Archive for December 2017
Notas do Autor - Capítulo 26
ALERTA DE SPOILERS! Antes de ler as notas, leia o capítulo correspondente primeiro! |
Olá e bem-vindos ao Capítulo 26 de AeXY, encerrando o ano de 2017 e pronto para um 2018 cheio de promessas!
Depois de um capítulo mais didático e uma conversa descontraída, voltamos para um arco cheio de ação e pancadaria. Preferi dividir o episódio em duas partes, e sobretudo não misturá-las para não criar confusão. Os segredos escondidos na Torre Mestra são guardados há gerações, e alguém misterioso resolve roubá-los. Minha memória pode estar falhando, mas se não me engano, essa é a primeira vez que, finalmente, encontramos um suposto antagonista (vale lembrar que o Team Flare em momento algum foi visto realizando mal em Kalos, apesar dos boatos). A aparição daquela androide é extremamente importante, e ela ainda virá a reaparecer, para esclarecer certas coisinhas que ficaram inexplicadas por agora. E não podemos esquecer que temos o retorno de dois coadjuvantes, a Katheryn e o Aldrick, que foram embora desde Lumiose! Os dois nos acompanharão nesse final de temporada, e espero que gostem da presença deles de novo por aqui.
Por fim, temos a aparição de um novo personagem, o Damien. Eu amo a Kath e o Mika, mas os vejo por aqui muito mais como amigos que de fato rivais - o que, no final das contas, eles são. O Damien é aquele cara que você bate o olho e sabe o papel dele, igual quando você começa um novo game de Pokémon das primeiras gerações e esbarra com seu rival pela primeira vez, sabendo: esse cara vai me atrapalhar bastante. Eu particularmente não sou muito fã desses caras metidos e mal-encarados, mas pela primeira vez podemos ver que o Calem tremeu. Ele já havia se sentido ameaçado em outras oportunidades, mas nunca tanto quanto nesse capítulo. E principalmente, o Larvitar.
Cara, desde a primeira aparição o Neal/Larvitar foi sempre um cara confiante e que sempre tinha tudo sob controle. Mas hoje não. Hoje ele de fato encarou uma batalha e falou: eu não sou forte o suficiente para vencer. Sei que vocês aguardam há anos (literalmente) a evolução em Pupitar, mas eu estava aguardando o momento certo. Não queria que fosse uma lutinha qualquer com um Bunnelby selvagem, e sim um combate em que a única alternativa do Neal era de fato adquirir uma nova forma. Apesar de comentar tão pouco dos Pokémon, em vários momentos eu citei o Lairon que apareceu aqui - o Aron do capítulo 7, e do primeiro capítulo da Royal Emperium - e vocês podem imaginar que ele vai ser um dos maiores obstáculos pessoais do Neal ao longo da fic, um dos poucos capazes de fazê-lo hesitar. E, por ironia do destino, é o principal Pokémon do Damien. Aqui onde as coisas se interligam e tudo se torna mais interessante. O resultado da batalha infelizmente ainda não poderia ser diferente, e temos agora um Calem e um Pupitar hesitantes de voltar a batalhar - algo não muito positivo antes de uma luta decisiva de ginásio. Aguardemos agora o capítulo 27, onde finalmente teremos o conflito entre Calem e Korrina, e com isso uma poderosa decisão de quem herdará o título de Sucessor de Gurkinn!
Edit: As fichas de Calem, Sycamore, Katheryn e Aldrick foram atualizadas
Edit 2: Damien foi adicionado à página de Recorrentes
Edit: As fichas de Calem, Sycamore, Katheryn e Aldrick foram atualizadas
Edit 2: Damien foi adicionado à página de Recorrentes
Capítulo 26
Capítulo 26
O Segredo da Torre
—
Eu não estou com um bom pressentimento sobre a batalha do Cal.
Serena
parou de andar, um pouco cabisbaixa. Charlie também diminuiu o passo, voltando
a cabeça para trás em busca da garota. Deu alguns suaves passos em direção a
ela e ficou a observá-la, com um fino sorriso no rosto. A loura tinha os olhos
entreabertos, incomodados. À sua volta, as águas do mar ao longe balançavam com
as suaves correntes marítimas e traziam consigo o frescor daquela manhã.
—
Isso tudo é tão importante para a Korrina, ele não deveria estar se envolvendo.
— murmurou a menina mais uma vez, fechando os olhos.
Charlie
levantou o rosto da amiga com as duas mãos, tocando-a com cuidado, como se
segurasse um vaso de porcelana belo e frágil.
—
Ela é uma Líder de Ginásio, Serena. Com certeza vai se sair bem, ainda mais com
essa motivação extra. — respondeu ele. — O Calem é que precisa tomar cuidado.
A
garota balançou suavemente a cabeça, como se começasse a permitir ser
convencida por essa ideia. Serena não gostava de conflitos, e o fato de ver seu
primo envolvendo-se em meio a uma discussão familiar a preocupava. Ela
compreendia mais que ninguém o que era uma briga daquele porte.
Não que eu saiba o que é estar no
lugar da Korrina, mas entendo o que é estar em meu lugar. Sei o que é um pai – ou, no caso dela, um avô. – julgando que
sua filha não é capaz de se proteger sozinha ou ser digna de confiança e
respeito. Por mais que quisesse que o Cal vencesse essa batalha, assim como
qualquer outra, eu sabia que uma pequena e secreta parte minha
inconscientemente torcia para que Korrina provasse sua capacidade para o avô
dela, saindo vitoriosa. Eu não queria ver essa batalha, porque não queria que
houvesse um perdedor.
