozes indecifráveis. A garota abriu os olhos repentinamente.
— Está ouvindo isso, Mary?
A Espurr assentiu com a cabeça, e ambas começaram a correr na direção do som. A criatura pôde guiá-la melhor devido aos seus aguçados sentidos, até que entraram dentro de um salão da caverna, onde uma batalha acontecia. De um lado, havia uma horda de Roggenrola contra um garoto praticamente da mesma altura de Serena. Tinha cabelos desgrenhados cor de oliva, e um par de olhos bem claros. Sua pele e suas roupas pareciam sujas, como de alguém que passara mais tempo que gostaria naquela caverna. Consigo, tinha uma pequena criatura esverdeada com características reptilianas, parecendo desgastada e com dificuldades de se movimentar.
— Kecleon, não desista. — dizia o garoto, impaciente, sem notar a presença de Serena. — Use o Fury Swipes.
A criatura tentou avançar, mas estava lenta devido aos ferimentos de combate. Um dos Roggenrola atacou com uma simples investida, que foi suficiente para desestruturá-lo e fazê-lo cair próximo do garoto. Ele soltou um grito, parecendo sem saber o que fazer. Serena e Mary correram em sua direção, e só então ele foi capaz de notá-las, uma vez que antes estava concentrado na batalha.
— Você está bem? — perguntou a menina, tocando-lhe o ombro.
— A-acho que sim. — disse ele ainda confuso.
A menina olhou para a Espurr, que semicerrou os olhos e fez um sinal positivo com a cabeça, se colocando à frente dos dois para continuar a batalha.
— Mary, use o Confusion. — pediu.
A pequena criatura brilhou seus enormes olhos com um tom azul bem claro, e em seguida uma forte onda de energia pareceu controlar um dos Roggenrola. O Pokémon de pedra manipulado demonstrou não conseguir se movimentar naturalmente, aturdido, em seguida lançando um ataque que não pretendia, que derrubou toda a horda.
— Acho que conseguimos escapar agora! — exclamou a menina, puxando o garoto pelo blusão.
Aproveitando a confusão dos adversários, ambos correram. O garoto tinha seu Kecleon no colo, enquanto Mary acompanhava a treinadora pelo chão. Tendo passado por um corredor da caverna e indo para uma área aparentemente mais segura, ambos pararam para recuperar o fôlego. A loura puxou em sua bolsa uma pequena garrafa, oferecendo ao menino:
— Tome, aqui tem um pouco de água. — e sorriu.
Ele pensou em falar algo, mas apenas estendeu a mão e aceitou o gesto.
— Obrigado por me salvar. — falou.
A garota fez um sinal com as mãos como quem não deveria se preocupar com isso.
— Meu nome é Serena.
— Eu me chamo Elliot. — ele falou, arfando, entre os goles de água. — Eliott Dennel.
Ela concordou com a cabeça.
— O que você estava fazendo? — perguntou, simpaticamente.
— Eu estava indo até Shalour, mas acabei me perdendo um pouco do caminho. — ele disse, um tanto sem graça. — E quando aqueles Roggenrola começaram a me atacar em horda, achei que podia vencê-los com o Kecleon, mas fomos encurralados.
Elliot pareceu desconfortável em admitir sua falha, mas a garota não demostrou achar nada estranho.
— Eu também estou indo a Shalour. — comentou ela, animada. — Podemos achar o caminho juntos!
Ele sorriu.
— Parece ótimo! Você estava indo sozinha?
— Não, eu viajo com meu primo e um amigo nosso, mas acabamos nos perdendo. — contou Serena.
— Caramba, uma legítima jornada Pokémon. — seus olhos pareciam brilhar. — Meu sonho é viajar por Kalos também.
Serena olhou para ele com mais atenção.
— E por que você não faz isso?
— É que… — o garoto vacilou, parecendo ficar mais uma vez constrangido. — Na verdade eu nunca encontrei ninguém que quisesse viajar comigo.
