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Notas do Autor - Royal Emperium #1
Já faz quase um ano desde que aguardamos o lançamento desse especial. Isso se não considerarmos todo o período em que montar uma guilda esteve em mente, mas não pude realizar. Mas, com muita paciência, chegamos ao primeiro passo para iniciar esse projeto.
As guildas tiveram início com os Fire Tales, de Sinnoh, inspirado no anime famoso Fairy Tail. O que começou com uma descontraída conversa entre Pokémons tomou imensas proporções, de forma que fossem as maiores estrelas nos momentos finais da fanfic. A ideia de levar as guildas Pokémon para outras regiões da Aliança já esteve presente, e aconteceu. Desde aquele tempo eu já buscava manter a ideia de construir uma, mas tive que aguardar um bom tempo, já que nem sabíamos direito quais Pokémons seriam da 6ª Geração.
Porém, agora, estamos no momento perfeito para começar esse novo especial. Lá para o capítulo 6 ou 7 tivémos uma pequena pontinha de Pokémon P.O.V, que foi suficiente para atacar a ansiedade. Nela, Neal, Mary um rival apareceram com pouquíssimas falas, mas já era possível ter uma ideia de como eles seriam. Agora, temos um total de 7 Pokémons. Fui aos poucos trazendo os Gijinkas e um pouco de cada um, para que se tivesse uma ideia de como eram. Agora vem a prática.
E como eles influenciarão a fanfic? Vamos ter mais Pokémon P.O.V? É difícil dizer agora. Quero que tanto a história central quanto a RE se interliguem, mas por enquanto prefiro que cada um mantenha-se independente. Cada um possui sua trama, embora o objetivo seja igual. Quero que pensem na RE como algo para descontrair, uma diversão sem postagem certa. Pode chegar em qualquer dia da semana, em qualquer época.
Agora falemos sobre o capítulo em si! Eu estava um pouco incerto sobre a postagem, mas pude contar com uma leitura prévia do Canas, que me deu segurança para trazê-lo ao público. Estive um bom tempo sem escrever de verdade, e para ser sincero estava enferrujando ~rs.
É possível perceber que os Pokémons distribuem-se em grupos. Não fui eu quem escolheu, foram eles. De certa forma é como se as próprias personalidades e atitudes ganhassem vida, e eu apenas narrasse tudo, escondido em uma moita ~rs Atentem-se aos pequenos detalhes do capítulo. Acreditem, cada detalhe, cada frase pode trazer algo importante. Adoro esconder algumas surpresinhas no meio, que podem ser importantes futuramente.
Deixarei para que vocês descubram ou percebam o que pode ser importante ou não. Àqueles que quiserem deixar um comentário, ficarei extremamente feliz em saber o que acharam, quais Pokémons parecem mais interessantes, e o que aguardam nos próximos capítulos.
Como o Neal disse, esse é o primeiro passo!
Royal Emperium #1
Capítulo 1
Em Obras
— Theodore! — a voz ecoou pelo imenso campo vazio.
Eis que um sujeito
baixo e gordinho começou a correr, atrapalhado, na direção onde o som fora
proferido. Após tropeçar nas próprias pernas três vezes, ele finalmente chegou
e se posicionou, batendo continência, enquanto mantinha uma expressão séria. À
sua frente estava Neal sentado em uma mesinha, com Mary ao lado.
— Sim senhor, senhor.
— falou o Magikarp.
O Larvitar fechou os
olhos e aguardou alguns instantes antes de começar a falar. Sua voz, mesmo ele
sendo jovem, era grossa, áspera. Como uma rocha se partindo em pedacinhos.
— Como deve ter
percebido, estamos passando por algumas pequenas mudanças. — disse. Antes que
pudesse continuar a falar, ouviu uma resposta:
— Mudanças…? Mas que
tipo de… — o Magikarp se virou e olhou ao redor, soltando um grito de surpresa.
— SANTO KYOGRE, O QUE VOCÊS FIZERAM COM ESSE LUGAR?
Theodore, distraído
acima de tudo, não havia parado para reparar ao seu redor antes. Um conjunto de
Pokémons lutadores e do tipo rocha trabalhavam em conjunto em uma obra,
construindo algo. Algo grande. Algo grande o suficiente para que fosse
impossível alguém não perceber. Theodore, no entanto, era sempre uma exceção à
regra.
