Posted by : Haos Cyndaquil Mar 4, 2023


CAPÍTULO 40
Blecaute

— Quais as chances de terminar tudo bem?

— Baixas. Mas são maiores que zero.

Calem lutou para pregar os olhos durante a tarde. Mesmo sob supervisão, mesmo que entendesse a necessidade de um mínimo cochilo para enfrentar a longa noite, não conseguiu conter suas emoções. Seu peito vez ou outra lhe dava um aperto, de maneira que seu lado hipocondríaco gritava que poderia estar à beira de um enfarto – mas no fundo ele sabia que era apenas uma consequência da bagunça emocional que enfrentava naquele momento.

Os últimos meses foram aterrorizantes. Ele passou mais manhãs que gostaria se perguntando como tudo iria terminar. Ele sabia que era questão de tempo. Mas como seria o triste final de sua fuga e de sua jornada? O mistério lhe consumia e, finalmente, parecia que a dúvida aos poucos dava espaço para um medo real. Não para uma abstração – tudo era tão simples quanto um relógio na parede, contando os segundos de liberdade que lhe restavam. Tic. Tac.

Ele atravessou o pequeno quarto do hostel. Serena ensaiava um sono, porém, se remexia no colchão. Uma outra menininha loura se deitava próxima a ela, dormindo um sono profundo. Os outros já haviam acordado. De certa forma, aquela cena lhe trazia um mínimo de paz em meio ao caos. A mesa estava abarrotada de papéis, de arquivos, documentos, e alguns computadores ligados. O Professor, o Observador e Ashley conversavam, os olhos tão fundos e as olheiras tão pesadas que seus cochilos deveriam ter sido ainda menores que dos primos.

O garoto não seria capaz de agradecê-los. Em meio a toda uma região onde todos poderiam ser suspeitos, Calem finalmente encontrou pessoas que se arriscaram em salvá-los. Ashley encarava a tela do computador, bebericando uma caneca enorme de café preto que cheirava pelo cômodo  apertado. O Observador se esgueirava sobre uma cadeira, ouvindo cada palavra que a menina dizia, tentando se manter desperto. Sycamore olhava pela janela, perdido, com sua própria xícara de café.

— Isso é muito arriscado. — Ashley jogou os ombros para trás, finalmente.

O Observador bocejou.

— Talvez seja o único jeito. — disse. — É o melhor que pudemos fazer.

Calem atravessou a sala e foi atrás da garrafa térmica com café.

— Bom dia, senhor mais requisitado da região. — disse Ashley, irônica.

Calem deixou o líquido escuro preencher a xícara até o topo.

— Eu gostaria de trocar com alguém, se alguém se dispuser.

Sycamore deu um sorrisinho. Dessa vez, seu cabelo despenteado sexy estava menos sexy e mais despenteado.

— Sabe, estou confiante.

— Que bom que pelo menos alguém. — balbuciou Ashley, levando um olhar torto de Calem. Sycamore riu.

— Digo, realmente estou. Algumas das mentes mais brilhantes que conheço estão aqui, reunidas com um mesmo prol. — ele deu uns tapinhas nas costas de Calem. — Um dia olharemos para este dia com mais emoção que temor, não tenho dúvidas.

— Eu sempre admiro uma boa dose de otimismo antes do café da manhã. — comentou Ashley bebendo seu café.

— Talvez não seja o melhor plano, mas — murmurou o Observador, fitando o relógio. — é sem dúvidas o melhor plano que alguém bolaria em tempo recorde.

Tic. Tac.

Charlie assoviava uma canção enquanto caminhava por Laverre. As mãos acenaram para uma senhorinha que alimentava alguns Fletchling saltitando pela grama. Ela deu um aceno de volta, contente. Em seguida, o rapaz deu um rodopio coreografado, colhendo uma bela flor lilás com a mão livre. Sentiu seu doce aroma e com leveza colocou atrás da orelha de uma garotinha brincando ao redor, que aplaudiu o gesto.

O rapaz respirou fundo, sentiu o cheirinho quente dos pães que carregava. Não aguentou e abriu o saco de papel, tascando uma grande mordida em um deles, sentindo a massa ainda quentinha afagando seus sentidos. Abriu a porta do pequeno casebre e entrou, falando enquanto mastigava:

— Nossa, hoje a padaria estava com uma fila imensa. Já acabaram aqueles pãezinhos que você gosta, mas eu comprei uns que estavam bonitos. Posso ter roubado alguma coisa do caixa também, mas juro que é a última vez.

Mas, dessa vez, silêncio. Não houve resposta. Charlie, por um momento, hesitou.

— Ei... Você tá aí?

O garoto olhou pela janela, mas ela não estava do lado de fora também. Caminhou pela casinha, intrigado. Na sala, observou aquele mesmo calendário pregado de todos os dias, do qual ele questionava sem respostas o significado. Enfim se aproximava do dia marcado com um "X", o que fez seu coração bater mais rápido. Não sabia o que significava, mas poderia estar perto de descobrir. Sua respiração voltou ao normal ao avistar a moça sentada na mesa da cozinha.

— Que susto!

Ela se virou, mas parecia tão perdida em seus pensamentos que apenas não havia ouvido o garoto chegar. A luz entrava pela janela e lhe trazia um aspecto quase etéreo àquela mesa. O cheiro de café passado se dissipava pelo cômodo, mas ela mal havia tocado no bule ainda. O rosto apoiava nas mãos entrelaçadas.

— Tá tudo bem? — indagou o garoto, oferecendo-lhe um afago nas costas.

Ela levantou um olhar cansado e indicou para que ele se sentasse. Charlie sentiu um arrepio.

— Charlie… Eu preciso de um favor.

— Vocês sabem tudo o que precisam fazer, certo? — perguntou Ashley.