O
som litorâneo aos poucos abria espaço para gritos longínquos e indecifráveis.
Serena levantou o olhar, tentando captar as palavras que eram atiradas ao longe
por alguém:
—
Está ouvindo isso? — perguntou.
Aos
poucos os sons se tornaram mais nítidos. A garota virou-se para trás, e uma
menina de longos cabelos pretos corria em sua direção com uma velocidade
surreal, parecendo uma manada de Tauros que acabava de encontrar um banquete.
—
SERENAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!
—
Kath? — indagou a menina para si, mas quando percebeu a outra já havia se
jogado contra ela em um abraço, derrubando-a no chão. — Nossa senhora.
A
morena soltou uma risada, caída no chão e abraçou a amiga com grande
consideração. Serena retribuiu o abraço um pouco sem jeito, recuperando-se da
queda. Charlie coçava a cabeça tentando assimilar o que acabara de acontecer
nos últimos minutos.
—
Meu Arceus, há quanto tempo! — exclamou a garota de Vaniville.
—
MENINA DO CÉU PARECE QUE FAZ UMA DÉCADA! — falou Katheryn, balançando as mãos
da menina. — A senhora tá magrinha, coitada!! Cha-Cha, tá roubando a comida
dela, por acaso? — indagou, dirigindo um olhar intimidador para o garoto.
—
Cha-Cha…? — murmurou ele em resposta.
Naquele
momento um outro rapaz corria até eles, arfando de cansaço, parecendo
satisfeito por ter finalmente encontrado sua parceira de viagem. O garoto
apoiou as mãos nos joelhos, recuperando o fôlego. Em seu ombro uma pequena criatura
se apoiava. Tinha o corpo em um tom vivo de rosa, e um par de olhos esverdeados
grandes e expressivos. No topo da cabeça, cresciam tufos de cabelos dourados
caindo pelo que pareciam os ombros.
—
Kath… — disse, em seguida, levantando os olhos para os demais, acanhado. — Oi
pessoal…
—
Aldrick, que saudades! — disse Serena. — E que coisinha mais fofa essa no seu
ombro.
O
rapaz ficou a observá-la por um momento, então se dando conta que ela
referia-se ao Pokémon consigo. A criatura esboçou um sorriso orgulhoso com o
elogio, e ele soltou uma risada descontraída.
—
Ah, sim, é a Smoochy. Resolvi levá-la para aproveitar esse dia lindo! Vejo que
já encontraram a Kath mais rápido. Ou ela os encontrou.
—
GAROTA EU TE VI NA TEVÊ! — acrescentou Katheryn, chacoalhando os braços e se
colocando instantaneamente de pé. — Inclusive super babado aquela foto de vocês
lá e…
Ela
se interrompeu quando Aldrick deu-lhe uma cotovelada.
—
Kath… — murmurou ele, tentando não ser indiscreto.
Serena
e Charlie ficaram um pouco constrangidos com o comentário, levando em conta o
capítulo tumultuado que fora o Showcase em Cyllage
City, mas antes que qualquer um falasse algo para disfarçar, Kath já
interveio com outro assunto com igual empolgação e naturalidade.
—
Enfim, CADÊ O SEU PRIMO CHATO QUE EU TO COM SAUDADE DAQUELE MOLENGA.
—
Ele está treinando, amanhã vai enfrentar o ginásio da Korrina. — sorriu Serena.
—
Ele ainda não fez isso? — a garota arqueou uma sobrancelha. — Eu lutei contra
ela faz uns dias, e…
Ela
puxou um pequeno emblema de seu bolso e estendeu para Serena. A garota ficou a
encarar o simbolozinho com admiração, vendo a figura de dois punhos se
chocando. Aquela era a Rumble Badge,
a insígnia que marcava uma vitória no ginásio de Shalour, e Katheryn a exibia
com grande orgulho.
—
Uau, você ganhou sua primeira insígnia, Kath! — exclamou a garota.
—
Primeira? — a outra arqueou a
sobrancelha, ofendida. — Ih, é ruim, hein? Essa é minha terceira!
Charlie
e Serena tomaram um ligeiro susto. Sabiam que Kath havia se dedicado após o
último encontro, mas em questão de pouquíssimo tempo a garota conseguira até
mesmo ultrapassar Calem em vitórias dentro de ginásios. A treinadora de Johto
guardou novamente o emblema com cuidado, mantendo a pose de autoconfiança.
—
Já enfrentou a Viola? — perguntou Charlie.
—
O quê? Claro que não, a Viola-sama vai ser meu último desafio! — exclamou ela.
—
Continua fortalecendo seus insetos, então? — perguntou Serena, curiosa.
A
outra ficou séria por um momento, esboçando um sorriso bem discreto e sincero.
—
Na verdade ultimamente eu tenho tentado capturar Pokémon de outros tipos, igual
o Aldy-kun me sugeriu. Capturei um Dendenne tão fofiiinho! — ela agarrou a
outra pelo braço. — Menina, tem tanta coisa pra colocar em dia!
...
Gurkinn pigarreou enquanto alongava o pescoço. Sentado à mesa de uma pequena sala na Tower of Mastery, seus dedos passavam agilmente por arquivos dentro de uma pasta sanfonada. Os papéis tinham um cheiro forte de mofo, como se estivessem lá havia séculos, quase se desintegrando pelo tempo. Vez ou outra parava para observar alguma escritura, mas logo voltava a revirar outros arquivos, sem muito tempo a perder.
