Archive for April 2016
Notas do Autor - Capítulo 15
ALERTA DE SPOILERS! Antes de ler as notas, leia o capítulo correspondente primeiro! |
Olá, senhoras e senhores! Hoje os convido a fazer um passeio por um ponto muito famoso de Kalos: O Parfum Palace - o que corresponderia ao famoso Palácio de Versalhes. Digníssimo de sediar um capítulo inteiro, espero que vocês tenham conseguido se imaginar dentro do palácio, atrás do Furfrou do tio Louis. Não houve acontecimentos cósmicos, mas espero que, como de costume, vocês tenham se atentado aos detalhes. Sempre há alguma coisinha importante por lá.
Ainda estou incerto, para ser honesto, com os rumos do próximo capítulo. Já havia uma ideia programada, mas ultimamente brotaram novas. De qualquer forma, garanto que será excelente! Não gosto de dar spoilers, mas nas últimas semanas eu estive reunindo os acontecimentos mais importantes do futuro da história, e posso afirmar que ainda vem muito PAPAPUM por aqui ao longo desse ano. Afinal, logo estaremos passando o bastão de "Nova Região" para a Geração VII, mas isso não quer dizer que Kalos morrerá, certo?
Ahh, e alguns de vocês devem estar se perguntando a respeito das imagens misteriosas que foram postadas há algum tempo, mas não se preocupem, suas perguntas serão respondidas muito em breve! ~rs
Espero que vocês tenham gostado do capítulo e, como sempre, ficarei feliz em saber o que vocês acharam pelos comentários! Um abraço, e até a próxima!
Sobre a Aliança Aventuras
Atualmente, como alguns devem saber, a liderança da Aliança foi passada para as mãos do Dento. Não haveria uma escolha melhor, já que o Dento está super empolgado e ativo em Johto, postando capítulos que foram produzidos há algum tempo, só aguardando o momento certo (não sei o que dizer com o fato de nossas fanfics já estarem praticamente no mesmo número de capítulos, sendo que ele comentou recentemente). Assim, ele usou essa energia para agitar a Aliança, e posso dizer que, embora eu esteja ausente nos últimos tempos (não estou apenas fora do blog, também faz um bom tempo que não tenho conseguido participar das reuniões), estaremos entrando numa exclente fase. Vocês devem ter acompanhado nos últimos meses, e até anos, uma certa decadência no número de postagens e conteúdo.
Entretanto, isso parece estar prestes a mudar. Alguns já devem ter conferido que Hoenn está com um aviso com as explicações e futuro de AeH, e Kanto está para contar com uma pessoa já conhecida escrevendo a jornada. Com isso, alguns planos estão voltando a florescer, contando com outros membros, e posso dizer que, àqueles que nos acompanharam até aqui, estejam preparados para boas novidades! Se quiserem ficar mais por dentro, fiquem atentos ao blog de Johto, pois é lá que o Dento terá mais controle para compartilhar as novidades!
Resultado da Enquete
Eu estava curioso quanto a essa enquete! Vale lembrar que peguei apenas algumas sugestões citadas por aqui, e que nada ficará restrito desta forma. Ainda há muitos personagens para entrar, e por enquanto NENHUM personagem tem um casal definido. Acho que o legal de uma história desse porte são as possibilidades. Não dá para formar algo logo no início e deixar definitivo. Eu não curto. Assim como não sou eu quem define tudo: o enredo fala por si só, e as sugestões/opiniões de vocês são sempre importantes. Devo admitir que fiquei especialmente intrigado com esse empate entre Charlena e Calena (não fui eu quem criou os nomes, mas não pude deixar de adotá-los!). Será que existe possibilidade de um terceiro rival? ~rsrsrs Obrigado a todos que votaram, a enquete estará sendo substituída!
Capítulo 15
Capítulo 15
O Furfrou Desaparecido
Nuvens
grossas atravessavam o céu, cortando o sol em alguns momentos. A manhã mais
parecia um triste final de tarde, estando ainda mais fria que o clima de Kalos
já costumava ser. Uma chuva poderia cair a qualquer momento, mas isso não seria
motivo para atrasar o trio, que já se preparava para continuar a estrada,
deixando Camphrier para trás.
Calem
acertava as últimas despesas no balcão do hotel, enquanto Serena terminava de
guardar seus pertences no quarto, ainda que não fossem muitos, e tampouco
estivessem espalhados. Charlie fazia o mesmo com suas coisas, enquanto Thanos
jazia sentado encarando a paisagem pela janela. A neblina impedia que visse
muito longe de onde estavam. Era bem cedo, mas havia um movimento considerável
entre os moradores, e inclusive alguns turistas indo atrás de pontos históricos
da cidade — entre eles, treinadores.