Os dois primos assentiram. Calem sentia que o coração poderia escapar pela boca a qualquer instante se ousasse abri-la. Serena precisava lutar para conter todas as frustrações que lhe cabiam. Estava a alguns passos de enfrentar aquilo que lhe arrancou tantas noites de sono. Às vezes, entre as sombras da madrugada, ela ouvia a voz de Marc ecoando; ouvia a risada de seus companheiros, sentia seus dedos lhe tocando; sentia o controle de seu próprio corpo se esvaindo.

Engoliu em seco e fez que “sim” com a cabeça para os outros.

Sycamore os abraçou, um abraço longo. Ele os encarou nos olhos. O Professor era bom em inspirar jovens a enfrentarem suas jornadas. Mas a situação era um pouco diferente. Ainda assim, vestiu o melhor sorriso que pôde e lhes ofereceu uma carícia:

— Tudo terminará bem, meus queridos. Estaremos aqui, fazendo nossa parte.

Os dois desceram as escadas, cobertos por camadas de roupas. Queriam evitar chamar mais a atenção do que deveriam. Um motorista, conhecido do Observador, fez um sinal e recebeu os dois jovens, que entraram no banco de trás. Calem apertou a mão de Serena, tentando inspirar alguma confiança. Mas ele tremia mais que ela. Seus olhos não esboçavam qualquer segurança, e isso o desestabilizava. Ela murmurou, baixinho.

— É coisa do meu pai.

Segundos de silêncio. Só o som do motor do carro.

— Ninguém faria um atentado desse tamanho sem segurança. — balbuciou Calem, assentindo. — Ninguém mexeria com nossa família desse jeito. Isso não é coisa de uma gangue, é coisa de… De alguém poderoso. De alguém realmente poderoso.

Ela ficou quieta.

— É um palpite. — ele falou, por fim. — Espero que estejamos errados.

Aos poucos o carro precisava manobrar para atravessar entre a área mais movimentada de Lumiose – e, por que não, de Kalos. Serena viu aquele símbolo mais vezes em sua vida que qualquer outra coisa, tudo sempre girou em torno daquela maldita imagem, a Prism Tower. Ela sonhou em conhecê-la, ficou completamente desapontada na primeira vez que estiveram em Lumiose de não poder visitá-la. E, agora, ela trocaria tudo para não precisar entrar naquele lugar.

A Torre era imensa, a maior construção de Kalos. Com quatro bases, elas se uniam em uma única ponta que cortava os céus como um foguete – havia tantas camadas de luzes nela que parecia uma galáxia particular, com feixes luminosos disparando por todas as direções. Naquele momento, contudo, havia uma massa de pessoas em volta, sendo contidas pela polícia.

Serena nunca viu uma multidão daquele jeito. As pessoas ouviam, apontavam. Repórteres tentavam ganhar seu espaço nos tabloides reportando aquele Atentado que perturbou a população do continente durante todo o dia. Não havia um canal que não exibisse o conflito.

“Em uma possível briga de facções, os terroristas exigiram que Calem e Serena Windsor, responsáveis pelo ataque em Vaniville, se entregassem para salvar um de seus integrantes.” – era o que dizia uma matéria.

Então era assim, pensou Serena, que as pessoas estavam acompanhando. As narrativas perderam o controle a partir do momento que ela deixou sua casa da última vez, vivendo foragida. O carro parou um tanto distante da área central da cidade; Serena e Calem agradeceram ao motorista, que lhes confirmou algumas informações antes de partir. Ambos cobriram os rostos e avançaram, em meio à multidão que se formava em torno da Torre Prisma.

Os dois davam as mãos. Quando atravessaram uma barreira de segurança, os policiais se prepararam para contê-los, até perceberem de quem se tratava. Não fizeram mais nada, permitiram que avançassem. Esperaram na porta, até que se abrisse. Serena sentia que poderia desmaiar a qualquer instante; sentia a mão suada de Calem trêmula ao seu lado.

Quando as portas se abriram, dois rapazes de rosto coberto indicaram para que entrassem. As pessoas, do lado de fora, gritavam.

Não que houvesse muita oportunidade de admirar a Torre, mas ela era diferente de tudo o que os primos esperavam. Apesar de ser um símbolo antigo, as múltiplas reformas feitas nos últimos anos afastaram a ideia de uma arquitetura clássica e a tornaram um exemplo de tecnologia de ponta em Kalos. O piso preto parecia uma sequência de telas onde desenhos eram exibidos vez ou outra de maneira coordenada; as paredes se iluminavam em tons de azul e verde, uma voz robótica introduzia detalhes sobre a arquitetura incansavelmente.

Contudo, o que roubava a atenção eram as dezenas de pessoas rendidas no chão e o grupo armado que as continha. Adultos, crianças, idosos – de trabalhadores a turistas, todos se sentavam igual e faziam o possível para não afundarem no mais profundo desespero. Entre todos, um rapaz louro e de óculos, cujas vestes se destacavam dos outros. Serena mal teve tempo de se sentir péssima com isso, pois no mesmo segundo foi revistada pelo grupo. Checaram tudo, inclusive se estavam desarmados e sem Pokémon. Por fim, um dos rapazes lhe sussurrou, o bafo úmido arrepiando os ouvidos:

— É melhor não tentarem nenhuma gracinha.

É isso. Pensou Calem. Então é assim que termina.

Se aquele era o ponto mais iluminado de Kalos, Charlie jamais seria capaz de dizer. O quarto escuro só permitia que visse o rosto sombrio de Marc pela penumbra, onde as imagens dançavam em sua cabeça. Os últimos dias bagunçaram sua mente de maneira que tudo parecia se misturar; o sono, os sentimentos confusos, tudo o perturbava; às vezes seu irmão ainda parecia uma criança, mas logo sua feição amadurecia e lhe trazia todo o pavor que representava.

— Eles não vão… Vir. — murmurou Charlie.