— Caso não tenha
percebido, há alguns dias essa “mudança” está acontecendo. — falou Neal com
toda a calma e firmeza que já lhe era costumeira. — Estamos construindo uma
guilda.
O Magikarp soltou um
grito exasperado e choroso, enquanto se perguntava “o que vocês fizeram com
esse lugar?”, e alternava entre movimentos desajeitados, como um peixe fora
d’água. Quando se deu conta, parou para refletir um instante e perguntar:
— O que é uma guilda?
Mary se levantou da
cadeira.
— Como assim, Theo,
você não sabe o que é uma guilda? — perguntou a menina, colocando as mãozinhas na
cintura. — Aliás, o que é uma guilda, Neal?
O Larvitar respirou
fundo uma vez antes de perder a calma. Se levantou calmamente da cadeira.
Estava tudo calmo. Por que perderia a calma? Começou a narrar algo, como se
contasse uma história. Uma antiga história que perdurara por anos, contada de
geração a geração.
“Nos
primórdios de Kalos, guerras entre grupos de diferentes ideais já ocorriam.
Como resultado de uma delas, aliás, que a famosa arma de destruição foi
inventada. Não que isso venha ao caso agora. Enfim, essas guerras eram lutadas
por exércitos, exércitos que formavam guildas.
As
guildas eram compostas por guerreiros com diferentes funções. Aos poucos,
conforme o diálogo tornou-se mais importante, as batalhas foram consideradas
apenas entretenimentos. Não que isso as fizesse serem menos sangrentas, é
claro, mas tornaram-se menores.
Como
reconhecimento das difíceis batalhas enfrentadas no passado, batalhas continuam
ocorrendo em arenas especializadas, conhecidas como ginásios. A vitória nos
ginásios, leva ao Torneio das Guildas, onde as mais poderosas se enfrentam em
busca de um prêmio: Lutar contra a Elite 4.
Conhecida
como uma das guerras mais duras que se enfrenta hoje, as guerras contra a Elite
4 permitem que o desafiante, caso ultrapasse as 4 Casas, enfrente A Campeã, com
o exército mais poderoso conhecido em Kalos.
—Uaaaaaau. — disseram
os dois em uníssono.
Neal assentiu,
orgulhoso.
— Só não entendi uma
coisa. — disse Theodore. — Por que então vamos criar uma guilda?
(Em
respeito aos leitores e à elegância, a cena foi cortada).
...
— O.K. — ponderou o
Magikarp . — Por que eu tenho que
fazer isso? Sou apenas o Bobo da Corte.
Neal o encarou com
seus olhos rígidos.
— Eu, como sou o
membro mais poderoso e de mais conhecimento, é claro, serei o Guildmaster. —
falou, cerrando um dos punhos. — A Mary, como minha protegida, é a segunda no
comando. — ele olhou para a menina, que deu um sorrisinho meigo. — E você, pode
ser o terceiro. Pelo menos até que eu arranje alguém melhor.
Theodore suspirou.
— Certo. Então eu
devo recrutar os outros membros para nossa guilda. — falou ele. — Mas e se eles
não aceitarem?
Mary se prontificou.
— Eu vou com você, Theo!
— saltitou em direção a ele. — Eu sei ser convincente, acredite! — e deu uma
risadinha.
Os dois foram juntos
procurar os demais membros, que, na realidade, conheciam apenas de vista. O
grupo de Pokémons estava sempre distribuído, dificilmente se misturavam.
Talvez, com a construção de uma guilda, aquilo viesse a mudar. A Espurr ia
saltitando na frente, enquanto o Magikarp ofegava para tentar alcançá-la na
corrida.
Após chegarem a uma
área florida daquele campo aberto, ela sabia que encontraria alguém lá. Chamou
por ele, até vê-lo saindo do meio das flores, tão pequeno que facilmente
conseguia se esconder naquele lugar. Theodore teve certa dificuldade de deduzir
se era um menino ou uma menina a princípio, até ver Mary conversando com o ser.
— Eryx, precisamos
falar com você sobre algo importante! — falou ela.
O Flabébé cheirou uma
das flores, tranquilamente, e em seguida olhou para a amiga, animado.
— Pode falar, Mary! —
como uma criança, sua voz era frágil.