Charlie
revirou sua pequena bolsa, checando se algo faltava — dificilmente faltaria,
pois, dos três, era o que menos carregava coisas. — e deparou-se com aquela
mesma carta endereçada para Serena. Fitou o envelope discretamente por alguns
momentos, e seus pensamentos esvoaçaram pela mente, como um vendaval que
espalha as folhas das árvores pelo chão.
— Já
terminou?
Serena
trouxe-o de volta à realidade, de forma que este levasse um pequeno susto. Eles
se encararam por alguns momentos — ela com um olhar doce e inocente, ele ainda
meio em choque.
— De
guardar suas coisas... Já terminou? — especificou a pergunta, podendo jurar que
o viu sentir-se mais aliviado.
— Já sim,
princesa. — respondeu, por fim, fechando a mochila com a carta dentro sem que
ela visse. — Vamos descendo.
...
Os muros de
Camphrier aos poucos iam tornando-se parte puramente da paisagem de fundo.
Serena passara uma última vez pela casa do pintor, dando a oportunidade que seu
novo Pokémon fizesse uma despedida, e após Calem comprar alguns itens
importantes no Centro Pokémon, seguiram pela Rota 7.
Bastaram
poucos metros para que encontrassem um obstáculo: uma bifurcação. Uma das
alternativas era seguir reto pelo caminho em que já estavam, enquanto o outro
trajeto, cerca de 45 graus à direita, também poderia ser acessado. O trio
parou, ponderando as possibilidades, quando Charlie assumiu a frente,
analisando:
— Para esse
lado, continuamos a rota. Para aquele — Charlie virou-se na outra direção. —
vamos à Rota 6, onde tem aquele palácio famoso.
— O Parfum
Palace…? — indagou Serena, puxando um cartão postal com uma foto do lugar de
dentro de sua bolsa.
Ela
estendeu a foto para Charlie, que a observou atentamente. A imagem mostrava um
imenso palácio, cujo tom predominante era dourado. Ele assentiu com a cabeça.
— Isso,
esse mesmo. — concordou ele. — É uma mansão de um ricaço, que é tão ricaço que
deixa aberto para visita só pra mostrar como ele é ricaço.
Calem analisou
a foto também, e levando em conta que estava com Serena, ele a fitou:
— Serena, —
chamou, com um tom de incerteza. — esse não é o…
— O palácio
do tio Louis. — concordaram os dois em uníssono.
Charlie
soltou um berro.
— O QUÊ? O
DONO DESSE LUGAR É TIO DE VOCÊS? SÓ TEM RICO NA SUA FAMÍLIA, É ISSO? ESSE MUNDO
É COMPLETAMENTE INJUSTO! — praguejou, andando para os lados.
Os primos
se entreolharam, um tanto hesitantes. A menina tentou consertar:
— Charlie,
não fale assim. — pediu. — Até porque não somos exatamente próximos desse tio,
na verdade… — disse Serena, tímida, balançando as mãos para acalmar o amigo.
— Digamos
que ele é um tanto quanto… Excêntrico. — continuou Calem. — E na verdade o
palácio não é dele, o Parfum Palace é um patrimônio histórico de Kalos, nosso
tio apenas obteve sua posse. — explicou. — Então deve mantê-lo sempre aberto
para visitas.
— Foi assim
com todos os proprietários anteriores. — concordou Serena.
Charlie
refletiu por um momento. Em seguida, continuou andando.
— Nesse
caso, vamos visitá-lo. — decidiu.
Serena e
Calem entraram em sua frente, impedindo sua passagem.
— Charles,
você não sabe onde está se metendo. — disse Calem.
— Será que
não podemos tentar o outro caminho? — pediu Serena, com as palmas das mãos
juntas.
Charlie desviou
de ambos, continuando seu trajeto.
— Vocês me
devem essa. Vamos para o Pum Palace, sim.
— Parfum. —
corrigiu-o Calem.
— Que seja.
Ambos
suspiraram, concordando.
Seguindo
pelo outro trajeto — que levava ao suposto palácio. — a paisagem tornava-se
diferente. A vegetação ficava mais densa, e imensas árvores margeavam um
caminho de terra. Suas copas eram tão vastas e tão altas que encobriam os finos
raios de sol restantes, tornando o percurso escuro. À sua volta, atrás dos
troncos, podia-se ver uma grama alta, onde vez ou outra ouvia-se o som desta
mexendo, combinada ao som de risadas de treinadores que batalhavam pelas
redondezas. Calem apertou o passo, um tanto desconfiado com aquele ambiente, de
maneira que Charlie não conseguira disfarçar uma risada.