O outro ficou em silêncio. Momentos depois, um bipe soou e ele ouviu a mensagem que algum companheiro lhe transmitia. Desenhou um sorriso traiçoeiro e delicioso no rosto, assentindo.

— Uma pena que você esteja errado.

Charlie arregalou os olhos.

— Já temos visitas.

Ele tentou se soltar. Gritou. Mas ninguém, ninguém, iria escutá-lo.

— Mandarei suas lembranças, irmão.

Marc se preparou para deixá-lo sozinho no quarto, mas parou na porta por alguns segundos. Charlie não conseguia avistá-lo, mas ouviu sua voz correr tímida pelo cômodo.

— Você encontrou idiotas dispostos a dar a vida deles por você. — Marc fez uma pausa. — Acho que você deveria estar mais feliz do que triste.

E fechou a porta.

— Eles estão dentro. — murmurou Ashley, acompanhando na tela de dois computadores.

A tensão era crescente dentro do pequeno quarto. Havia mais dois assistentes de Ashley de seu laboratório, auxiliando com as tarefas virtuais. A menina coçou a cabeça e depositou outra xícara de café na mesa, já quase vazia. O Observador caminhou pela salinha.

— Então é aqui. — perguntou a ruiva apontando para alguns códigos. Os demais concordaram. — Estão chegando no elevador… Preciso de você agora.

Ela olhou para a pequena garota que estava junto aos adultos, outrora dormindo. Tinha cabelos louros presos e estava abraçado com um pequeno roedor – Dedenne, uma espécie elétrica marcante de Kalos. Seus olhos estavam um tanto tímidos e amedrontados. Ela era Bonnie, irmã mais nova do líder do Ginásio de Lumiose. A garota concordou com a cabeça.

Ashley acionou o comando em um computador notavelmente mais elaborado, com um símbolo dos líderes de ginásio. O sistema pediu uma senha, e a pequena garota prontamente se dispôs a inseri-la. Os dispositivos de Clemont, o líder, eram todos protegidos, ele cuidava da segurança e dos sistemas virtuais da Torre Prisma. Apenas uma pessoa tinha acesso além dele – sua irmã mais nova.

— Comando remoto… — murmurou Sycamore, abrindo um sorriso para si mesmo. — Jovem Clemont, és um gênio.

Ashley e seus assistentes encararam um sensor de monitoramento que indicava a movimentação dos primos pela Torre. Se aproximavam de um elevador. A garota olhou para o detetive.

— Observador, espero seu comando. — ela disse.

O homem ficou a observar o monitor, até, por fim, disparar com a voz firme.

— Agora!

A ruiva acionou o comando, com a confirmação de Bonnie. Todos prenderam a respiração conjuntamente.

— Agora é com eles.

Blecaute.

A área mais brilhante do mundo se tornou uma massa escura. Um apagão se estendia por um considerável diâmetro da parte Central de Lumiose. A torre se tornava uma sombra pela noite, o Show de Luzes tão famoso havia se encerrado antes da hora. A multidão, do lado de fora, se indagava confusa o que ocorrera, os jornais já não sabiam mais como conduzir a história – e, percebendo seus canais de comunicação falhando, ficaram perplexos.

Dentro, Calem e Serena tomaram um susto quando o elevador em que se encontravam falhou. O rapaz e uma moça armados que os levavam esboçaram uma reação de irritação e mesmo ameaça aos primos. Bateram na porta e tentaram apertar os botões, mas a falta de luz os havia travado dentro do cubículo. Serena olhou para cima e respirou fundo.

O elevador começou a se mover. Estavam, contudo, indo para baixo. O homem socou a porta, confuso. A Prism Tower tinha seis pisos. Mas eles já estavam no térreo. Serena e Calem deram as mãos no escuro, contando mentalmente em meio ao breu total. O elevador parou, e os dois apertaram as mãos. As portas se abriram, e os dois dispararam no chão.

Os capangas armados não tiveram tempo de mirar; uma rajada de eletricidade tomou os ares e os atingiu, derrubando-os desacordados. Calem e Serena se levantaram do chão, o coração disparado como uma bomba. Se levantaram, e depararam-se com dois Magnemite flutuando pelo espaço; as faíscas ainda estourando de seus ímãs. Dois moços uniformizados foram atrás das armas caídas e logo amarraram os capangas desacordados. Os primos tiveram uma pausa curta para se abraçarem, caminhando pelo subsolo.

— O Observador nos enviou. — disse um deles. — Sabem o que fazer agora?

Os dois concordaram. Um dos homens trazia consigo algumas Pokébolas – ambos abriram um sorriso, mais satisfeitos, de tê-las novamente. Calem encarou o elevador.

— Agora esperamos.

— Primeira parte concluída. — comentou Sycamore.

O Observador o olhou nos olhos.

— Augustine… Não que não simpatize com os jovens, mas sabe o risco que estamos todos correndo aqui. Espero que tenha certeza do que estamos fazendo.

O professor o encarou de volta. Em seguida, voltou a olhar para a janela, perdido.

— Confiem em mim.

De fato, talvez não houvesse um time mais qualificado para a tarefa imediata. Ashley dominava o ambiente virtual melhor que os dois moços, especialmente na companhia de alguns assistentes que compreendiam melhor os códigos e sistemas da Torre. Bonnie tinha acesso irrestrito aos sistemas de Clemont. Sycamore, além de ser o único razoavelmente tranquilo, tinha os contatos. Ele se lembrou de Bonnie, e ele que conseguira o mapa de toda a estrutura da torre. O Observador, além de já ter lidado com operações similares, ainda tinha influência dentro da polícia de Kalos, bem como um grupo de nomes que facilmente o auxiliariam dentro dessa situação.

— Chefe… Chefe…?