Serena sentiu uma pontada no peito e quis falar um monte de coisas de início, porém, pensou que o melhor a fazer, antes de dizer qualquer coisa, era ouvir o que ele tinha a contar.
— Eu venho de Geosenge, e é uma cidade bem pequena. — explicou. — Estava indo deixar algumas coisas com meu avô em Shalour.
Quando a menina por fim estava pronta para aconselhá-lo, ou talvez consolá-lo, uma horda de Roggenrola pareceu surgir. Contudo, levando em conta que vinham de trás, pareciam ser ainda o mesmo grupo tentando atingi-los.
— Parece que são eles de novo. — balbuciou a menina.
— Como eles nos encontraram? — inquiriu o garoto, nervoso.
Antes de fazer qualquer coisa, todos avançaram agilmente contra Mary, fazendo Serena tomar um ligeiro susto. Apesar de serem simples Headbutt, o impacto coletivo um por um fez com que a Espurr logo se colocasse incapaz de combater. Serena correu até a pequena criatura, consolando-a e vendo se estava muito ferida.
— Essa não, Mary! — sussurrou, retornando-a para sua Pokébola e logo puxando outra de sua bolsa, meio atrapalhada. —  Flabébé, vamos nessa!
Ela lançou a esfera para o alto, e de lá saiu a pequena fada, flutuando por entre a caverna. Apesar de não ser um ambiente em que ficaria muito confortável, a criaturinha balançou sua flor e colocou-se em posição, aguardando ordens de sua treinadora.
— Puxa, que incrível. — Elliot não evitou um comentário, ainda que baixo.
A menina ouviu de relance o que ele dissera, e por um momento sentiu-se muito bem. Ela olhou para um dos vários espelhos do ambiente e viu a si mesma como uma legítima treinadora Pokémon, em posição de batalha, com seus próprios guerreiros tentando defender alguém em perigo. Sentiu uma pontada de orgulho, pois era assim que sempre sonhou estar um dia.
— Vamos usar o Razor Leaf! — falou, voltando para o contexto, estendendo a mão.
O Flabébé concentrou-se por um instante e invocou pequenas folhas, que em seguida foram disparadas em direção às criaturas de pedra. A efetividade do ataque foi suficiente para derrubar um dos Pokémon, mas logo outros avançaram, um deles atacando com o Rock Blast, disparando algumas pedras do solo em direção ao parceiro de Serena. A fada, porém, sem muita dificuldade conseguiu desviar flutuando no ar.
— O.K., agora Fairy Wind! — pediu a menina.
O Pokémon focou então o ataque em uma rajada de vento aparentemente repleta de pequenas partículas brilhantes e de tom róseo e prateado, porém, não foi muito efetivo. Um Roggenrola atirou areia contra o Pokémon, que foi atingido e ficou desestabilizado por um momento. Em seguida, após outras rochas serem disparadas contra ele, caiu no chão, sendo prensado contra o solo por uma das criaturas de pedra.
Serena soltou uma exclamação descontrolada, começando a correr.
— Aonde você vai? — gritou Elliot ao vê-la se aproximar de seu Pokémon.
— Eu preciso soltá-lo de lá, se não ele vai ser facilmente esmagado! — falou a menina, uma vez que sua Pokébola não conseguia retorná-lo.
— Você não pode ir até lá, vão atacá-la também! — interveio o garoto.
— Eu preciso. — disse ela, parando de olhar para trás.
Elliot ficou surpreso com a atitude, tornando a observá-la lá, ao longe. Serena correu até o Roggenrola, que pareceu se assustar com o súbito movimento. A garota empurrou a criatura de pedra, que apesar de pesada, se desequilibrou o suficiente para que o Pokémon fada encontrasse uma brecha para conseguir se movimentar novamente no ar.
— Eryx, fuja! — exclamou ela.