Após um
certo tempo de caminhada era possível avistar a claridade novamente, com as
árvores já chegando ao fim. Agora a paisagem era de um extenso campo verdejante
com arbustos, mas com uma grande construção chamando a atenção naquele espaço.
Em determinado ponto, a terra e a grama davam espaço para um chão ladrilhado
preto e branco, com postes de visual antigo o contornando.
Muros
baixos de pedra tinham algumas esculturas entre as grades de metal sobrepostas,
e entornavam o palácio por inteiro, com exceção de um grande portão na entrada.
Quando se aproximaram deste, um dos guardas que rondavam o local os barrou,
exigindo uma taxa para a visita. Calem desembolsou a quantia, e seguiram em
frente.
A entrada
ainda era metros adiante, mas as paredes do lugar contornavam o caminho até
ela. As paredes douradas brilhavam à luz dos finos raios de sol daquela manhã,
dando-lhe um aspecto até mesmo místico. As grandes janelas davam vislumbres dos
extensos andares do palácio. Estátuas de mármore se dispunham ao longo da
residência, formando a imagem de figuras importantes da história de Kalos.
O fato de
Calem e Serena morarem em uma imensa mansão não os impediu de ficarem boquiabertos
com a beleza histórica daquele lugar. Quando se aproximaram da entrada, viram
portas de ouro, com minuciosos desenhos de lendários a decorando. Cada pequeno
detalhe era surpreendente.
Uma coisa que eu sei, por ter vivido em
Lumiose: As pessoas, hoje, são imediatistas. Não existe uma preocupação muito
forte com os detalhes — o que eles querem é levantar prédios, o mais rápido
possível, e para o maior número de pessoas possível. Cara, esses castelos são
totalmente o oposto: podem ter levado décadas, porém cada detalhe é importante.
Claro, um excesso de luxo e ostentação feito às custas da exploração dos
outros, na minha opinião, mas não nego que são surpreendentes.
Ao entrar, depararam-se
com um imenso hall. O piso feito de pedras era da cor de tijolo, de onde subiam
paredes predominantemente rubras, ornamentadas por pilares claros, onde no topo
jaziam estátuas de ouro de Pokémons que lutaram em guerras passadas —
principalmente Bisharps. No topo, o teto era todo desenhado, com imagens de lendas antigas da região de Kalos. Havia caminhos para todas as direções, que levavam aos
quartos do palácio.
Um senhor
recepcionava alguns dos visitantes. Era um tanto alto e tinha uma generosa
barriga, impedida de parecer maior devido à sua camisa azul celeste de marca
abotoada até em cima. Os cabelos já lhe faltavam em alguns pontos da cabeça.
Estava em torno de seus cinquenta anos, e dava gloriosas risadas, que chamavam a
atenção dos outros. Quando avistou Serena e Calem, os fitou por alguns
instantes, e interrompeu a pessoa com quem conversava para vê-los.
— Ooh, meus sobrinhos! — exclamou, falando
tão alto que os outros ao redor levaram um susto. — Finalmente resolveram me
fazer uma visita! Há quantos anos peço para que façam isso, mas o Stevan não
permite!
— Nem me
fale, tio. — disse Serena, tímida.
— Como você
cresceu, querida! — falou, a abraçando. Um abraço sufocante e não muito
agradável, no qual ela conseguia sentir as axilas molhadas de seu tio. — Mil desculpas por não poder ter ido à sua
festa de aniversário, eu estava em uma reunião importante, não pude
presenteá-la!
— Não tem
problema. — disse a menina, retomando o fôlego.
— E você,
Calem, nem recebeu um abraço ainda! — falou, abraçando o rapaz. — Quase que
você me escapa, ho ho ho.
— Pois é. Quase... — comentou o garoto, tentando
respirar.
Charlie já
deu um passo para trás e estendeu a mão para cumprimentá-lo, antes que
recebesse um abraço também. O menino virou-se para os lados, admirando
novamente o lugar e só então reparando como estava cheio de turistas e
visitantes, conversando ou fotografando. Havia até uma excursão com crianças.
— Tem
muitas pessoas aqui, visitando. — observou.
— O Parfum
Palace tem mais de trezentos anos, meus queridos. — ponderou o tio. — É um ponto
histórico de Kalos, construído por um rei de grandessíssimo poder.
— Posso
perceber. — observou Calem, olhando para os lustres que iluminavam o quarto em
conjunto à luz natural provinda das janelas.
— Eu não
imaginava que Kalos tinha tantos castelos. — comentou Serena.
— Oh, a história de nossa região é
riquíssima, minha sobrinha. Repleta de guerras, revoluções e grandes reinados!
— disse Loius, animado. — É uma imensa responsabilidade manter a ordem deste
palácio, mas vale a pena.