Em meio à escuridão quase total, os reféns ficaram desesperados. A reação entre eles era mista ao notarem, pela confusão dos supostos terroristas, que aquilo não parecia fazer parte do plano. Alguns recriavam esperanças de que alguém os estivesse vindo salvar, enquanto outros cogitavam que o pior ainda estava por vir. Os rapazes armados precisaram de mais agressividade em suas palavras para conseguir conter o tumulto entre as vítimas. Iluminados apenas pelas luzes de emergência, era como se estivessem dentro de uma caixa.

O pior é que, por mais que tentassem se comunicar entre si, tudo falhava. Sabiam que a Torre funcionava como uma espécie de antena para as comunicações ao redor, centralizando grande parte das transmissões da cidade. Contudo, naquele momento, parecia fazer inclusive o oposto, interceptando qualquer canal nas redondezas.

Um dos rapazes armados foi em direção a um refém jovem; um moço louro de óculos, consideravelmente baixo até mesmo para a idade. Cutucou-o com o pé. Era Clemont, o líder do ginásio e responsável pelo comando e mantimento da Torre.

— Você. — chamou. — Sabe o que aconteceu?

O menino engoliu em seco.

— Parece um blecaute.

— Consegue reverter isso? — inquiriu, com a voz incisiva.

Clemont coçou a cabeça.

— A Torre tem reservas próprias. — falou. — Mas só eu consigo acessar o sistema e ligar tudo.

Aquilo bastou para que fosse ordenado que levantasse. O garoto caminhou, as mãos presas atrás das costas, e seguiu em meio à escuridão por alguns lances de escadas, seguindo as luzes de emergência pelo trajeto. Entre o terceiro e o quarto andar, encontrou uma parede com diversos avisos e botões. O garoto apontou para suas próprias mãos e o homem o soltou, ainda mirando a arma nele. Clemont inseriu sua digital e aguardou uma leitura do rosto, mas um aviso impediu de continuar.

— Pode dar alguns passos para trás, por favor? — pediu o menino, quase gaguejando. — O sensor de rosto não reconhece se houver outra pessoa.

O homem queria protestar, mas deu alguns passos para trás, ainda apontando sua arma na mesma direção. Clemont permitiu que o sensor testasse suas feições e, sem que fosse visto, fez uma careta. Instantaneamente, uma porta se fechou atrás do menino em frações de segundo. O homem disparou, mas as balas não transpassaram a barreira. Uma nova porta se abriu à frente de Clemont, e ele avançou para uma cabine, deixando o moço esbravejando e gritando do lado de fora.

O garoto pressionou um botão e a luz se acendeu. Era uma pequena sala, tão coberta de aparelhos e computadores que alguém poderia morar naquele lugar se necessário. Era uma Sala de Controle, espaço que alguns locais públicos escondiam para a necessidade durante possíveis ataques. Sendo o maior símbolo de Kalos, a torre escondia segredos de proteção que apenas algumas pessoas conheciam.

Clemont se conectou ao sistema, que conseguia funcionar por reservas próprias em caso de desligamento da Torre. Logo, tentou emitir uma comunicação com o lado de fora, mas percebeu a dificuldade em conseguir se ligar a autoridades nas proximidades.

 — Código vermelho. — disse o garoto. — Aqui é Clemont, líder do Ginásio, fui feito de refém por um grupo armado que está no Controle da Torre.

O rapaz gelou ao ouvir uma voz pela escuta.

— Clemont, aqui é a Bonnie.

— Bonnie…? — sua voz sumiu. — O que…

— Eu tô bem! — disse a garotinha. —  Você precisa escutar a gente.

— Clemont, aqui é o Observador. — disse o moço, assumindo a comunicação. — Escute, é uma situação delicada. É uma armação para capturar os filhos da família Windsor, e eles não podem ser entregues. Precisamos tirá-los daí em segurança.

O garoto titubeou.

— Eles não são de alguma gangue ou algo assim?

— Confie em mim. — disse o detetive. — Se autorizarmos a polícia, perderemos o controle, e estaremos colocando todos em risco. Você precisa seguir o plano.

Silêncio. O garoto tinha todo o poder da principal área de Kalos em suas mãos.

— O que eu faço?

— Você alcançou a Sala de Comando, certo? — perguntou o senhor.

— Certo. A sala de Comando fica entre o terceiro e quarto piso, daqui tenho acesso a tudo, desde que consigam me informar. — respondeu o garoto.

— Afirmativo. Você será nosso controle interno, nesse caso. — acrescentou. — Desativamos parte da energia, mas a Torre está interceptando os sinais nas redondezas. Por isso, só conseguimos nos comunicar diretamente pelo canal do seu sistema.

O garoto concordou com a cabeça.

— Inteligente. Onde os garotos estão? — inquiriu.

— Eles estão esperando no bunker, no subsolo. — acrescentou Ashley. — Faz alguma ideia de como a área está sendo ocupada?

Clemont conferiu alguns monitores.

— O primeiro piso está coberto por alguns seguranças armados do grupo. O segundo piso, é onde os reféns estão. Eu estou entre o terceiro e o quarto, e suponho que o verdadeiro líder está no quinto piso com um refém. — informou o garoto, sem piscar. — Perdi o acesso às câmeras, mas consigo ver por alguns sensores.

 — Ótimo. — acrescentou o Observador. — Precisamos agora que você ligue a energia da Torre, mas apenas da Torre. Precisamos continuar com os entornos isolados, para reduzir a possibilidade de interferências e comunicações. Vamos mexer com a energia de um andar e de outro.

Clemont assentiu. Se aproximou de alguns comandos, digitou códigos, apertou botões. Em um piscar, as luzes do lado de fora se acenderam, os pisos luminosos voltaram a desenhar figuras; do lado de fora, em meio à escuridão da área central, havia apenas a Prism Tower brilhando com toda a sua intensidade, disparando feixes pelos céus e convidando todos a prestigiarem aquele espetáculo colorido.

— O elevador acabou de ser chamado do quinto piso. — murmurou Clemont.