Theodore ficou
encarando o pequeno sujeito enquanto Mary o explicava todas as informações que
Neal havia dado. Após observar uma flor curiosa que jazia em sua mão, o
Magikarp percebeu que era um guerreiro do tipo fada, um raro tipo que até determinado
tempo só havia sido visto na região de Kalos. Normalmente a raça dos Flabébés
era formada apenas por mulheres, o que chamou sua atenção ao ver o rapazinho.
Ele decidiu se
aproximar um pouco. Acenou quando Eryx o olhou, e recebeu um tímido aceno em
resposta. Mary tentava convencê-lo, com sua voz aveludada e doce, e ele apenas
concordava.
— Eu não sei, Mary. —
disse, tímido. — Fadas prezam o bem de todos… Eu não gosto de brigas.
— Por que não, Eryx?
Brigas tem mortes, e mortes são… Legais… — ela falou, vendo o pequeno arregalar
os olhos. — O que foi? Estou brincando, oras. — deu-lhe um tapinha na cabeça. —
Você pode ser, não sei, responsável pela… Floricultura?
— Mary — chamou
Theodore — por que diabos uma base de exército precisa de uma floricultura?
Ela o repreendeu com
o olhar. Mary sempre conseguia repreender as pessoas com aqueles olhos púrpuros
enormes, por algum motivo.
— Eu estou tentando
ser criativa aqui, Theo.
— Desculpe.
— Você só precisa
participar, arranjaremos alguma coisa pra você contribuir sem ter que machucar
os outros. — ela garantiu.
O pequeno assentiu,
um tanto relutante.
— O.K.
— Pronto, missão
cumprida. — anunciou Theo, aliviado. — Ainda bem que nossos senhores tem poucos
Pokémons. Agora podemos voltar e…
— Ainda faltam três
membros. — repreendeu Espurr, pensativa.
O Magikarp parou de
andar e encarou a pequena de olhos púrpuros. Em seguida, soltou uma gargalhada
cínica que até o fez lacrimejar.
— Você não está falando
daqueles três, Maryzinha, meu amor.
Eu sei que não está.
Ela o acompanhou com
as risadas.
— Estou sim, bobinho.
— e fez uma pausa, o encarando seriamente com um tom assustador. — Agora anda.
...
Distante o
suficiente, onde a sombra da construção que estava sendo feita tampava o sol
que chegaria a um pequeno casebre, ouvia-se murmúrios dentro da construção
simples de madeira, que praticamente caía aos pedaços. Era um cubículo.
Theodore e Mary caminharam até ele. O Magikarp ainda um tanto relutante,
virou-se para a Espurr:
— Podemos ir embora,
ninguém saberia
— Theo, quando um
Guildmaster dá uma missão, você precisa cumpri-la! — alertou-o Mary.
Ele respirou fundo.
— Por que sempre fico
com as piores tarefas?
O rapaz esticou e,
após alguns longos instantes ouvindo seu próprio coração bater, resolveu dar
alguns soquinhos na porta. Assim que o fez, rápido como um raio, escondeu-se
atrás da garota, que sequer se moveu. Da porta, um pequeno retângulo se abriu,
revelando um par de olhos verdes como safiras, mas cruéis como um redemoinho no
oceano. Eles foram acompanhados por uma voz doce:
— O que querem aqui?
— ou quase doce.
Silêncio.
— Eu perguntei o que
vocês querem.
— Ah, nada, foi um
engano. Pensei que aqui fosse o Centro Pokémon, desculpa. — falou Theodore,
preparando-se para correr, mas tropeçando em seus próprios pés e caindo no chão
antes.
— Temos um convite
irrecusável pra vocês! — falou a menina com empolgação.
O retângulo foi
colocado novamente a porta, tampando os olhos que antes podiam ser vistos.
Alguns momentos depois, sons como de vários cadeados se abrindo ecoaram e a
porta se abriu. Alguns pares de mãos os
puxaram para dentro.
O lugar era tão
feioso quanto aparentava ser por fora. Era ainda menor por dentro. Se é que era
possível juntar sala de estar com cozinha e com quartos, essa era definição
perfeita do casebre desgastado. Três pessoas curiosas encaravam os dois jovens,
suficientes para intimidar Theodore.
Um rapaz alto e
barbado os encarava, ao lado de um jovem — o mais baixo entre os três. — mal
encarado vestido com roupas primordialmente enegrecidas, que estava no centro.