Uma
tranquilidade pairava no ambiente. Se não por ele e Sycamore, a torre estava vazia
naquele dia, sem turistas para conhecerem o grande marco de Shalour. Isso
permitia que aproveitassem os espaços restritos sem hesitação para avançar nas
pesquisas relativas às Mega Evoluções. Gurkinn parou de mexer na papelada ao
ouvir um estrondo vindo de fora da sala.
—
Quem está aí? — indagou, mas não houve resposta. — Sycamore?
Após
um perturbador silêncio, o senhor largou as páginas e saiu da sala. Ficou a
virar para os dois lados da enorme escadaria circular que envolvia a torre, mas
estava sozinho. Subitamente, porém, ouviu mais um estrondo, quando uma pessoa
praticamente caiu de pé em sua frente. O formato do corpo parecia feminino,
vestido em uma malha densa e escura. A cabeça era protegida por um enorme
capacete com uma letra “E” alaranjada na frente, que impedia que se descobrisse
quem estava por trás.
—
Nome: Gurkinn. Codinome: Guru das Mega
Evoluções. Idade: sessenta e seis anos, cinco meses e oito dias. — uma voz
notavelmente robótica saiu do indivíduo ao se colocar de frente a Gurkinn.
O
senhor sentiu sua respiração pesar e os batimentos cardíacos acelerarem.
Naquele momento, todavia, Sycamore apareceu subindo as escadas, tomando um
susto com a cena. O professor fechou a cara, dando um passo para trás.
—
O que está havendo? — questionou.
O
robô virou-se para o professor, lendo suas informações após alguns sons
digitais serem emitidos.
— Augustine Sycamore. Professor Pokémon.
Ela
direcionou-se uma nova vez para Gurkinn.
—
Fui enviada para capturar todos os
documentos relativos a Mega Evolução presentes na torre. Estou autorizada a
exterminá-los caso não colaborem.
O
professor e seu mestre entreolharam-se, nervosos.
—
Do que ela está falando? — indagou Sycamore.
—
Resposta incorreta. — disse o robô. —
Tentativa número dois. Entreguem todos os
dados referentes às Mega Evoluções, ou irei exterminá-los.
— Esses arquivos são confidenciais há
gerações. — rebateu Gurkinn. — Não posso autorizar que pegue-os daqui.
—
Resposta incorreta. Terceira e última
tentativa. — retorquiu a androide neutra, em seguida emanando a próxima
frase em uma frequência alta. — ENTREGUE
OS DADOS, OU IREI EXTERMINÁ-LOS.
Serena,
Charlie, Katheryn e Aldrick viraram-se subitamente da conversa ao ouvirem um
som de explosão. Ao virarem-se para o lado de onde perceberam o ruído, notaram
uma fina cortina de fumaça subindo pela Torre Mestra, ao longe do litoral da
cidade de Shalour. Todos se entreolharam, ainda abalados.
—
O que foi isso? — indagou Aldrick.
—
A Torre! — apontou Kath. —Vamos até lá!
Antes
que pudessem dizer qualquer coisa, a morena saiu correndo na frente. Os demais
não tiveram muitas alternativas se não acompanhá-la no caminho o mais rápido
possível até a entrada da Tower of
Mastery. Não havia qualquer outro barulho do espaço, mas ao chegarem à
entrada, foram surpreendidos por um grupo de Pokémon que ladraram ao vê-los se
aproximar. De corpos negros compridos, tinham uma expressão de poucos amigos no
rosto, e mandíbulas ferozes que grunhiam e mostravam dentes ao ver outros se
aproximando.
— Houndour… — balbuciou Charlie.
Ouviram
um grito seguido de outro estrondo na parte superior da torre, onde seus olhos
não eram capazes de alcançar.
—
Parece a voz do professor Sycamore. — murmurou Serena, nervosa.
—
Vão vocês dois lá para cima, eu e o Aldy abrimos caminho e seguramos a barra
aqui embaixo. — falou Kath, enquanto eram encurralados pelos Houndour.
Os
outros dois assentiram e abriram espaço para que ambos os amigos fossem à
frente, procurando suas Pokébolas nos bolsos.
—
Achou que ia ficar só olhando, né, senhor aluno nota 10 da escola de Santalune?
— provocou Kath.
—
Eu gostava mais de orientá-la sem ter de me envolver. — suspirou Aldrick.
—
Ora, para de resmungar e mexe logo essa bunda preguiçosa! — rebateu ela,
atirando uma de suas esferas bicolores para o alto com empolgação. — Inkay, meu
amorzinho, vamos nessa!
—
Smoochy, vamos ajudá-los então. — pediu ele ao Pokémon.
Katheryn
revelou uma pequena criatura que flutuava no ar como se estivesse nadando em
tamanha tranquilidade, um Inkay, que balançava seus tentáculos enquanto fazia
uso dos poderes psíquicos para se movimentar no vácuo.
A Smoochum que Aldrick carregava saltou de seu ombro, colocando-se à frente corajosamente mesmo com os adversários exibindo uma feição agressiva.
— Use o Foul Play, coisa fofa! — instruiu Kath.
—
Utilize o Powder Snow! — acompanhou o
amigo.
A
pequena água-viva aguardou que um dos Houndour avançasse contra ela,
agarrando-o com um de seus tentáculos e o jogando de volta aproveitando toda a
força do ataque, causando sérios danos ao transmitir-lhe os mesmo impacto. A
pequena Smoochum concentrou-se e estendeu as patinhas, criando um vórtex com
pequenos flocos de neve, não causando grandes danos nos dois outros Pokémon que
a enfrentavam, mas sendo o suficiente para atrair sua atenção.