— Ótimo, deve ser o líder. — concordou o detetive, analisando o mapa da torre. — Leve-o para o sexto piso, e trave todas as entradas. A partir de agora, ninguém entra ou sai de onde estiver.

Um dos ajudantes do Observador fez um sinal para Calem e Serena. Os primos entraram dentro do elevador. Serena tinha seu Goomy fora da Pokébola, pronto para auxiliar a treinadora. Calem trazia consigo seu Honedge. Mais uma vez, deram as mãos – agora menos para se encontrarem no escuro, mais para se fortalecerem. Viram a altura sendo ganha, em alguns curtos instantes eram capazes de avistar toda a imensidão de Lumiose, parte escura, parte iluminada. Nunca estiveram tão alto.

Quinto piso. Disse uma voz robótica no elevador.

Calem tocou Serena no ombro.

— Tome cuidado.

A garota tinha ainda o terror nos olhos. Mas assentiu com a cabeça. Se preparou, na companhia do Pokémon, mas ouviu.

— Serena! — gritou Calem. — Venha aqui rapidinho.

Confusa, a garota voltou a se aproximar. Qual não foi sua surpresa quando Calem a puxou para um abraço, um abraço forte. Sentiu o calor no corpo do primo, sentiu seus braços de fato tentando uni-la a ele. Não era um abraço por simpatia, era uma demonstração autêntica de afeto, da qual nunca sentiu o primo fazer com tanta verdade. Ainda ouviu sua voz baixinha.

— Você é a mais forte de todos nós. — murmurou. — Você consegue.

Por um instante, o medo de Serena deu lugar a um sorriso que a garota não esboçava havia muito tempo.

— Você é o melhor treinador que eu conheço. — falou, abrindo um sorriso.

— Seu repertório é meio pequeno. — retorquiu o primo, arrancando uma risada dela. — Mas… Ei. Vamos… Vamos conseguir. E logo vamos… Vamos brincar de pega-pega juntos. De novo.

Serena lhe deu um tapinha.

— Tá com você.

Calem abriu um sorriso. A porta do elevador se fechou, e ele ficou sozinho com seu próprio vazio. Por um momento se perguntou se eram assim os segundos antes de entrar em uma disputa como a Liga Pokémon. Se sentiria seu coração estalando pelo corpo, se a cabeça lhe pregaria peças daquela maneira; ele apertou os punhos com firmeza. Agora precisava fazer sua parte. Honedge entrou nas sombras com seus poderes etéreos de fantasma, deixando-o só naquele espaço.

As portas do elevador se abriram, e era quase como se ouvisse a audiência gritando por seu nome.

Mas, no caso, estava quase tudo vazio e tomado pelo silêncio. Ele sentiu um arrepio percorrer todo o corpo quando encarou o sujeito do outro lado. Alto, de cabelos negros e um par de óculos escuros inconfundíveis. Um sorriso se desenhou, e era pior que ele havia imaginado em sua cabeça. Uma arma lhe foi apontada. Aquele era o irmão de Charlie.

O outro tentava fazer o segundo elevador descer a qualquer custo, mas parecia desativado. Já havia disparado, já havia feito o que pôde, mas nada funcionou. Calem gostaria de não ter uma arma apontada em sua direção para admirar com calma o espaço. Era como um imenso campo de batalhas, o famoso Ginásio de Lumiose. O piso iluminado ligava os dois extremos do campo em um centro; imagens se desenhavam pelas paredes em um espetáculo colorido e dinâmico que os fazia esquecer que era noite; ali, parecia uma manhã de verão.

No momento que Calem chegou ao piso, o elevador voltou a ser desativado. As saídas estavam todas trancadas.

— É um prazer conhecê-lo, Calem Windsor. — gritou Marc. — Apenas uma surpresa em como nos encontramos.

— Ouvi sobre você. Bastante. — respondeu Calem, tentando juntar coragem, com as mãos levantadas.

Marc deu de ombros.

— Por que não fazemos os seguinte… — e deu um disparo. Calem congelou e segurou um grito. Mas não foi em sua direção. — Você manda seus amigos liberarem as saídas agora, e eu te entrego vivo.

Calem engoliu em seco.

— Por que você tá fazendo isso? — murmurou. — Charlie é seu irmão.

Os dedos de Marc deslizaram pelo gatilho.

— Por que você fugiu da sua família? — perguntou. Custaram alguns segundos para que Calem preenchesse o vazio.

— Porque eu percebi que seria mais infeliz naquele lugar que fora dele.

Disparo. Marc deu um tiro para cima. Calem jogou-se no chão.

— O caralho. Porque você é frouxo. Igual meu irmão. Porque vocês fogem.

Ele deu passos à frente, balançando a arma.

— Você acha que ia ser infeliz lá dentro? — e soltou uma risada descarada. — Você é patético. Você e sua priminha acham que são corajosos porque fugiram da mansão do papai. Vocês não tem uma mínima noção do que acontece fora dela.

Calem levantou as mãos para cima, rendido.

— Marc, eu não posso mudar o que você passou. Também não posso prometer que posso fazer muito agora. Mas eu não sou seu inimigo. Nem a Serena. E nem o Charlie.

Um passo mais próximos.

— Seu irmão não teve uma casa por anos, Marc. Eu e Serena tentamos acolhê-lo. Se não fosse pela gente…

— Há quanto tempo vocês se conhecem? — retorquiu em seguida, olhando por cima dos óculos.

— Hã? — murmurou o outro, perdido.

Marc pareceu raciocinar alguns segundos.

— Não faz tanto tempo assim... Tá dizendo que ele não tinha uma casa. O Charlie tinha uma casa.

— Eu sei que vocês tinham. Mas…

— Não, não to falando disso. — ele até mesmo afrouxou a mão com a arma. — Tô falando que mesmo depois que ele fugiu, ele tinha uma casa. Provavelmente antes de te conhecer.