A criatura saiu flutuando, mas estava desacompanhada de sua flor, apenas conseguindo se esquivar dos inimigos. A garota em seguida foi atingida por um Headbutt antes de conseguir correr, que pela força fez com que caísse. Os Roggenrola restantes a cercaram, e a menina sentiu seu coração bater com mais força, enquanto o ardor do ataque ainda afetava seu corpo.
— Serena! — gritou Elliot, virando-se para seu Pokémon. — Kecleon, por favor, tente fazer alguma coisa…
Contudo, a criatura permanecia caída em seu colo, sem responder. Ele suava de nervoso, impotente. Naquele momento o Flabébé de Serena parou de fugir para prestar atenção no que de fato acontecia, retomando consciência. Sua treinadora se empenhara o suficiente para salvá-lo, colocando-se naquela situação. Sendo um Pokémon do tipo fada, era extremamente sensível às emoções das pessoas, especialmente de sua treinadora. Ela parecia assustada, porém não hesitou em auxiliá-lo quando necessário e se colocar em seu lugar.
Eryx respirou fundo. O pequeno Pokémon olhou para o alto, e embora não pudesse ver o céu, fechou os olhinhos, como se fazendo um pedido. Era o Wish, um golpe que poderia auxiliá-lo a enfrentar aquela batalha ao se recuperar. Desde que Serena ofereceu aquela pequena flor – agora caída no chão e amassada. – sempre deu motivos para que se sentisse seguro. Embora fosse receoso com humanos, como muitas fadas, sua treinadora parecia ter um coração puro e jamais o deixou na mão. Ele semicerrou os olhos e avançou.
A pequena criatura puxou sua flor caída do chão, quase toda despedaçada, e chegou próxima de sua treinadora. O ataque anterior havia finalmente funcionado, e sentiu uma forte onda de energia o recuperando dos danos. Porém, parecia que seu verdadeiro desejo também tornou-se realidade naquele momento. Foi tomado por uma luz prateada mais intensa do que pensara, com seu corpo assumindo uma nova forma. Serena ficou boquiaberta, bem como os demais Roggenrola pareceram confusos. Quando foi possível ver a criatura com clareza, estava em uma nova forma, e sua flor encontrava-se mais bela e sadia que nunca.
— Floette! — exclamou a garota.
A criatura preparou-se para usar o Razor Leaf, invocando uma sequência de folhas. Diferentemente de antes, elas eram maiores e em maior quantidade, atingindo os Pokémon e abrindo uma brecha para que utilizasse o Fairy Wind, despistando-os e os afastando com uma forte rajada circular de vento em torno de sua treinadora. A garota pareceu surpresa com a criatura tendo seus poderes ampliados com a evolução.
— Você evoluiu para nos salvar… — balbuciou ela. — Eu estou tão orgulhosa!
A criatura pareceu sorrir, colocando-se nas mãos de sua treinadora após terem despistado os Roggenrola. Ambos trocaram um momento de olhares, e a menina aproximou o rosto, sendo acariciada pela criatura, que aparentemente apenas retribuía o carinho de Serena. Elliot parecia embasbacado com tudo, uma vez que a menina e seu Pokémon fortaleceram seu vínculo ainda mais durante a batalha.
— Caramba, isso foi fantástico. — ele disse, com brilho no olhar.
A garota sorriu, sentindo-se muito importante. Ver alguém mais jovem e mais inexperiente a admirando era uma honra. Finalmente alguém a olhava não como alguém a ser protegida, mas como uma protetora. Não como uma princesa que precisava ser resgatada, mas como uma guerreira capaz de pegar uma espada e vencer o dragão sozinha. Esse era um dos melhores sentimentos que teve em toda a sua jornada.

...

Após um certo tempo, Calem jazia de pé de braços cruzados em um salão da Reflection Cave. Encarava a si mesmo em um reflexo, junto de Charlie, que caminhava impacientemente de um lado para o outro. O menino reclamava que estava preocupado com Serena, mas o primo apenas ficava em silêncio evitando prolongar o discurso do outro. Afinal de contas, alguém precisava manter a calma. Finalmente, ouviu o som de passos em sua direção, e a menina apareceu andando tranquilamente na companhia de um garoto.