De seu outro lado, a moça dona dos olhos e da voz anteriores tinha os braços
cruzados. O mais chamativo eram seus cabelos vermelhos, que pareciam chamas no
topo da cabeça. Ela parecia cruel.
Mary continuava
sentada com uma expressão séria, como se nada tivesse acontecido, enquanto o
Magikarp tremia o suficiente pelos dois. O fato de aparentar estar intimidado
parecia agradar aos três que o encaravam. A ruiva olhou para eles e disse:
— Estou esperando.
O Magikarp fez uma
expressão de quem não havia entendido.
— A proposta.
Mary se levantou
repentinamente, animada, assustando os três, que se colocaram em posição de
luta. Ela, sem perceber, começou a falar:
— Estamos montando
uma guilda, e como são os Pokémons do senhor Charlie, gostaríamos muito que
entrassem.
— Não estamos
interessados. — disse a moça, a Litleo, de cara.
— Você nem sabe o que
é isso, Gwen. — argumentou o garoto mais alto, o Skiddo.
— Cala a boca, Mason.
— disse a menina. — Seja lá o que vocês estejam tramando, não nos interessa. Só
porque nossos treinadores resolveram fazer um “grupinho” e sair em uma
“jornada”, não significa que temos que ser amigos.
O silêncio perdurou
por alguns momentos, preenchidos apenas por olhares duvidosos, até que Theodore
o quebrasse:
— Boooom, o convite
está feito, não queremos atrapalhar vocês, não se esqueçam de ir qualquer dia
tomar um suco de Oran Berry, sim? —
disse, puxando a menina, que não se moveu. — Vamos indo nessa.
Mary não saiu do
lugar.
— Neal disse para
convencermos eles a insegrar na
guilda, eu vou fazer isso.
— É “ingressar”. —
corrigiu, aos sussurros. — E eles não estão a fim, não percebeu?
Nesse momento, o ouro
rapaz, que ainda não havia se pronunciado — o Pancham de Charlie — avançou em
direção à menina. Aproximou seu rosto e a encarou. Ela se deparou com aqueles
olhos enegrecidos, com olheiras marcantes que indicavam que este provavelmente
não tinha boas noites de sono há tempos.
— Não queremos entrar
para o grupinho de vocês. — falou, seco. — Agora dêem o fora.
Theodore, sem
aguardar, saiu correndo levando Mary para longe, antes que fosse tarde demais.
A garota provavelmente retrucaria, e ele não queria ver como isso ia acabar.
...
— Nós fizemos o
possível, senhor, mas não deu… Eles foram muito cruéis, muito. — dizia
Theodore, sentado em uma cadeira, com um copo de água com açúcar na mão.
— Tudo bem, Theo, já
passou, já passou. — consolava Mary.
Neal, de braços
cruzados, apenas ouvia. Já estava um pouco acostumado com seu companheiro
Magikarp, e de fato não sabia o que esperar do recluso outro grupo de Pokémons.
Talvez não fossem um acréscimo grande à guilda.
Sem dizer nada, foi
andando até uma pequena casinha com beliches. Enquanto a guilda de fato era
construída, e ninguém tinha seus quartos ainda, todos ficavam em um mesmo
dormitório. Talvez um pouco incômodo, mas sabiam que era temporário.
O rapaz deixou por um
momento parte da armadura e subiu em sua cama do beliche, deitando-se. Seus
pertences também estavam lá, em um pequeno saco. Puxou de dentro um amontoado
de papéis que havia recolhido de manhã, de um Fletchling carteiro. Era um
jornal.
O garoto puxou a
folha e a amassou, atirando para longe. Em
breve a minha guilda vai estar na página principal. Era o pensamento que
tomava sua mente. Faria o que fosse preciso, e sabia que não seria pouca coisa.
Não seria mesmo. Em conjunto com os melhores integrantes, construiria o
verdadeiro império da nova geração. Chegaria ao topo, e seria o melhor.
Topo. O melhor.
Puxou uma outra folha
dos pertences, essa também um pouco amassada, ainda mais por ser fina. Nela, a
foto de um vigoroso Garchomp. Um pôster, que Neal provavelmente apenas
aguardava a oportunidade para pendurar novamente. Embaixo, a palavra “Lenda”
estava gravada com letras douradas.
— Um dia chegarei ao
seu nível. — sussurrou para a foto.