Calem gelou por um instante, completamente deslocado do assunto. Marc levou um tempo para afastar os múltiplos pensamentos que lhe invadiram, trocando por uma risada alta ao perceber a expressão do outro, implorando para que lhe clareassem a situação. Calem tentou não se envolver, sabia que Marc propositalmente tentaria confundi-lo. O outro voltou a apontar o revólver, com um brilho ainda maior nos olhos.

— Vocês não tem a mínima ideia de nada.

Naquele instante, uma sombra emergiu do piso. Honedge desferiu um Shadow Sneak que desestabilizou Marc, roubando sua arma com a mão fantasmagórica que se formava de sua bainha. O Pokémon entregou o objeto nas mãos de Calem, que tentou apontar o para o rapaz, trêmulo, fazendo-o gargalhar.

— Vai atirar em mim? — inquiriu Marc, rindo.

Calem caminhou com leveza pelo campo, ainda com a arma apontada. Marc não se intimidou em momento algum – ou escondia muito bem atrás de seus óculos escuros. Foi caminhando em sua direção.

— Não. — respondeu o menino. — Por que não resolvemos isso do melhor jeito?

Ele chegou ao centro da arena. Luzes ainda mais intensas se acenderam, piscando. Uma voz robótica ecoou pelos alto-falantes.

Insira o nome do desafiante. Insira o nome do desafiante.

— Calem. — respondeu o garoto. — Calem Windsor.

Subitamente, as luzes se apagaram. Uma contagem regressiva apareceu nas telas, e todo o espaço foi tomado pelo início de apresentação. O chão, as paredes, o teto – tudo fazia parte, tudo se iluminava e completava as imagens, era como estar imerso momentaneamente em um universo virtual deslocado da realidade. A voz robótica acompanhava:

Bem-vindos espectadores ao Ginásio de Lumiose, localizado na Prism Tower. A Prism Tower é o maior símbolo de Kalos. A luz que a Torre emana, junto das proximidades, é suficiente para iluminar um milhão e seiscentas lâmpadas!

Marc parecia confuso, tocando levemente o braço ferido pelo golpe de Honedge.

— Que merda é essa? — murmurou.

— Só tem um jeito de sair daqui. — retorquiu Calem.

— Você não tá falando sério.

Calem forçou um sorriso. De onde Marc estava, diversos dispositivos começaram a ser revelados, telas, monitores, maquinários. Após alguns instantes de confusão mental, uma das telas piscava, soltando um aviso.

Aperte para iniciar. Aperte para iniciar.

Marc soltou uma gargalhada alta.

— Você faz ideia do que está acontecendo? Já está tudo pronto para levar você e sua prima de volta.

Calem deu de ombros.

— Só vamos sair quando essa batalha terminar.

O outro desenhou um sorriso.

— Acha que pode me entreter aqui… Mas não esqueça que tenho gente de sobra pra ir atrás da sua priminha.

Calem engoliu em seco. Estava pronto para entrar em pânico, mas ele prometeu a si mesmo confiar em Serena. Marc sabia usar as palavras, sabia tangenciar seus maiores medos.

— Nesse caso, está com medo? — murmurou Calem.

Recebeu uma risada debochada em retorno.

— Quer saber? Por que não?

E pressionou o botão de início.

Serena deu mais alguns passos à frente quando o elevador com Calem se fechou. Olhou para trás de novo, e seu primo já havia ido. Ela estava sozinha, se não por seu Goomy. Sentia o vento canalizado correndo trazendo frio por entre seu corpo já arrepiado e alerta. Os mínimos ruídos dos metros de metal acima e abaixo conseguiam brincar com sua imaginação. Serena sabia que era forte, mas dessa vez seu teste seria diferente: enfrentar um de seus piores pesadelos.

Ela encostou no vidro, vendo os quilômetros de cidade adiante. Por anos Serena sonhou em subir na Prism Tower, em observar toda Lumiose a perder de vista e admirar o show de luzes sem qualquer preocupação. E, no fundo, ela precisava admitir que a vista era deslumbrante: parecia observar uma galáxia próxima, onde cada pequena estrela brilhante lhe mostrava o caminho para uma nova aventura. Era admirável. Mas as condições não permitiriam que se deleitasse com a vista por tanto tempo.

Serena tornou a caminhar, guiada pelas luzes de emergência, mas estava completamente perdida. Era um andar espaçoso, repleto de salas. Charlie poderia estar em qualquer uma delas, em qualquer canto. Poderia não estar ali, e ser só uma armadilha. Ela pegou uma nova Pokébola e lançou, vendo Espurr cair em seu colo.

— Mary, preciso da ajuda dos seus poderes psíquicos. — murmurou a garota dando-lhe um afago. — Preciso saber onde o Charlie está.

A criatura se demorou por alguns segundos, mas logo fechou os olhos. Um silêncio mórbido tomou conta da mente de Serena, onde apenas seus batimentos eram suficientes para estalarem como tambores em meio à quietude. As orelhas da criatura começaram a se mover, e Mary tornou a flutuar com seus poderes psíquicos. A garota logo correu atrás.

Serena ouviu um ruído. Olhou para trás, em um dos corredores, e viu a silhueta de um homem. Ela ouviu um disparo, mas logo que abriu os olhos percebeu que Goomy os havia defendido com o Protect de qualquer ataque. Ela logo retomou consciência e respirou fundo, tentando engolir toda a adrenalina que lhe roubava a atenção.

— Use o Dragon Breath!

O dragão praticamente dobrou de tamanho com sua forma gosmenta, abrindo a boca em uma enorme rajada que derrubou o inimigo. Ele caiu no chão, quase inconsciente. Serena sabia que o ataque também tinha uma boa chance de paralisar o alvo. Aproveitou dos segundos de tranquilidade e saiu correndo atrás de Mary, permitindo-a guiar o caminho.