— Por que você demorou tanto? — indagou Charlie, indo até ela e reparando na presença de outro menino. — Quem é esse?
A menina virou-se para ele.
— Meninos, esse é o Elliot. — disse, apontando. — Elliot, esses são o Calem, meu primo, e Charlie, nosso amigo.
Os três se cumprimentaram, um pouco confusos.
— Ele também estava perdido na caverna. — explicou ela. — E o sonho dele sempre foi seguir uma jornada Pokémon.
Serena fez uma longa pausa, respirando fundo.
— Eu pensei em convidá-lo para viajar conosco. — falou, simplesmente.
Ela possivelmente já havia arquitetado aquilo antes, e o garoto ficou por alguns momentos impactado. Charlie e Calem também tiveram uma surpresa no momento, de maneira que por alguns incômodos segundos todos ficassem em silêncio. Os dois, antes de dizer qualquer coisa, puxaram a garota para mais perto, fazendo um gesto para Elliot.
— Pode nos dar um instante? — pediu Charlie.
O menino assentiu sem escolha, e os dois cochicharam com a loura.
— Você nem nos consulta mais? — indagou Charlie, com uma risadinha.
— Serena, é quase legal encontrar outras pessoas, como já fizemos. — disse Calem — Mas isso não é um clube que você pode sair convidando todo mundo para sair conosco sem conhecermos.
A garota balançou a cabeça.
— Cal, o sonho dele é sair em uma jornada! — disse. — Não estou falando de levá-lo até Shalour. Estou falando de ser nosso companheiro de viagem.
Os dois garotos se entreolharam, desagradados.
— Serena, nem o Charles deveria ser nosso “companheiro de viagem”. — rebateu o primo.
— Obrigado. — falou o outro dando-lhe um irônico tapinha no ombro.
— Primo, você seria uma ótima inspiração para ele, e poderia ensiná-lo a treinar Pokémon. Seria ótimo para vocês dois! — argumentou a garota.
— Nós não o conhecemos, Serena. — retorquiu. — E de carregar pessoas sem conhecê-las por aí, eu já estou cheio.
— Você está vendo que eu ainda estou aqui, né? — confirmou Charlie, acenando após as indiretas.
— Por favooor. — ela segurou as mãos do garoto, dando pulinhos no lugar. — Prometo que não irão se arrepender!
Ah não! Mais uma pessoa louca que a Serena resolvia enfiar na nossa “jornada” não! Já era um saco ter de aguentar o Charles, mas em algum momento acabei me acostumando. Eu não queria e nem precisava, mas me acostumei. Porém, mais uma pessoa não. Aquele garoto era mais um estranho, poderia muito bem ser um psicopata pronto para nos atacar. Confesso apenas que ao olhar sua expressão meio acuada e infantil não percebi nada de mal, só um menino que talvez estivesse esperando por aquela resposta como se fosse algo mais importante que eu poderia imaginar. Talvez eu nunca entenderia.
O garoto encarou Charlie por um tempo, e o outro respondeu com um aceno de cabeça, como quem não via problemas nisso. A menina deu um salto de alegria e foi correndo até o novo amigo. Elliot ainda tinha seu Kecleon nos braços, um pouco sem saber o que esperar. Não poderia demonstrar como tinha expectativas naquele momento. Os demais não poderiam imaginar, mas estavam tomando uma decisão que selecionaria o rumo de sua vida.
— O que você me diz? — perguntou Serena
— Uma jornada Pokémon… — murmurou ele. — De verdade?
A garota assentiu, com um sorriso, estendendo-lhe a mão. Charlie fez uma expressão simpática, e Calem permaneceu com sua cara de mal-humorado, como sempre. O garoto proferiuvários sons, empolgado, sem saber ao certo como agradecer. Se eram amigos que em algum momento procurava, finalmente havia encontrado.
— Parece que seu desejo também virou realidade… — brincou a menina, piscando para ele

    

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