A menina
avançou um pouco, tendo sua atração atraída por uma estátua grande, duas maior
que ela mesma. Era uma figura moldada em ouro, com forma serpentina. Tinha
escamas em sua parte inferior, e dispunha-se quase enrolada. A expressão tinha
um ar de magnificência. Ela encarou aquela criatura feita de metal, admirada.
— É um
Milotic. — explicou-lhe o tio, vendo seu interesse. — Tido como o Pokémon mais
belo de todos. No passado era, talvez quase um mito entre os navegadores. Hoje
sabemos que é um Pokémon de verdade, apesar de raro. — observou.
— É mesmo
lindo. — comentou ela, com os olhos curiosos.
O homem por
um instante parou para observar à sua volta, trocando sua expressão de
divertimento por algo que próximo ao desespero. Soltou um grito, que novamente
atraiu atenção de todos, assustados:
— Oh, céus!!
— O que
houve? — indagou a garota.
— Meu novo
Furfrou… — dizia o senhor, enquanto continuava rondando o olhar pelo ambiente.
— Ele sumiu!
— O que é
um Furfrou? — perguntou Calem.
Antes de
explicar, o tio puxou uma foto de seu bolso com certa dificuldade. A figura
amassada mostrava um Pokémon canídeo, cujo pelo branco espalhado ocupava tanto
seu corpo que seus olhos quase ficavam escondidos, assim como seu esguio
focinho.
— Pokémon
de rico. — murmurou Charlie baixinho, lembrando de ter visto alguns da mesma
espécie transitando pelas ruas de Lumiose.
— O palácio
é enorme, ele com certeza deve estar em algum lugar aqui dentro. — disse
Serena, tentando tranquilizar seu tio.
— Mas onde?
Onde? — indagava ele, até mesmo ofegante, com as mãos na cabeça.
Sem uma
resposta na ponta da língua, ela tocou-lhe o ombro:
— Continue
recepcionando as pessoas, que nós o procuraremos, certo?
O homem
assentiu, ainda abalado, tentando se controlar. Algumas pessoas se aproximaram
dele e o ajudaram, enquanto o trio se afastava para um canto um pouco menos
movimentado do hall. Serena fitou novamente a foto do Furfrou, como se
decorasse sua aparência antes de qualquer outra coisa.
— O que nós
temos a ver com o bichinho de estimação do nosso tio? — questionou Calem,
emburrado.
— Você
prefere ficar aqui abraçando ele? — indagou Charlie.
Calem
ponderou por um momento.
— Bom
argumento.
Serena
olhou à sua volta:
— Vamos
marcar aqui, em frente à estátua, nosso ponto de encontro. — falou, apontando
com a cabeça para o majestoso Milotic de ouro.
— Serena,
você procura no jardim. Charles, você procura no térreo. Eu irei para o segundo
andar — esquematizou mentalmente Calem.
Sem
qualquer outra palavra dita, os três se separaram. Charlie e o outro viraram à
direita no primeiro corredor, o último seguindo até uma escadaria. Serena seguiu
em frente, notando corredores longos por ambos os lados, e um grande portão
aberto no centro, na mesma direção da entrada. Avançou por ele, e a claridade
lhe atingiu novamente.
Nas vezes
em que ouvira falar sobre o Parfum Palace, certamente havia alguma associação
com seu jardim. Agora a menina entendia o motivo: não conseguia definir com o
olhar seus limites, mesmo olhando o mais longe que podia. Via diversos tipos de
plantas, desde arbustos altos a gramíneas, todos artisticamente aparados,
formando desenhos algumas vezes. Um grande contingente de pessoas admirava a
beleza do ambiente.
A menina
atravessou uma ponte, passando por um lago imenso de água cristalina, possivelmente
artificial, entre o jardim e o palácio. O que chamava a atenção eram estátuas
de pedra, postas uma de cada lado, de algum guerreiro, que Serena não sabia
definir ao certo quem era. Em torno do lago, uma vegetação de árvores
organizadas por tamanho.
Serena
permaneceu por alguns momentos observando o lugar. Óbvio que preferia a beleza
da natureza, mas o local que mais a fascinava em sua mansão era o jardim. Logo,
se deparar com um ainda maior era de tirar o fôlego. Será que alguma princesa
também fora aprisionada pelo pai lá, algum dia?
O chão de terra
não tinha uma direção definida, mas o melhor caminho era o que direcionava a
uma fonte — embora houvesse ainda várias outras, dispersas. Ela olhou
discretamente para trás, vendo a parede dourada do palácio com uma sacada que
direcionava diretamente para o jardim. Pilares com estátuas de Dratinis
jorravam jatos de água.