Ela espiou para uma pequena sala ao final do corredor. Dois homens armados se dispunham à porta, defendendo-a como um cofre. Um lugar ideal para esconder um refém. A garota tocou o peito e olhou para cima. Era uma confusão de sentimentos absurda: estava com um medo que lhe corria por todo o corpo, mas ao mesmo tempo havia demais em jogo que dependia dela. Respirou fundo e em um impulso de coragem disparou:

— Mary, Confusion!

Quando os guardas lhe apontaram as armas, sentiram uma onda de energia em sua direção, bagunçando os sentidos. Serena se escondeu, pois começaram a disparar em todas as direções. Em seguida, Goomy foi à frente.

Dragon Breath!

Com o poder de seu dragão, percebeu uma brecha. Correu o mais rápido que pôde na companhia dos Pokémon, invadindo a sala. Logo fechou a porta, suando, e gritou:

— Goomy, use o Protect para impedir que entrem!

A luz estava apagada, mas ela ouviu murmúrios que quase fizeram seu coração saltar pela boca. Acendeu o interruptor e deparou-se com Charlie. A cena era tão difícil de se observar que Serena quase desabou ali.

O garoto estava todo amarrado, o rosto espremido entre a venda e a mordaça. Ele se balançou em tantas direções que parecia perdido – mas no fundo reconhecia aquela voz. Serena sentiu as lágrimas vindo, mas as engoliu. Retirou a venda de Charlie, vendo os olhos verdes tão inchados que pareciam prestes a explodir.

Charlie duvidou por um instante que fosse vê-la novamente.

Serena ajoelhou-se em sua frente e o abraçou. Tudo se desenvolveu em questão de segundos, mas ela poderia ter ficado ali para sempre. Começou a forçar as cordas com a ajuda das garras de Mary, vendo-o se livrar finalmente. Charlie estava todo machucado pela pressão das amarras, mas o sabor da liberdade lhe fez sentir um frio na barriga de novo. Ele a abraçou com a força de quem não queria que aquele momento acabasse, com as últimas forças que restavam em seu corpo.

— Serena, me desculpa. Me desculpa, me desculpa, me desculpa.

— Charlie, não precisa… — ela abraçou mais forte. — Não precisa pedir desculpa.

— Eu machuquei tanto vocês, eu nunca quis isso, eu juro.

— Eu sei, Charlie. — agora, era ela quem sentia as lágrimas chegando. — A gente precisa correr, tá? Depois a gente fala direito mas… Mas eu nunca ia deixar você aqui. Nunca.

Ele viu aqueles olhos azuis encharcados, mas ao mesmo tempo fortes como um oceano pronto para engolir as embarcações que ousavam enfrentá-lo. Antes de vê-la correr de novo, segurou em seu braço, por um último instante.

— Serena, esses dias foram assustadores… Eu revi tudo aquilo que mais me assombrava na minha cabeça, e agora me sinto a um segundo de perder tudo e todos... — falou, segurando-lhe as mãos. — Mas, aconteça o que acontecer, eu te devo a verdade. Eu nunca me perdoaria se eu te deixasse sem ela.

Ela estava nervosa. Ouvia os ruídos dos guardas se recompondo e tentando entrar na sala. Tiros foram disparados atravessando a parede, mas Goomy os impediu de serem atingidos. Ela apertou os dedos.

— Charlie, de coração, eu quero saber tudo sobre sua vida. Tudo. — ela limpou embaixo dos olhos dele. — Mas agora a gente precisa ir, tá?

— Não é sobre mim ou sobre o Marc. — ele fez uma pausa, com os olhos caídos. — É sobre você.

A garota emudeceu, sentindo um choque por todo o corpo.

— Eu conheço sua mãe. Ela mora em Laverre e se chama Alice. Ela me mandou para seguir jornada com você.


    