—
O que estão esperando? — indagou Aldrick. — Vão!
Serena
e Charlie concordaram com a cabeça, desviando da batalha e seguindo rumo às
grandes escadarias laterais da torre. Subiram às pressas até que os ruídos e
gritos se tornassem mais nítidos. Espiaram de longe uma moça estranha em trajes
robóticos avançando e disparando raios de energia enquanto caminhava pela
torre, atrás de alguma coisa.
—
EXTERMINAR. EXTERMINAR. EXTERMINAR. —
dizia a cada passo.
Tomaram
um susto quando alguém os alcançou por trás. Sycamore suava, e tinha uma
expressão pasma estampada no rosto.
—
Professor! — exclamou a garota.
—
Serena, Charlie! — disparou ele, trocando a direção do olhar para a invasora. —
Vocês não deveriam estar aqui!
—
O que está havendo?
—
Alguém está tentando roubar os dados escondidos na torre. — disse, aflito.
—
Os dados sobre Mega Evolução? — perguntou a menina.
—
Oui, principalmente. — falou, sendo interrompido quando um objeto foi disparado
próximo à sua direção. — Deve ser ela!
—
Quem é “ela”? — indagou Charlie.
Sycamore
saiu na frente indo em direção a ela.
—
É uma pergunta que eu adoraria responder, enfant.
— falou, por fim.
Os
dois jovens se entreolharam, seguindo-o.
—
Podemos ajudá-lo, professor. — falou o garoto.
—
Mary, vamos! — pediu Serena.
A
garota lançou de sua Pokébola a pequena Espurr, que já se colocou em posição de
batalha. A adversária foi atraída com a movimentação atrás de si, virando-se em
direção aos demais. Ficou por alguns instantes parada, enquanto alguns sons
digitais ecoavam por trás do capacete. Por fim, apontou para Serena, lançando
uma voz novamente mecânica em um tom tão apático que soava perturbador:
—
Inimigos serão exterminados.
A
moça pegou uma Pokébola e aumentou seu tamanho, estendendo-a e revelando um
morcego imenso e azul, com olhos semicerrados sádicos e uma boca imensa com
afiadas presas, prontas para atacar.
—
Golbat, use o Air Slash.
—
Mary, Confusion!
A
criatura avançou com uma velocidade surreal contra Mary, que ficou por alguns
instantes perdida, tentando se esquivar dos ataques que rasgavam o ar em sua
direção. Seus imensos olhos assumiram um tom azulado, lançando uma poderosa
vibração contra Golbat, que conseguiu desviar, golpeando-a e a jogando na
direção da androide.
—
Mary! Essa não! — gritou Serena, de longe.
A
moça tinha a Espurr em suas mãos, e curiosamente ficou por alguns momentos a
encarando sem fazer qualquer ação, enquanto diversos bipes soavam de seu
capacete. A criaturinha parecia perdida, tentando escapar, mas sendo incapaz de
se largar das mãos firmes da garota robótica. Serena ficou apreensiva,
ameaçando ir em sua direção, se não fosse segurada por Charlie e pelo
professor. Contudo, ficou ainda mais confusa ao ver que os segundos passavam e
nada acontecia.
—
O que está havendo?
Não entendo o suficiente de robôs
para dizer qualquer coisa, mas conheço a Mary o bastante para dizer que apesar
de amedrontada, ela encarava aquela androide não apenas com medo e hesitação –
mas com algo mais em seu olhar, talvez curiosidade, como se percebesse algo a
mais que nenhum de nós humanos somos capazes. Pokémons são muito mais
sensitivos que a maioria de nós, e sendo de um tipo psíquico, eu sabia que ela
conseguia ler aquela situação de uma maneira que nós éramos incapazes. Ainda.
Subitamente,
a moça soltou Mary, que foi então capaz de escapar. A androide por alguns
momentos fez movimentos confusos com o corpo, colocando as duas mãos no
capacete, e as pernas se fechando em uma tentativa de retomar equilíbrio.
—
PROCESSO INCOMPREENDIDO. PROCESSO
INCOMPREENDIDO.
Sycamore
coçou o queixo.
—
Ela parece estar tendo problemas.
A
moça estendeu os braços, disparando novos raios de energia pelas mãos, que
atingiram a direção dos três, jogando-os para longe. Charlie correu para o
robô, tentando segurá-lo, mas sem sucesso. Fora jogado contra a parede, sendo
suspendido do chão pela gola da camiseta. Com certa dificuldade de respirar,
ficou a encarar o capacete escuro. Era feito de algum vidro denso o suficiente
para que não conseguisse ver o que havia dentro. Porém – talvez por obra de sua
imaginação. – incomodava-se ao pensar que conseguia distinguir um rosto por
trás da cabeça robótica.
Um
golpe certeiro na androide soltou ambos, de maneira que o garoto se colocasse
de joelhos para retomar o fôlego. Um Medicham se punha em posição de batalha, e
Gurkinn chegava ao corredor, correndo ofengante e furioso.
—
Há séculos os arquivos dessa torre são protegidos. — disse o senhor. — Eu não
vou assistir a ninguém roubá-los de mim.
A
moça robotizada colocou-se de pé mais uma vez, sem grandes danos. Revelou um
segundo Golbat de dentro de outra Pokébola, e com um sinal, dois outros
Houndour subiram agilmente pelas escadas, grunhindo em fúria.
—
Esses Pokémon não podem ter vindo todos com ela. — ponderou Sycamore.
—
O que quer dizer? — questionou Charlie.