Fora interrompido por
Theodore, que adentrava o dormitório correndo. No susto, Neal guardou novamente
o pôster.
— Você está bem,
senhor? — perguntou o Magikarp.
— Estou bem. E você?
— indagou de volta.
— Estou melhor, sim.
— respondeu ele, sorrindo.
— Hm, que bom. —
disse Neal, fazendo uma pausa. — ENTÃO POR QUE ESTÁ AQUI PARADO? Temos um monte
de coisas pra fazer antes que escureça. Vamos! — falou.
— Ai, como o senhor é
rude às vezes. — comentou o Magikarp, voltando ao trabalho.
...
Já estava escuro, e o
trio continuava colocando a conversa em dia. Ainda que fossem de poucas
palavras com outrem, entre eles mesmos eram comunicativos. Desde seu convívio
afastado em Lumiose, não haviam se visto mais. Agora, o destino os havia unido
novamente nas mãos da única pessoa que mais poderiam considerar um treinador, e
finalmente chamá-lo de “mestre”.
— … Claro que no dia
antes eu já tinha encontrado a Gwen. Ela estava me perseguindo, provavelmente,
porque você sabe que ela não resiste aos meus charmes. — contava Austin.
— O quê? Você que me
encontrou, idiota. — falou ela, semicerrando o olhar.
O Skiddo riu.
— Ah, sim, verdade.
Errei nos detalhes. Mas ei, você está muito estressada! — comentou. — Quer uma
ajuda para desestressar? Soube que massagens são ótimas para isso.
Um repentino chute
atingiu seu rosto, antes que pudesse prever a reação da garota. Thanos esboçou
um ligeiro riso. Não importava quanto tempo passasse, seus amigos eram os
mesmos de sempre. O Skiddo levantou-se, com a mão no local atingido.
— Não vai me dizer
que doeu, porque foi fraco. — disse a Litleo, com um pequeno sorriso.
— Tá louca, menina?
Depois dessa vou até tomar um ar lá fora.
Ainda que com algumas
brincadeiras, o rapaz abriu a porta da cabana e saiu. Uma brisa fresca da noite
resfriou sua pele e balançou ligeiramente seus cabelos. Aquele lugar que haviam
escolhido era silencioso, e àquela hora as construções dos outros Pokémons
estavam bem menos intensas. Foi quando algo quebrou o silêncio:
— As fronteiras de
Lumiose City… Não são um local muito seguro para Pokémons indefesos ficarem,
sabia?
Austin virou-se assustado
para a direção de onde ouvira a voz, e se deparou com um homem sentado sobre o
teto da cabana. Não parecia muito preocupado, sentado de uma forma despojada.
Após alguns momentos saltou e chegou ao chão de uma forma simples, como quem
não fizera grande esforço.
Austin ainda estava
um pouco em choque com o susto quando parou para observar melhor aquela figura.
Estava encapuzado, o que impossibilitava que se visse seu rosto exatamente.
Apenas tinha seus olhos à mostra, nos furos do capuz: um par de orbes
azul-escuros, como o céu noturno. Apesar disso era alto e forte, o que o
deixava um tanto ameaçador.
— Você é o…? —
apontou Austin.
— Onde está o meu
amiguinho? — interrompeu-o. — Tenho certeza que ele iria ficar feliz em me
rever.
Naquele momento Gwen
gritou de dentro:
— Com quem você ta
falando, Mason?
— C-Com ninguém,
estou falando sozinho. — gritou ele de volta, inseguro. — Olha, sugiro que você
vá embora daqui antes que eu meta minha mão na sua cara.
O par de olhos
semicerrou-se, e provavelmente por dentro de seu capuz formara-se um sorriso.
— Proposta tentadora.
— falou, aproximando-se alguns passos. Mason inevitavelmente recuou alguns para
trás. — Mas não, obrigado.
Ao proferir as
palavras, estendeu sua mão direita na direção de Austin. O rapaz, antes que
pudesse reagir, conseguiu ouvir apenas um disparo de energia em sua direção,
forte o suficiente para atirá-lo contra as paredes frágeis do casebre, abrindo
um buraco e praticamente derrubando toda a deplorável instalação.
— MASON! — gritaram
Gwen e Thanos, assustados.
— Rapaz, eu saio pra
tomar um ar, e tomo é uma surra. — resmungou Austin, colocando a mão no rosto.