Tentando
focar novamente, ela virou-se de volta e procurou com os olhos por algo
suspeito, como o Furfrou, mas havia apenas outras pessoas admirando a beleza
natural para se divertir e tirar fotos. A menina teve de caminhar alguns
minutos, sem destino certo, procurando pelo Pokémon perdido, até parar
novamente.
Desta vez
deparou-se com uma estátua ainda maior, apoiada em uma base também feita de
pedras, mas estas enegrecidas. O formato era de uma espécie de cervo, com
chifres cujas ramificações assumiam diferentes direções incertas. Ela parou
para observá-la, assim como algumas pessoas à volta que também o faziam.
— As
estátuas são alguns dos fatores que mais chamam a atenção no palácio…
Serena
virou-se para onde ouvira a voz, deparando-se com um homem alto, de longos
cabelos louros, e pele clara. Ele não a encarava, pois seus olhos focavam na
estátua.
— Quem é? —
indagou ela, virando-se de volta.
— Você não
os conhece? — indagou, com certo tom de surpresa, e talvez um pouco de deboche.
— São grandes lendas de nosso continente. A vida… — fez uma pausa, apontando em
seguida para longe. — E a morte.
Ela
semicerrou o olhar para conseguir olhar longe, onde este apontava, notando a
presença de outra estátua bem ao longe, do outro lado do jardim. Contudo, não conseguia
definir ao certo sua aparência, conseguindo deduzir apenas uma silhueta com
formato de “Y”.
A garota
voltou a observar a estátua mais próxima. Os olhos daquela criatura pareciam
encará-la de forma até mesmo ameaçadora — afinal, a estátua de uma lenda de
metros de altura consegue intimidar qualquer um. Após alguns instantes, foi
como se alguma dor de cabeça repentina a tivesse afetado. Por algum motivo seu
cérebro assimilou imagens de batalhas, alternadas com outras totalmente opostas:
uma serena natureza, especialmente uma árvore de frutos coloridos. Alguém
tentava se aproximar de seus galhos.
A menina
sentiu uma pontada de tontura, como se sua visão ficasse turva e seu senso de
equilíbrio sumisse momentaneamente, a fazendo ameaçar cair. O homem, de
supetão, tentou segurá-la.
— Você está
bem? — indagou, instintivamente.
— Acho que
estou, sim. — falou ela, com uma voz frágil, tentando não preocupá-lo.
— Alguém,
por favor, chame ajuda! — gritou uma moça, vendo a cena, enquanto o homem a deitava
no chão. Serena sentiu os olhares virando para si. Ela odiava isso.
— Eu já
disse que estou bem, senhor… — falou, mas seu corpo não respondia às suas ações.
Seus olhos
tentavam resistir, mas era como se um sono forte a atingisse. A luz do sol era
intensa demais, e silhuetas de pessoas a rondavam, curiosas. Alguns agachavam
para socorrê-la, enquanto seus olhos fechavam, e sua última visão era a do
homem louro, que se destacava na multidão, com uma expressão neutra deixando o
lugar.
...
Calem
caminhava pelo segundo, que estava consideravelmente vazio. Ele notou uma
pequena placa escrita “Corredor dos Espelhos” e avançou até onde ela indicava.
Chegou até
um largo e curioso corredor. De um lado, portais intercalados por pilastras que
levavam a uma sacada de pedra, com uma vista privilegiada para o imenso jardim.
Do outro, espelhos posicionados na mesma direção dos portais, conferindo uma
reflexão que criava a impressão de que aquele lado da parede também era aberto.
O teto em formato cilíndrico tinha candelabros dourados iluminando o piso cor
de barro.
Ele
caminhou, admirado, vendo seu reflexo não apenas nos espelhos, como também na
vidraria polida que ornamentava o caminho. Até notar que não estava sozinho. Ao
longe, uma criatura quadrúpede e quase de seu tamanho, felpuda, coçava a cabeça
com as patas. A imagem era familiar.
— Óbvio que
era eu quem tinha que encontrar o Furfrou. — suspirou Calem, sem qualquer
surpresa.
Ele olhou
para os lados, à procura de alguém, mas estava sozinho.
— O que eu
faço agora…?
Deu mais um
passo, e notou o Pokémon o encarando, de forma que sentisse um leve arrepio.
Puxou um folheto informacional disposto próximo de onde estava e o amassou,
formando uma bolinha. Em seguida, estendeu o objeto em direção à criatura, a
alguns metros de distância, oferecendo com a voz meio trêmula:
— Vem
pegar.
Em seguida
atirou a bola de papel alguns metros adiante, notando que o Furfrou não movera sequer
um músculo.
— Acho que
só funciona com ossos mesmo… — balbuciou.