—
Acha que ela não está sozinha? — indagou Gurkinn.
—
Eu não sei a quem ela serve, mas com certeza não veio por vontade própria. —
murmurou o professor, fechando a cara. — De qualquer forma, não deixemos os
arquivos secretos em risco. — e estendeu uma Pokébola. — Gallade, je te choisis. (eu
escolho você)
A
Pokébola revelou um guerreiro alto, de longas pernas brancas. Seus braços
possuíam partes tão afiadas que pareciam sabres sendo preparados para uma luta
de espadas. Uma crista majestosa se prostrava no topo da cabeça, como o
capacete de um honrado guerreiro que vinha pronto para uma guerra.
Medicham by Psidra |
—
Psycho Cut! — indicou Sycamore.
—
High Jump Kick! — continuou Gurkinn.
Gallade
avançou contra os Golbat, que apesar de voarem com alta velocidade pelos ares,
encontravam dificuldades de se esquivar dos calculados golpes do espadachim,
que se movimentava pelo campo quase que como uma dança, tão graciosamente que
sequer demonstrava ferocidade. Medicham foi de encontro aos Houndour,
desferindo golpes diretos com suas pernas extremamente resistentes. Ambos os
guerreiros dominavam tanto o tipo lutador quanto o psíquico, permitindo-os não
apenas plena habilidade de luta corpórea como um invejável controle mental no
contexto de batalha.
Serena
olhava admirada pela forma com que aqueles veteranos se enquadravam no combate.
A situação era crítica, mas não podia deixar de invejar a forma com que tinham
certa tranquilidade ao lutar e plena harmonia com seus Pokémon, que mesmo
quando atacados conseguiam exercer forte resistência e rápida recuperação. Seu
sonho era, o mais breve possível, ser uma treinadora habilidosa como aqueles
que admirava.
—
Princesa, ela está escapando. — Charlie chamou sua atenção.
A
androide começou a caminhar enquanto os demais se entretinham com a batalha,
seguindo pelos corredores e escadarias da torre. Os dois jovens correram para
impedi-la, vendo-a entrar dentro de uma pequena sala, à qual Gurkinn havia se
dirigido anteriormente. Diversas papeladas se colocavam espalhadas e bagunçadas
em meio ao cômodo, e o robô ficou a caminhar pelo espaço calmamente.
Antes
que pudessem dizer qualquer coisa, ao entrarem na sala, foram golpeados pela
androide, que os jogou contra a parede. Os dois soltaram em uníssono um grito
com o impacto, e tentaram se recuperar enquanto ela revelava um scanner de sua
roupa robótica, contemplando diversas pilhas de documentos antigos.
—
Por que você precisa disso? — indagou Serena, frágil, como se pudesse receber
uma resposta.
A
moça nada disse, apenas continuou seu processo de escanear os documentos e
coletar informações. Os dois, por mais que levantassem, não conseguiam
impedi-la naquele momento, que durou curtos instantes. Rapidamente, ela se
colocou em posição de saída, sendo encurralada por ambos bloqueando a passagem
pela porta.
O
robô estendeu o braço e disparou contra uma parede, fazendo um imenso buraco.
Em seguida, retornou ambos os Golbat para suas Pokébolas. Deu um salto tão alto
que chegou ao outro lado da torre, atingindo a porta e desaparecendo com uma
agilidade sobre-humana. Charlie e Serena ficaram a encará-la partindo, sem
reação, enquanto os Houndour corriam para fora, em conjunto. Aldrick e Katheryn
chegaram no mesmo local dos demais, apreensivos.
—
O que houve exatamente? — indagou o louro.
Serena
fechou os olhos com força.
—
Não conseguimos impedi-la. — falou a garota com pesar.
Gurkinn
socou a parede.
—
Não acredito que consegui deixa-la escapar com esses dados que há séculos minha
família protege. — resmungou ele.
Sycamore
deu-lhe um tapinha no ombro.
—
Não é sua culpa. Não é culpa de ninguém. — falou, levantando o olhar em seguida
em um ar contemplativo. — O que era aquilo, au
fait (por sinal)? Apesar da forma, suas habilidades não se equiparavam
à de qualquer humano.
Aldrick
coçou a cabeça, intrigado.
—
Estamos em grande risco com esses dados tendo escapado? — questionou.
Gurkinn
balançou a cabeça, respirando fundo.
—
Os pontos centrais do mistério que tentamos resolver sobre a energia das Mega
Evoluções ainda não foi desvendado, então nesse ponto não há grande risco. —
disse. — Porém, se notáveis cientistas tiverem acesso a esses documentos, podem
chegar a um resultado antes de nós.
O
grupo ficou a observar o buraco feito com a explosão na parede, enquanto os
raios alaranjados de sol entravam pela porta da frente da torre, por onde a
androide havia escapado, junto dMSIos dados de gerações de treinadores dedicados à
Mega Evolução. Quem quer que procurasse aquilo, tinha agora informações
históricas sobre um dos maiores mistérios da região de Kalos.
...
— Então você precisa ganhar porque quer ser O Sucessor? — indagou Elliot.
Calem
balançou a cabeça, um tanto dividido com a pergunta.
—
Na realidade eu nem me importo muito com isso. — disse. — Eu preciso ganhar a
insígnia porque sou um treinador. E, se vencer, ainda tenho a possibilidade de
receber uma pedra para Mega Evolução. — explicou.
Elliot
concordou, mantendo a mesma expressão por alguns momentos. Em seguida, sorriu.
—
Tenho certeza que vai se sair bem! — falou, animado.