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  1. não vo mentir, mesmo sabendo o título, deu um sustinho ver esse vazio como imagem do cap
    — Baixas. Mas são maiores que zero. > olha, isso já é bem otimista considerando tudo qq
    os medos abstratos já deixa a gente zoado da cabeça, que dirá quando começa a se materializar assim kk me surpreenderia se qualquer um deles conseguisse descansar
    — Isso é muito arriscado > então dá um plano melhor, miga, vai, usa seu intelecto avançado q
    tá vendo, é de mais gente como o sycamore que a gente precisa!! (que situação, to elogiando um francês)
    ai que bom que cê nos deu uma cena levinha e feliz do charlie em laverre, to ansiosa pra descobrir como você vai destruir isso q
    Posso ter roubado alguma coisa do caixa também, mas juro que é a última vez. > ASDÇKNDSAÇKSDAKÇSDAKÇSDANÇKSDA esse é o espírito qq
    plmdds ela tem uma contagem. i do not feel good about it
    ô meu santo senhor jesus, como pode que até velhinhas frágeis de laverre estejam me assustando, pq a gente nunca pode ter nada em paz por aquiiiiiiii
    é bem válida a hipótese deles, ainda mais pensando em como a prism tower é um lugar todo tecnológico?? deve ser mó difícil invadir e atacar assim
    mds vdd quando eles estiveram da primeira vez não dava pra ir na torre asdçksdnsdaçndksank apenas gatilho pra pobi
    responsáveis pelo ATAQUE em vaniville asdçknsdaçnkdkdnçkakçasdnçkasd ah não cara, o drama da galera (eu sei que é assim que a grande mídia funciona mas ainda é risível quando você sabe a verdade)
    eles segurando a mão um do outro >:
    O POBI DO CLEMONT espero que os pokés dele deem vários choque do trovão nessa galera com isso tudo terminar qq
    É isso. Pensou Calem. Então é assim que termina. > e se eu fechar o notebook e fingir que nada disso aconteceu
    — Você encontrou idiotas dispostos a dar a vida deles por você. — Marc fez uma pausa. — Acho que você deveria estar mais feliz do que triste. > i cant believe i have to agree with him, from all people
    mas, oh, isso pesa pro charlie, pq ele não acha que ele possa valer tanto :/
    mds a coisa tá tomando tanto café que eu to quase ficando preocupada com ela (i mean, ficaria muito grata se ela enfartasse, mas se pudesse pelo menos ser depois de resolver essa treta qqq)
    BONNIEEEEEEEE mds vdd tinha esquecido sobre ela asdçksdçnkasdkdaçsk AI QUE AJUDA SENSA
    obg clemont por confiar esse tipo de coisa a sua irmã (e realmente algo bem precavido numa situação em que ele estivesse em perigo, como agora)
    ISSOOOOOOOOOOOO BEM FEITOOOOOOOOOOOOO
    ai ótimo que minha playlist ainda caiu bem em soundtrack de momento de ação agora, tudo alinhadinho
    sycamore sendo o ponto forte pq tá calmo, concordo muito, algo essencial nessas horas. e também pq CONTATINHOS
    CLEMONT NUNCA TE AMEI TANTO QUANTO TE AMO NESTE MOMENTO vai iconeeeeeee
    GOOMY MEU NENEEEEEEE assim péssimo momento etc etc MAS OI NENE COMO VAI
    O CALEM ABRAÇANDO ELA
    E DIZENDO VOCÊ É A MAIS FORTE DE TODOS NÓS
    TÁ AQUI MEU LAUDO, MEU DEUS DO CÉU ASÇDKNASDÇKASDÇKSADKÇSDANKÇDNSAÇKSD ai to real chorando mds AND HE’S SO RIGHT!!! U GO DEAR, THE BRAVEST PRINCESS!!!!
    VOCÊ É O MELHOR TREINADOR QUE EU CONHEÇO affs gente para eu não tenho coração pra isso
    vamos brincar de pega-pega :((( vão sim meus anjinhos, tudo logo vai ficar melhor
    (não vo dizer tudo bem pq 1) duvido 2) é red flag q)
    a liga é um tantinho menos enervante ig qqq i hope qqq
    deixa o honedge se cravar na garganta desse fudido, espero que tenha pesadelos pro resto da eternidade
    — Porque eu percebi que seria mais infeliz naquele lugar que fora dele. > applies to charlie too, if you’re wondering q
    FROUXO É VOCÊ QUE NA PRIMEIRA CHANCE JÁ SE CORROMPEU, UM FIO DE CABELO DO CHARLIE É MUITO MAIS FORTE QUE TUDO QUE TEM EM VOCÊ

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    Replies
    1. rapaiz o marc sabe dos rolo todo, e larga um meio spoiler assim qq
      BOA HONEDGE agora despacha ele vai qqqqq (eu querendo aumentar a faixa de idade da fic qq)
      MENTIRA QUE ELE VAI DESAFIAR O MARC ASDÇKNASÇKDAÇKSÇKNNSKDAÇNÇKSDANÇKDSAÇNDSA AAAAAAAAAAAAA
      pera ele tem pokémon?? não exatamente duvido mas também to com muita pena se ele tem, magina o lixo de treinador que deve ser (tho ele pode pegar uns que são do ginásio né, mas quero ver se ele sabe se desenrolar sem arma na mão qq)
      O MARC PERDIDAÇO ASÇDKNSDAÇKSDAÇKNASDÇÇKSDA mas pls migo, vamo resolver do jeito clássico, tu que pediu por isso se metendo num ginásio q
      muito bom usar a mary pra localizar, quem diria uma espurr fazendo resgate qqq
      ooooh real o goomy tem protect, extremamente útil no momento qq
      ai charlie >>:
      e ele pedindo desculpa me quebra demais, pq realmente não é culpa dele >: e ela dizendo que nunca deixaria ele, ai T^T
      Ele viu aqueles olhos azuis encharcados, mas ao mesmo tempo fortes como um oceano pronto para engolir as embarcações que ousavam enfrentá-lo > [screech] (minha filha poderosa demais mesmo!!)
      estar tão perto da morte (ou coisa pior, né) realmente faz a gente reavaliar um monte de coisa mesmo..... (mas, assim, não dá pra ser em outra hora, migo?? eu Super quero te ouvir, mas quando cês estiverem em segurança qq)
      PERA, ELE O QUE????????????
      ELA QUE
      ELE
      A?????? AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
      MDS DOC EU ASÇDDÇASNDÇAAKSDNKÇSDANÇKDSÇKNDÇKNNKDÇDSA MDSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS
      eu sempre disse que ela é uma fadinha MAS ERA ZOANDO SABE??? QUE QUE ISSO mds e ela ainda colocou que é de laverre nessa nova identidade, o pressentimento né MAS PLMDDS AÇNSDSAÇDNÇKASDKNSDAÇKNASDNÇKDSAÇKSAD
      COMO É QUE ÉEEEEEEEEEEEEEE

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    2. AUSHDUASD Eu SEMPRE amo acompanhar as suas reações ao vivo, mas desse capitulo superou tudoooo

      Era tanta coisa pra juntar e conectar (e tantos personagens ao mesmo tempo) que o capítulo foi crescendo e crescendo até ficar desse tamanho. Mas fiquei super feliz que deu pra manter as emoções nesse ritmo até o fim, ainda mais quando tudo vai se encaixando. E foi bom também poder colocar alguns personagens como o professor e o observador com mais destaque, já que são peças importantes da história!

      E eu amo vc prometendo pra eles que as coisas vão ficar melhores, mas não boas AIUSJDAIUSHDAUS Que fama triste :'''''') Mas realmente só vivendo um dia de cada vez (e um capítulo de cada vez), porque a gente sabe que o buraco é mais embaixo. Ansioso pra ver o que vc vai achar do próximo, porque prometo que tá eletrizante (dsclp por essa) HSAUDIASH

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