Mais uma
vez olhou à sua volta, tentando gritar:
— Serena!
Charles! Tio! — mas só ouviu o eco de sua voz. — Alguém?
O Pokémon,
então, levantou-se e deixou o corredor, seguindo para outro, com quartos que
talvez tivessem sido usados para serviçais no passado, em suas origens. Calem o
seguiu, tentando impor ordens.
— Vamos
logo, venha para baixo. Não tem nada para você fazer aqui em cima. Vamos,
desça. — falou, com a voz mais firme que pôde.
O Furfrou
nem mesmo o encarou, apenas continuou caminhando normalmente. Empurrou uma
porta entreaberta, indo para um dos quartos. Calem correu para alcançá-lo. Não
conseguiu disfarçar surpresa ao observar o quão bem conservada estava aquela
acomodação. Alguns quadros se distribuíam pelas paredes avermelhadas, enquanto
uma cama grande com dossel estava no centro de uma das paredes. Até alguns
móveis de mogno e a vidraria estavam bem conservados.
A criatura
mexeu em uma espécie de guarda-roupas, puxando com a boca algumas vestimentas
antigas.
— Não mexa
aí!
Após
soltar, as roupas caíram no chão. Eram vestes claramente bem diferentes das
atuais, mas que resistiram ao tempo, e que não deveriam estar jogadas. O
Pokémon seguiu para a porta, e Calem instintivamente desviou, deixando-o
escapar para outro quarto. O rapaz pegou sua Pokébola do bolso, atirando-a:
— Larvitar.
Eu o imploro, não sei o que fazer
para esse Pokémon descer. Você precisa me ajudar.
O Pokémon
por si só fez uma expressão não muito agradável, como já era costumeiro.
Contudo, virou-se e viu a imagem de um inocente Furfrou mastigando cortinas de
uma janela, o que o fez suspirar e se recusar a ajudar seu treinador.
— É por essas
e outras que eu prefiro o Senhor Peixe. — falou o garoto, retornando-o para a
esfera.
Calem
permaneceu encarando o Pokémon, de longe:
— Vamos lá,
Calem, pense. Os humanos colonizaram o planeta e dominaram os Pokémons. Você
consegue levar um Pokémon pulguento para o andar de baixo sozinho. —
convenceu-se.
O Pokémon
soltou um latido, e o garoto pulou para trás.
...
— Minha
querida, você está bem?
Serena
abriu os olhos lentamente, notando um teto alto repleto de figuras desenhadas.
Um lustre brilhante jazia pendurado bem no centro, iluminando com intensidade
suficiente para que ela o tampasse com a mão, ainda recuperando consciência.
Sentiu com as mãos que estava em uma cama — uma muito confortável, aliás. — e
notou a presença de seu tio, bem perto. Alguns empregados do palácio pareceram
ficar aliviados ao vê-la acordando.
— Estou,
tio. — falou ela, levantando a cabeça devagar. Ele a ajudou.
— Oh, se seu pai descobre que você
desmaiou, bem quando me visitava… — ponderou ele.
— Não, tio.
— falou a menina de prontidão. — Nem precisamos contar para ele. Acho que comi
pouco, e foi uma longa caminhada até aqui. Minha pressão deve ter baixado, só.
Nada para se preocupar, de verdade.
Ele
assentiu com a cabeça, e ambos ficaram em silêncio, sentados sobre a cama. Os
trabalhadores voltaram para suas funções. Ela sentiu um clima desconfortável, e
que deveria falar algo para quebrá-lo. Contudo, nada lhe veio à mente. Por
sorte, antes que pudesse tentar algo inútil, seu tio quem se pronunciou.
— Estou
pensando em passar o palácio adiante, sabe, querida? — refletiu Louis, com
certa seriedade incomum a ele.
— Por quê,
tio? — perguntou ela, apertando os olhos. — Ele é tão maravilhoso…
— Isso é
inegável — concordou ele, jogando-se para trás. — mas fico preocupado… Ouvi
falar sobre uma organização que está atuando sobre Kalos nos últimos meses…
A menina
inclinou a cabeça, intrigada.
— Que tipo
de organização?
— Eu não
sei ao certo. — admitiu. — Até onde sei, estiveram atrás de pessoas… Com um
pouco mais de poder aquisitivo. — falou,
como se buscasse palavras.
Aquela
afirmação não parecia estranha a Serena, por algum motivo.
— Não sei o
que procuram, mas o palácio é um chamariz para alguém que procura itens de
valor. Então me coloca em risco. — completou. — Ainda não sabemos a força
deles, mas tome cuidado, minha querida. Você, tão linda, não sabe que tipo de
coisas ruins esse mundo reserva.