Tremia. — Que mundo é esse?
Todos pararam para
observar aquele que disparara o raio. Thanos, por um instante, perdeu seu olhar
mal-encarado. Ficou estático, enquanto observava a figura encapuzada, que
alongava o pescoço, enquanto seus olhos também o fitavam de volta em tom
debochante.
— V-você? — indagou,
um pouco mais baixo do que gostaria.
O homem começou a
rodeá-lo. Ele permaneceu parado, apenas movendo os olhos, tentando não
transparecer o quanto estava nervoso. Talvez tivesse sido inútil, pois engolira
em seco quando ouviu a voz novamente do moço:
— Soube que você
causou algumas intrigas em Lumiose, e resolvi tirar a limpo, velho amigo. —
disse, enfatizando as últimas palavras com certo humor. — Afinal, já faz um
certo tempo.
Cerca de cinco
segundos de profundo silêncio rondaram o ambiente, enquanto todos permaneceram
imóveis, como se alguém tivesse apenas pausado a cena. No instante seguinte, de
forma repentina, Thanos desferiu um rápido soco, que teria facilmente acertado
outros adversários, mas para seu azar, o homem desviou.
Sucederam socos e
chutes trocados, quase no mesmo nível. O inimigo, entretanto, apenas brincava
com Thanos, que dava o seu melhor diante das condições. Algumas palavras
atravessavam o combate, sempre em diálogos breves e interrompidos
— Eu achei que você
estivesse…
— Achou errado. —
disse, interrompendo o Pancham.
Gwen ajudava Austin a
se levantar, enquanto observavam atentos o combate. Até então não haviam se
envolvido, mas notaram um chute certeiro que fora desferido na lateral do rosto
de Thanos, fazendo o rapaz cair. O outro prendeu-o por cima e continuou
acertando sua face com socos, quando Gwen avançou para tirá-lo de lá.
Após alguns empurrões
falhos, a garota conseguiu apenas concentrar energia para gritar:
— Vá. Embora. —
porém, ao proferir as palavras, o grito saiu bem mais agudo e baixo que
planejava.
O objetivo,
entretanto, fora quase atingido, pois ambos pararam de brigar. O homem
encapuzado levantou-se, rindo.
— O que foi isso? Um
“rugido”? — questionou, humilhando-a.
A Litleo baixou o
olhar, enquanto seus punhos se fechavam. Antes de qualquer ataque, o rapaz
virou-se para o Pancham, com um olhar autoconfiante.
— Foi bom ver você
novamente, Thanos. Espero que saiba que da próxima vez não será assim tão
agradável.
E com grande
agilidade desapareceu nas sombras da noite, e nenhum dos três tentou impedi-lo.
Um enorme silêncio permaneceu por alguns momentos, enquanto Austin agora
auxiliava Thanos a se levantar. Gwen lançou um chute com força para uma das
tábuas que faziam parte da cabana, quebrando-a no meio.
— Por que o estresse,
gatinha? Só porque seu rugido é meio tosco e ele riu de você? — indagou o
Skiddo.
Agora Austin que era
o alvo do chute, mas não ficara bravo. Até riu discretamente. Ele levantou-se,
parando para observar a bagunça que havia ficado. A cabana onde estavam antes
estava destruída, e era praticamente impossível remontá-la.
— O que vamos fazer
agora? — perguntou.
— Vamos dormir no
chão. — disse Gwen, certa.
Mason ponderou por
alguns instantes até virar-se para eles:
— Por que não vamos
morar com os outros Pokémons?
Silêncio.
— Você não ta falando
sério, né? — perguntou a Litleo.
— Qual o problema?
Ela riu, um tanto
inconformada.
— Você pirou?
— Gwen, eles estão
construindo um castelo. — falou o rapaz, estendendo os braços. — A gente não
precisa ficar resistindo. Até o mestre Charlie topou andar com aqueles garotos.
Eles não precisam saber que estamos indo só pra ter conforto. — piscou. — Penso
nisso desde que os vi planejando a obra.
A garota virou-se
para Thanos.
— Você segura e eu
bato?
O rapaz limpou a
poeira de sua roupa.
— Então vamos para
lá.
Novamente o silêncio
tomou conta, até que Austin começou a rir discretamente da amiga, que parecia
incrédula. Ela seguiu o Pancham, tentando convencê-lo do contrário.