A
tarde chegava em Shalour. Ambos se colocavam em uma área de praia mais
reservada da cidade, e podiam aproveitar de um espaço tranquilo para treinos.
Apesar dos incentivos de Elliot, Calem ainda não sentia plena confiança na
batalha do dia seguinte – sabia o quanto estava em jogo para a líder. Respirou
fundo sentindo a brisa fresca que soprava vindo do mar com o entardecer e o
pôr-do-sol. Diferente das demais cidades do litoral de Kalos, Shalour tinha uma
atmosfera única, tão reconfortante e mística que parecia trazer uma serenidade
surreal ao ficar admirando as ondas que chegavam à beira da praia.
—
Você deixa a Serena sozinha com o Charlie? — balbuciou Elliot, baixinho.
Calem
moveu os olhos lentamente para o companheiro.
—
Bem, foi o que fizemos, certo? — falou, simplesmente.
Elliot
mexia com as próprias mãos de maneira ansiosa.
—
É que você disse que iria protegê-la. — falou, singelamente. — E se ele fizesse
algum mal para ela?
O
outro ficou a encará-lo sem receber um olhar de volta, refletindo sobre o
questionamento.
—
Eu não confio no Charles. Mas não creio que ele jogaria tão baixo assim. Ele se
importa com a Serena, afinal de contas.
—
Ele não vem dos becos de Lumiose?
—
Como você sabe?
—
Ele me contou, ué. — falou ele, agora fitando Calem nos olhos.
—
Ah, sim. Bem, é. — o amigo deu de ombros. — Pare de falar antes que eu mude de
ideia.
Ficaram
novamente preenchidos pela ausência de palavras, permitindo que os sons
marítimos inundassem a quietude com certa paz natural. Subitamente, porém, uma
criatura chegou aos pés dos garotos, sendo trazido pelas ondas do mar até a
areia. Era um Shellder, colocando a enorme língua para fora da concha. Calem
deu um salto para trás instantaneamente quando o Pokémon chegou perto, deixando
Elliot igualmente assustado.
—
O que foi isso? — perguntou o menino.
O
Shellder logo saiu se movimentando para dentro da água, e Calem voltou a
respirar mais aliviado conforme ele se afastava. Coçou a cabeça, ainda um pouco
abalado pelo susto.
—
Droga, esse… Bicho me pegou de surpresa. — murmurou ele.
—
Você saiu correndo como se ele fosse uma bomba! — brincou Elliot, curioso.
—
Eu ainda não superei a… Aversão que tenho a alguns Pokémon. — falou.
Antes
que Elliot fizesse mais alguma pergunta, uma terceira voz chamou atenção à
certa distância.
—
Bomba: um dos rapazes mais famosos e promissores da região tem medo de Pokémon.
Ambos
se viraram para quem havia dito aquilo, se deparando com um garoto pouco mais
alto que Calem, de cabelos escuros lisos espalhados pelo rosto, e uma expressão
provocativa na face. Um sobretudo cobria parte de seu corpo, protegendo-o
do vento fresco litorâneo.
—
Quem é você? — indagou Calem, arqueando uma sobrancelha.
—
Meu nome é Damien. — disse ele, movendo os lábios em um sorriso. — Nós
estivemos juntos durante uma semana de treinos em Santalune. Eu nem acreditei
que você poderia ser Calem Windsor, porque o achei tão… — ele deu uma
risadinha. — Patético.
Calem
semicerrou os olhos.
—
Você é tão importante que eu estava lá e nem lembro de você. E olha que eu
tenho uma grande memória. — murmurou, dando de ombros.
O
outro riu, assentindo com a cabeça.
—
Fazer o quê? — respondeu.
—
Para sua informação, o Calem é um excelente treinador. — interveio Elliot,
aumentando o tom de voz. — Ele vai vencer amanhã a líder Korrina!
—
Elliot, talvez seja melhor deixar passar. — falou o outro, tocando-o no ombro.
—
Espero que não encontre problemas, ela foi uma das minhas vitórias mais fáceis
dos ginásios. — respondeu Damien, com simplicidade.
—
Então você já a enfrentou. — ponderou o outro.
O
garoto revelou um pequeno sorriso, ainda com as sobrancelhas arqueadas de
maneira provocativa. Um ar tenso se instalava entre os dois, enquanto Damien se
preparava para partir.
—
Calem, desafie ele para uma batalha! — incentivou Elliot.
O
garoto engoliu em seco, hesitante.
—
O quê? Eu não! — disparou.
—
Por que não? — perguntou ele em cima.
—
Isso não prova nada.
Damien
bufou.
—
Você sabe que prova, e por isso não quer aceitar o desafio. Se perder para mim,
não terá moral para continuar tentando se sobressair. Então prefere não
arriscar. — falou.
Calem
ficou sem palavras por um momento – o que era raro de acontecer.
—
Seria sábio se fizesse o mesmo. — retorquiu.
—
Eu não tenho medo. — rebateu Damien.
Novamente
silêncio. Assim ficaram por longos segundos, até que Damien voltasse a seguir
seu caminho.
—
Você é quem sabe.
O
garoto começou a caminhar, e Elliot subiu o olhar para os olhos do amigo. Ele tinha
uma expressão incomum no rosto: a dúvida, a ansiedade, o medo. Em sua vida,
foram poucas as pessoas que ousaram desafiá-lo de tal maneira, sobretudo em
algo que sempre tinha um pé atrás, que eram as batalhas.
—
Calem… — murmurou o menor.