— Posso
imaginar. — respondeu a menina, baixinho, lembrando-se de alguns dos ocorridos
nas últimas semanas.
— Sem
mencionar que, como progênie do Stevan, és um alvo para qualquer organização. —
falou o senhor, por fim.
— Estou
ciente disso, tio. — assentiu ela, inocente. — Mas pode ficar tranquilo, nós sempre
tomamos cuidado. — e sorriu.
Ele a
observou por alguns instantes, até puxá-la para um outro sufocante abraço.
— Você está
tão crescida, mal posso acreditar que é aquela mesma garotinha!
...
— Eu lhe
dou todo o meu dinheiro no bolso se
você for para baixo.
À essa
altura, Calem já estava sentado no chão, — coberto com um pequeno lenço
descartável. — com as mãos apoiando na cabeça. Suava, e sua voz já beirava um
tom de desespero e súplica. Estava no corredor, observando o Furfrou dentro de
um dos cômodos brincando com algum artefato de valor como se fosse um brinquedo
qualquer.
Ele foi
para outro quarto, e Calem o seguiu, arrastando-se. Nesse outro, reparou algo
de novo. Não havia quase nada além de algumas estátuas como as dos andares de
baixo. Contudo, entre dois pilares dourados, estava preso um quadro imenso,
ocupando quase toda a parede oposta à porta. Era o retrato pintado de alguém
pomposo e bem-vestido para sua época. O rapaz não sabia dizer quem era, mas
supôs tratar-se do rei que construíra o palácio. Ficou por alguns momentos
fitando o retrato, até que o Pokémon passou na frente de sua visão, jogando o seu
“brinquedo” para pegá-lo de novo.
— E o
cartão de crédito também. — ofereceu o garoto, em vão.
— Eu não quero nada de você.
Calem
sentiu um arrepio, encarando o Pokémon com firmeza. Ele havia… Falado algo?
Foi quando,
após alguns segundos, ouviu uma risadinha discreta e conhecida. Virou para o
lado, mirando o fim do corredor, e deparou-se com Charlie rindo, apoiado no
corrimão de forma folgada e descontraída.
— Como você
faz isso? — indagou, perturbado. — E há quanto tempo você está aí?
— Acabei de
chegar... Há uns trinta minutos.
Calem se
levantou, quase com dor nas costas.
— Por que
você não falou nada?
— Porque
estava divertido ver você tentando levar o Furfrou para o andar de baixo
sozinho. — respondeu ele com simplicidade.
Calem
esfregou as mãos na própria face, emitindo alguns sons, sem ao certo saber como
reagir.
— Charles,
já disse que eu odeio você? — resmungou, mal-humorado.
— Algumas
vezes. — admitiu o rapaz.
— Pois
saiba que eu realmente odeio você. — frisou ele.
Charlie
virou-se novamente para a escadaria, fazendo um sinal de desprezo com a mão.
— Boa sorte
então. — falou, começando a descer os degraus.
— Não.
Espere! — gritou Calem, sem resposta. — CHARLES, EU ORDENO QUE VOCÊ VENHA AQUI
ME AJUDAR!
Alguns
segundos de silêncio depois, Charlie subiu as escadas de volta.
— Ah, você
ordena? — confirmou. — Bem, nesse caso…
Charlie deu
alguns passos tranqüilos em direção ao garoto, virou-se, e abaixou as calças
repentinamente, mostrando os glúteos para Calem por alguns instantes, que foram
suficientes para traumatizá-lo. Em seguida puxou a calça de volta e desceu as
escadas rindo, enquanto ouvia seu “inimigo” reclamar.
— EU ODEIO
VOCÊ CHARLES STUART. — gritava Calem.
O rapaz
desceu as escadas rindo alto. Enquanto o fazia, sentiu algo se revirar de
dentro da sua mochila, até Thanos pular para fora e entrar em sua frente, o
impedindo de continuar o trajeto. Ficaram parados, e notou o Pokémon o
encarando com mais seriedade que o usual.
— Não fique
me olhando assim. — falou.
Charlie
tentou desviar e dar mais um passo, mas o Pokémon entrou em sua frente de novo.
Mais uma vez ficaram parados, se encarando.
— Ele não
vai morrer, é só um Furfrou. — disse, com simplicidade. — Uma hora ou outra ele
vai sentir fome e descer.
Uma terceira
vez tentou continuar andando, sendo novamente bloqueado.
— Ah, O.K.,
que saco. Você ganhou. — admitiu, e desceu correndo na companhia do Pokémon,
aparentemente indo buscar algo.