— Você ta zoando. —
afirmou.
Ele levantou o braço,
como se pedisse silêncio. Ela não conseguia enxergar seu rosto estando atrás,
mas por algum motivo parecia que ele preferia assim.
Thanos jamais falaria
qualquer coisa, mas sentia-se inseguro. Aquele momento fora suficiente para
deixá-lo um tanto assustado. Mais do que gostaria. Talvez estando naquela
guilda encontraria proteção, além de ter uma cama boa para dormir. Ter que
aturar aqueles Pokémons sonhadores e felizes era um pequeno preço a ser pago.
— Vocês vem?
...
A passos lentos
chegaram até o local onde os demais Pokémons estavam. Era um imenso campo
aberto, onde aos poucos uma instalação imensa estava sendo construída. Ficaram
observando aquele lugar por um momento, boquiabertos. Seria bem maior que a
cabana em que se encontravam antes.
Espurr e Flabébé
corriam pelas proximidades, até se depararem com os três e pararem de brincar.
Ambos se aproximaram do trio, que os observou. Mary deu um sorriso com os olhos
fechados, contente:
— Que bom que vocês
pensaram melhor. — falou, com um tom aconchegante. — Neal, eles vieram mesmo!
O rapaz, que
dialogava com algum dos Pokémons construtores, foi até eles, acompanhado — como
sempre — por Magikarp. Claro que Theo tropeçou algumas vezes até chegar ao
destino, mas no final estavam todos reunidos.
— Isso é muito
importante. Estão fazendo uma escolha realmente próspera, garanto que não se
arrependerão. — disse Neal, estendendo a mão para Thanos. — Bem-vindos.
Thanos apertou sua
mão, e os dois trocaram um sorriso discreto, quase imperceptível. Nenhum dos
dois era exatamente alguém muito simpático, e a princípio não haviam ido um com
a cara do outro, mas naquele momento foram capazes de se juntar. O Larvitar, em
seguida, prosseguiu:
— Ainda estamos com
dormitórios provisórios até que a guilda fique pronta, mas estão convidados a
eles. — falou. — Mas antes tomem um bom banho, parece que acabaram de sair de
uma guerra. O garoto Calem teria um treco se os visse assim. — brincou. —
Theodore, mostre a eles os alojamentos temporários.
— Sim, senhor. —
concordou o Pokémon, os guiando.
Antes que Gwen
continuasse andando, sentiu algo a puxando com pouca força. Quando se virou,
viu Eryx, o Flabébé. Encarou-lhe com seus olhos verdes sem muita compaixão,
porém surpreendeu-se quando viu que o garoto lhe estendia a mão com alguma
coisa.
Era uma pequena flor.
— É pra mim? —
perguntou a Litleo, tímida.
— É sim. — falou,
sorrindo. — As flores são lindas, não são? Todos gostamos de ganhar.
Gwen não conseguiu
permanecer neutra, revelando um pequeno sorriso para o garotinho. Crianças às
vezes são capazes de fazer pequenos gestos que comovem qualquer um. Mesmo
quando se veste uma proteção invisível contra os outros, como ela.
— Obrigada, garoto. —
falou, continuando a andar.
...
Já era tarde, mas
estavam todos reunidos em um círculo, pelas ordens de Neal. Este encontrava-se
de pé em uma pedra, no centro. Virando-se sempre para fitar cada um de seus
companheiros, iniciou o discurso:
— Companheiros, hoje
damos o primeiro passo de uma extensa maratona. — falou. — Com toda a certeza
não será uma jornada fácil a que estamos traçando. Mas, afinal, nunca é.
Fez uma pequena pausa
e observou a construção. As estruturas já estavam ganhando forma, e muito em
breve poderia chamar aquilo de guilda. Seus olhos escuros brilhavam
intensamente ao pensar.
— Enfrentaremos os
melhores e os piores, desde os mais compassivos até os mais cruéis.
Encontraremos todos os tipos de guerreiros, e teremos o prazer de receber
alguns deles um dia em nossa guilda. — proferiu, alto. — Mas não se esqueçam:
Somos os originais, os fundadores desse novo império.
— E como se chama? —
questionou Theodore.
Neal sorriu de canto.
— Guerreiros, sejam
bem-vindos à Royal Emperium!