—
Dois contra dois. — falou Calem, com a cabeça ainda abaixada. Damien parou de
andar. — Amigavelmente.
O
outro se virou a ele, abrindo um fino sorriso.
—
Amigavelmente. — concordou, divertindo-se.
Um
frio percorria a barriga de Calem. Quase era capaz de ouvir uma música tocando
ao fundo, alertando o desafio que enfrentaria. A serena praia aos poucos
tornava-se o cenário de uma grande batalha, e Elliot agora era a testemunha
daquele aquecimento para a batalha contra Korrina. Mais que qualquer treinador
que enfrentava, o moço sentia uma necessidade imensa de ganhar, como uma
obrigação pelo próprio nome que carregava.
—
Certo, vamos nessa. — murmurou ele para si mesmo.
—
Pyroar. — falou Damien com sua voz grossa, estendendo uma Pokébola.
—
Skrelp, escolho você. — anunciou Calem.
O
cavalo-marinho logo se colocou em posição de batalha, aproveitando o ambiente
que lhe era familiar e propício. Da esfera do adversário, surgiu uma criatura
de grande porte. O corpo esguio como de um felino, sustentado por grossas
pernas peludas; a cauda longa balançava suavemente, enquanto um par de olhos
azuis intimidadores examinava o ambiente, escondido entre uma juba imensa e
vigorosa, como as chamas de uma fogueira; apesar de apenas entrar em campo, a
criatura se colocava em uma pose nobre, como um rei.
—
Use o Acid! — instruiu Calem.
—
Echoed Voice. — falou simplesmente
Damien.
Skrelp
disparou de sua boca alongada um jato de líquido espesso na direção do leão,
que apenas abriu a boca e lançou um rugido, tão alto e grave que era possível
ver o ar sendo distorcido com a intensidade do som, neutralizando o jato de
ácido que vinha em sua direção. Calem não evitou um grunhido de insatisfação
involuntário.
—
Water Pulse, vamos! — prosseguiu.
O
cavalo-marinho avançou em direção à água, ficando em vantagem. Em seguida,
levantou a cabeça, permitindo que em sua frente se formasse um vórtex de água,
sendo disparado a partir das ondas contra a criatura. O Pyroar apenas fechou os
olhos e permitiu que o golpe o atingisse. Calem mostrou um ligeiro sorriso –
sabia que o golpe aquático teria efetividade contra o Pokémon de fogo. Contudo,
o leão mal saiu do lugar com o impacto, apenas balançando os pelos molhados
para se secar sem muita surpresa. O sorriso pequeno logo se desfez.
—
Take Down.
Agora
era a criatura de fogo que avançava contra Skrelp, que sequer teve tempo de se
movimentar. A pequena criatura foi jogada com imenso impacto na areia, sendo
arrastada por metros até parar com o atrito. Calem ficou ofegante durante os
instantes em que aguardou que algo acontecesse, mas seu Pokémon permaneceu sem
revidar. O garoto retornou-o para sua Pokébola, cabisbaixo.
—
Como imaginei. — balbuciou Damien.
—
Você consegue, Calem! — incentivou Elliot.
Calem
puxou uma segunda Pokébola e ficou a encará-la em silêncio. Por mais que parte
de si não quisesse fazer isso, outra parte sabia que era sua melhor alternativa
naquele momento.
—
Larvitar, vamos, por favor.
A
criatura de pedra entrou de cabeça erguida no campo, materializando-se dos
feixes de luz branca saídos da esfera. Apesar de muito menor, encarou o leão
com igual autoconfiança e provocação, colocando-se em posição de luta.
—
Take Down mais uma vez. — orientou
Damien.
—
Rock Slide. — rebateu Calem.
Larvitar
saltou rumo a um grande grupo de pedras que jazia naquele canto da praia.
Golpeou uma rocha maior, fazendo-a rachar e disparou em direção ao leão. Apesar
de avançar com enorme fúria, Pyroar foi parado, sendo instantaneamente afetado
pelo golpe do tipo Rock. A criatura
fraquejou, ainda afetado pelo impacto de seus ataques de do golpe de Skrelp,
caindo exausto na areia.
—
Um a um. — murmurou Calem.
Damien
estendeu a Pokébola em direção a seu Pokémon, não muito afetado pelo resultado.
Em seguida, puxou uma nova esfera com confiança, abrindo-a em sua frente.
—
Lairon, vamos nessa.
Os
vários raios de luz dançaram no ar, moldando a figura de um Pokémon não tão
alto, porém robusto como um tanque de guerra. As majestosas patas afundaram na
areia, sustentando um corpo impenetrável, todo coberto por uma armadura de
metal. Uma mandíbula capaz de mastigar aço se colocava na frente, revelando um
par de olhos desafiadores escondidos em um marcante capacete de ferro.
Larvitar
não evitou sair de sua pose nesse instante, arregalando os olhos antes
impassíveis e esboçando uma grande surpresa.
“Magnar!”
Calem
hesitou com a reação de seu Pokémon.
—
O que há de errado? — indagou o menino.
—
Parece que eles já se viram antes. — comentou Damien, sério.
O
Lairon expressava um sorriso ligeiro por baixo de seu capacete metálico,
preparando a armadura para o combate que seguiria. Larvitar retomou as
energias, voltando a um tom de concentração. Era extremamente disciplinado no
momento de focar na batalha, porém, não conseguia evitar certa oscilação ao se
deparar com um rival de outras épocas em sua frente, sobretudo fortalecido em
uma nova forma.
—
Lairon, não baixe sua guarda. — disse de antemão Damien. — Inicie com o Iron Head.