Odeio admitir, mas eu deveria ajudá-lo. O
Calem é um mala, mas às vezes ele não tem culpa por isso… É simplesmente o
Calem. Eu também deveria reconhecer que ele e Serena me fizeram grandes favores
nesse meio tempo, e que eu deveria retribuir. Até porque, de certa forma, eu
era culpado por algo horrível que acontecera com Serena.
Alguns
minutos depois Charlie subiu as escadas novamente, com algo em mãos. Parecia um
bolinho colorido e decorado, chamado de Poké Puff, normalmente não muito
saudável, mas cujos Pokémons adoravam. Calem ainda se encontrava no dilema para
controlar o Furfrou, até que o outro soltou um assovio agudo, atraindo a
atenção de ambos.
— Ei,
garoto, que tal um agrado? — sugeriu Charlie balançando o bolinho.
O Furfrou
foi correndo em direção ao garoto, que soltou o Poké Puff na boca da criatura.
Esta o comeu, satisfeita. Charlie o acariciou enquanto isso, sem qualquer
hesitação, e também sem receber sinais negativos do Pokémon.
— Bom
garoto. — falou.
Calem ficou
encarando a cena de longe, incrédulo.
— Que tipo
de técnica de encantamento de Pokémons é essa? Achei que assovios fossem só um
barulho irritante. — disse, se aproximando, mas sem chegar perto demais do
Furfrou.
— Também
tem outras utilidades. — admitiu. — Principalmente quando se está munido de um
doce.
Calem juntou
os lábios, tentando fazer o barulho. Concentrou toda a energia possível de seus
pulmões, mas tudo o que saiu foi uma chuva de saliva na direção de Charlie, que
colocou o braço para se proteger. Mais algumas tentativas foram necessárias
para que ficasse claro que ele não sabia assoviar.
— Um dia
você consegue. — falou, tocando o garoto para que ele parasse. — Vamos levá-lo
para baixo?
O rapaz
concordou, aliviado, e ambos desceram na companhia da criatura. O Furfrou foi
descendo à frente, e Calem parou de andar, chamando o amigo:
— Charles…
— fez uma pausa. Quando o outro o encarou nos olhos, ele disse: — Obrigado.
Charlie
sorriu para ele, com as sobrancelhas ainda arqueadas. Ambos desceram em
conjunto, desta vez sem intrigas. Até que Calem novamente abrisse a boca:
— E a
imagem dos seus glúteos vai ficar perturbadoramente na minha mente por um tempo.
— falou o garoto, incomodado.
— Acho que
estamos quites. — completou Charlie, lembrando-se do ocorrido no hotel de
Camphrier.
...
— Oh, meus queridos, não tenho como
agradecê-los!
O tio
abraçava o Pokémon com todas as suas forças, de forma que os olhos do Furfrou
quase pulassem para fora. Por um momento eles se arrependeram de ter levado a coitada
da criatura de volta para seu novo dono, e entenderam o motivo da tentativa de
fuga do Pokémon.
Pobre Furfrou.
— Me
perdoem por incomodá-los com essa maluquice! — falou, se levantando com
dificuldade. — Como vocês o encontraram?
— Foi só
atrair ele com um Poké Puff que ele desceu do andar de cima para cá. —
respondeu Charlie, orgulhoso.
O tio
inclinou a cabeça, curioso.
— Onde
vocês o conseguiram? O armário de bolinhos estava trancado… — ponderou.
Calem
fuzilou Charlie com o olhar, reconhecendo a fama do garoto, mas o outro
simplesmente disfarçou. O tio tocou o pescoço do Pokémon revelando uma nova
coleira.
— Agora
coloquei um guizo para saber onde ele está. — falou, tocando o sino, que fez um
barulhinho.
O movimento
do palácio diminuíra. Àquele horário as portas se preparavam para fechar,
finalizando outro dia de visitas. Os lustres se acendiam, revelando uma outra
face do palácio. Por um momento era como se as sombras das estátuas ganhassem
vida, revelando um batalhão de soldados prontos para uma guerra, enquanto os
gritos de batalha de guerreiros perdidos ecoavam ao longe. Era uma viagem de
cerca de trezentos anos ao passado.
— Não
querem passar a noite aqui, já que está escurecendo? — sugeriu o tio. — Sem
dúvidas há lugar para todos.
Os três
observaram ao longe a escuridão tomando as rotas vizinhas, que tornavam-se
assustadoramente obscuras. Se entreolharam, parecendo aquele um convite
adequado para o momento. Como não houve ressalvas, a menina pronunciou-se:
— Seria
ótimo, tio. — disse Serena.
Ele ficou
em silêncio por alguns minutos, até, em seguida, abraçá-los todos de uma só vez:
— Vocês
cresceram taaaanto!
Talvez não tenha sido uma ideia tão boa
assim…