—
Ataque com o Rock Slide! — contrapôs
Calem.
A
criatura metálica avançou contra Larvitar, a parte frontal de seu capacete mais
resistente pelos poderes do tipo Steel,
pronta para um golpe. O outro aproveitou-se de sua maior agilidade para
atacá-lo com as pedras típicas de seu elemento, porém, as rochas apenas
chocaram-se contra a armadura de aço e quebraram em pedaços menores, deixando-o
hesitante.
—
Ancient Power! — continuou o menino.
Larvitar
aproveitou-se de seu maior trunfo, levantando diversas rochas menores do chão,
concentrando-se em seus poderes ancestrais para golpear o inimigo. Damien
apontou para seu Pokémon.
—
Use o Protect.
Lairon
mais uma vez redobrou os cuidados com a defesa, recebendo os diversos golpes do
tipo Rock sem pestanejar,
mostrando-se intacto e com sua proteção blindada ainda polida, refletindo o sol
poente ao fundo da batalha. Calem soltou uma bufada de ar.
—
Take Down. — prosseguiu Damien.
O
Pokémon de aço avançou contra Larvitar em grande velocidade, as patas pesadas
levantando areia para todos os lados enquanto corria. O dinossauro de pedra via
aquela criatura imensa correr em sua direção, e sabia que não havia tempo
suficiente para uma esquiva. Apenas firmou seus pés resistentes no chão,
estendendo os braços. Lairon o atingiu, arrastando-o pela areia enquanto
Larvitar tentava segurá-lo e impedir que o impacto fosse maior. Após alguns
metros arrastado, ficaram ambos parados em uma tensão que nenhuma das direções
cedia. Calem não conseguia mais se manter calado frente ao conflito que
acontecia.
—
Larvitar, nós não podemos perder!! — disse, mais alto que gostaria.
O
Pokémon sabia daquilo mais que ninguém, porém, conter um ataque daquele porte
pela primeira vez em sua vida era um grande problema, sendo menor e menos
forte. A areia levantada por Lairon aos poucos subia em um ciclone que envolvia
ambos os Pokémon, e Calem permitiu-se revelar um pequeno sorriso no canto de
seu rosto. Era um Sandstorm que se
formava, e Larvitar aproveitava-se de toda a força que o ambiente arenoso lhe
permitia, empurrando o adversário com uma força que sequer imaginava que tinha.
Era
preciso ficar mais forte que nunca.
Quando
a areia baixou, era possível ver Larvitar tomado por um brilho prateado,
aumentando suas proporções em quase duas vezes. As águas do mar quebravam nas
pedras, espirrando as gotas para o alto à frente do céu laranja, saudando o
guerreiro renovado. Da tempestade de areia, surgia um sujeito blindado como um
casulo, em uma armadura de prata tão impenetrável que Lairon foi
inevitavelmente arremessado alguns metros para trás, impedido de continuar o
ataque.
—
…Pupitar… — balbuciou Elliot, admirado.
Damien
deu uma risada.
—
Parece que alguém não quis ficar atrás. — comentou, fechando o sorriso. — Uma
pena que isso não vai mudar o resultado.
Calem
cerrou os punhos.
—
Pupitar, use o Ancient Power!
O
Pokémon concentrou suas energias no ambiente, fazendo com que diversas rochas
ao redor levitassem. Se antes Larvitar disparava apenas pequenas pedrinhas,
agora o ataque apresentava uma magnitude consideravelmente maior, com rochedos notavelmente
maiores, todos dirigidos a Lairon, que mostrou-se finalmente mais afetado pelo
ataque de seu oponente.
—
Use o Rock Slide. — ordenou Damien.
A
criatura de aço aproveitou-se das várias pedras que agora compunham o campo de
batalhas, golpeando com sua cauda em direção ao Pupitar, arrastando-o para
trás.
—
Finalize com o Iron Head.
—
Use também o Rock Slide! — disse
Calem.
Lairon
começou a ganhar velocidade em direção ao adversário. Pupitar disparou uma onda
de rochas rumo a ele, tentando se proteger. O Pokémon metálico atingiu com
força os rochedos com a própria cabeça, sendo capaz de rompê-los com sua
armadura extremamente resistente. Por fim, atingiu Pupitar com uma força
surreal em seu capacete de ferro, atirando o recém-evoluído contra as pedras do
canto da praia, caindo desacordado. Damien fechou os olhos, serenamente.
—
Eu avisei.
Lairon
tinha grande satisfação estampada no olhar com o resultado da batalha,
demonstrando um cansaço relativamente baixo em comparação a Pupitar. O outro
estendeu sua Pokébola, retornando-o para dentro. Um silêncio se instalou por
dolorosos segundos, enquanto as ondas do mar chegavam em terra, mergulhando-os
em uma calmaria sufocante. Elliot abaixou a cabeça, calado. Calem ficou a
encarar seu Pokémon derrotado no fundo.
—Boa
sorte na batalha contra a Korrina. — disse Damien, por fim.
O
garoto virou-se e começou a se distanciar. Por mais que quisesse dizer qualquer
coisa, Calem não conseguiu. Apenas observou o rapaz ganhar metros de distância
enquanto caminhava tranquilamente pela praia, os sapatos fazendo um barulho
abafado ao afundarem na areia. A noite logo chegaria e, após ela, o desafio
contra a Líder de Ginásio. Apesar de fortalecido, contudo, o rapaz tinha agora
mais hesitação que nunca para o combate que estava por vir, fitando seu
principal Pokémon caído na areia.